Por Carlos Chagas
Antes de ser falado deste movimento que marcou a história da Igreja, deve ser comentado uma série de fatores que fizeram diferença na cultura cristã e sobre a situação do Império Romano na época de seu surgimento.
O papado é algo que até hoje existe, mas não tem a característica que tinha na época de seu surgimento. Antes de ser promulgado a “grande Era” do papado, a Igreja passava por situações de mudanças. As perseguições, que tiveram seu início na época dos apóstolos, já não mais existiam desde o reinado de Constantino. Este imperador havia dado liberdade de culto a todos que se diziam cristãos e proibindo muitas práticas que eram contrárias ao estilo de vida de um cristão. Exatamente nesta época que começou os primeiros indícios para o surgimento do papado. A Igreja agora gozava de paz e de liberdade de culto. Já não era mais preciso cultuar a Jesus Cristo escondido em cemitérios subterrâneos, pois os cultos passaram a serem expostos, fazendo com que os cristãos ganhassem mais status e maior chances de alcançar cargos políticos e de presença nas classes altas do Império.
Além de garantir liberdade e favores para a Igreja e submetê-la ao serviço do Império, Constantino, em 330, fundou a cidade de Constantinopla. Com isto acontece a divisão entre a Igreja do Ocidente com a do Oriente. Esta cidade tornou-se o centro do poder político no Oriente e o bispo de Roma, após 476, foi deixado com poder político além do espiritual, o que em outras palavras pode-se dizer que no Império Romano Oriental, a autoridade suprema sobre a Igreja era exercida pelo governante secular, até mesmo em questões de doutrinas. Já no Império Romano Ocidental, a Igreja tinha mais liberdade de controle direto pelas autoridades civis por causa da liderança política ineficaz. Devido a esta deficiência, o poder passa para as mãos dos bispos romanos que tinham que assumir responsabilidades relacionadas a assuntos judiciais, pela defesa militar e por outras questões seculares.
Tal poder fez com que uma Igreja que era, até então, inexperiente no assunto, buscasse interagir com tal momento. Foi uma situação de extremo conflito interno porque a Igreja assumiu o poder no lugar do imperador e ao mesmo tempo a ameaça bárbara aumentava cada vez mais.
RELAÇÃO ENTRE IGREJA E ESTADO
No período que compreende entre os anos de 375-1066, mais conhecido como Idade das Trevas, os povos bárbaros afluíram em massa para a Europa Ocidental, o que fez com que a Igreja enfrentasse um duplo problema: Com o declínio do Império Romano, a Igreja se viu imposta da tarefa de, como “sal”, conservar a cultura heleno-hebraica, a qual estava ameaçada de destruição (lembrar que os bárbaros tinham diversas culturas, diversos deuses e com várias formas de adoração a eles, o que feria e fere a doutrina cristã). Os mosteiros, onde os manuscritos eram cuidadosamente conservados e copiados, tiveram um importante papel no cumprimento desta função. A segunda parte da tarefa da Igreja era, como “luz”, levar o Evangelho a todos os bárbaros fazendo com que estes se convertessem de suas crenças. Nisto a Igreja teve sucesso, com o apoio dos monges missionários. Mas infelizmente, mesmo a Igreja sendo feliz no cumprimento das duas tarefas, ela foi afetada em sua força espiritual, em parte devido à secularização e a ingerência do Estado em seus negócios. Nisto a doutrina foi muito afetada.
É muito importante comentar sobre aa relações entre a Igreja e o Estado. O Estado vinha sofrendo problemas com as formas de governo dos imperadores que haviam assumido o poder tempos atrás. A cultura greco-romana vinha sofrendo ataques de outras culturas. Juntamente com isto, o imperador Diocleciano, após reorganizar o Império com bases mais aristocráticas, investiu na destruição do Cristianismo, uma vez que os cristãos eram também uma forte ameaça a esta cultura. Mas Diocleciano não foi muito feliz. Sua tentativa de destruí-lo entre 303 e 305 foi um fracasso. Mais astuto, Constantino, agora como o novo imperador, compreendeu que se o Estado não conseguiria destruí-la pela força, o melhor seria usar a Igreja como um aliado para salvar a cultura clássica. O processo de acordo entre Igreja e Estado se deu quando Constantino assumiu por completo o poder e controle do Estado.
Constantino (c.274-337) era filho ilegítimo de Constâncio, líder militar, com uma mulher cristã do Oriente, de nome Helena. Durante uma batalha em 313, Constantino teve uma visão de uma cruz no céu, com as seguintes palavras em latim: “com este sinal, vencerás”. Tomando-as como bom presságio, ele derrotou os seus inimigos na batalha da ponte Mílvia sobre o rio Tibre. Se foi ou não uma visão legítima, isto não vem ao caso, mas o fato é que é evidente o fortalecimento da Igreja devido a Constantino. A partir daqui a Igreja entra como um novo centro de unidade e para salvar a cultura e o Império. Anos a frente, Constantino promulgou vários editos, que tornavam possíveis a recuperação das propriedades confiscadas, o subsídio da Igreja pelo Estado, a isenção ao clero do serviço público, a proibição de adivinhações e a separação do “Dia do Sol” (domingo) como um dia de descanso e culto. Ele foi de certa forma, líder teológico no Concílio de Nicéia, em 325, quando arbitrou a controvérsia ariana.
Além de garantir liberdade e favores para a Igreja e submetê-la ao serviço do Império, Constantino, em 330, funda a cidade de nome Constantinopla. Este ato faz com que a Igreja se divida entre Oriental e Ocidental, abrindo o caminho para o cisma que aconteceria em 1054. Esta cidade se tornou o centro de poder político no Oriente e o bispo de Roma, após 476, foi deixado com poder político além do espiritual.
A Igreja se viu ameaçada quando Juliano ascende ao trono em 361. Devido a morte de alguns de seus parentes nas mãos do governo cristão e de seus estudos de filosofia em Atenas, o fizeram se tornar um seguidor do Neoplatonismo. Ele retirou da Igreja cristã os privilégios e restaurou a liberdade plena de culto. Felizmente para a Igreja, seu reinado foi curto e logo a Igreja assume seu papel da mesma forma que Constantino havia concedido.
Mais à frente, alguns imperadores concedem à Igreja algumas características a mais em sua forma de influenciar como sendo a líder do governo. Mas se for observado, conclui-se que esta conquista que até então parece ser de vitória, foi muito prejudicial à Igreja. É fato de que a Igreja conseguiu:
• Elevar o nível moral da sociedade.
• Fazer com que a sociedade visse a dignidade da mulher.
• Os espetáculos dos gladiadores foram abolidos.
• Os escravos receberam melhores tratamentos.
• A legislação romana torna-se mais justa.
• O avanço da obra missionária aumentou fortemente.
A Igreja percebeu entretanto, que embora uma associação com o Estado lhe trouxesse benefícios, isto lhe traria também muitas desvantagens. O governo, em troca dos privilégios, da proteção e da ajuda que era oferecida, achava-se no direito de interferir nos assuntos espirituais e teológicos. O conflito entre Igreja e Estado começa aí. Se for observado, a Igreja mais sofreu malefícios do que obteve bênçãos quando o assunto é sobre esta aproximação de Igreja e Estado.
SITUAÇÃO DA IGREJA COM RELAÇÃO AOS BÁRBAROS
Foi ótimo para a Igreja o fato de ela ter conseguido uma ótima relação com o Império no fina do século IV. Mas no final do mesmo século a Igreja se depara com um grande e novo problema: Os povos bárbaros. A pergunta da Igreja era: Como trazer este grande número de contingentes que começavam a emigrar para a Europa para o cristianismo sem fazer com que mais problemas caíssem sobre o Império? A invasão se deu até o século IX. No período de 375 e 1066 a Europa se viu invadida de povos teutões, vikings, eslavos e mongóis.
Os godos bárbaros foram os primeiros a aparecer na fronteira do Danúbio na última parte do quarto século; acossados pelas tribos mongóis, tiveram a permissão das autoridades romanas para entrar no Império. O Império tinha de sucumbir porque era impossível manter o equilíbrio que existia entre a vida dos seus súditos e a dos bárbaros. De um lado do Reno e do Danúbio era muito mais fácil viver do que do outro. Em conseqüência, os bárbaros se sentiam atraídos pelas riquezas do Império. No Império não se encontrava uma resistência eficaz contra a invasão bárbara, devido a acomodação luxuosa que as riquezas imperiais concediam.
Por estas razões, quando os bárbaros começaram a atravessar as fronteiras, e por alguma razão o Império não estava preparado para a defesa própria, recorreu-se aos mais ricos como forma de abafar a fúria bárbara invasora. Os ricos davam terras aos bárbaros, dando-lhes permissão para viver dentro dos limiares do Império, com o nome de “federados”, para que em troca estes defendessem o Império contra qualquer outra invasão. Mas com o tempo este grupo se rebelou contra o Império buscando seus próprio interesses. Boa parte dos que causaram prejuízos nas margens do mar Mediterrâneo eram soldados do Império, como exemplo pode ser citado o nome de Alarico, o godo, que liderou tropas para saquear Roma no ano de 410.
O Império se via cada vez mais ameaçado pelos bárbaros. A noroeste do Império, vândalos e francos ameaçavam a fronteira imperial, fazendo com que o exército romano se deslocasse em massa para a contensão dos invasores. Contudo o pior aconteceu: O Império é invadido na região nordeste pelos godos. Estes não tinham a intenção de destruir o Império, mas o povo se via numa situação sem outra solução. Em 378 acontece a batalha de Adrianópolis. A cavalaria dos godos derrota os romanos e saqueia até as muralhas de Constantinopla. Em 395 saquearam a Grécia. Em 410 saquearam e tomaram Roma. A Igreja agora se vê com seu mais novo desafio: A comunicação da fé cristã a um povo completamente diferente em religiosidade, cultura e organização política.
Com o decreto do fim do Império Ocidental, em 476, passa a restar apenas o domínio oriental, doravante denominado Império Bizantino.
É de suma importância ter sido citada boa parte da invasão bárbara para que fosse percebida a situação deplorável em que o Império fora colocado. O papado surge a partir desta situação. Não foi fácil para a Igreja assumir tal controle. A Igreja agora via uma pequena sombra do que viria a ser o Grande Cisma de 1054. O Império Bizantino estava para ser o centro de toda organização cristã. Os bispos estavam prestes a se tornarem peças principais desta época. Novas reuniões seriam feitas para ser decidida a postura da Igreja com relação ao seu futuro. Com tal poder em suas mãos, a Igreja passa a entrar na história escrevendo sua trajetória com novas reformulações em seu poder eclesiástico e secular. A história do mundo passa então a soar com outro tom devido ao “surgimento do papado”.
A BASE DO OFÍCIO PAPAL
“Você é um flagelo de Deus”, gritou um eremita quando Átila, o Huno, conduzia sua cavalaria e seus soldados bem armados para além das pastagens sem fim da Ásia central para invadir a porção Ocidental do Império Romano. Porém o eremita concluiu profetizando: “mas Deus destruirá a ferramenta de sua vingança. Sabe que você sofrerá sua derrota!”
Em junho de 452, o “flagelo de Deus” invadiu Roma. Um ataque inesperado pelos Alpes o levou ao nordeste da Itália, onde encontrou resistência em apenas alguns lugares. O exército romano enfraquecido ficou fora do raio de ação e a população fugiu, e progressivamente, Átila continuou a conduzir seus homens adiante.
Num vau do rio Pó, Átila encontrou-se com uma embaixada de Roma, a delegação da paz. Ele estava para manda-los embora quando soube que o bispo Leão estava presente, como emissário do imperador romano.
Leão foi encarregado de negociar com um dos homens mais poderosos de um mundo atacado pelo pânico, na esperança de evitar o caos. O imperador romano não estava fazendo nada para preservar a antiga capital do Império e seus territórios adjacentes da devastação. Então, o representante de Pedro (como dizem alguns católicos e alguns historiadores), agora agindo em nome do imperador, reuniu-se sozinho com Átila.
O confronto parecia desigual. De um lado a lei da conquista; de outro, a lei da fé. De um lado, triunfo sobre os feridos, devastados, agonizantes; de outro, submissão aos mistérios divinos da Igreja. Um rei estrangeiro e um papa governante.
Átila já estava definido com relação aos seus planos de invadir toda a Itália. Seus soldados estavam morrendo de pestes e fome, o que o forçava a interromper o avanço. Mas ninguém sabia disso. Então, ele prontamente concedeu uma entrevista ao enviado imperial, e durante a conversa ele aceitou o apelo do papa para que poupasse a capital. Átila prometeu retirar-se da Itália, e manteve sua palavra. O bispo de Roma havia conseguido o que muitos diziam ser impossível de se conseguir.
O papado é um assunto altamente controverso. Nenhuma outra instituição foi tão amada e ao mesmo tempo tão odiada. Alguns cristãos reverenciam o papa como o “Vigário de Cristo”; outros o denunciam como o “anticristo”.
Porém todos concordam em unanimidade que Leão representa um estágio importante na história dessa instituição única. Ele demonstrou a capacidade do papado de se adaptar a diferentes ambientes ao longo de sua história. Qual é o ofício papal, e quando ela foi estabelecida?
De acordo com o ensinamento oficial da Igreja Católica Romana, definido no Primeiro Concílio do Vaticano (1870), Jesus Cristo estabeleceu o papado com o apóstolo Pedro; e o bispo de Roma como sucessor de Pedro exerce a autoridade suprema (primazia) sobre toda a Igreja. Tanto as igrejas ortodoxas orientais como as denominações protestantes negam essas duas asserções. Por esta razão, qualquer estudo da história do papado gera controvérsia; é como colocar a mão em um vespeiro.
Por mais que as afirmações das autoridades da Igreja sejam incondicionais, a história indica que o conceito de reinado papal foi estabelecido em estágios penosos e lentos. Nesse processo, Leão é a figura principal por fornecer pela primeira vez as bases bíblicas e teológicas da reivindicação papal. Por isso é um engano falar do papado antes dessa época.
A palavra papa por si só não é crucial na criação da doutrina de primazia papal. Originalmente, o título “papa” expressava o cuidado paternal de todos os bispos do rebanho. Começou a ser reservado para o bispo de Roma apenas no século VI, muito depois da reivindicação de primazia.
Deve ser observado também o fato de por que Roma exerce proeminência sobre as demais igrejas ocidentais do Império:
1. Roma era a capital imperial, a Cidade Eterna; a Igreja de Roma era a maior e a mais rica, com uma tradição de ortodoxia e caridade. Não havia rival para ela no Ocidente.
2. A congregação romana cresceu rapidamente em número e em importância.
3. Muitos escritores do início do cristianismo referiam-se a Pedro e a Paulo como fundadores da igreja de Roma e aos bispos subseqüentes como sucessores dos apóstolos.
Com Roma se tornando mais importante que os demais lugares, começa a surgir a seguinte característica: O bispo romano passa a ser o que influencia os demais. Ele é maior que os outros. Os Concílios de Roma passam a ter mais autoridade sobre a Igreja, de forma que o que é decidido nos Concílios passa a ser palavra final de autoridade quase inquestionável. Com isso, Roma passa a ter o direito exclusivo de levantar as autoridades eclesiásticas. Como disse Damaso: “Embora o Oriente enviasse os apóstolos, devido ao mérito de seus martírios, Roma adquiriu o direito supremo de reivindica-los como cidadãos.” Esse foi o prelúdio para Leão.
No sermão que pregou no dia de sua posse, Leão louvou a “glória do abençoado apóstolo Pedro (...) em cuja cadeira seu poder vive e sua autoridade brilha”. A cidade que antes havia desfrutado do privilégio de ser a capital do Império, a cena do martírio de Pedro e Paulo, era agora concedida a um novo e poderoso líder. Leão fez sua entrada na história com chefe supremo de toda a cristandade. Leão elevou o status do ofício do bispo de Roma de uma vez por todas. A dinastia de Pedro, príncipe da Igreja, foi estabelecida, solenemente, de forma decisiva.
Porém nem tudo era motivo de alegria. O Império Ocidental era uma sombra do que fora antes. Três anos após as negociações bem sucedidas com Átila, Leão enfrentou um outro teste para sua diplomacia. Um novo inimigo ameaçava Roma.
Desta vez, eram os vândalos, uma tribo migrante da Escandinávia. Os vândalos, uma vez expulsos da Europa, estabeleceram-se na região mais fraca do Império Romano, o norte da África, e por anos esperaram pelo melhor momento para atacar Roma.
Genserico era o rei dos vândalos. Este no final de março de 455 partiu com uma centena de navios tripulados por marinheiros cartagineses. Circularam então rumores de que Genserico pretendia incendiar a cidade.
Na entrada da cidade, Leão encontrou-se com Genserico, liderando não apenas soldados mas também padres. O rei dos vândalos tinha cerca de 65 anos; Leão também. Quando se enfrentaram, Leão suplicou clemência. Solicitou ao rei para conterás suas tropas; implorou para que as cidades não fossem incendiadas. Ofereceu dinheiro, mas Genserico, silenciosamente, fez um gesto de aprovação com a cabeça e bradou para o papa: “Pilhagem por quatorze dias!”
Os vândalos saquearam a cidade. Ouro e prata foram levados. Templos foram saqueados. O telhado dourado do Capitólio foi levado, e os vasos sagrados do Templo de Salomão, trazidos de Jerusalém. Tudo que tinha valor foi levado pelos vândalos.
Levaram também prêmios humanos como: Prisioneiros políticos, a imperatriz e suas filhas, senadores e membros da aristocracia romana para serem mantidos como reféns. Por quatorze dias os vândalos ocuparam a cidade, voltando com os navios carregados para Cartago.
Após sua partida, os romanos celebraram uma missa solene de ação de graças. Roma não fora incendiada, o massacre fora evitado, e apenas algumas igrejas cristãs foram saqueadas.
Apesar de haver salvado Roma pela segunda vez, Leão não fez nenhuma referência a si mesmo. Não era realmente necessário. Ele havia assumido o antigo título pagão, Pontífex Maximus, o Santo Padre da religião através do Império, e todos entenderam. Leão, não o imperador, assumiu a responsabilidade pela Cidade Eterna. Pedro voltara ao poder!
O PRIMEIRO PAPA MEDIEVAL
Não há como negar a grande influência de Leão como papa da Igreja, mas nenhum outro foi tão marcante como Gregório I. Este é considerado por muitos como sendo o primeiro papa medieval. Outros já o consideram como o primeiro papa, mas como já foi dito antes, falar do papado é algo muito delicado que entra em muitas especulações e até mesmo em discussões que não são muito edificantes.
A consagração de Gregório I como bispo de Roma constitui um marco que divide o período antigo da história da Igreja do período medieval.
Na Era Medieval o Império Romano fragmentou-se na África do Norte mulçumana, no Império Bizantino Asiático, e nas áreas papais européias. As relações entre igreja e estado tornaram-se importantes. Uma civilização européia ocidental distinta emergiu do Cristianismo e dos fundamentos clássicos.
O termo Idade Média foi inicialmente usado por estudioso renascentista chamado Cristopher Keller (1634-1680) num livro publicado em 1669. Ele dividiu a história em três períodos: A história antiga, que acabou em 325; a história moderna, que segundo ele, começa em 1453 quando a queda de Constantinopla inundou o Ocidente de eruditos e manuscritos gregos; e o tempo que compreende entre ambos é então chamado por ele de Idade Média. Desde então, os historiadores têm usado o termo Idade Média como uma designação própria para esta era. Entretanto, somente os primeiros 500 anos desta era, de 500 a 1000, podem ser considerados como Idade das Trevas.
A Igreja Católica Romana está em desacordo com os renascentistas que vêem os anos entre 500 e 1000 como Idade das Trevas. Para ela, este período é a era-de-ouro da história humana. Os historiadores protestantes discordam disto veemente e consideram a Idade Média como o vale de sombra em que a Igreja pura da era antiga da historiada Igreja foi corrompida. Segundo, eles, a era moderna da história da Igreja, que começou com Lutero, é de uma reforma em que a Igreja reconquistou os ideais do Novo Testamento. Todas estas interpretações podem ser equilibradas pelo fato de que a Idade Média não foi estática mas dinâmica.
A era moderna deve muito à Idade Média. Nessa época os cristãos buscavam sintetizar o passado com o presente buscando uma harmonia, o que é diferente na era moderna. Com isto em mente, a importância de Gregório I torna-se óbvia. Como Agostinho em sua geração, ele ficou no limite entre os dois mundos do classicismo e do cristianismo medieval e tornou-se o símbolo do novo mundo medieval em que a cultura foi institucionalizada dentro da Igreja dominada pelo bispo de Roma.
Gregório I (540-604), geralmente chamado o Grande, nasceu nos turbulentos tempos em que o Império Oriental sob Justiniano buscava reconquistar a metade Ocidental do Império que fora perdida para as tribos teutãs. Pilhagem, doenças e fomes estavam na ordem do dia.
Este nasceu de família tradicional, nobre e rica de Roma, recebeu educação jurídica que o prepararia para a vida pública. Estudou latim e era familiarizado com textos de alguns Pais da Igreja. Logo depois abandonou a fortuna que herdava do pai e usou os lucros para construir sete mosteiros na Itália. Tornou-se, então, monge. De 579 a 585, foi embaixador do bispo de Roma em Constantinopla. Depois de sua volta a Roma, foi escolhida abade do mosteiro de Santo André, que ele fundara após a morte de seu pai. Gregório tornou-se monge acreditando que uma vida ascética era uma forma de glorifica a Deus. Quando o papa Pelágio morreu, atacado por uma epidemia, em 590, Gregório foi escolhido para substituí-lo.
Gregório foi um homem humilde, considerado até hoje como um dos Gigantes da Igreja romana. Missionário zeloso que buscava na vida ascética um alto nível de espiritualidade e erudição. Mas apesar de ter sido um erudito e de ter sido, por sete anos, embaixador em Constantinopla, é de se estranhar que ele nunca buscou aprender grego para maior aprofundamento nos textos originais da Bíblia.
Certa vez, um imperador chamado Focas quis dar o título a Gregório de “chefe de todas as Igrejas”, o qual foi rejeitado pr Gregório. Ele preferiu ser chamado de “servo dos servos de Deus”. Embora descartasse o título de chefe supremo da Igreja, não permitiu a ninguém se afirmar no mundo de então como senhor universal da Igreja.
Gregório se destacou por diversas obras, e dentre elas se destacam:
• Tornou o episcopado de Roma um dos mais ricos da Igreja de seu tempo, graças à sua excelente obra de administrador.
• Agiu como o protetor da paz no Ocidente.
• Foi o organizador do canto gregoriano que teria na Igreja Católica Romana um lugar de maior importância do que o desenvolvido pó Ambrósio.
• Foi um grande pregador, apresentando uma mensagem de desafio para o tempo de crise em que viveu. Seus sermões eram práticos e salientavam a humildade e piedade, embora prejudicados pelo uso excessivo de alegorias.
Gregório foi também um grande escritor. Eis algumas de suas obras mais importantes: Magna Moralia, Livro do cuidado pastoral e o Cânon da Missa. Pode-se dizer que a Teologia Medieval conservou as marcas do pensamento de Gregório.
O pontificado de Gregório é, sem dúvida, um marco fundamental na transição da história da igreja antiga para a medieval. Ao criarem o sistema hierárquico sacramental da Igreja institucionalizada da Idade Média, seus sucessores edificaram sobre os fundamentos que ele deixou, o que destaca a importantíssima obra de Gregório na Igreja. Ele sistematizou a doutrina e fez a Igreja uma potência na área política.
Sem dúvida, Gregório I foi um dos maiores papas que já existiu na face da terra. Sua obra foi tremenda, e tal obra pode ser considerada grande pelo simples fato de nenhum outro papa conseguir por fim em tal.
Como se pode ver, o papado foi muito importante para a história da Igreja. Ele conseguiu estabilizar a Igreja mediante a tantos problemas que a afetavam internamente. Infelizmente o papado passou e passa por muita corrupção e descrédito, mas o fato é que se Deus levantou alguém para começar uma obra em Seu nome, Ele é fiel para sustentá-lo até o final. O papado serve de exemplo para todos aqueles que buscam um exemplo de postura e garra para encarar diversos problemas que afetam algo que é de suma importância. O papado não deve ser visto como algo ruim ou sem base doutrinária, mas deve sim ser estudado para que, tendo ele por exemplo, as demais instituições possam trilhar por caminhos sobremodo mais excelentes!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1984.
GONZALEZ, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo. Vol 3. São Paulo: Vida Nova, 1995.
SHELLEY, Bruce L. História do cristianismo ao alcance de todos: uma narrativa do desenvolvimento da igreja cristã através dos séculos. São Paulo: Shed publicações, 2004.
Disponível em: . Acessado em: 23 abr.2005.
Aprendi muito sobre o catolicismo e sobre a historia da igreja catolica na qual deposito minha fé.
ResponderExcluirHeli Camilo gomes