sábado, 27 de fevereiro de 2010

Correntes teológicas do século XIX: Hegel e a teologia especulativa

Por Carlos Chagas

George Guilherme Frederico Hegel foi um filósofo idealista alemão, porém, devido à sua inclinação pela teologia, este também obteve destaque em suas narrativas teológicas. Hegel ficou famoso com sua “dialética” que visava explicar a realidade. Era contra a teologia de Schleiermacher, que era monista, e partiu para uma teologia mais dualista; mais platônica. Hegel buscava em sua teologia especulativa um equilíbrio para as dúvidas sobre a realidade.

A teologia de Hegel é muito interessante, quando apreciada pelo prisma da organização. Sua tentativa de “amarrar” o raciocínio é algo de destaque. Porém, o problema que é encontrado é o seguinte: “Como explicar a realidade pela dialética se temas como ‘a origem do bem e do mal’ não se pode ter uma síntese?” Caso venha ser possível a explicação de tal tema, a teologia passa a ser monista, ou seja, o bem e o mal partem de Deus, voltando então à loucura de Schleiermacher. Se Deus é perfeito em seu equilíbrio, como explicar a origem do mal (como algo ruim) do próprio Deus? Deus tenta alguém? Tem-se então a mesma situação que até Santo Agostinho não conseguiu explicar.

Outro problema na teologia de Hegel é quando ele diz que o “conceito ou o pensamento científico coincide com a realidade... o espírito é o absoluto, a única realidade”. Diante da filosofia, como explicar os conceitos de absoluto e de realidade sem cair no relativismo ou na subjetividade separada das demais? Uma vez que a filosofia parte de conceitos racionais, dizer que o espírito é o absoluto e a única realidade oculta-se aqui o uso da fé e de um pressuposto subjetivo. Como se sabe, de forma racional, que o espírito existe? Como se prova racionalmente isso se espírito é algo que não é visível e que é algo que não é concreto?

Mas talvez o problema principal que Hegel tenha enfrentado seja a época em que ele viveu. O liberalismo teológico ficou muito comprometido, fazendo com que as divisões entre grupos de estudiosos fossem inevitáveis. A separação que houve entre razão e fé foi algo que comprometeu e muito os estudos. Filosofia e teologia devem andar juntas para que não haja absurdos. A prova de que a época influenciou os estudos de Hegel e dos hegelianos foi Strauss, um hegeliano que disse que Deus e o Evangelho são apenas um mito. Este buscava uma dialética para a síntese do raciocínio, mas seus conceitos só faziam uma separação da compreensão que se tinha da realidade. E Feuerbach, um hegeliano da esquerda, disse que Deus é a síntese dos sonhos e desejos humanos, ou seja, Deus é um mito, algo subjetivo e que a verdade é relativa quando se trata de religião.

Mas o importante em Hegel é a vontade de se explicar o inexplicável. Sem a teologia especulativa de Hegel, muitas coisas ficariam sem conceitos e compreensões. Com relação às doutrinas cristãs, muitas polêmicas e discussões foram levantadas, e, é verdade que mais problemas foram levantados sobre este quesito, porém, é fato que soluções sobre muitas coisas vieram à tona. É inegável que Hegel foi importante para a história, mas que também foi um “terremoto” nas estruturas cristãs e da própria filosofia.

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