sábado, 27 de fevereiro de 2010

O surgimento do Racionalismo Moderno

Por Carlos Chagas

INTRODUÇÃO

Durante muitos séculos, a Europa vinha vivendo um regime teocêntrico, onde os homens eram submetidos a diversas barbaridades e escândalos “em nome de Deus”. Contudo, foi no século XVI que o curso da história começa a mudar com o Renascimento. É neste momento da história que os homens passam a valorizar mais os próprios conceitos do que os da Igreja através da razão pura e reta. Esta razão passa a ser fruto de um movimento que foi muito marcante neste século, fazendo com que os homens passassem a viver um regime antropocêntrico. Esse movimento ficou conhecido como movimento Racionalista, o qual é tema deste trabalho. Esse movimento seria a chave para tentar responder a qualquer dúvida que existisse pelo caminho; e não só responder como também suprir a carência que o povo da época começou a sentir devido a tantos receios e anseios sobre seu futuro que ainda estaria por vir.
Este trabalho está dividido em duas partes: A primeira traz o conteúdo histórico; e a segunda traz uma reflexão da teologia que foi vivida na época para uma possível aplicação nos dias atuais. Logo, este trabalho mostrará o caminho traçado pelo Racionalismo que atingiria o seu ápice no século XVIII trazendo revolução, produção, crescimento e até mesmo muitas decepções.

1ª PARTE

O QUE É RACIONALISMO?

O tema Racionalismo é um tema muito complexo, interessante e que foi de suma importância, tanto para a ciência quanto para o mundo. O conceito que se pode ter de início é que o Racionalismo se iniciou como movimento no século XVI mas que teve seu ápice nos séculos XVII e XVIII.

No século XVI foi que surgiu o protestantismo, e este como tal teve que criar novas bases e conceitos, uma vez que não aceitavam os dogmas católicos. O desenvolvimento das idéias surgiu dos esforços de Lutero e Calvino. Ambos buscaram novos conceitos e práticas para melhor situar a Igreja que na época vivia o Renascimento.

O Renascimento foi um movimento que teve como característica voltar a atenção à cultura clássica, ou seja, à cultura helênica do século IV a.C. Com esta volta, os olhos da Igreja haviam se desviado de uma visão teocêntrica para antropocêntrica.

Não há como entender o Racionalismo se antes não enfatizar a situação do mundo na época. A arte, a ciência e a própria fé estavam passando por um momento de transição.

Porém, com a fixação das idéias básicas do protestantismo e sua teologia, não houve como não surgir um novo escolasticismo. Este trouxe uma frieza na fé da época devido à sua ortodoxia e pelas guerras que estavam sendo travadas na época.

Foi devido a esta “chuva que caía mas não molhava” que fez com que se desenvolvessem duas linhas de reações: O Racionalismo, que teve no deísmo a sua forma de apresentação; e o reavivamento, que foram os pietistas que buscavam mais a emoção e a expressão dos sentimentos de afetividade que se encontra no coração humano.

COMO SURGIU O RACIONALISMO?

O Racionalismo não foi algo que surgiu de uma hora para outra. Este foi um conjunto de conceitos filosóficos que tiveram seu apontamento no século XIII com um santo da Igreja Católica chamado Tomás de Aquino.

Para entender o Racionalismo dos séculos XVII e XVIII, vale a pena entender a idéia racionalista de São Tomás de Aquino. Este, por sua vez, trabalhou a teologia da época dando ênfase na filosofia de Aristóteles. Aristóteles foi um filósofo que trabalhou a metafísica de Platão que diz que não há nada neste mundo que seja real, mas que tudo são sombras das coisas que estão num mundo inteligível (mundo das idéias). Com esta idéia de Platão, Aristóteles reinterpretou-a criando uma nova metafísica que diz que tudo neste mundo é possível de se entender e interpretar porque, para o homem, é possível encontrar a essência das coisas nas próprias coisas através do sentido humano.

Tomás, ao reintroduzir Aristóteles, fez com que a Igreja viesse a ver o mundo de outra forma. Fez com que o homem pudesse ver a realidade de forma totalmente diferente, levando a um interesse cada vez mais crescente pelos fenômenos da natureza. Automaticamente fez com que a Igreja tivesse sua tradição e seu dogma quebrados. Esta, por sua vez, fez com que essas idéias fossem reprimidas porque eram muito avançadas para a sua época.

Porém o interesse por estas idéias não foi arrancado dos estudiosos. Tomás, Alberto e muitos outros tiveram suas mãos nesta obra de estudar a Criação criando um novo conceito, que ia além do alcance da fé pura. Mas estas obras só foram ter valor na Idade Média, onde a Renascença provocou uma explosão sem explicações que teve sua inclinação pelas obras filosóficas, e estas, por sua vez, não puderam ficar de fora devido ao seu alto teor filosófico e teológico.

Para se ter uma melhor explicação da teologia e fé do século XIII, deve ser dito que a confiança que os cristãos tinham na divindade partia unicamente da fé, sendo esta compreendida também nos Concílios, onde se debatiam mediante a razão, as dúvidas existentes. Mas estes debates nunca tinham um fim de “filosofar”, mas sim de explicar as dúvidas existentes. Por isso que se diz que partia unicamente da fé.

Mas foi na Renascença que todos esses conceitos tiveram grande aproveitamento porque já não era mais a fé que era construída em Concílios que dominava as mentes das pessoas sedentas de explicação de várias outras dúvidas, porém se buscava nesta época uma fé que era construída com as bases na razão. E esta fé com base na razão tentava de todas as formas não perder a essência que era a paixão, para explicar todas a questões existentes. Porém não foi o que predominou porque com todos os estudos que ainda viriam de vir, seria destacados a falta de uma certa espiritualidade nos conceitos, que é o que vai ser mostrado no decorrer deste trabalho.

O RACIONALISMO NOS SÉCULOS XVI A XVIII.

Estes últimos parágrafos foram para simplesmente mostrar como que o Racionalismo foi tomando força para então chegar em seu momento decisivo. É neste século que o Racionalismo é reconhecido como um movimento.

Para se entender como o Racionalismo tomou uma característica importante no século XVI deve ser comentado sobre as novas teorias no campo da astronomia. Nicolau Copérnico; este é o nome pelo qual tudo havia de mudar. Copérnico foi um famoso astrônomo que descobriu, através de cálculos matemáticos, que a Terra gira em torno do sol, e não vice-versa. Mas sua teoria (teoria do universo heliocêntrico) foi popularizada por outro grande astrônomo chamado Galileu Galilei que, motivado pelas leis básicas que atuam no universo, escreve o livro Principia Mathematica, que trazia consigo a explicação da lei da gravidade, lei que serviu para desencadear grandes descobertas no ramo da ciência.

Vale lembrar que nesta mesma época surge a teoria da evolução de Charles Darwin, porém, antes dela predominava a teoria de Galilei que consistia na lei natural que tinha o universo como máquina ou mecanismo operado por leis naturais imutáveis. É através deste conceito que os homens começaram então a crer num Deus que criou todas as coisas, e logo após ter criado, este se retira deixando o homem e sua Criação restrita a leis naturais.

Os séculos XV e XVI são também na Europa o marco do Mercantilismo. O comércio havia crescido muito devido às grandes viagens marítimas buscando contato com outros povos que eram considerados bárbaros pelos europeus, mas que possuíam, devido às suas culturas, diversas mercadorias e atrativos que agradavam os europeus.

Devido este contato cultural e ao novo conceito da mentalidade da época é que a visão do homem passa a ser ampliada para a natureza e não para a divindade. É através destes contatos com outras religiões não-cristãs, que o homem começa a observar, de forma crítica, que todas as religiões têm semelhanças nos princípios e concluem que Deus talvez tenha deixado uma religião natural básica para todos os homens, fora da influência exercida pelos sacerdotes e até mesmo da Bíblia. Conseqüentemente, os homens são levados ao deísmo, que buscava estabelecer uma nova religião ao mesmo tempo natural e científica.

O DEÍSMO.

Segundo o dicionário Aurélio deísmo significa:

“Sistema ou atitude dos que rejeitam toda espécie de revelação divina e, portanto, a autoridade de qualquer Igreja. Aceitam, todavia, a existência de um Deus, destituído de atributos morais e intelectuais, e que poderá ou não haver influído na criação do Universo.” (AURÉLIO, 1999. vs. 3.0)

É importante citar este conceito para então se situar nas idéias que hão de serem citadas no decorrer do trabalho.

O deísmo trouxe consigo uma série de dogmas para identificá-lo. Nestes dogmas são observados: a crença numa Criação regida por si e não por Deus; que Jesus veio ao mundo para ensinar uma gnose (Do gr. ecles. gnôsis. S.f.1.Conhecimento, sabedoria. 2.Hist. Filos. Conhecimento esotérico e perfeito da divindade, e que se transmite por tradição e mediante ritos de iniciação. [Cf. gnosticismo.]). Logo ele não é um Deus e sim um mestre e por isso só Deus deve ser cultuado; crença na “virtude e piedade”, que eram alimentadas pela razão, era a melhor forma de se cultuar a Deus, uma vez que Ele quer que os homens cheguem ao conhecimento da verdade contida em Sua Criação; o homem devia se arrepender de viver conforme as leis éticas porque a alma é imortal e está sujeita à recompensa ou ao castigo depois da morte.

O deísmo se difundiu nas classes altas da Inglaterra, apresentado por pessoas como Edward Herbert, David Hume, John Tolard, Lord Shaftesbury e outros, que pregaram que o cristianismo não era um mistério como ele era passado e que era possível contestá-lo pela razão. O deísmo dizia que aquilo que não fosse provado pela razão devia ser rejeitado. Talvez seja este o erro principal do deísmo, que é o que vai ser comentado no final do trabalho.

O deísmo se difundiu em países como: França, Alemanha e até nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, as 13 colônias foram influenciadas pelo deísmo por volta de 1756-1763. Estes países contribuíram para o efeito destrutivo que o deísmo possuía.

O deísmo estimulou a idéia de que a razão humana, pelo uso do método científico (neste inclui o empirismo), poderia ser descoberta uma verdade de validade universal. O deísmo também serviu de raiz para o Positivismo que ainda nasceria no século XIX.

Mas ao contrário do que muitos pensam, o cristianismo também lucrou com o
deísmo com suas práticas humanitárias. Ajudou também com sua crítica textual e exegese. O uso da história e da gramática para uma correta exegese bíblica foi indiretamente estimulada pelo movimento racionalista.

Vale citar que o pietismo surge como revide aos ataques racionalistas e deístas na Europa Continental, na Inglaterra e nos Estados Unidos, porém este não terá sua obra e influência na história comentados neste trabalho.
Como se pode ver, o deísmo bateu de frente com o conceito cristão de como viver de forma agradável a Deus. Devido ao seu descaso com a pecaminosidade humana, este faz surgir movimentos como o fundamentalismo religioso e o liberalismo religioso. Porém nomes importantes surgiram para defenderem o movimento contra a teologia que contra-atacava.

PRINCIPAL DEFENSOR DO MOVIMENTO RACIONALISTA.

Assim como todo movimento, o Racionalismo teve muitos defensores e seguidores. Como este movimento foi mais inclinado à razão do que à fé, este teve mais filósofos do que teólogos por defensores.

Porém, o nome que não deve ser esquecido nunca quando o assunto é sobre o Racionalismo, é René Descartes. Este filósofo foi um dos que foram influenciados pelas tendências da astronomia da época, lembrando que foi nesta época que Galileu Galilei escreveu sua Teoria Heliocêntrica

Descartes viveu entre 1596 a 1650. É nesta época que está compreendida a Guerra dos Trinta Anos, onde Descartes teve que prestar serviço ao príncipe de Nassau, embora que ele não tenha participado ativamente na guerra. Mas Descartes aproveitou do posto em que ocupava e continuou seus estudos de matemática e física, onde veio a comprovar para ele próprio e para os demais que a teoria de Galilei estava certa. Contudo ele não as publicou devido ao risco de ser queimado como herege ou pelo fato de que isto poderia atrapalhá-lo em seus estudos que ainda iam de se seguir.

Como todo mestre, este não ficou com suas idéias para si. Ele as registrou em anotações e também ensinou. Em 1628, Descartes muda para a Holanda, onde a liberdade intelectual era mais fácil de se encontrar, embora houvesse ali um grupo de tradicionais que atrapalhavam o andamento de seus estudos. Nesta época ele aceita também um convite de lecionar filosofia para a rainha Cristina da Suécia. Após esses acontecimentos, ele morre em Estocolmo, em 1650.

Descartes era uma pessoa que desconfiava de todos os tipos de conceitos, buscando comprovar tudo pela razão que ele obtinha da matemática. Todos os seus trabalhos de comprovação de algo, passavam pelo teste da matemática. Até o conceito de Deus, a existência de Deus, a natureza do ser humano e outros, eram tópicos estudados por ele para uma comprovação racional. Através de seus estudos Descartes buscava uma forma de conceituar todas as verdades existentes, excetuando apenas aquelas que são impossíveis pelo fato de serem estas indubitáveis.

Partindo do conceito de que não se pode duvidar da própria existência, Descartes cria seu ponto de partida sob a seguinte frase: “Penso, logo existo” (Há quem diz que Descartes escreveu sua famosa frase com base na frase “Duvido; portanto deve existir a verdade” de Agostinho de Hipona, porém é fato que sua teologia e filosofia não se comparam com a de Agostinho. RICHARDSON, 1991. p.194.). Desta frase, baseado na existência de dúvidas insistentes, passa a ser criado um conceito de que se há uma vontade de que se alcance algo perfeito, logo se conclui que existe o perfeito, ou seja, descobre-se que se há o perfeito, Deus é este perfeito, e então não há possibilidade de se negar a existência deste ser perfeito.

Segundo Descartes, é a existência de Deus como ser perfeito que permite um elo de ligação entre a dúvida, a vontade de se alcançar o conhecimento e então o aperfeiçoamento. E com isto percebe-se que Descartes foi um filósofo que não buscou destruir o conceito cristão, porém prová-lo com a razão sabendo que esta própria foi criada pelo próprio ser perfeito.

Porém Descartes se perde ao tentar explicar como que a matéria se comunica com o espírito. Nisto, diversos filósofos da época intentam, em uma luta desenfreada, encontrar uma resposta para esta dúvida. Coisas absurdas foram ditas, porém muito dos estudos não foram aceitos.

Como se percebe, Descartes vinculou a razão com uma base de fé visando uma ideologia que abraçasse as verdades universais. Muitos nomes poderiam ser citados aqui, pelo fato de que não só houve o sistema de Descartes baseado na razão, como também houve na Europa, sistemas baseados na idéia de se adquirir conhecimento através de experiências (empirismo). Contudo, vale citar somente René Descartes para se ter uma pequena idéia de como a teologia e a filosofia caminharam nesta época conturbada. Houve também aqueles que não se detiveram em tentar colocar todo o discurso de Descartes abaixo. Houve também muitos que criaram vertentes deste raciocínio dele, porém o que deve ser mencionado aqui é que até hoje Descartes faz sucesso com sua teoria pelo simples fato de se mostrar que não se faz necessário separar a fé da razão. Ao contrário, uma necessita da outra. Aliás, é a fé que ensina o caminho à razão. A razão existe pelo simples fato de que antes dela se tornar razão, ela foi alimentada com uma dose de fé. Richardson explica isto melhor dizendo:
"O erro em filosofia, ou no uso da razão, geralmente surge não tanto da fraqueza e limitação de nosso intelecto, ou das deficiências de nosso conhecimento empírico, mas – e mais perigosamente – dos desvios provocados pela pecaminosidade e egoísmo humanos. O uso certo da razão é uma virtude – o produto de uma mente virtuosa; mas isto não deve dar lugar à satisfação própria e ao orgulho, visto que, como os mais dons excelentes e perfeitos, vem ele do Alto. A fé é uma virtude. Mas, como todas as virtudes que podemos possuir, é dom da divina graça". (RICHARDSON, 1991, p.193)

É fato que todos respiram um ar que é composto de diversos componentes químicos, e que isto já foi provado pela ciência, mas esta ciência não provará se amanhã o mundo estará ainda existindo para que todos compartilhem do mesmo ar; é aqui que entra a fé. É pela fé que se acredita que os seres vivos respiram diversos componentes químicos já comprovados pela ciência, mesmo não vendo com os próprios olhos. Em essência, Descartes lutava em passar esta compreensão, logicamente acompanhada por teses bem mais profundas, a ponto de se colocar Deus como um “simples” objeto de estudo.

Aqui não foi citada a fundo a obra de Descartes porque a intenção do trabalho é de fazer uma “caminhada de mãos dadas” entre fé e razão e esta ligação não seria possível se não fosse citada a obra filosófica deste.

Agora, o trabalho caminhará para a sua segunda parte que consistirá em fazer colocações de uma fé com e sem razão, lembrando que o movimento racionalista foi perdendo seu rumo inicial devido a tantas divisões impostas a ele, apesar de que até hoje se encontram igrejas que possuem o caráter racional da época.

2ª PARTE

FÉ E RAZÃO: UMA APOLOGÉTICA CRISTÃ.

O que pode ser dito deste tema? A fé é algo que, aparentemente, soa como contrária à razão. A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem (Hebreus 11:1). A razão é uma forma de conhecimento que busca provar até as últimas conseqüências que algo é realmente verdade ou fato. Para a fé, as coisas não precisam ser provadas porque a convicção traz a esperança, porém a razão quer testificar (ou provar) esta fé.

No Racionalismo se viu muitas atitudes daqueles que se revoltaram contra o sistema eclesiástico, ou contra a filosofia de vida da época, ou pessoas que preferiram se destacarem com suas inteligências e sabedorias para satisfazerem o próprio orgulho. Mas se viu também, no Racionalismo, que muitas pessoas sentiram que a Revelação de Deus não se resume em uma fé simples (ou utópica), ingênua e ignorante. Foi neste movimento que grande maioria do povo descobriu que Deus é o Criador de tudo e de todos, inclusive da razão. A busca da razão é antecedida pela descoberta da dúvida, e como já foi dito, a dúvida é a certeza de que há uma verdade, e se há uma noção de verdade, há então uma possibilidade de descobri-la por inteiro ou pelo menos de se ter um conceito sobre esta verdade.

Durante o movimento Racionalista foi percebida uma questão importante: A razão deve andar junta com a fé, e não vice-versa. Por quê? A crença de que é a fé que deve seguir o conceito da razão foi que fez com que a própria razão se perdesse em seus conceitos. A vida passou a não ter mais sentido. Richardson diz que: “Na filosofia, quer-se dizer que a razão deve ser justificada ou corrigida pela fé; sem a fé cristã, a filosofia poderia, até certo ponto, se aproximar da verdade, mas não poderia saber que assim o fez.” (RICHARDSON, 1991, p.183). E ele conclui dizendo: “A fé é uma luz e um guia, sem os quais a razão não pode operar.” (RICHARDSON, 1991, p.187). A razão em si não leva ao conhecimento de Deus em sua plenitude.

A “razão” do Racionalismo foi tão assediada, que esta buscava acabar com todo o tipo de fé existente na época, embora muitos autores não relatem isto em seus livros. A “febre” de muitos da época era o Racionalismo extremo, aonde aquilo que não viesse da fé não passaria de um nada. Mas é aqui que surge um equívoco: Se existe uma igreja, ou algo do tipo, deve-se primeiro buscar explicar o porquê de sua existência. Afinal, uma igreja professa sua fé devido a uma razão. E se os estudos se aprofundarem neste sentido, perceberá que a razão é fruto de uma pequena ponta de fé. A busca da razão surge quando se há dúvida de algo ou de alguém, porém esta dúvida tem uma margem de fé que a instrui a duvidar do conceito lançado, porque só com esta fé é que a busca da razão que preencherá esta dúvida será possível.

A busca por uma razão não pode ser mais bem interpretada do que por Agostinho de Hipona em seu livro Confissões. Antes de se converter, Agostinho buscou encontrar pela razão, uma verdade que satisfizesse seu espírito fervoroso. Tornou-se seguidor das idéias maniqueístas; depois passou a receber conselhos e ajuda de Cícero; depois se inclinou para a filosofia mesclada de Plotino e para a filosofia dos platônicos; porém não conseguiu se tornar filósofo. Isto não se sucedeu pelo fato de não ser inteligente e sábio o bastante, pois na verdade ele era. Agostinho simplesmente não conseguiu achar na filosofia algo que o abastasse. Mas ao se converter ao cristianismo, ele passou a ter uma nova perspectiva. Foi no cristianismo que Agostinho encontrou luz para responder às suas dúvidas, embora que as respostas não lhe vieram repentinamente, mas por etapas. Assim, a filosofia que ele em vão procurava pela razão lhe foi oferecida pela fé.

Mas também deve ser citado que a fé nunca pode se contrapor à razão, a não ser que uma “razão” seja na verdade um credo ou fé, como é o caso do racionalismo anticristão e outros.

Se uma verdade é realmente uma verdade, esta deve partir primeiramente de Deus porque o homem é mentiroso e corrupto, logo esta verdade lhe foi concedida por alguém de nível hierárquico maior, o que faz ser arremetido em Deus. A verdade é algo ansiado por todos e esta é que faz com que a vida venha a ter sentido. Se é a fé, se é a razão, ou se são ambas juntas que fazem com que esta verdade venha a ser conhecida por todos, que isto venha a ser trabalhado e conquistado. Se a verdade emana de Deus e é alcançada por alguns, é porque Ele quer que sua Criação venha desfrutar dela. Porém a verdade cristã é a seguinte: “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11:6). Crer em Deus vale tudo, seja pela fé, ou seja pela fé com a razão.

CONCLUSÃO

O Racionalismo foi um movimento que aderiu à situação que o mundo enfrentava nos séculos XVI, XVII e XVIII. Foi um movimento que trouxe um grande destaque de nomes de filósofos, teólogos, cientistas, revolucionários e outros. Uns buscavam a razão, outros buscavam uma forma de se refugiar do movimento, e muitos aproveitaram para crescerem juntamente com o movimento. O Racionalismo serviu para que o homem passasse a se valorizar mais e a valorizar o trabalho que sai de suas mãos. Porém, este mesmo homem, devido à ênfase dada à sua razão fez com que a fé fosse desvalorizada, onde se percebe a falta de fé em algo divino. O Racionalismo foi um movimento que deixou duas características marcantes: a primeira foi que o homem pode muito bem investir em seu intelecto e descobrir um mar de conhecimento que foi dado pelo próprio Deus; e segundo, que este mesmo homem, por mais que tenha sabedoria e conhecimento, terá que se ver com a seguinte verdade: O justo viverá pela fé!

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1984.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. vs.3.0.

GONZALEZ, Justo. Uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1984. v.8.

RICHARDSON, Alan. Apologética Cristã. 4.ed. Tradução de Waldemar W. Wey. Rio de Janeiro: JUERP, 1991.

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