(Reflexão a partir da leitura do personagem Anti Climacus de Sören Kiekergaard)
O texto “A escola do cristianismo” é um texto bem complexo onde Anti-Climacus, o narrador, começa a relatar certas verdades de sua época; verdades estas que vinham à tona na igreja de sua época.
Falar sobre cristão genuíno é algo muito delicado, especialmente quando se baseia nas idéias de Anti-Climacus. Sempre deve ser lembrado que sua época não era igual a hoje, apesar de ter muitas características idênticas em ambas. Anti-Climacus abre seu discurso relatando o valor que às vezes os discípulos dão aos mestres e às suas falas e, conseqüentemente, transformam estas falas em doutrinas esquecendo do simples existir. A discussão do texto abre com este ponto: Afinal de contas, o que é mais importante, viver sob regras ou viver nas regras lembrando que ainda há a possibilidade de errar e de ser perdoado? Anti-Climacus começa seu questionamento com isso ampliando um pouco mais: Quando se pegam as palavras de um mestre tornando-as algo de extremo valor doutrinário, o que acontece em seguida é simplesmente esquecer da vida de quem as ditou. A vida do mestre às vezes fala mais e melhor do que a sistematização doutrinária das suas próprias palavras. Anti-Climacus fecha ainda mais seu discurso dizendo a seguinte frase: “... Cristo é infinitamente mais importante que sua doutrina”.
Discutindo este último parágrafo temos o seguinte: seria a igreja a real portadora do “como viver em santidade?” Ou o indivíduo teria tal arbítrio em sua forma de viver que não mais precisaria do ponto norteador que é a igreja de Cristo? São dois pontos extremos e indispensáveis para se pensar o termo “cristianismo genuíno”. O cristianismo genuíno talvez não esteja realmente na igreja, dentro de suas regras, doutrinas, RI’s, entre outros. Mas também isso não quer dizer que o indivíduo pode guiar sua vida como bem quer. Aliás, o relativismo, o mal que afeta a era contemporânea, tem suas raízes em tais atos de separação. Se separar da instituição geralmente atrai maiores problemas do que pequenas soluções.
Mais adiante da obra de Anti-Climacus observamos colocações do tipo: ser um cristão é viver um “incógnito” em sua vida. Esta última frase não será encontrada no texto, porém, ela é uma última análise de suas expressões que falam de Jesus (Deus-Homem) como um ser incógnito. Aqui se entende por incógnito como algo enigmático; secreto. É muito interessante quando se observa a história do cristianismo sobre o olhar desta palavra. O cristão sempre buscou uma sistematização de suas idéias; sempre quis colocar o cristianismo em moldes perfeitos. Porém, quando se observa a história deste cristão, o que se percebe é que ele mesmo não consegue se adaptar em tais moldes. Anti-Climacus coloca isso como que sendo necessário na vida do todo cristão. Daqui surgem as dúvidas, os escândalos e os desesperos, e todos estes são, de certo modo, aceitos por Deus, quando o interesse é entender o Reino e a si mesmo. Aliás, Anti-Climacus coloca que o escândalo é necessário para uma melhor compreensão do Reino de Deus. Não quer dizer que todos devem passar por estes escândalos, mas a todos que vierem a passar por tais, não serão punidos por Deus-Homem, pois uma vez que o Deus-Homem colocou o escândalo como objeto da fé; algo inseparável um do outro. Estes escândalos servem como algo que denota a obra do Deus-Homem, e, sem tais escândalos seria impossível reconhecer tal obra. Segundo Anti-Climacus, o reconhecimento direto seria uma espécie de paganismo. O incógnito fará do cristão que persevera, um vencedor em constante crise, mas nunca um perdedor satisfeito com o já conquistado. E aqui seria um passo do estádio estético para o ético de Kierkegaard.
Na verdade, o especificamente cristão no texto “a escola do cristianismo” seria nada mais do que encontrar o equilíbrio nas atitudes e desejos da igreja. Na verdade o indivíduo deve se sentir “igreja”; algo indivisível e único para Deus-Homem. O cristão deve viver sob doutrinas, mas antes deve aprender a lidar com o seu individualismo e com o do seu próximo. Ele deve aprender a lidar com as exigências e também aceitar os seus limites. Mais vale a crise de pensamento do que o mero rebaixar a conceitos pré-estabelecidos que não passam de frutos podres que são oferecidos pela cristandade às bocas famintas dos que vão às igrejas para buscarem respostas para as suas vidas sem-sentido. A crise ao menos traz reflexão; meditação; e isto é bom quando se tem a aplicação da práxis. O cristão genuíno é aquele que consegue pensar, argumentar, sistematizar os argumentos, questionar os argumentos antigos, e além de tudo isso, caminhar disposto a viver tudo isso em sua própria vida, mesmo sabendo que lá na frente de sua caminhada ele pode se deparar com um muro que o impedirá de prosseguir. Este realmente será mais aceito no conceito divino, do que aquele que simplesmente conceitua sem viver o que diz, ou daquele que quer simplesmente viver o que os outros dizem sem ter que ter o peso do raciocinar em sua vida. Ser um cristão genuíno é carregar a cruz durante a vida e depois deixar ser crucificado por outros.
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