Por Carlos Chagas
Sabe-se que no advento da era moderna as religiões passaram a ser atacadas pelo então racionalismo moderno crescente. Após as 1ª e 2ª Guerras Mundiais o racionalismo pregado foi visto como um dos responsáveis pelas Grandes Guerras. Todavia jamais questionado por isso. Por quê? Porque todos estavam ocupados demais atacando as religiões e, em especial, o Cristianismo, já que a crítica moderna havia adotado tal atitude séculos antes das mesmas. Sabe-se que após as Grandes Guerras houve um "boom" no crescimento de adeptos em diversas religiões, o que demonstra que a razão nem sempre explica tudo e que a mesma pode não ser o "alívio" que todos procuram.
Mas por que levanto tal discussão? Por dois motivos cruciais. Primeiro porque a sociedade contemporânea nutre um ditado popular que diz o seguinte: "Religião não se discute!", o que é uma tremenda besteira. Toda religião deve ser discutida (no sentido de conversa, crítica inteligente e focada num objetivo) e não objeto de brigas e discussões nas quais se levantam apenas desentendimentos e sentimentos subjetivos, dos quais só se têm resultados negativos e de nenhum proveito. E segundo porque é por ditados assim que o mundo vai de mal a pior. Comentemos melhor ambos os motivos.
Sobre o primeiro: Tal ditado "religião não se discute!" tem a ver com a briga moderna entre razão e fé. Como a "coqueluxe" da época (e ainda de hoje) era a base de explicação do mundo a partir do homem (razão) e não de Deus (fé), o mundo tende a aceitar mais os discursos racionais que os da fé. Sabe-se que muitos maus-testemunhos cristãos, que era a religião dominante da época, surgiram e ajudaram no regresso. Todavia nem sempre foi assim. A razão, ainda precocemente, começa a tropeçar com seus discursos ateístas, que culminaram no nome: Hitler. Este, quando mencionava o nome "Deus", referia-se à racionalidade superior, que ainda poderia estar além da compreensão humana para aquele momento. Para Hitler, o divino, se existia, era apenas um mito. Dessa forma, o ateísmo se torna loucura. Este é abandonado enquanto filosofia.
Mas a discussão sobre a razão não ser o que de melhor existe para o homem, na sua tentativa de explicação sobre o que seja vida, não é levada a sério, já que o mundo estava preocupado e ocupado demais com as Grandes Guerras. Findadas estas, o que se viu foi o crescimento de adeptos religiosos de diversas formas e crenças. Mas isso não foi discutido de forma racional pela razão humana escrita. Talvez isso se dê ao fato de a religião jamais ter se voltado à antiga discussão, só que agora não de forma defensiva como antes, mas de forma crítica e atacante, uma vez que a razão só conseguiu provar que o intelecto humano é usado para destruição em massa. É fato que a religião negou se voltar a tal discussão. Acredito que isso se deu porque agora as religiões são místicas e transcedentais demais para tal. Como exemplo temos o Fundamentalismo religioso das igrejas evangélicas, movimento no qual a própria crítica de si mesmo é intolerável.
Daí meu segundo motivo para a discussão proposta no título deste artigo: A própria religião deixou tal ideia se propagar. "Religião não se discute" nasce da razão e as instituições assinam embaixo quando não se deixam ser questionadas, quando não partem para ser uma voz ativa na sociedade, quando passam a ser tornar políticas humanitárias, etc. Alimentar tal dito (meu 1º motivo) é promover a indiferença (meu 2º motivo).
Agora, atualmente, temos alguns problemas sérios que dispensam o orgulho das discussões: A indiferença nutrida, tanto pelos ditos racionais quanto pelos ditos religiosos só trazem problemas sociais e intelectuais. A geração que nasce atualmente é fruto de irresponsabilidades de ambos os lados. Por exemplo, citemos o nascente niilismo (niilismo, explicado de forma simplificada, é a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê” aliada à negação de tudo que por ventura venha explicar algo) que o racionalismo popular atual prega, já que nada pode ser aceito mais ( a internet é um veículo para isso) e a religião se demonstra radical pregando a salvação por demais transcedental (só serve o céu), negando a importância do homem aqui na terra, tendo uma ação religiosa medíocre a quase nula, onde apenas interesses pessoais são destacados.
Enquanto a razão humana alimentar esse niilismo mais pessoas vão perder o sentido real da vida e de como esta deve ser, o que pode levar a práticas absurdas que negam a própria vida (aprovação de projetos anti-natureza, seja esta humana ou não, guerras, políticas totalitárias, etc).
Enquanto a religião se fechar para si, cada dia mais se verá pessoas, de forma individual, praticarem absurdos em nome da fé, já que estas não encontram o que buscam na religião (respostas) e decidem, pelas próprias mãos, oferecê-las, o que nasce de sua subjetividade, e como grupo, adotarem práticas não condizentes com a proposta complexa da vida em sociedade associada com os atributos inatos na natureza vindos diretamente de Deus.
Se "Religião não se discute" porque esta é impossível de ser explicada de forma racional, logo, tudo deverá não ser discutido porque caminhamos para o niilismo geral, onde tudo será aceito ao mesmo tempo que tudo será negado, ou seja, tudo de forma sem sentido, sem objetividade, sem humanidade, etc.
Termino aqui com as palavras de Fiodor Dostoievsky: "Se Deus não existe tudo é permitido". Que tenhamos moderação e equilíbrio no agir e pensar.
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