domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sobre a Internet do Brasil e sua Injustiça à Brasileira

Por Carlos Chagas

Escrevo esse manifesto apenas para lutar à favor da Verdade e contra a todos que se dizem justos e corretos e que na verdade não o são.

No dia 22 de Fevereiro de 2010, o jornal Super Notícia de Belo Horizonte publicou uma matéria com o título “Cliente pode pagar mais e levar menos” tratando do problema que todo o Brasil sofre: A Internet e seu descompromisso com a velocidade oferecida ao cliente. No decorrer da matéria foi informado que o PROCON (Órgão de Proteção ao Consumidor) considera abusivas as formas de contrato que existem feitas pelas empresas de Telefonia e Internet. Segundo a matéria, existem empresas que fornecem apenas 10% da velocidade oferecida em contrato, o que é absurdo, já que o cliente não pode, EM HIPÓTESE ALGUMA, pagar 10% da conta enviada a ele por tais empresas.

Ainda segundo o Jornal Super, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) não se posiciona para uma solução deste impasse. A Anatel diz que “não há legislação específica para o assunto e vale o que está em contrato”. Logo, milhões de usuários continuam sendo feridos em seus direitos.

Devido a este problema, eu, Carlos Chagas, obtive diversos problemas que podem ser acompanhados pelos protocolos que seguem no link http://www.reclameaqui.com.br/273248/claro/problemas-com-a-internet-claro-3g/ juntamente com a minha reclamação. Mas o que mais me indignou foi o fato de o PROCON dizer no jornal que acha isso uma injustiça. Injustiça é o que eles fazem todos os dias. Matei três dias de serviço correndo atrás da solução do problema e tudo o que eu consegui foi um contrato quebrado pela empresa que eu contratei e que não pôde ser cumprido. O acordo era dois meses de serviços grátis pela empresa em troca de eu não ir ao Juizado Especial de Pequenas Causas. Mesmo assim me mandaram a conta, fui ao PROCON, mas me mandaram ir ao Juizado. Fui ao Juizado e eles me mandaram pagar a conta e entrar com a causa. Fui a um advogado meu e ele falou que por eu ter pago a conta eu só ia receber em dobro o valor da conta e nada mais. Nem os dias que eu tive que correr atrás do “prejú” eu receberia porque sou autônomo e não tenho comprovante de renda. E não é a primeira vez que tenho problemas no PROCON.

Portanto venho através deste manifesto dizer que o PROCON é INJUSTO. Não trata os que o procuram à altura de suas necessidades. Ele não é como se descreve no jornal. Está do lado de grandes empresas e não do consumidor. Mas ainda acredito no Brasil. Espero mudarmos essa situação de CACHORRADA À BRASILEIRA!

Referência do Jornal citado:

CLEMENTE, Rodrigo. Cliente pode pagar mais e levar menos. Jornal Super Notícia, Belo Horizonte, 22 fev. 2010. GERAL, p.10.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Resumo: Cur Deus Homo

Por Carlos Chagas



No livro Cur Deus Homo (Por que Deus se fez homem?), Santo Anselmo trabalha a questão do pecado humano; da salvação do homem ante a Queda no Éden. Porém, deve ser dito antes que o livro é um diálogo de Anselmo com Boso, uma personagem que, na verdade, é o próprio Anselmo. Nesse diálogo Anselmo busca, de forma racional, explicar como e porque Deus encarna para viver no meio da humanidade.

Segundo Anselmo, o homem foi criado para suprir o número de anjos que caíram devido às suas práticas malignas. Porém, o próprio homem não conseguiu completar o que lhe foi proposto: Este também pecou e conseqüentemente caiu. Anselmo então parte para tentar explicar o porquê da intenção de Deus em se fazer homem para salvar o próprio homem de seu erro.

Em sua obra, Anselmo coloca que o homem foi criado livre lá no jardim do Éden. Este teria a condição de escolher entre o Bem e o Mal, mesmo tendo em vista que Deus disse que isso não seria bom para ele. O homem, em meio ao seu egoísmo, opta por conhecer o Bem e o Mal. Daí o problema: O homem passa a ser dominado pelo Mal; este se torna senhor da vida humana. Logo, todos da linhagem de Adão passam a ser escravos deste Mal.

Conforme as leis naturais que Deus criou, segundo Santo Anselmo, o homem pecou segundo sua vontade, o que, conseqüentemente o faz ter a possibilidade de se redimir do erro (pecado) também pelas próprias forças. Ou então de ser salvo pela ajuda de outro de fora; de alguém que está “limpo” deste erro. Anselmo diz que o homem tentou se redimir do erro, porém seu estado de culpa não o deixa em condições de se manter redimido. Logo, o homem se vê na necessidade de ter uma ajuda de fora para conseguir se salvar. Com isso Anselmo explica a necessidade da encarnação de Deus para salvar o homem de seu erro.

Deus então se inclina para a salvação do homem. Porém, um homem pecou, logo, um homem tem que pagar pelo erro. Deus, em seu infinito amor, se faz homem para pagar o “preço de resgate” pela humanidade, fazendo com que sua criação não fuja de seus planos. Jesus Cristo é a encarnação e o ápice da revelação. É nele que está a ordem de tudo e de todos.

Contudo, Boso, a personagem questionadora, em uma de suas perguntas, indaga Anselmo com a seguinte questão: “Por que Deus se fez homem para salvar o homem e não se fez anjo para salvar os anjos?”. Aliás, esta pergunta é feita pelo menos quatro vezes por Boso no decorrer da obra, mas Anselmo diz que para se compreender a resposta para tal pergunta, se deve antes conhecer, de forma cabal, a situação do homem em seu erro, e Deus em sua intenção redentora. Mas a insistência de Boso com tal pergunta tem seu fim quando Anselmo consegue explanar, de forma sucinta, o verdadeiro estado do homem ante a Deus. A resposta de Anselmo é que o homem pecou recebendo uma influência de fora (da serpente). Após isso, o homem teve a escolha, influenciada pelo egoísmo, em pecar. E foi o que aconteceu. Por isso, se o homem foi influenciado ao erro por alguém de fora, que problema teria ele ser também influenciado por alguém de fora a corrigir o erro? Mas Boso ainda pergunta sobre o porquê de Deus não se ter feito anjo para a salvação dos anjos. Anselmo responde que a serpente pecou sem sofrer influência de alguém de fora, por isso a correção do erro deve partir dela própria, o que é impossível, uma vez que a serpente está longe da graça de Deus, que é o que capacita alguém a consertar o próprio erro. Deus se faz homem devido ao seu infinito amor e ao seu alto grau e ciência de Justiça.

Resenha: Mística e Espiritualidade

Por Carlos Chagas



Os desafios ao cristão na pós-modernidade

BETTO, Frei; BOFF, Leonardo. Mística e espiritualidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

Frei Betto é um frade dominicano que se ingressou na vida religiosa com intenções últimas de encontrar sentido não só para sua vida como para as comunidades de base; os pobres e excluídos. Este não é diferente de Leonardo Boff, fundador da teologia Latino-Americana conhecida como Teologia da Libertação. Boff escreveu mais de 50 livros baseado nesta teologia. Até o ano de 1994 Boff era professor de Ética na UERJ.

No livro Mística e Espiritualidade, Betto e Boff escrevem, de forma objetiva e ousada, os possíveis conceitos sobre tais temas. O raciocínio de ambos pode ser dividido em 3 partes distintas: Na primeira parte, os autores falam, de forma geral, sobre o que é mística e espiritualidade, tanto cristã, como não-cristã. Na segunda, Betto e Boff comparam a mística e espiritualidade ocidental com a oriental, tentando um vínculo entre ambas sem ferir a mensagem bíblica. Já na terceira parte, os autores trabalham os desafios de tais conceitos quando aplicados no cotidiano.

Primeiramente o livro trata sobre o conceito do termo “mística”. O que é mística? Boff argumenta que mística tem haver com mistério, algo que ainda não foi descoberto pelo homem no nível da razão. A teologia vem com a finalidade de desvendar esta mística para a razão (doutrina), prática (ética) e para a celebração (liturgia). Ainda segundo Boff, Deus busca se relacionar misticamente com o homem, especialmente com o crucificado, devido ao fato de este ter se esvaziado dos conceitos centrados em si próprio.

Logo a seguir Betto propõe uma aplicação dos conceitos orientais sobre mística e espiritualidade juntamente com os conceitos ocidentais. Porém, não é uma tarefa muito fácil, pois o ocidente é fortemente influenciado pelo helenismo e sua filosofia, especialmente a de Platão. Tanto Betto quanto Boff criticam a idéia do Reino de Deus ser nos céus, e colocam passagens bíblicas que confrontam este argumento. Em um dado momento, Boff diz que Jesus propõem uma vida boa na terra, mostrando aos discípulos que os lírios se vestem bem; que os pássaros comem bem aqui na terra; que todos podem ser curados, tanto de enfermidades como de feridas da alma, também aqui na terra; que ele, Jesus, estaria com todos até a consumação dos séculos, mas que em tempos hodiernos, os discípulos, segundo Boff, dizem a Jesus: “Ainda queremos o CÉU...”. O que Boff quer tratar aqui é simplesmente a questão do amor, tão pregado por Jesus. Como pode alguém querer tanto o céu e viver desesperadamente por este ideal platônico e ainda amar o seu próximo? Em outras palavras, como falar de amor se este sentimento só tem sentido quando praticado? O amor de Jesus deve ser vivido agora e não no céu. Aliás, os autores discordam da existência deste céu escatológico. O céu é aqui segundo eles. O Reino de Deus já iniciou e culminará, em sua plenitude, na face da terra.

Por fim, os autores lançam os desafios. Como fazer teologia sem se prender em uma gaiola, ou melhor, sem também prender Deus em uma gaiola. A experiência mística não tem fórmula. Cristãos e não-cristãos podem experimentar desta maravilha. E aí entra a questão: se isto vem à prática, deve ser considerado que a Igreja não é portadora da verdade completa. E caso o cristão venha abraçar a causa de apoiar os não-cristãos, deve estar preparado para o rompimento com a igreja-institucional. Segundo os autores, Deus se revela na “merda”, termo usado por um dos autores do livro. É lá que a verdadeira espiritualidade acontece e não em cima do monte.
O que vale ressaltar é o seguinte: Como alcançar realmente Deus sem que se caia no relativismo? Se cada um tem sua experiência mística, dotada de “parte da verdade”, segue-se o raciocínio que a Bíblia também é “parte da verdade”. E a Inspiração das Escrituras? Como que fica? E se todas as religiões tem um contato com “O Deus” deve-se afirmar que a Bíblia é mais um livro de um povo que teve “certas” experiências místicas e que serviu como ensinamento espiritual não muito diferente dos outros livros considerados divinos.

Porém, levando em consideração o raciocínio dos autores, pode-se dizer que a sombra da cruz de Cristo se faz presente nas demais religiões. É como se eles tivessem contato com a verdade ficando apenas o conhecimento pleno da Criação e Redenção Salvífica de Deus à mercê de um anúncio; o kérigma. A compreensão se torna mais fácil se for dito que as demais religiões têm certa e limitada compreensão de uma obra Cristológica, não plena, mas sim em partes, e que a compreensão se tornaria plena com o anúncio do Evangelho por algum cristão. Mas é claro que isto parte de um raciocínio Inclusivista, do qual o teólogo jesuíta Karl Rahner era defensor.
Esta obra é de extrema importância para aqueles que se sentem violados ou limitados com a filosofia platônica, da qual surge o “Deus Intocável e Frio”. Serve também para pessoas que têm um espírito aberto a aventuras teológicas e culturais, e para aqueles que também levam em consideração a frase de Jesus que é a seguinte: “ ...quem não é contra nós é por nós”. Se eles, os orientais, pregam o Reino, cabe ao teólogo analisar e não julgar.

Provérbios

Por Carlos Chagas

LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999.

Os provérbios são, de certa forma, um guia de condutas que aponta as certas e as erradas em diversas situações. Este servia como expressão de fé que ligava a Aliança que o povo israelita tinha para com o seu Deus às atitudes, atividades e relacionamentos do cotidiano. Possuíam implicações éticas e morais resultantes do conhecimento de Deus.

Segundo o livro, “a principal missão de Provérbios é anunciar de maneira contundente, memorável e concisa o significado exato de estar à plena disposição de Deus”. É um manual para quem gosta de dar ouvidos aos ensinamentos de alguém que aprendeu com a própria vida o que é viver debaixo do temor de Deus.

Sua forma literária sugere uma comparação entre um e outro objeto estudado. Mas, com freqüência, alguns provérbios trazem fórmulas condensadas, mas sucintas de sabedoria.

No livro de Provérbios são encontradas oito coleções distintas de formas de compreensão da experiência de vida. Estes provérbios são trabalhados como conselhos de uma pessoa que é mais chegada e íntima. Possui formas e expressões que ajudam na memorização. Neste livro é encontrada a abordagem de temas do tipo: crimes de violência, promessas precipitadas, preguiça, desonestidade, e em especial, a imoralidade sexual.

Em Provérbios são encontrados os provérbios de Salomão, que é a coleção mais antiga. Estes possuem uma influência da corte egípcia e de culturas estrangeiras. Outros provérbios encontrados são os dos sábios, que tratam a respeito dos pobres, do como respeitar o rei, da disciplina de filhos, da moderação na bebida, da obediência aos pais e da pureza sexual.

Na coleção possui também: Os ditados complementares que trabalham a área da moral e da ética; os provérbios de Salomão copiados pelos homens a serviço de Ezequias (25:1 – 29-27); as palavras de Agur (30:1-33); as palavras de Lemuel (31:1-9); a descrição de uma mulher excelente (31:10-31); e os provérbios que falam dos limites da Sabedoria.

A data da coleção varia entre 715 – 686 a.C. e tem uma grande influência nos escritos neotestamentários devido a uma série de citações e alusões feitas.
Enfim, Provérbios é uma obra que salienta por extenso a lei do amar, lei esta que se cumpre no Messias anunciado, a saber, Jesus Cristo.

Profetas e Profecias no Antigo Testamento

Por Carlos Chagas

LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999.

Os autores, no capítulo 16 da obra, tratam do assunto que envolve profetas e profecias. O profeta é conceituado como alguém que “fala em nome de um Deus e interpreta sua vontade para o homem”. Este profeta pode vir com outros nomes nas histórias do primeiro Testamento que são eles: Vidente, homem de Deus, atalaia, mensageiro do Senhor e homem do Espírito.

O profeta era alguém que tinha seu nome respeitado no meio da nação de Israel, sendo que, poucas vazes sua presença é rejeitada. Esse, por mais que tremesse e entrasse em êxtase durante a revelação da profecia ou de outra ação do Espírito, sempre mantinha a consciência e o autocontrole durante a revelação. O chamado do profeta era algo subjetivo, porém o povo não questionava sua autoridade.

Quanto ao caráter do profeta, Deus nunca ficou preso em usar pessoas de caráter irrepreensível. Davi era de péssimo caráter, porém Javé o usou como instrumento de condução do povo ao caminho desejado por ele; Javé. Apesar de Davi não ter sido profeta, às vezes sua conduta se mostrava como tal.

O termo profeta era usado antes de Samuel. Moisés é citado como profeta em Oséias12:13. Estes profetas não tinham a intenção em escrever suas ações. Antes, estes profetas praticavam o anúncio oral. Mais provável que fossem os discípulos quem escreviam os textos.

Os profetas dos séculos X e IX possuíam diferenças dos profetas dos séculos VIII e VII. Esses tinham a atenção voltada aos reis como conselheiros. E estes voltaram a atenção mais para o povo; para a Nação.

A profecia possuía duas concepções: 1- a predição. E 2- a aplicação à situação da época. Ela, a profecia, não buscava primeiramente os efeitos escatológicos ou apocalípticos, antes, suas intenções estavam voltadas ao tempo presente. Como os autores descrevem “a profecia é a mensagem de Deus para o presente à luz da missão redentora em andamento”. E ainda: “Ela serve para ver melhor o propósito de Deus e sua obra redentora do que por outros meios”. É aqui que Deus se revela como um Deus pessoal. Assim como o profeta e sua profecia têm de se fazer presente e pessoal, assim Deus se demonstra ao falar para seu povo.

A Poesia Hebraica no Antigo Testamento

Por Carlos Chagas

LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999.

Segundo os autores da obra, poesia é um estilo literário que apela mais à imaginação e à emoção humana que à razão. Por isso ela é carregada de subjetivismo humano. Conseqüentemente a exploração objetiva do texto fica mais difícil.

A poesia possui algumas características. Uma delas é o paralelismo. Este consiste em reforçar a afirmação nas frases. Pode ser com palavras antônimas ou sinônimas, mas sempre um raciocínio acompanhado do outro. O quiasmo é um paralelismo com as ordens trocadas formando um “X” em sua estrutura literária. As estrofes podem vir com sentidos trocados, ou com raciocínios “amarrados” uns aos outros trazendo um estilo literário interessante. Existe também a sequëncia numérica, que busca destacar um item específico, crucial, numa lista. Já o merismo tenta, entre seus opostos, harmonizar a idéia ou conceitos que se fazem presentes no seu meio.

Os textos hebraicos possuem muitos recursos estilísticos tais como: aliteração, assonância, paronomásia, onomatopéia, etc. Estes trazem a riqueza do texto mostrando, pelos sentimentos, que a vida pode sim ser vivida e apreciada poeticamente.

Algo interessante e que deve ser observado por quem lê os textos do primeiro Testamento, é que o povo hebraico demonstrava que aprendia mais de Deus e sobre Deus de forma poética do que sistematicamente. A vida, para um hebreu, só fazia sentido se seus sentimentos pudessem ser exteriorizados. Para um hebreu, a abordagem histórica é superior à abordagem filosófica.

Com estes recursos literários, os autores bíblicos queriam comparar Javé com aquilo que Ele não é para destacar aquilo que Ele é. Daí partem as comparações de deuses dos povos vizinhos com Javé. As declarações do povo israelita diante de tais comparações são ricas em detalhes sobre o verdadeiro Deus e sobre o seu agir através da história de um povo, a saber, Israel.

A Sabedoria no Antigo Testamento

Por Carlos Chagas

LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999.

Segundo os autores a sabedoria bíblica está inclusa em ditados escritos e orais que têm marcas históricas. Estes são compostos de regras para o sucesso e para a felicidade. Sua literatura tem início no século X. Mas esta literatura sapiencial não é encontrada somente na Bíblia. Alguns achados históricos apontam para povos da antiga Mesopotâmia, datados bem antes de Abraão.

Os escritos de sabedoria podem ser divididos em:

1- Sabedoria proverbial: São ditados geralmente curtos que expressam uma sabedoria de experiência acerca da vida. Estes tipos de provérbios trabalham não só questões de práticas cultuais como também sociais com o intuito de sistematizar as observações da vida para passá-las a outros. Estes ditados passavam por meio do povo e possuíam características cômicas. A preservação destes provérbios dependia de seu tamanho, compreensão, apreciação e popularidade.
2- Sabedoria contemplativa ou especulativa: São monólogos ou diálogos que relatam os problemas da existência humana, tanto do sentido da vida quanto a questões do sofrimento. Nestes eram expressos as preocupações prementes da vida.
Mas para que tal literatura? Esta surgiu como um movimento de sabedoria em Israel para instruir a geração vindoura quanto aos costumes, responsabilidades e liderança social. Porém, uma nova característica foi somada aos escritos sapienciais no reinado de Salomão, quando esses possuíam maior prestígio por parte do povo como obras literárias.

O sábio, que era aquele que organizava a “sabedoria popular”, era constantemente consultado pelos reis. Mas os sábios não aconselhavam somente os reis, estes aconselhavam pessoas com diversos problemas auxiliando-os em suas ações. Estes sábios também eram responsáveis em fazer pronunciamentos e observações apropriadas.
Para um israelita a sabedoria devia estar ligada em Deus e só estava à disposição do homem porque este é criatura de Deus, que conseqüentemente eram capacitados a receberem a revelação do Alto. Para ser considerado sábio no meio dos israelitas devia-se antes temer a Deus e ser um adorador devotado.

O profeta Amós

Por Carlos Chagas

LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999.

Pastor e coletor de sicômoros para si e seus animais, Amós é chamado por Deus para falar em Seu nome ao povo de Israel. Profeta de duras palavras e portador de julgamento severo, Amós procura, no início, negar seu chamado, o que não vem a continuar. Antes este foi considerado um profeta profissional (7:12). Amós profetizou contra o Reino do Norte. Após anunciar as palavras do Senhor, talvez ele tenha ido para Tecoa, ao Sul, escrever suas mensagens.

Amós profetizou nos dias de Jeroboão II (793 a 753). Este profetizou em favor dos pobres denunciando as práticas iníquas (3:2) do povo Israelita, especialmente as suas festas e assembléias (5:21). Em suma, ele denunciava uma religião que estava sendo mecânica.

Sua mensagem era de uma luta contra a avareza. Os ricos ficavam mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. O teor de suas expressões também é algo de destaque. Termos como “vacas de Basã” são do tipo escarnecedor, típico de quem não aceita, de forma alguma, tais práticas. Seu livro é um pequeno resumo de sua vida como profeta, pois contém grande precisão e beleza na escrita.

Quanto à sua estrutura, este possui recursos estilísticos, o que realça a denúncia dos pecados praticados por Israel. Tais pecados, em geral, estavam ligados aos crimes contra a humanidade. Estes estavam ligados à realeza, à nobreza e ao sacerdócio, os quais adquiriam sentenças severas. Seu livro pode ser dividido em: Introdução (1:1-2); sete discursos de julgamento contra as Nações (1:3-2:5); discurso transitório de julgamento contra Israel (2:6-16); três de julgamento contra Israel (3:1-5:16); dois oráculos de lamento contra Israel (5:18-6:14); cinco visões de julgamento contra Israel (7:1-9:10) e duas promessas de salvação (9:11-15).

Vale lembrar que o monoteísmo da época buscava uma ética. Amós não só defendia esta crença como também buscava defender a relação de aliança entre Deus e Israel. A responsabilidade para com outras pessoas faz parte da religião bíblica, e não só da bíblica mas de todas que tem um alvo transcendente.

Em Amós, a idéia do julgamento deve vir acompanhada de esperança. Se Javé é quem vai destruir a Nação, e é o mesmo que prometeu para esta mesma Nação cumprir os propósitos de sua Aliança, fica claro que ambas estão unidas de forma que nunca se separarão. Não se pode ter uma leitura apenas de destruição, pois no final do livro percebe-se duas promessas do próprio Javé. E este mesmo Deus se demonstra como Deus revelador e salvador não só para Israel, antes, em Amós, ele relembra a promessa de Gn 12:3 que é seu testemunho para as demais Nações.

Correntes teológicas do século XIX: O desespero e a existência segundo Kierkegaard (Uma apreciação crítica)

Por Carlos Chagas

Segundo o filósofo Kierkegaard, todos os seres humanos foram feitos de uma mistura finita com a infinita. Tal mistura pode ser entendida melhor quando se compreende o homem à imagem e semelhança de Deus. Kierkegaard afirma que o homem foi feito para viver seu início e final no e com o Eterno. Tais homens que queiram viver longe desta verdade se colocam em situação de risco chamada por Kierkegaard de desespero. Kierkegaard afirma que o homem que descobre que ainda não é pleno em si próprio tem a grande chance de se descobrir e de viver segundo os planos divinos. Aqui já se tem meio caminho andado, uma vez que é melhor para o homem se ver no desespero do que negar tal realidade.

Mas o desespero não se dá simplesmente com relação a algo. Para Kierkegaard o verdadeiro desespero se dá quando o indivíduo se desespera consigo próprio; quando se vê em crise com o seu “eu”. Porém, para Kierkegaard esse estágio possui um perigo, que é de o indivíduo criar para si um “eu” que não é na realidade o “eu” perfeito para si. Isso o leva a viver uma fantasia. Kierkegaard diz que “o desespero da infinitude se manifesta na fantasia”.

Segundo a afirmação de Kierkegaard percebe-se que ele critica a criação de uma fantasia, o que pode ser entendido claramente, uma vez que o indivíduo estará vivendo uma realidade que não é a sua. Porém, se isto for analisado por outro ângulo, será visto que esta negação da fantasia, quando levada ao extremo, pode fazer com que o indivíduo venha a sofrer muitos problemas. Se for observado um homem que adora uma imagem ou algo que não é da realidade divina, será notado que ele, o indivíduo, vive uma fantasia, ou seja, aquela imagem ou aquilo que ele adora é o Deus dele. É notável que ele vive uma farsa. Porém, o homem foi feito para adorar algo, que é Deus. Se o homem não o conhece, ele adorará algo que não é Deus. Cria-se uma fantasia. Esta é ruim. Mas se tirada do homem, este se encontrará em uma situação pior que a primeira. Em todas as culturas é perceptível a adoração a deus ou deuses de diversas formas pelo indivíduo. Mas o interessante disso tudo é o seguinte: A fantasia não é algo bom em si, uma vez que restringe a verdade ao indivíduo. A fantasia deve ser vivida pelo indivíduo, mas ela deve ser transcendida. O homem não é perfeito, pois se o fosse este não pecaria contra o Criador; e nem imperfeito, porque senão não poderia ser negada uma imperfeição por parte do Criador. O homem é aperfeiçoável. Este tinha a Liberdade no Éden, perdeu, e agora luta consigo mesmo para voltar ao primeiro estágio. Suas veredas são endireitadas conforme sua caminhada.

Segundo Kierkegaard, o desespero não é alcançado apenas. O indivíduo, quando entra em desespero, ele ultrapassa o próprio desespero porque agora ele entende que ele não é aquilo que ele achava que era. Seu conhecimento de tal estágio faz com que lute para alcançar uma verdade válida e, se possível, universal. Mas por que universal? Porque a fantasia que ele vivia era relativa; só valia para si. Quando o indivíduo descobre que ele é fruto de algo Único (do próprio Deus), ele passa a ver tudo como fruto de algo único e imutável. Por isso universal.

Não só este tema sobre desespero, mas outros de Kierkegaard foram e é crucial para entender a existência do ser humano e de tudo que há na terra. Para entender o mundo devemos compreender nós mesmos primeiro. Não se compreende o mundo se não compreendemos o mundo que está dentro de nós. Talvez fosse isto que ardia no coração de Kierkegaard e em seus estudos.

Correntes teológicas do século XIX: O especificamente cristão em "A escola do Cristianismo" de Kierkegaard

Por Carlos Chagas

(Reflexão a partir da leitura do personagem Anti Climacus de Sören Kiekergaard)

O texto “A escola do cristianismo” é um texto bem complexo onde Anti-Climacus, o narrador, começa a relatar certas verdades de sua época; verdades estas que vinham à tona na igreja de sua época.

Falar sobre cristão genuíno é algo muito delicado, especialmente quando se baseia nas idéias de Anti-Climacus. Sempre deve ser lembrado que sua época não era igual a hoje, apesar de ter muitas características idênticas em ambas. Anti-Climacus abre seu discurso relatando o valor que às vezes os discípulos dão aos mestres e às suas falas e, conseqüentemente, transformam estas falas em doutrinas esquecendo do simples existir. A discussão do texto abre com este ponto: Afinal de contas, o que é mais importante, viver sob regras ou viver nas regras lembrando que ainda há a possibilidade de errar e de ser perdoado? Anti-Climacus começa seu questionamento com isso ampliando um pouco mais: Quando se pegam as palavras de um mestre tornando-as algo de extremo valor doutrinário, o que acontece em seguida é simplesmente esquecer da vida de quem as ditou. A vida do mestre às vezes fala mais e melhor do que a sistematização doutrinária das suas próprias palavras. Anti-Climacus fecha ainda mais seu discurso dizendo a seguinte frase: “... Cristo é infinitamente mais importante que sua doutrina”.

Discutindo este último parágrafo temos o seguinte: seria a igreja a real portadora do “como viver em santidade?” Ou o indivíduo teria tal arbítrio em sua forma de viver que não mais precisaria do ponto norteador que é a igreja de Cristo? São dois pontos extremos e indispensáveis para se pensar o termo “cristianismo genuíno”. O cristianismo genuíno talvez não esteja realmente na igreja, dentro de suas regras, doutrinas, RI’s, entre outros. Mas também isso não quer dizer que o indivíduo pode guiar sua vida como bem quer. Aliás, o relativismo, o mal que afeta a era contemporânea, tem suas raízes em tais atos de separação. Se separar da instituição geralmente atrai maiores problemas do que pequenas soluções.

Mais adiante da obra de Anti-Climacus observamos colocações do tipo: ser um cristão é viver um “incógnito” em sua vida. Esta última frase não será encontrada no texto, porém, ela é uma última análise de suas expressões que falam de Jesus (Deus-Homem) como um ser incógnito. Aqui se entende por incógnito como algo enigmático; secreto. É muito interessante quando se observa a história do cristianismo sobre o olhar desta palavra. O cristão sempre buscou uma sistematização de suas idéias; sempre quis colocar o cristianismo em moldes perfeitos. Porém, quando se observa a história deste cristão, o que se percebe é que ele mesmo não consegue se adaptar em tais moldes. Anti-Climacus coloca isso como que sendo necessário na vida do todo cristão. Daqui surgem as dúvidas, os escândalos e os desesperos, e todos estes são, de certo modo, aceitos por Deus, quando o interesse é entender o Reino e a si mesmo. Aliás, Anti-Climacus coloca que o escândalo é necessário para uma melhor compreensão do Reino de Deus. Não quer dizer que todos devem passar por estes escândalos, mas a todos que vierem a passar por tais, não serão punidos por Deus-Homem, pois uma vez que o Deus-Homem colocou o escândalo como objeto da fé; algo inseparável um do outro. Estes escândalos servem como algo que denota a obra do Deus-Homem, e, sem tais escândalos seria impossível reconhecer tal obra. Segundo Anti-Climacus, o reconhecimento direto seria uma espécie de paganismo. O incógnito fará do cristão que persevera, um vencedor em constante crise, mas nunca um perdedor satisfeito com o já conquistado. E aqui seria um passo do estádio estético para o ético de Kierkegaard.

Na verdade, o especificamente cristão no texto “a escola do cristianismo” seria nada mais do que encontrar o equilíbrio nas atitudes e desejos da igreja. Na verdade o indivíduo deve se sentir “igreja”; algo indivisível e único para Deus-Homem. O cristão deve viver sob doutrinas, mas antes deve aprender a lidar com o seu individualismo e com o do seu próximo. Ele deve aprender a lidar com as exigências e também aceitar os seus limites. Mais vale a crise de pensamento do que o mero rebaixar a conceitos pré-estabelecidos que não passam de frutos podres que são oferecidos pela cristandade às bocas famintas dos que vão às igrejas para buscarem respostas para as suas vidas sem-sentido. A crise ao menos traz reflexão; meditação; e isto é bom quando se tem a aplicação da práxis. O cristão genuíno é aquele que consegue pensar, argumentar, sistematizar os argumentos, questionar os argumentos antigos, e além de tudo isso, caminhar disposto a viver tudo isso em sua própria vida, mesmo sabendo que lá na frente de sua caminhada ele pode se deparar com um muro que o impedirá de prosseguir. Este realmente será mais aceito no conceito divino, do que aquele que simplesmente conceitua sem viver o que diz, ou daquele que quer simplesmente viver o que os outros dizem sem ter que ter o peso do raciocinar em sua vida. Ser um cristão genuíno é carregar a cruz durante a vida e depois deixar ser crucificado por outros.

Correntes teológicas do século XIX: Sören Kierkegaard e o "salto no escuro"

Por carlos Chagas

Sören Kierkegaard (1813-1855) teve uma educação que envolveu conhecimentos estéticos e filosóficos. Possuiu também estudos teológicos não assumindo cargos eclesiais, dedicando sua vida a escrever suas obras. Foi um ótimo escritor conhecido como crítico do idealismo (especialmente ao sistema hegeliano), do qual se busca a explicação objetiva da existência humana e de sentido. Foi chamado também de voluntarista. Kierkegaard também lutava contra o sistema cristão de sua época, alegando que o cristianismo havia deixado de ser aquilo que o Novo Testamento prega ser. Com isso Kierkegaard abre uma nova discussão sobre o “ser cristão” de forma literal.

Para Kierkegaard o sistema hegeliano não passava de simplesmente uma busca vazia, uma vez que Hegel buscava sistematizar a existência humana de forma objetiva. Kierkegaard refuta sua idéia alegando que nem todo homem se adaptaria em tal sistema porque todo homem é diferente de seu próximo; que a fé é algo subjetivo e, com isso, foge à idéia da sistematização da existência. É lógico que a palavra “fé” não é um termo muito estudado pela filosofia, porque tal termo é o paradoxo da razão. Aqui parte-se para um discurso teológico, onde o segundo passo de Kierkegaard é formular uma tese que é conhecida como “Os estágios do caminho da vida” ou simplesmente “Estágios”.

Os “estágios” descritos por Kierkegaard são divididos em três partes: O estético que é, em suma, a superficialidade da vida, consiste em limitar-se aos elementos externos e finitos da vida, o que não é por completo agradável ao homem. Isto o arremete à segunda parte que ao ético. Este é quando o homem entra em relação ao absoluto (quando enfrenta a exigência absoluta de Deus na escolha entre o Bem e o Mal). Segundo Kierkegaard, a vontade ética é incapaz de ser cumprida uma vez que, por diversos fatores existenciais, o indivíduo fica entregue à própria consciência da qual não tem nenhum controle. É então que entra o terceiro passo que é o religioso, no qual o homem se vê na necessidade de dar um “salto no escuro” limitando-se na confiança pura e simplesmente em Deus e na fé que é o dom divino entregue no ato de outorgar a Sua graça.

Kierkegaard não surtiu efeito para a história de sua época, porém hoje seus livros e ensinos são muito usados devido ao teor subjetivo e à valorização do ser quanto indivíduo. Na psicologia ele exerce grande influência e também na teologia, de sorte que o homem deve amar ao seu próximo como a si mesmo. Aqui se vê a necessidade do subjetivismo. Num discurso objetivo fica difícil se situar devido os pensamentos humanos não serem o mesmo num assunto comum.

Reflexão:

"Não seria o "salto no escuro" algo praticável até mesmo pela pura razão no ato de se pensar uma possibilidade para depois confirmá-la racionalmente? A idéia não nasce para depois ser confirmada?"

Correntes teológicas do século XIX: Hegel e a teologia especulativa

Por Carlos Chagas

George Guilherme Frederico Hegel foi um filósofo idealista alemão, porém, devido à sua inclinação pela teologia, este também obteve destaque em suas narrativas teológicas. Hegel ficou famoso com sua “dialética” que visava explicar a realidade. Era contra a teologia de Schleiermacher, que era monista, e partiu para uma teologia mais dualista; mais platônica. Hegel buscava em sua teologia especulativa um equilíbrio para as dúvidas sobre a realidade.

A teologia de Hegel é muito interessante, quando apreciada pelo prisma da organização. Sua tentativa de “amarrar” o raciocínio é algo de destaque. Porém, o problema que é encontrado é o seguinte: “Como explicar a realidade pela dialética se temas como ‘a origem do bem e do mal’ não se pode ter uma síntese?” Caso venha ser possível a explicação de tal tema, a teologia passa a ser monista, ou seja, o bem e o mal partem de Deus, voltando então à loucura de Schleiermacher. Se Deus é perfeito em seu equilíbrio, como explicar a origem do mal (como algo ruim) do próprio Deus? Deus tenta alguém? Tem-se então a mesma situação que até Santo Agostinho não conseguiu explicar.

Outro problema na teologia de Hegel é quando ele diz que o “conceito ou o pensamento científico coincide com a realidade... o espírito é o absoluto, a única realidade”. Diante da filosofia, como explicar os conceitos de absoluto e de realidade sem cair no relativismo ou na subjetividade separada das demais? Uma vez que a filosofia parte de conceitos racionais, dizer que o espírito é o absoluto e a única realidade oculta-se aqui o uso da fé e de um pressuposto subjetivo. Como se sabe, de forma racional, que o espírito existe? Como se prova racionalmente isso se espírito é algo que não é visível e que é algo que não é concreto?

Mas talvez o problema principal que Hegel tenha enfrentado seja a época em que ele viveu. O liberalismo teológico ficou muito comprometido, fazendo com que as divisões entre grupos de estudiosos fossem inevitáveis. A separação que houve entre razão e fé foi algo que comprometeu e muito os estudos. Filosofia e teologia devem andar juntas para que não haja absurdos. A prova de que a época influenciou os estudos de Hegel e dos hegelianos foi Strauss, um hegeliano que disse que Deus e o Evangelho são apenas um mito. Este buscava uma dialética para a síntese do raciocínio, mas seus conceitos só faziam uma separação da compreensão que se tinha da realidade. E Feuerbach, um hegeliano da esquerda, disse que Deus é a síntese dos sonhos e desejos humanos, ou seja, Deus é um mito, algo subjetivo e que a verdade é relativa quando se trata de religião.

Mas o importante em Hegel é a vontade de se explicar o inexplicável. Sem a teologia especulativa de Hegel, muitas coisas ficariam sem conceitos e compreensões. Com relação às doutrinas cristãs, muitas polêmicas e discussões foram levantadas, e, é verdade que mais problemas foram levantados sobre este quesito, porém, é fato que soluções sobre muitas coisas vieram à tona. É inegável que Hegel foi importante para a história, mas que também foi um “terremoto” nas estruturas cristãs e da própria filosofia.

Liderança e Pastoral

Por Carlos Chagas

Líder não é Chefe
Líder: Mesmo nível dos demais. Este leva os liderados à satisfação, ao sucesso, à realização.
Ser líder é ser equilibrado. Deve possuir boa personalidade. É bom possuir um conhecimento geral vasto.
O líder não tem liderança se o grupo não permiti-la. Liderança é co-mandar.

No mundo existem 3 tipos de pessoas: As que não sabem o que está acontecendo; as que sabem o que está acontecendo; e as que fazem com que as coisas aconteçam.
Lema do líder: Amar o próximo como a si mesmo.

Principal tarefa do líder: Formular objetivos ou determinar o que deve ser feito para que os objetivos sejam alcançados.

- Um líder trabalha em cima do grau de conhecimento de seus liderados e não além.
- Um líder vive primeiramente aquilo que ele anseia lançar aos seus liderados. O seu anseio se torna o anseio dos liderados.

Tipos de líderes que se destacam:

1- O patriarca: Prestígio da idade.
2- O modelo: Todos querem imita-lo.
3- O tirano: Domina.
4- O objeto do amor: Todos lhe querem bem.
5- O objeto da agressão: centraliza as frustrações do grupo.
6- O organizador: Impõe-se pela ordem.
7- O sedutor: Ninguém lhe resiste.
8- O herói: Vive em função da glória.
9- A influência má: Domina através da corrupção
10- A influência boa: Domina através da bondade.

Bases bíblicas de liderança cristã.

Moisés: Ex 18.21-24: - Moisés ouviu conselhos = HUMILDADE
- Ele deveria treinar os líderes = DILIGÊNCIA
- Ele foi criterioso. Não bastava treinar. Precisava ter qualidades.

Josué: caps. 6.2-3: Submisso a Deus.
6.6-7: Distribuiu tarefas.
6.10: Deu ordens claras e foi a frente.
6.16: Estava no comando.
6.22: Ele lembrou dos seus compromissos.
7.6: Assumiu o erro do grupo. (Acã).
7.13-14: Ele mesmo resolveu o problema.
7.19: Repreensão com amor.

Jesus: Mc 10.42-43: Ele serviu. Sua liderança não foi motivo de poder.
- A liderança de Jesus não era autoritária. Em Lucas 22:25 Ele poderia ter agido de forma autoritária.
- A liderança de Jesus era centrada no indivíduo e não no grupo.
- Ser líder é ser condutor. A função de um líder é “não complicar o simples”.
- Ser simples não é ser superficial.

O líder deve trabalhar tanto os dons da igreja como os seus próprios.
Exemplo: Humildade: Ser humilde é reconhecer suas limitações

Tipos de liderança:

Autocrática: Não importa com que os liderados pensam ou querem. Os trata como simples subordinados. Não aceita questionamentos. É um fraco fingindo ser forte.
2 opções: ou o povo reage contra ele ou o povo o aceita com passividade completa.

Liberal: “Deixar como está para ver como é que fica”. Medo de assumir responsabilidades. Não dá ordens e não traça objetivos. Não orienta os liderados.

Democrática (participativa): Procura a participação do grupo. Ele não diz: “Faça!” ou “Eu faço”. Ele diz: “Vamos fazer”. Este trabalha as opiniões; estuda todas elas.

Qualidades do líder cristão:

Competência; visão; iniciativa; tenacidade (apego; firmeza); serenidade (auto-controle); confiança (acreditar na capacidade do grupo); simpatia (faculdade de compartir alegria e tristeza); entusiasmo; autenticidade (não copia ninguém).

O preço da liderança:

Críticas; cansaço; reflexão (exige tempo com meditação); estar só; identificar com o grupo (estar à frente e também ao lado); decisões; competição; orgulho e inveja; tempo; rejeição; etc.

Como Jesus tratou as pessoas?

1- O endemoniado geraseno ( Lc 8:26-39): Devolveu o sentimento de segurança e coragem. “Vai... e anuncia”.
2- A cura da mulher com hemorragia (Lc 8: 40-48): Ele declara: “Filha...” Gesto de carinho, pois ela era carente. Além disto, no meio da multidão, Jesus tratou-a como se fosse a única pessoa.
3- Marta e Maria (Lc 10: 38-42): Troca de prioridades. Jesus chama a atenção de Marta.
4- O jovem rico (Lc 18: 18-30): Este achava que sabia de tudo, mas Jesus o questionava fazendo-o refletir.

Como um líder cristão deve se portar ao receber críticas:

- Ore;
- Não fique na defensiva pois assim não dá para visualizar os erros;
- Deixe o outro expressar completamente seus pensamentos;
- Peça evidências sobre em que se baseia a crítica;
- Questione-se;
- Verifique se o crítico busca mudança em você ou na situação;
- Verifique qual é o verdadeiro problema;
- Responda cuidadosamente;
- Fale sobre o que aconteceu.

Resenha: Uma igreja sem propósitos

Por Carlos Chagas



PROPÓSITOS COM REFLEXÃO

BARRO, Jorge (org). Uma igreja sem propósitos: os pecados da igreja que resistiram ao tempo. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.

Jorge Barro é diretor da Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA) em Londrina, Paraná. É Doutor em Missiologia, pastor presbiteriano e conferencista. É casado e tem dois filhos. Este também é o organizador do livro do qual se trata a presente resenha.

Esta obra de Jorge Barro pode ser dividida em três partes. Ele trata de comparar as sete igrejas do Apocalipse com as igrejas de hoje em suas formas de pensarem e agirem. Depois passa para uma atualização do texto e logo após para uma aplicação de tal atualização.

Barro cita os principais pecados encontrados nas igrejas do Apocalipse fazendo uma análise de cada um e colocando uma possível solução senão uma reflexão para atitudes erradas e não pensadas. Os pecados mais falados foram: A prostituição da igreja de Pérgamo que é comparado com a prostituição com os deuses pós-modernos pela igreja de hoje, sejam imagens esculpidas, sejam imagens criadas nas mentes humanas. A tolerância com a libertinagem da igreja de Tiátira, que tem seu início com uma mente corrupta e que, conseqüentemente, passa tais ensinos para as demais enfraquecidas pelo sistema corruptor, onde ganha forças com o número cada vez mais crescente de adeptos. O pecado da dupla personalidade, mais conhecido pelo termo “duas caras” era o fruto da igreja de Sardes. Esta crescia em número porém em desagrado diante de Deus. Já o pecado da falta de identificação com a pessoa de Deus fica com a igreja de Esmirna, a qual viria a sofrer perseguições devido a isso. Coisa que acontece com algumas igrejas cristãs hoje, seja como a história dos mártires da igreja primitiva, seja de forma política. O pecado do abandono do primeiro amor era o da igreja de Éfeso. Algo que é atual nos dias de hoje.

As igrejas de Filadélfia e Esmirna foram as únicas elogiadas devido à solidariedade, ações e puras no viver diário. Eram fervorosas em suas expressões de espiritualidade e perseverantes nas provações.

Logo após tais colocações, Barro busca a reflexão de tais pecados e atitudes supra-relatas. O autor enfoca os propósitos de ambos os lados, os das igrejas primitivas e os das igrejas atuais, buscando uma familiarização com os erros que se repetem. Após a identificação, o autor sugere que os líderes atuais pratiquem a aplicação da reflexão de forma práxis, para que tal método não se perca.

É muito interessante a forma como o autor busca uma interação com os dias atuais. Barro chama a atenção das igrejas para não continuarem no erro das primeiras igrejas, mas para repensarem seus passos caso se identifiquem com os erros. Mas ele faz tal alerta levando a uma práxis teológica e não a mais um devocional ou a uma mera aplicação. Seu intuito é ensinar e não simplesmente advertir. A sua linguagem aplicada em sua obra é bastante incisiva, dando a direção certa sem muitas delongas. Importante também de mencionar é que o título de sua obra não é mera crítica à obra de Rick Warren, mas sim uma forma de dar mais um passo rumo ao sucesso desejado. O livro de Jorge Barro tem a intenção de ajudar não só o ideal de Rick Warren, mas de muitos outros “modelos” de crescimento de igrejas, porém com uma nova cosmovisão.
É uma obra interessante indicada para pastores que desejam reder frutos no Reino de Deus, e para membros que querem ser fiéis, tanto para seus pastores e líderes, quanto para Deus.

OS JUDAÍSMOS DO PRIMEIRO SÉCULO

Por Carlos Chagas

Para se falar do judaísmo da época de Cristo, deve-se antes entender a situação da história da Palestina antes e nesta época. Para se ter uma idéia, o judaísmo nos anos que antecediam a vinda de Cristo ainda não era tratado no plural como está no título desta obra. Séculos antes do nascimento de Jesus, precisamente na revolta dos Macabeus, período onde se tentava resgatar os valores político-religiosos que uma vez foram perdidos com o acontecimento dos cativeiros assírio e babilônico, houve diversos movimentos que visavam o retorno às tradições mosaicas descritas no Pentateuco e nos livros (pergaminhos) proféticos. O ritual que servia como culto a Javé era algo, até então, muito influenciado devido às culturas que iam e vinham à Palestina.

Os movimentos religiosos que surgiram foram muitos. Alguns vieram como grupos que se fixavam sem muitos problemas com os demais, mas os que se destacaram foram: Os samaritanos; os fariseus; os zelotes; os saduceus; os essênios; o movimento de batizadores. Estes foram antes do ano de 70 d.C. Após esta data surgiram: O judaísmo rabínico; místicos apocalípticos e o cristianismo.

Os movimentos que surgiram no período macabeu vieram com características fortes da tradição antiga. Por exemplo, os fariseus, que vieram resgatar a Lei e sua observância, acreditavam que, obedecendo à risca a esta Lei, o reestabelecimento do reino de Israel seria inevitável. Porém os saduceus buscavam preservar o culto mosaico adaptando leis morais para os tempos atuais, o que era inaceitável para um fariseu. Os zelotes, por sua vez, defendiam por meio da força os seus interesses. Acreditavam ser os “soldados de Javé”. Já os essênios buscaram refúgio nos desertos para a prática de sua fé e devoção. Todos esses supra citados neste parágrafo, apesar de divergirem em alguns pontos, buscaram algo em comum: O retorno à tradição; ao antigo; “ao que trazia esperança”.

Mas, se for dada devida atenção aos manuscritos de Qumram, será percebida que não foi só por estes já citados que se alcançava novos caminhos para uma comunhão com Javé. Movimentos como o movimento dos batizadores foi algo inovador e muito freqüentado, pois se acreditava que a água era um elemento de purificação espiritual. Então este grupo praticava batismos idênticos ao de João Batista para a pureza interior. Aliás, ainda existem dúvidas se João Batista era uma vertente deste grupo, apesar de que João Batista possuía uma diferença em seu ministério: Ele pregava o batismo para a remissão dos pecados e não para a Salvação.

Ao seguir a história, percebe-se ainda que existem mais três grandes vertentes. A primeira é o judaísmo rabínico, que, mesmo depois da destruição do Templo em 70 d.C., estes “fariseus reformados” buscam priorizar o ensino da Lei e a fidelidade à aliança, não se esquecendo do Templo que deixou de existir. A segunda são os místicos, que se estribavam nos livros proféticos como o de Ezequiel esperando uma revelação de Deus como foi para tal profeta. E a terceira vertente é a do cristianismo. Este veio com características totalmente judaicas, mas que com o passar do tempo foi adquirindo roupagem nova. Foi acusado de heréticos por não observarem a Lei de forma tradicional. Todavia o cristianismo fez uma releitura da Lei mosaica e os ensinamentos de Jesus juntamente com a sistematização da fé apoiada pela filosofia.

O que se percebe é que é muito necessário ao homem cultuar a Deus debaixo de uma tradição e de uma segurança doutrinária. Este período foi muito complicado devido à miscelânea de crenças que vieram a partir de invasões de diversos reinos com suas culturas distintas. Apesar disso tudo, Deus não deixou de se revelar. E uma cultura que foi muito usada foi a cultura judaica. O fato é que o Judaísmo foi e é a base de muitas doutrinas e seitas, dentre as quais se encontra o cristianismo, que ainda hoje possui características que só são encontradas no meios do judaísmo.

Resenha: História Política de Israel

Por Carlos Chagas



A HISTÓRIA DE ISRAEL SEGUNDO AS DESCOBERTAS
CIENTÍFICAS E ARQUEOLÓGICAS

CAZELLES, Henri. História política de Israel: desde as origens até Alexandre Magno. 2.ed. São Paulo: Paulus, 1986.

Henri Cazelles é autor do livro Histórias políticas de Israel e de outros livros. É também especialista no Antigo Testamento. Seu livro trata da história de Israel numa perspectiva arqueológica e científica, e não literário e poético como é visto na Bíblia.

O livro de Cazelles pode ser dividido em três partes. Na primeira, a obra trata de falar de Israel de forma introdutória. Nesta, o autor prepara o leitor para a forma de abordagem do livro, alertando para as possíveis citações de descobertas científicas feitas pelos estudiosos na terra de Israel e adjacências. Na segunda parte ele, o autor, apresenta Israel antes de sua monarquia. Na terceira ele apresenta Israel já no período monárquico até sua queda com os exílios babilônico e assírio.

Cazelles trabalha, em sua introdução, a questão de se abordar a história de Israel segundo uma pesquisa que vai além da pesquisa bíblica, uma vez que a Bíblia, segundo Cazelles, não possui informações suficientes para conhecer Israel e seu relacionamento com as nações vizinhas. Ele relata que sua pesquisa não tem a intenção de colocar a Bíblia como ponto central de sua pesquisa. Na verdade, a intenção de Cazelles é deixar a história falar por si, quer seja com a Bíblia, quer seja com pesquisas modernas.

Em sua segunda parte, Cazelles trabalha a história de Israel antes de sua monarquia. Segundo Cazelles, falar desta época em que Israel viveu é muito difícil, porque os materiais de pesquisas são poucos e os materiais literários também são escassos. Além de escassos, são materiais em decomposição. Em sua obra, o autor fala de um Israel extremamente envolvido em seu meio de convívio, o que não é muito visto nos relatos bíblicos. Cazelles tem a cautela de mostrar como era o relacionamento de Israel ante seus inimigos, amigos, etc. Israel era uma nação como qualquer outra. Tinha suas relações comerciais, culturais, sociais, enfim, possuía sua vida própria, como qualquer nação. O que lhe diferenciava das demais era seu relacionamento com Deus de forma monolátrica. As nações vizinhas eram idólatras e suas formas de adoração às divindades às vezes fugiam da ética humana.

Para Cazelles entrar na terceira parte, ele faz uma caminhada na sua segunda parte, mostrando ao leitor, a necessidade que Israel tinha, de ter um rei. Todas as nações vizinhas de Israel já possuíam um rei, de menos Israel. Daí se entra na terceira parte de sua obra. É nesta parte de o autor afirma, sem hesitar, que Israel vive seu Apogeu. Israel conquista terras, passa a ter palácios, começa a contar registrando sua história em livros, seus reis empenham em dar ensinamentos em áreas específicas como: ensinamento para se ter escribas, artesãos, bons políticos, etc. Mas é nesta época que Israel se depara com diversos problemas internos, que o leva a sofrer corrupções, golpes, revoltas internas. Tudo partindo de dentro do próprio país. Israel começa a declinar do seu Apogeu. Suas relações externas ficam comprometidas, dando oportunidades para as nações vizinhas tomarem frente às conquistas. Com isto, Israel se vê no regime do exílio. Do exílio babilônico e assírio. A história de Israel toma um novo rumo. A história se torna amarga e de sofrimento.

Cazelles desfecha sua obra com a intervenção de outras nações na nação de Israel, dando a oportunidade para a criação de um livro que continue a história.

O livro de Cazelles é muito rico, quando se trata de história. Porém, pelo fato de ser uma obra não-poética, o livro se torna difícil para se compreender. Há muitas citações, o que dificulta a leitura, uma vez que existirão paradas na leitura para a consulta das mesmas. O livro é muitos rico também na confiabilidade histórica devido às consultas a diversos autores de outros livros por Cazelles. O livro é indicado para pessoas que têm uma boa noção geográfica, pelo fato de que o livro faz menção de citar nomes de cidades da época narrada. É indicado também para aqueles que querem fugir do romance histórico, ao qual os relatos bíblicos tendem a arremeter seus leitores. Muito indicado para aqueles que preferem uma visão mais neutra e racional da história de Israel.

Moisés escreveu o Pentateuco?

Por Carlos Chagas

Referências positivas da atividade literária de Moisés:
Ex 17:14 – “Escreve isso em um livro de memórias”.
Ex 24:4 – “Então Moisés pôs por escrito todas as palavras do Senhor”
Nm 33:2 – “Registrar as etapas da jornada, conforme a ordem do Senhor”
Dt 31:9 – “Moisés escreveu essa Lei e a entregou aos sacerdotes levitas”
Dt 31:22 – “Naquele dia, Moisés escreveu este canto e o ensinou aos israelitas”
Dt 31:24 – “Quando Moisés acabou de escrever num livro esta Lei até o fim”

Na idade Média, alguns judeus perguntaram: Como poderia Moisés ter escrito sobre sua própria morte? – Dt 34:5-12

Considere os seguintes pontos a respeito do Pentateuco:

a) A presença de cortes bruscos e tropeços na narração
- Ao relato da Criação (Gn 1:1-2: 4a) segue-se outro relato que volta às origens e exprime-se em categorias muito distintas (Gn 2:4b-24).
- Depois do nascimento de Sete (Gn 4:26), volta-se às origens de Adão (Gn 5:1).
- Em Ex 19:24ss, Deus ordena a Moisés que desça do monte e suba novamente com Aarão. Mas o relato se interrompe para dar lugar ao Decálogo.

b) Há tradições duplicadas e triplicadas:
- Dois relatos da Criação (Gn 1:1-2:4a; a:4b-24).
- Duas descendências de Adão (Gn 4 e 5).
- Dois relatos do dilúvio misturados em Gn 6 – 9.
- Três vezes a esposa em perigo (Gn 12:10s; 20:26).
- Duas alianças de Deus com Abraão (Gn 15 e 17).
- Dois relatos da vocação de Moisés (Ex 20 e Dt 5).
- Lei sobre os escravos (Ex 21; e Dt 15:12-28).
- Lei sobre os homicídios (Ex 21; Dt 19; e Nm 35).
- Diversos catálogos de festas (Ex 23:14s; 34:18s; Dt 16; Lv 23:4; Nm 28-29).
- O nome Berseba (poço do Juramento) comemora não apenas uma aliança entre Abraão e Abimeleque (Gn 21:22-31), mas também um acordo entre Isaque e Abimeleque (Gn 26:26-33).
- Leis sobre animais puros e impuros (Lv 11:1-47) reaparecem em Dt 14:3-21.

c) Há tradições diversas e até opostas:
- Em Gn 1 Deus cria o homem e a mulher ao mesmo tempo, como vértice da Criação. Em Gn 2 cria o homem antes dos animais e por último a mulher.
- Em Gn 6:19 ordena-se a Noé a introduzir na arca um casal de cada vivente. Em Gn 7:2 já são sete casais de animais puros e um casal de impuros.
- Em Gn 7:6 tem lugar o dilúvio, e Noé entra na arca. Em 7:10 se diz que o começo do dilúvio aconteceu uma semana mais tarde. Em 7:11, volta-se a falar do começo do dilúvio e em 7:13 da entrada de Noé.
- Em Gn 37:28 os midianitas tiram José do poço onde seus irmãos o haviam colocado, vendem-no aos ismaelitas que o levam ao Egito. Em 37:36, são os midianitas que o vendem no Egito a Potifar. Em 39:1, Potifar o compra aos ismaelitas.
- Em Ex 33:7 se diz que a tenda da reunião estava situada fora do acampamento. Em Nm 2:2 que os israelitas deviam acampar em torno dela.
- Em Ex 16:14-35 se fala do maná como um milagre divino. Em Nm 11:6-9 como de um fenômeno natural.
- Em Nm 9:17 e seguintes diz-se que uma nuvem guiava os israelitas pelo deserto. Em Nm 10:31, Moisés não conta com essa ajuda e pede a Hobabe que os acompanhe. Em Nm 10:33 quem guia o povo é a arca.
- A duração das festas das Tendas é de sete dias segundo Dt 16:15 e de oito segundo Lv 23:36.
- Em caso de homicídio não-intencionado, o lugar do asilo é o altar segundo Ex 21:12ss. Em Dt 19:1-3 e Nm 35:9-24, não se fala do altar, mas se especificam umas cidades de refúgio para o culpado.

d) Anacronismos:
- Em Gn 12:6 e Gn 13:7 se diz “naquele tempo habitavam ali os cananeus”. O autor supõe que são os israelitas que habitam a terra agora. Uma afirmação que carece de sentido no tempo de Moisés.
- Em Gn 21:34; 26:14, 15 e 18; Ex 13:17 mencionam-se os filisteus que só vieram a ocupar o território em período posterior à morte de Moisés.
- Gn 14:14 indica que Abraão perseguiu os captores de Ló até Dã, mas o lugar só recebeu esse nome quando Dã capturou a cidade, após a conquista (Js 19:47; Jz 18:29).
- A cidade de Havote-Jair em Nm 32:4 e Dt 3:13 se originou depois de Moisés conforme Jz 10:4.
- O uso da expressão “até este dia” demonstra que quem está relatando lança um olhar sobre o tempo de Moisés e o compara com seus dias Dt 3:14; 34:6; 10:15.
- Gn 40:15 – A expressão “terra dos hebreus”, pois os filhos de Israel ainda não moravam ali.
- Nm 21:14 menciona uma fonte histórica que trata da história do tempo de Moisés.
- Em várias passagens (Gn 50:10ss; Nm 22:1; Nm 32:32; Nm 35:14; Dt 1:1-5; Dt 3:8; Dt 4:46) a região a leste do rio Jordão é chamada “a terra do outro lado do Jordão”. Isso mostra que o autor vivia a oeste do Jordão, ou seja, na Palestina, onde Moisés nunca chegou a por os pés.

e) Há diferença de vocabulário:
- Em alguns textos se dá a Deus o nome genérico de ELOHIM, em outros, seu nome concreto YAHWEH.
- O monte onde Deus se revelou recebe em uns casos o nome de Sinai, em outros o de Horebe.
- O sogro de Moisés se chama Reuel em Ex 2:18 e Jetro em Ex 3:1; 18:1,2,6, e 12.

f) Há complexidades literárias:
- Tanto a narrativa como a divisão legal (em cinco livros) apresenta falta de continuidade e ordem quanto ao assunto tratado. Por exemplo, há uma seqüência entre Gn 4:26 e 5:1; entre Gn 19:38 e 20:1; entre Ex 19:25 e 20:1.

O surgimento do Racionalismo Moderno

Por Carlos Chagas

INTRODUÇÃO

Durante muitos séculos, a Europa vinha vivendo um regime teocêntrico, onde os homens eram submetidos a diversas barbaridades e escândalos “em nome de Deus”. Contudo, foi no século XVI que o curso da história começa a mudar com o Renascimento. É neste momento da história que os homens passam a valorizar mais os próprios conceitos do que os da Igreja através da razão pura e reta. Esta razão passa a ser fruto de um movimento que foi muito marcante neste século, fazendo com que os homens passassem a viver um regime antropocêntrico. Esse movimento ficou conhecido como movimento Racionalista, o qual é tema deste trabalho. Esse movimento seria a chave para tentar responder a qualquer dúvida que existisse pelo caminho; e não só responder como também suprir a carência que o povo da época começou a sentir devido a tantos receios e anseios sobre seu futuro que ainda estaria por vir.
Este trabalho está dividido em duas partes: A primeira traz o conteúdo histórico; e a segunda traz uma reflexão da teologia que foi vivida na época para uma possível aplicação nos dias atuais. Logo, este trabalho mostrará o caminho traçado pelo Racionalismo que atingiria o seu ápice no século XVIII trazendo revolução, produção, crescimento e até mesmo muitas decepções.

1ª PARTE

O QUE É RACIONALISMO?

O tema Racionalismo é um tema muito complexo, interessante e que foi de suma importância, tanto para a ciência quanto para o mundo. O conceito que se pode ter de início é que o Racionalismo se iniciou como movimento no século XVI mas que teve seu ápice nos séculos XVII e XVIII.

No século XVI foi que surgiu o protestantismo, e este como tal teve que criar novas bases e conceitos, uma vez que não aceitavam os dogmas católicos. O desenvolvimento das idéias surgiu dos esforços de Lutero e Calvino. Ambos buscaram novos conceitos e práticas para melhor situar a Igreja que na época vivia o Renascimento.

O Renascimento foi um movimento que teve como característica voltar a atenção à cultura clássica, ou seja, à cultura helênica do século IV a.C. Com esta volta, os olhos da Igreja haviam se desviado de uma visão teocêntrica para antropocêntrica.

Não há como entender o Racionalismo se antes não enfatizar a situação do mundo na época. A arte, a ciência e a própria fé estavam passando por um momento de transição.

Porém, com a fixação das idéias básicas do protestantismo e sua teologia, não houve como não surgir um novo escolasticismo. Este trouxe uma frieza na fé da época devido à sua ortodoxia e pelas guerras que estavam sendo travadas na época.

Foi devido a esta “chuva que caía mas não molhava” que fez com que se desenvolvessem duas linhas de reações: O Racionalismo, que teve no deísmo a sua forma de apresentação; e o reavivamento, que foram os pietistas que buscavam mais a emoção e a expressão dos sentimentos de afetividade que se encontra no coração humano.

COMO SURGIU O RACIONALISMO?

O Racionalismo não foi algo que surgiu de uma hora para outra. Este foi um conjunto de conceitos filosóficos que tiveram seu apontamento no século XIII com um santo da Igreja Católica chamado Tomás de Aquino.

Para entender o Racionalismo dos séculos XVII e XVIII, vale a pena entender a idéia racionalista de São Tomás de Aquino. Este, por sua vez, trabalhou a teologia da época dando ênfase na filosofia de Aristóteles. Aristóteles foi um filósofo que trabalhou a metafísica de Platão que diz que não há nada neste mundo que seja real, mas que tudo são sombras das coisas que estão num mundo inteligível (mundo das idéias). Com esta idéia de Platão, Aristóteles reinterpretou-a criando uma nova metafísica que diz que tudo neste mundo é possível de se entender e interpretar porque, para o homem, é possível encontrar a essência das coisas nas próprias coisas através do sentido humano.

Tomás, ao reintroduzir Aristóteles, fez com que a Igreja viesse a ver o mundo de outra forma. Fez com que o homem pudesse ver a realidade de forma totalmente diferente, levando a um interesse cada vez mais crescente pelos fenômenos da natureza. Automaticamente fez com que a Igreja tivesse sua tradição e seu dogma quebrados. Esta, por sua vez, fez com que essas idéias fossem reprimidas porque eram muito avançadas para a sua época.

Porém o interesse por estas idéias não foi arrancado dos estudiosos. Tomás, Alberto e muitos outros tiveram suas mãos nesta obra de estudar a Criação criando um novo conceito, que ia além do alcance da fé pura. Mas estas obras só foram ter valor na Idade Média, onde a Renascença provocou uma explosão sem explicações que teve sua inclinação pelas obras filosóficas, e estas, por sua vez, não puderam ficar de fora devido ao seu alto teor filosófico e teológico.

Para se ter uma melhor explicação da teologia e fé do século XIII, deve ser dito que a confiança que os cristãos tinham na divindade partia unicamente da fé, sendo esta compreendida também nos Concílios, onde se debatiam mediante a razão, as dúvidas existentes. Mas estes debates nunca tinham um fim de “filosofar”, mas sim de explicar as dúvidas existentes. Por isso que se diz que partia unicamente da fé.

Mas foi na Renascença que todos esses conceitos tiveram grande aproveitamento porque já não era mais a fé que era construída em Concílios que dominava as mentes das pessoas sedentas de explicação de várias outras dúvidas, porém se buscava nesta época uma fé que era construída com as bases na razão. E esta fé com base na razão tentava de todas as formas não perder a essência que era a paixão, para explicar todas a questões existentes. Porém não foi o que predominou porque com todos os estudos que ainda viriam de vir, seria destacados a falta de uma certa espiritualidade nos conceitos, que é o que vai ser mostrado no decorrer deste trabalho.

O RACIONALISMO NOS SÉCULOS XVI A XVIII.

Estes últimos parágrafos foram para simplesmente mostrar como que o Racionalismo foi tomando força para então chegar em seu momento decisivo. É neste século que o Racionalismo é reconhecido como um movimento.

Para se entender como o Racionalismo tomou uma característica importante no século XVI deve ser comentado sobre as novas teorias no campo da astronomia. Nicolau Copérnico; este é o nome pelo qual tudo havia de mudar. Copérnico foi um famoso astrônomo que descobriu, através de cálculos matemáticos, que a Terra gira em torno do sol, e não vice-versa. Mas sua teoria (teoria do universo heliocêntrico) foi popularizada por outro grande astrônomo chamado Galileu Galilei que, motivado pelas leis básicas que atuam no universo, escreve o livro Principia Mathematica, que trazia consigo a explicação da lei da gravidade, lei que serviu para desencadear grandes descobertas no ramo da ciência.

Vale lembrar que nesta mesma época surge a teoria da evolução de Charles Darwin, porém, antes dela predominava a teoria de Galilei que consistia na lei natural que tinha o universo como máquina ou mecanismo operado por leis naturais imutáveis. É através deste conceito que os homens começaram então a crer num Deus que criou todas as coisas, e logo após ter criado, este se retira deixando o homem e sua Criação restrita a leis naturais.

Os séculos XV e XVI são também na Europa o marco do Mercantilismo. O comércio havia crescido muito devido às grandes viagens marítimas buscando contato com outros povos que eram considerados bárbaros pelos europeus, mas que possuíam, devido às suas culturas, diversas mercadorias e atrativos que agradavam os europeus.

Devido este contato cultural e ao novo conceito da mentalidade da época é que a visão do homem passa a ser ampliada para a natureza e não para a divindade. É através destes contatos com outras religiões não-cristãs, que o homem começa a observar, de forma crítica, que todas as religiões têm semelhanças nos princípios e concluem que Deus talvez tenha deixado uma religião natural básica para todos os homens, fora da influência exercida pelos sacerdotes e até mesmo da Bíblia. Conseqüentemente, os homens são levados ao deísmo, que buscava estabelecer uma nova religião ao mesmo tempo natural e científica.

O DEÍSMO.

Segundo o dicionário Aurélio deísmo significa:

“Sistema ou atitude dos que rejeitam toda espécie de revelação divina e, portanto, a autoridade de qualquer Igreja. Aceitam, todavia, a existência de um Deus, destituído de atributos morais e intelectuais, e que poderá ou não haver influído na criação do Universo.” (AURÉLIO, 1999. vs. 3.0)

É importante citar este conceito para então se situar nas idéias que hão de serem citadas no decorrer do trabalho.

O deísmo trouxe consigo uma série de dogmas para identificá-lo. Nestes dogmas são observados: a crença numa Criação regida por si e não por Deus; que Jesus veio ao mundo para ensinar uma gnose (Do gr. ecles. gnôsis. S.f.1.Conhecimento, sabedoria. 2.Hist. Filos. Conhecimento esotérico e perfeito da divindade, e que se transmite por tradição e mediante ritos de iniciação. [Cf. gnosticismo.]). Logo ele não é um Deus e sim um mestre e por isso só Deus deve ser cultuado; crença na “virtude e piedade”, que eram alimentadas pela razão, era a melhor forma de se cultuar a Deus, uma vez que Ele quer que os homens cheguem ao conhecimento da verdade contida em Sua Criação; o homem devia se arrepender de viver conforme as leis éticas porque a alma é imortal e está sujeita à recompensa ou ao castigo depois da morte.

O deísmo se difundiu nas classes altas da Inglaterra, apresentado por pessoas como Edward Herbert, David Hume, John Tolard, Lord Shaftesbury e outros, que pregaram que o cristianismo não era um mistério como ele era passado e que era possível contestá-lo pela razão. O deísmo dizia que aquilo que não fosse provado pela razão devia ser rejeitado. Talvez seja este o erro principal do deísmo, que é o que vai ser comentado no final do trabalho.

O deísmo se difundiu em países como: França, Alemanha e até nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, as 13 colônias foram influenciadas pelo deísmo por volta de 1756-1763. Estes países contribuíram para o efeito destrutivo que o deísmo possuía.

O deísmo estimulou a idéia de que a razão humana, pelo uso do método científico (neste inclui o empirismo), poderia ser descoberta uma verdade de validade universal. O deísmo também serviu de raiz para o Positivismo que ainda nasceria no século XIX.

Mas ao contrário do que muitos pensam, o cristianismo também lucrou com o
deísmo com suas práticas humanitárias. Ajudou também com sua crítica textual e exegese. O uso da história e da gramática para uma correta exegese bíblica foi indiretamente estimulada pelo movimento racionalista.

Vale citar que o pietismo surge como revide aos ataques racionalistas e deístas na Europa Continental, na Inglaterra e nos Estados Unidos, porém este não terá sua obra e influência na história comentados neste trabalho.
Como se pode ver, o deísmo bateu de frente com o conceito cristão de como viver de forma agradável a Deus. Devido ao seu descaso com a pecaminosidade humana, este faz surgir movimentos como o fundamentalismo religioso e o liberalismo religioso. Porém nomes importantes surgiram para defenderem o movimento contra a teologia que contra-atacava.

PRINCIPAL DEFENSOR DO MOVIMENTO RACIONALISTA.

Assim como todo movimento, o Racionalismo teve muitos defensores e seguidores. Como este movimento foi mais inclinado à razão do que à fé, este teve mais filósofos do que teólogos por defensores.

Porém, o nome que não deve ser esquecido nunca quando o assunto é sobre o Racionalismo, é René Descartes. Este filósofo foi um dos que foram influenciados pelas tendências da astronomia da época, lembrando que foi nesta época que Galileu Galilei escreveu sua Teoria Heliocêntrica

Descartes viveu entre 1596 a 1650. É nesta época que está compreendida a Guerra dos Trinta Anos, onde Descartes teve que prestar serviço ao príncipe de Nassau, embora que ele não tenha participado ativamente na guerra. Mas Descartes aproveitou do posto em que ocupava e continuou seus estudos de matemática e física, onde veio a comprovar para ele próprio e para os demais que a teoria de Galilei estava certa. Contudo ele não as publicou devido ao risco de ser queimado como herege ou pelo fato de que isto poderia atrapalhá-lo em seus estudos que ainda iam de se seguir.

Como todo mestre, este não ficou com suas idéias para si. Ele as registrou em anotações e também ensinou. Em 1628, Descartes muda para a Holanda, onde a liberdade intelectual era mais fácil de se encontrar, embora houvesse ali um grupo de tradicionais que atrapalhavam o andamento de seus estudos. Nesta época ele aceita também um convite de lecionar filosofia para a rainha Cristina da Suécia. Após esses acontecimentos, ele morre em Estocolmo, em 1650.

Descartes era uma pessoa que desconfiava de todos os tipos de conceitos, buscando comprovar tudo pela razão que ele obtinha da matemática. Todos os seus trabalhos de comprovação de algo, passavam pelo teste da matemática. Até o conceito de Deus, a existência de Deus, a natureza do ser humano e outros, eram tópicos estudados por ele para uma comprovação racional. Através de seus estudos Descartes buscava uma forma de conceituar todas as verdades existentes, excetuando apenas aquelas que são impossíveis pelo fato de serem estas indubitáveis.

Partindo do conceito de que não se pode duvidar da própria existência, Descartes cria seu ponto de partida sob a seguinte frase: “Penso, logo existo” (Há quem diz que Descartes escreveu sua famosa frase com base na frase “Duvido; portanto deve existir a verdade” de Agostinho de Hipona, porém é fato que sua teologia e filosofia não se comparam com a de Agostinho. RICHARDSON, 1991. p.194.). Desta frase, baseado na existência de dúvidas insistentes, passa a ser criado um conceito de que se há uma vontade de que se alcance algo perfeito, logo se conclui que existe o perfeito, ou seja, descobre-se que se há o perfeito, Deus é este perfeito, e então não há possibilidade de se negar a existência deste ser perfeito.

Segundo Descartes, é a existência de Deus como ser perfeito que permite um elo de ligação entre a dúvida, a vontade de se alcançar o conhecimento e então o aperfeiçoamento. E com isto percebe-se que Descartes foi um filósofo que não buscou destruir o conceito cristão, porém prová-lo com a razão sabendo que esta própria foi criada pelo próprio ser perfeito.

Porém Descartes se perde ao tentar explicar como que a matéria se comunica com o espírito. Nisto, diversos filósofos da época intentam, em uma luta desenfreada, encontrar uma resposta para esta dúvida. Coisas absurdas foram ditas, porém muito dos estudos não foram aceitos.

Como se percebe, Descartes vinculou a razão com uma base de fé visando uma ideologia que abraçasse as verdades universais. Muitos nomes poderiam ser citados aqui, pelo fato de que não só houve o sistema de Descartes baseado na razão, como também houve na Europa, sistemas baseados na idéia de se adquirir conhecimento através de experiências (empirismo). Contudo, vale citar somente René Descartes para se ter uma pequena idéia de como a teologia e a filosofia caminharam nesta época conturbada. Houve também aqueles que não se detiveram em tentar colocar todo o discurso de Descartes abaixo. Houve também muitos que criaram vertentes deste raciocínio dele, porém o que deve ser mencionado aqui é que até hoje Descartes faz sucesso com sua teoria pelo simples fato de se mostrar que não se faz necessário separar a fé da razão. Ao contrário, uma necessita da outra. Aliás, é a fé que ensina o caminho à razão. A razão existe pelo simples fato de que antes dela se tornar razão, ela foi alimentada com uma dose de fé. Richardson explica isto melhor dizendo:
"O erro em filosofia, ou no uso da razão, geralmente surge não tanto da fraqueza e limitação de nosso intelecto, ou das deficiências de nosso conhecimento empírico, mas – e mais perigosamente – dos desvios provocados pela pecaminosidade e egoísmo humanos. O uso certo da razão é uma virtude – o produto de uma mente virtuosa; mas isto não deve dar lugar à satisfação própria e ao orgulho, visto que, como os mais dons excelentes e perfeitos, vem ele do Alto. A fé é uma virtude. Mas, como todas as virtudes que podemos possuir, é dom da divina graça". (RICHARDSON, 1991, p.193)

É fato que todos respiram um ar que é composto de diversos componentes químicos, e que isto já foi provado pela ciência, mas esta ciência não provará se amanhã o mundo estará ainda existindo para que todos compartilhem do mesmo ar; é aqui que entra a fé. É pela fé que se acredita que os seres vivos respiram diversos componentes químicos já comprovados pela ciência, mesmo não vendo com os próprios olhos. Em essência, Descartes lutava em passar esta compreensão, logicamente acompanhada por teses bem mais profundas, a ponto de se colocar Deus como um “simples” objeto de estudo.

Aqui não foi citada a fundo a obra de Descartes porque a intenção do trabalho é de fazer uma “caminhada de mãos dadas” entre fé e razão e esta ligação não seria possível se não fosse citada a obra filosófica deste.

Agora, o trabalho caminhará para a sua segunda parte que consistirá em fazer colocações de uma fé com e sem razão, lembrando que o movimento racionalista foi perdendo seu rumo inicial devido a tantas divisões impostas a ele, apesar de que até hoje se encontram igrejas que possuem o caráter racional da época.

2ª PARTE

FÉ E RAZÃO: UMA APOLOGÉTICA CRISTÃ.

O que pode ser dito deste tema? A fé é algo que, aparentemente, soa como contrária à razão. A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem (Hebreus 11:1). A razão é uma forma de conhecimento que busca provar até as últimas conseqüências que algo é realmente verdade ou fato. Para a fé, as coisas não precisam ser provadas porque a convicção traz a esperança, porém a razão quer testificar (ou provar) esta fé.

No Racionalismo se viu muitas atitudes daqueles que se revoltaram contra o sistema eclesiástico, ou contra a filosofia de vida da época, ou pessoas que preferiram se destacarem com suas inteligências e sabedorias para satisfazerem o próprio orgulho. Mas se viu também, no Racionalismo, que muitas pessoas sentiram que a Revelação de Deus não se resume em uma fé simples (ou utópica), ingênua e ignorante. Foi neste movimento que grande maioria do povo descobriu que Deus é o Criador de tudo e de todos, inclusive da razão. A busca da razão é antecedida pela descoberta da dúvida, e como já foi dito, a dúvida é a certeza de que há uma verdade, e se há uma noção de verdade, há então uma possibilidade de descobri-la por inteiro ou pelo menos de se ter um conceito sobre esta verdade.

Durante o movimento Racionalista foi percebida uma questão importante: A razão deve andar junta com a fé, e não vice-versa. Por quê? A crença de que é a fé que deve seguir o conceito da razão foi que fez com que a própria razão se perdesse em seus conceitos. A vida passou a não ter mais sentido. Richardson diz que: “Na filosofia, quer-se dizer que a razão deve ser justificada ou corrigida pela fé; sem a fé cristã, a filosofia poderia, até certo ponto, se aproximar da verdade, mas não poderia saber que assim o fez.” (RICHARDSON, 1991, p.183). E ele conclui dizendo: “A fé é uma luz e um guia, sem os quais a razão não pode operar.” (RICHARDSON, 1991, p.187). A razão em si não leva ao conhecimento de Deus em sua plenitude.

A “razão” do Racionalismo foi tão assediada, que esta buscava acabar com todo o tipo de fé existente na época, embora muitos autores não relatem isto em seus livros. A “febre” de muitos da época era o Racionalismo extremo, aonde aquilo que não viesse da fé não passaria de um nada. Mas é aqui que surge um equívoco: Se existe uma igreja, ou algo do tipo, deve-se primeiro buscar explicar o porquê de sua existência. Afinal, uma igreja professa sua fé devido a uma razão. E se os estudos se aprofundarem neste sentido, perceberá que a razão é fruto de uma pequena ponta de fé. A busca da razão surge quando se há dúvida de algo ou de alguém, porém esta dúvida tem uma margem de fé que a instrui a duvidar do conceito lançado, porque só com esta fé é que a busca da razão que preencherá esta dúvida será possível.

A busca por uma razão não pode ser mais bem interpretada do que por Agostinho de Hipona em seu livro Confissões. Antes de se converter, Agostinho buscou encontrar pela razão, uma verdade que satisfizesse seu espírito fervoroso. Tornou-se seguidor das idéias maniqueístas; depois passou a receber conselhos e ajuda de Cícero; depois se inclinou para a filosofia mesclada de Plotino e para a filosofia dos platônicos; porém não conseguiu se tornar filósofo. Isto não se sucedeu pelo fato de não ser inteligente e sábio o bastante, pois na verdade ele era. Agostinho simplesmente não conseguiu achar na filosofia algo que o abastasse. Mas ao se converter ao cristianismo, ele passou a ter uma nova perspectiva. Foi no cristianismo que Agostinho encontrou luz para responder às suas dúvidas, embora que as respostas não lhe vieram repentinamente, mas por etapas. Assim, a filosofia que ele em vão procurava pela razão lhe foi oferecida pela fé.

Mas também deve ser citado que a fé nunca pode se contrapor à razão, a não ser que uma “razão” seja na verdade um credo ou fé, como é o caso do racionalismo anticristão e outros.

Se uma verdade é realmente uma verdade, esta deve partir primeiramente de Deus porque o homem é mentiroso e corrupto, logo esta verdade lhe foi concedida por alguém de nível hierárquico maior, o que faz ser arremetido em Deus. A verdade é algo ansiado por todos e esta é que faz com que a vida venha a ter sentido. Se é a fé, se é a razão, ou se são ambas juntas que fazem com que esta verdade venha a ser conhecida por todos, que isto venha a ser trabalhado e conquistado. Se a verdade emana de Deus e é alcançada por alguns, é porque Ele quer que sua Criação venha desfrutar dela. Porém a verdade cristã é a seguinte: “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11:6). Crer em Deus vale tudo, seja pela fé, ou seja pela fé com a razão.

CONCLUSÃO

O Racionalismo foi um movimento que aderiu à situação que o mundo enfrentava nos séculos XVI, XVII e XVIII. Foi um movimento que trouxe um grande destaque de nomes de filósofos, teólogos, cientistas, revolucionários e outros. Uns buscavam a razão, outros buscavam uma forma de se refugiar do movimento, e muitos aproveitaram para crescerem juntamente com o movimento. O Racionalismo serviu para que o homem passasse a se valorizar mais e a valorizar o trabalho que sai de suas mãos. Porém, este mesmo homem, devido à ênfase dada à sua razão fez com que a fé fosse desvalorizada, onde se percebe a falta de fé em algo divino. O Racionalismo foi um movimento que deixou duas características marcantes: a primeira foi que o homem pode muito bem investir em seu intelecto e descobrir um mar de conhecimento que foi dado pelo próprio Deus; e segundo, que este mesmo homem, por mais que tenha sabedoria e conhecimento, terá que se ver com a seguinte verdade: O justo viverá pela fé!

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1984.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. vs.3.0.

GONZALEZ, Justo. Uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1984. v.8.

RICHARDSON, Alan. Apologética Cristã. 4.ed. Tradução de Waldemar W. Wey. Rio de Janeiro: JUERP, 1991.