Por Carlos Chagas
De 2005 a 2008 eu procurei estudar teologia. E esta faculdade que escolhi era reconhecida pelo MEC e por ser assim era interdenominacional, ou seja, não defendia placas de igrejas, mas não se desvencilhava da teologia cristã. Logo, estudávamos todas as teologias possíveis e relevantes para o crescimento teológico.
Lembro-me que certa vez tivemos um evento chamado de "Semana de Reflexão Teológica", onde tivemos contato com minorias cristãs que traziam práticas litúrgicas que muitos não têm acesso fácil. Foi então que escolhi entender as CEB's (Comunidades Eclesiais de Base), uma ramificação católica onde se inverte momentaneamente a pirâmide do poder da igreja católica, onde o povo, que é a base da pirâmide católica, passa a ser o topo. Assim, no decorrer da missa, a atenção especial daquele singelo momento passa a ser o povo e seu Deus.
Na ocasião, quem explicava para nós a dinâmica das CEB's era o Frei Gilvander. Lembro-me que em dado momento ele passou um vídeo mostrando que a missa era uma espécie de festa onde se tinha a ministração da palavra junto com louvores e depois era os "comes e bebes", onde era servido comidas típicas como pão-de-queijo, suco, café, bolo, etc. Mas em dado momento a música cessou e o padre pediu para que todos lembrassem da morte e ressurreição de Cristo. Neste momento o alimento sólido que está na sua mão deveria ser levantado e, após dar graças, eles comiam, independente de ser pão, bolo ou biscoito. Assim também era feito com o líquido que se tomava no evento. Frei Gilvander salientou que Jesus Cristo usou pão sem fermento e vinho tinto porque eram comidas típicas dos judeus da época e que se fossem outros povovs ele usaria outro tipo de alimento já que não é o alimento em si que faz a diferença e sim a memória do evento, que é a morte salvífica de Cristo.
Fiquei maravilhado com a ministração e fui embora para casa pensando naquelas palestras. Dado dia encontrei com um pastor amigo meu que começou a falar de Bíblia. Como sempre acontece, pastor e teólogos não se "dão tão bem", principalmente quando o teólogo não é da linha tradicional de compreensão teológica da Bíblia, que é o meu caso. Em dado momento de nossa conversa ele me perguntou o que eu estava estudando na faculdade. Percebendo a malícia de sua pergunta contei sobre o que aprendi com as CEB's. e como elas são interessantes uma vez que coloca o povo em plena participação da Ceia do Senhor, coisa que não acontece nas missas tradicionais na Igreja Católica. Foi o estopim da crise em nossa conversa. Este pastor se sentiu ofendido em sua fé e disse: "Carlos, você está de brincadeira comigo... como pode isso! Realizar uma Ceia com bolo e café... inaceitável". Expliquei para ele que o fato de se usar outro tipo de alimento não desmerecia o evento, que é relembrar a obra de Cristo. Ele concluiu: "Irmão, me desculpe, mas para mim, desviar um pouquinho que seja da Bíblia, o mínimo que seja, é heresia...". Interrompi ele no ato para dizer: "Pois é pastor, então estamos todos no inferno a mais de 200 anos... porque nós não ceiamos com pão SEM fermento e VINHO tinto, e sim com pão comum e suco de uva". Ele se calou.
Isso aconteceu a quase uma década. Raramente cito isso. Mas achei interessante escrever isso aqui para que todos refletissem em sua postura e pensamento. Será que o nosso foco é de fato no objetivo que Jesus quis mostrar ou nos meros elementos que Ele usou? Será que o nosso radicalismo faz com que vivamos a mensagem Bíblica ou só nos faz sermos cristãos superficiais? Será que trocaríamos nossas crenças cristãs por Jesus Cristo? O que vale mais: Jesus Cristo ou a liturgia?
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