sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aglutinação Amorosa

Por Carlos Chagas

Por que é difícil falar do amor?
Por que se expressar é motivo de vergonha?
Seriam essas ações objetos para se guardar?
Ou seriam para brilharem no mais profundo esplendor?

O que é o amor? O que é amar?
Seria loucura, desejo ou prazer?
Quem sabe seja em alguém se identificar,
Ou talvez se definir em alguém como ser?

Seria o amor a qualidade do insano?
Seria um sentimento do qual alguém padece?
Pois o amor possui razões,
Que o próprio amor desconhece.

O que é o amor para o mundo?
O que é o mundo para o amor?
Para aquele é algo consumidor,
Mas para este é o sonho de desejo profundo.

Amar é difícil; é algo delicado,
Necessita do tempo, da paciência, do olhar,
E deste olhar apenas um simples piscar,
Prova que palavras não podem significar.

O amor quando nasce traz esperança,
No coração dos apaixonados suspiros e deleites hão de suscitar,
Como em brincadeira de criança,
Sentido de vida e alegria, isso há de se experimentar.

No amor tudo faz sentido,
Tudo é melhor ao se amar,
Desde um beijo não contido,
A um perdido olhar a se encontrar.

O dia simplesmente não passa,
A razão perde seu lugar,
Para a loucura o dia dar o seu acento,
Onde agora o amor triunfa num boníssimo e grato aposento.

Mas que aposento é este?
E por que não mais existe a razão?
Porque melhor lugar o homem ainda não fizeste,
Mesmo em profunda filosofia do que seu coração.

É no amor que o homem e a mulher são completos,
Dos éons abrasados do amor a carne se torna uma,
De ambos uma criança é coroada,
E de plena satisfação ambos são repletos.

O amor não tem regra ou segredo,
Não se vive com parâmetros ou restrições,
O amor é como o vento,
É livre, é forte, é belo em todas as estações.

O amor é assim, é de surpreender,
É ao outro estar à mercê,
É se encontrar de mãos dadas ao anoitecer,
É com você, estar junto, mesmo após o envelhecer,

Após te encontrar a vida mudou,
O que era escuro agora clareou,
Com você minha Lady eu hei de ficar,
Até contrariando aquele que nunca aceitou.

Quebrando barreiras nós caminhamos,
Abrindo picadas prosseguimos vencendo,
Mesmo aonde não enchergamos,
Com Deus continuamos rumo ao Paraíso,
Sempre e Sempre rompendo!!!

À minha esposa Júnia Ramalho, simples palavras, mera loucura, com muitos sentidos sem sentido, mas com cheiro de vida, sobretudo de amor!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Um dia me disseram... 1ª PARTE

Por Carlos Chagas

Um dia me disseram que eu deveria ser cristão porque em algum dia Jesus voltaria e mataria todos que não o adorassem cortando a sua cabeça (ano de 1991).

Um dia me disseram que eu deveria tomar cuidado com o 666: A marca da besta. Me disseram que era o 666 era o Papa, a internet, o código de barras, a música da Xuxa, o canal de televisão Fox, a Globo, uma música do Iron Maiden, um chip, o nazismo, o capitalismo, o comunismo, a democracia, etc. São tantas as marcas que já não sei no que acredito... me sinto um besta... peraê... seria eu a Besta??? (Mais sobre o 666 clique aqui)

Um dia me disseram que Deus dá em dobro àqueles que dão o dízimo... mas de fato não se vê isso. O que eu vejo são pessoas que dão porque querem mais e não por amor assim como Jesus Cristo ensinou.

Um dia me disseram que o que é consagrado ao demônio deve passar por uma campanha de jejum e oração para a quebra da maldição... mas e o pão e vinho da Ceia do Senhor??? A bênção dos elementos quebra após a Ceia? Seria Deus mais fraco que Satã?

Um dia me disseram que o mundo acabaria em 1997, 2000, 2001, 2002, 2012, etc. Na verdade já disseram que o mundo acabaria um dia apenas 220 vezes só após o nascimento de Cristo (para conferir clique aqui). Será que o mundo já acabou e só eu que restei junto com tudo o mais?

Um dia me disseram para não mais andar de moto CG Titan porque nela possui uma cruz de cabeça para baixo, o que simboliza que ela é do Satã. Mas porque os documentos ainda estão no meu nome? Me tornei um ladrão dos infernos?

Um dia me disseram que eu não deveria me vacinar porque as vacinas são um plano dos grandes governantes do mundo de acabar com um terço dos seres humanos. Mas eu tomei a vacina e ainda não morri... seria porque Jesus disse que mesmo que eu bebesse ou tocasse em algo mortífero eu não morreria ou porque tudo é mais uma teoria da conspiração?

Um dia me disseram que eu deveria crer em tudo o que está escrito na Bíblia. Mas em qual variante: Na Evangélica (histórica tradicional ou pentecostal; renovada; pentecostal; neo-pentecostal; apostólica, etc), Católica (tradicional, ortodoxa, contemporânea, etc), Satânica, ateísta, científica, literária... ???

Um dia me disseram que é proibido pensar a fé e muito menos discutí-la: Deveria eu me tornar um islâmico??? É isso que devo ser??? Eles não discutem nem pensam sua fé...

Um dia me disseram que os EUA posuem milhares de caixões de concreto para enterrarem um terço da população do mundo após um genocídio por interesses econômicos. Me pediram para fugir... mas para onde? Para a lua? Me fizeram acreditar que muitos morrerão e associaram a matança à Satanás. E então: Deus manda ou Satanás manda? Se eu levar em consideração que devo acreditar literalmente na Bíblia como me pediram (um pensamento desses aí em cima) devo aceitar tal matança. Mas se não devo aceitar isso, o que devo fazer? (1) Me tornar um líder e matar os que querem me matar; (2) acreditar na história contada na TV, (3) liderar um motim, (4) ou orar para que Deus se torne o Deus da Criação novamente e cesse essa baderna?

Um dia me disseram que para retirar uma macumba das esquinas eu precisaria estar em consagração (jejum, orações em montes, etc) senão eu sofreria retalhações do demônio. Daí penso: E se eu não estiver em toda essa consagração necessária? Eu não retirarei a macumba... mas e o lixeiro... ele vai? E se ele não estiver na consagração??? Ele vai morrer? A cidade ficará suja???

Um dia me disseram que sou muito crítico.... seria isso uma crítica à minha pessoa?

Um dia me disseram para não ler a Bíblia e muito menos o livro de Apocalipse senão ficaria doido. Será por isso que sou desse jeito: amante e seguidor de Cristo? Seria o amor loucura para o mundo? Creio que sim...

Um dia me disseram que o mundo jaz DO maligno.... não seria jaz NO maligno? Ou seja, ao invés de ser do capeta, estar na prática do mal? A segunda é mais convincente porque houve uma má interpretação....

Um dia me disseram que Jesus era amante de Maria Magdalena; que ele era um revoltado; que ele foi um homossexual; que ele era apenas um homem... Seria Jesus o vilão "1000 Faces"? Ou seríamos nós os Caçadores de Pretextos para justificar os nossos ideais?

Um dia me disseram... e dizem até hoje!!!

domingo, 25 de abril de 2010

O livro de Gálatas: Introdução ao estudo e breve aplicação para hoje

Por Carlos Chagas

Sobre o Autor

Muito se discutiu através dos estudos da epístola de Gálatas sobre quem a escreveu. Mas após análises profundas chegou-se a conclusão de que é realmente Paulo e não um pseudônimo quem escreveu o livro. Um dos fortes indícios é o estilo literário latente no livro. Quanto a Paulo, a própria epístola destaca sobre a pessoa de Paulo. Sabe-se que Paulo não era uma pessoa rasa na sua vida pré-cristã. Este era judeu e ele próprio sabia que era mais "avantajado" que os demais contemporâneos. Contudo sua modéstia o refreou (1.14). Paulo não escreve para desconhecidos. Muitos gálatas o conhecia em sua época pré-cristã (1.13). Paulo descreve detalhadamente sua conversão além de se declarar pregador (1.15-16) de um Evangelho que não era de feitura humana (1.11). Este recebeu o Evangelho mediante revelação (1.12). Paulo deixa claro que: Pregou o Evangelho em suma consciência (2.2); anunciou o Cristo crucificado (3.1) e que demonstrou ter enfermidades na sua primeira pregação entre os gálatas (4.13).

Quanto à sua peregrinação missionária Paulo passou um tempo na Arábia e relata sua volta a Damasco (1.17). Esteve em Jerusalém (1.18 e 2.1) mas não há precisão de data. Parece ter ligeiro conhecimento das igrejas na Judéia (1.22-23) mas nega conhecimento pesoal delas. Ele cita também a Síria e Cilícia, mas aparentemente não esteve ali (Cf At 15.41).

Sobre sua experiência cristã a epístola deixa claro sua profundidade. Ele se considera "servo" de Cristo (1.10) e, apesar de ter o título de apóstolo se coloca em posição de humilhação. Foi liberto da Lei mas continua escravo de Cristo. É sobre essa antítese Lei x Graça que Paulo constrói a "coluna cervical" da epístola.

Nesta epístola fica claro as características humanas de Paulo: Fica atônito com a apostasia de seus leitores (1.6); teme que seu trabalho tenha sido em vão e se demonstra decepcionado (4.11); mostra-se perplexo (4.20); se demonstra claro e insistente em palavras nas suas explicações (1.9); não teme a autoridade de Pedro e repreende-o em público (2.14) e se torna radical contra os que pervertem o Evangelho (5.12).

Por fim, Paulo se demonstra um teólogo de ação e não de poltrona como hoje. Possuía uma enfermidade que não se dá para saber ao certo o que era (4.13), todavia esta enfermidade causou-lhe uma transformação desagradável em sua aparência pois elogia os gálatas por não desprezá-lo (4.14). Sobre sua possível oftalmia, doença que é cogitada por alguns como Calvino, no versículo 4.15 parece ser apenas uma figura de linguagem usada por Paulo. E quanto às letras grandes usadas por Paulo no final da epístola serve tanto para reforçar a teoria da oftalmia quanto para uma abertura para outras interpretações.

O estilo da epístola

A epístola de Gálatas difere das demais epístolas paulinas no que diz respeito ao envolvimento do autor com as palavras empregadas. A grande riqueza encontrada na epístola é o uso de figuras de linguagem. Existem mais figuras de linguagem em Gálatas do que nas demais epístolas. Eis algumas: O olhar que fascina (3.1); a exposição de notícias (3.1); a função do aio (3.24); o jugo (5.1); o parto (4.19); a competição esportiva (5.7); o fermento (5.9); o escândalo, ou pedra de tropeço (5.11); a cidade dos animais selvagens (5.15); a colheita dos frutos (5.22); o processo de semear e ceifar (6.7); a família (6.10) e o processo de ferretear (6.17).

Outra característica da epístola é o número de perguntas retóricas. Estas se concentram mais na porção central doutrinária (caps. 3 e 4). Destaca-se também o jogo de cintura de Paulo mediante situações de correção. Ora Paulo chama os gálatas de "irmãos" (1.11, 3.15, 4.12, 28, etc) ora de "insensatos" (3.1). Um toque ainda mais carinhoso aparece em 4.19 onde o apóstolo chama-os de "meus filhos".

Paulo se identifica com os seus leitores já que usa a primeira pessoa do plural cerca de 70 vezes.

Propósito da epístola

Esta epístola deixa claro as intenções de Paulo para com seus leitores. Na epístola exitem três diferentes grupos envolvidos na situação dos quais Paulo considera.

O primeiro grupo é formado de pessoas com as quais Paulo já possuía um relacionamento prévio (1.8, 9; 4.13). Paulo se demonstra extremamente voltado em amor para com estes (4.15) e satisfeito com a revolucionária transformação do povo gálata de pagão para cristão (4.8). Talvez o amor de Paulo para com este grupo se deu pelo fato de este acolher amorosamente Paulo em sua cansativa viagem somada à sua enfermidade (4.14).

O segundo grupo é o apostólico em Jerusalém. Paulo deixa claro sua dificuldade com este grupo quando este tenta se sobrepor aos ensinos de Paulo com se o apóstolo tivesse menor autoridade. Diante disso Paulo se coloca no mesmo nível (1.1) dos apóstolos do ministério de "carne e sangue" (1.16). Certo desentendimento teológico houve entre Paulo e este grupo (2.11-14) que tinha Pedro e, mais tarde Tiago, como líderes. Paulo se refere aos apóstolos como "colunas" (2.9).

O terceiro grupo era os judaizantes. Várias alusões são feitas a eles por Paulo, porém sem nada de mais definido. A primeira referência é 1.7 onde se diz que o grupo quer perverter o Evangelho. Outra refrência é 1.9, contudo esta é mais vaga, sem muitos detalhes. Em 3.10 Paulo faz uma declaração acerca de "todos quantos são das obras da Lei", referind-se ao grupo. Outra passagem importante está em 5.2 em diante quando o apóstolo trabalha os gálatas no seu desvio de fé. Fica claro que um dos assuntos que Paulo enfrenta é a circuncisão (6.12).

O apóstolo luta contra estes que tentam atrapalhar seus ensinos. Paulo vê o movimento como sendo escravizante. Na epístola não fica claro quantos participam do movimento e nem quem são os líderes judaizantes, contudo presume-se que são da Galácia. Fica evidente que fazem parte da igreja local, embora entraram de forma clandestina.

A questão dos judaizantes pode ser considerada comum para aquela época, principalmente o quesito da circuncisão. A circuncisão era sinal de uma aliança que trazia status, posição de privilégio, além de ser algo obrigatório no Antigo Testamento. Muitos cristãos primitivos, antes de sua conversão, foram condicionados a estes pensamentos, o que deixa margem para se pensar que tentaram condicionar a igreja também. Contudo o movimento era comum, mas seus resultados poderiam ser catastróficos para o cristianismo nascente. Os gálatas eram muito sinceros; perigosamente sinceros, a ponto de pregarem as doutrinas judaizantes com afinco. Se Paulo não intervisse com certeza o cristianismo seria considerado mais uma simples seita do judaísmo. Portanto, o propósito da epístola é trabalhar os gálatas sobre o perigo iminente. Sendo assim, Paulo adota os seguintes pontos:
  1. Paulo faz uma abordagem histórica: Paulo refuta a idéia legalista dizendo ter apoio dos "colunas" da igreja (1.1 - 2.14). Logo isso valeu como uma abordagem doutrinária mais importante, a qual coloca Paulo como importante também, mas em segundo plano, ou seja, a doutrina é maior.
  2. Paulo trabalha seu próprio testemunho (2.15-21).
  3. Paulo trabalha a experiência dos próprios gálatas (3.1-5). O apóstolo relembra-os dos milagres realizados pelo Espírito desafiando-os então a uma série de perguntas.
  4. Como a doutrina legalista dos judaizantes nasce da Lei mosaica do Antigo Testamento, Paulo apela também para o Antigo Testamento (3.6-18) citando Abraão como exemplo de que a promessa de Deus feita a ele era superior à lei. O apóstolo então fala da maldição da lei e da salvação de Cristo, que se fez maldição após cumprir a lei, que é interpretado por Paulo como sendo o retorno à fé de Abraão, que, como foi dito, é superior à lei. O apóstolo também não isenta argumentos que são baseados em considerações gramaticais (3.16).
  5. Em seguida é trabalhada a questão da temporária função da lei e a função permanente da fé (3.19-29) juntamente com a consideração de que os que são da lei são apenas servos, mas os que são da fé são filhos de Deus.
  6. Assim, o apóstolo os adverte contra o retorno às coisas antigas, que seria voltar à condição de escravos (4.8-20).
  7. Por fim, o método alegórico foi usado para ilustrar o ensino. Talvez nõ faça sentido hoje, numa época onde a ciência racional predomina, mas para aquela época tal ato significou grande aprendizado e compreensão.
Paulotermina seu argumento doutrinário com uma frase citada quase no fim da carta em 5.1: "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou", onde ele deixa claro qual é a maior qualidade do cristianismo.

Data da Epístola

Muitos preferem dizer que Paulo escreveu a carta durante a fome de At 11.30, logo, por volta de 55 ou 56 d.C. Mas a grande pergunta é se Paulo escreveu a carta antes ou depois do concílio de Jerusalém de At 15, que provavelmente foi em 48 d.C. Se a data do concílio estiver correta, foi antes de 48.

Esboço de Gálatas

I- Introdução 1.1-10
  A. Saudação 1.1-5
  B. Deserção dos gálatas 1.6-7
  C. Denúncia contra os judaizantes 1.8-9
  D. Declaração da integridade de Paulo 1.10
II- Biografia: Paulo defende sua autoridade 1.11 - 2.21
  A. A fonte de sua autoridade 1.11-24
  B. O reconhecimento de sua autoridade 2.1-10
  C. A manifestação de sua autoridade 2.11-21
III. Doutrina: Paulo defende seu Evangelho 3.1 - 4.31
  A. Com discussão 3.1 - 4.11
     1. Experiência dos gálatas 3.1-5
     2. Doutrina do AT 3.6-14
     3. Caráter da aliança com Abraão 3.15-18
     4. Propósito da Lei 3.19-24
     5. Status daqueles que estão em Cristo 3.25 - 4.7
     6. Insensatez de reverter-se ao legalismo 4.8-11
  B. Por apelo
     1. Com base na afeição deles por Paulo 4.12-18
     2. Com base na afeição de Paulo por eles 4.19-20
  C. Por alegoria 4.21-31
IV- Prática: Paulo exorta os gálatas 5.1 - 6.10
  A. A usarem adequadamente sua liberdade cristã 5.1-15
  B. A caminharem através do Espírito 5.16-26
  C. A carregarem os fardos dos outros 6.1-10
V. Conclusão 6.11-18
  A. Advertência contra os legalistas 6.11-13
  B. Centralidade da cruz 6.14-16
  C. Marcas de um apóstolo 6.17
  D. Bênção 6.18

A epístola de Gálatas para a atualidade

Talvez, numa primeira leitura de Gálatas, seja difícil destacar pontos importantes de Gálatas para os dias atuais. Parece antiquado o texto se for aplicado hoje. Contudo a epístola de Gálatas é rica na apresentação de princípios cristãos. E se caso esses princípios forem destacados num estudo mais elaborado com certeza a epístola de Gálatas apresentará relevância para os dias de hoje.

Essa relevância foi crucial na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, quando os reformadores releram Gálatas achando argumentos que foram contra o pensamento vigente da época. Para os reformadores a epístola possui uma extrema valorização da fé contra a lei no âmbito de salvação. Logo, se uma releitura de Gálatas com uma aplicação de eisegese foi crucial para o surgimento dos protestantes porque não seria ainda hoje?

Portanto, se for destacado alguns pontos (problemas) a serem pensados hoje virão à tona os seguintes:

a) Uma advertência contra o legalismo: Nos dias atuais ainda se vê o problema na sistematização das idéias sobre a salvação do homem. No início da era moderna os protestantes foram contra a igreja católica porque esta impunha a salvação por meio de obras, leis, dogmas e práticas. Os protestantes eram contra porque, após a leitura de Gálatas, perceberam que a salvação vem pela fé e tão-somente por esta. Para os católicos da época (e de hoje???) a salvação só é possível pela intermediação de um sacerdote (padre, bispo, papa, etc.) e de ritos. Para os protestantes somente pela fé em Cristo. Logo, para os católicos existem obras para que venha a salvação e para os protestantes existem as obras porque houve a salvação. As obras, segundo os protestantes, vieram porque uma vez que o homem foi salvo pode trabalhar essa salvação para o outro afim de que este outro sofra uma benevolência como fruto do amor da salvação divina. Essa interpretação só foi possível através da leitura de Gálatas. Para Paulo, a salvação só poderia resultar da fé pessoal, o que tornava o cristianismo um fator vivo e poderoso. Para Paulo, voltar ao legalismo é o mesmo que matar novamente Cristo e, dessa maneira, negar a primazia da fé.

Nos dias de hoje, mais especificamente nas igrejas evangélicas do Brasil, o legalismo tem tomado conta quando o assunto é salvação. A teologia protestante tem sido abandonada por estas, que adotaram uma crença popular rasa que associa a fé em Cristo com a necessidade de confirmação da salvação através das obras. Para muitas igrejas é obrigatório entregar o dízimo, jejuar 1 vez por semana, ir ao culto ao menos 1 vez por semana, etc,  para que seja salvo, o que nega o que Paulo tanto ensinou aos gálatas como forma de ativação do cristianismo dinâmico. Para a salvação basta fé e para as obras basta amor. A volta à legalidade pelas igrejas evangélicas é totalmente contrária ao Evangelho pregado por Jesus Cristo e por Paulo. Nada se deve fazer para a salvação a não ser crer. Essa crença trará como fruto o arrependimento e este arrependimento também não é necessário para a salvação pois já é resultado de uma vida salva. Assim, o salvo entende que as boas obras o acompanha porque só o salvo entende que estas são necessárias para agradar seu coração sedento de amor. Essa é a mensagem de salvação de Gálatas.

b) Uma advertência contra o subjetivismo nocivo: Ao contrário do legalismo, que visa traçar metas invioláveis, ou pelo menos para que não se viole, a negação do legalismo pode levar ao subjetivismo nocivo. Em outras palavras, a negação do legalismo pode levar o homem a fazer tantas leituras e aplicações com o texto de Gálatas, que culminaria em uma espécie de liberdade impensada, onde muitos sairiam prejudicados; uma espécie de libertinagem. Contudo ainda assim a epístola de Gálatas coloca a importância de não seguir o egoísmo. Em 5.13 a epístola exige que não se ande segunda a carne. Em 5..2 Paulo afirma que o amor é o primeiro fruto do Espírito. E por fim, a epístola deixa claro que o serviço prestado a outros é mais importante que para si mesmo (5.13-14).

c) O uso do Antigo Testamento: Nos dias atuais as igrejas evangélicas brasileiras têm usado com desregramento os textos do Antigo Testamento como forma de doutrinação. O que a epístola deixa claro é que o mesmo deve ser usado para confirmar o Novo Testamento. As doutrinas criadas não podem ir contra a cultura que Cristo deixou. Ainda sobre o uso do Antigo Testamento fica claro que Paulo citou textos, usou linguagem típica do AT e usou personagens do AT com uma história alegórica. Fica clara a forma criativa que Paulo usou contra os problemas dos gálatas. Isso também é valoroso para hoje.

CONCLUSÃO

Esta carta tem sido descrita, com razão, como sendo a carta magna da liberdade cristã, e enquanto seus ensinamentos forem obedecidos, o cristianismo jamais ficará sujeito a qualquer tipo de servidão.

Referências Bibliográficas

GUTHRIE, Donald. Gálatas: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2005.

CARSON, D.A., MOO, J., MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997.

BÍBLIA SAGRADA Plenitude, Edição de Estudos.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O que você mais assiste na TV e por quê?

Por Carlos Chagas

Nos últimos 10 anos o Brasil tem tido uma grande mudança em sua grade de programas televisivos, programas estes que passaram de educativos para entertenimento. Não que os programas antigos eram tão-somente educativos, mas a quantidade deste diminuiu drasticamente. Prova esta é o surgimento do "BBB" (Big Brother Brasil) e sua instalação definitiva nas telinhas brasileiras. Junto com este veio "A Fazenda" e "Casa dos Artistas".

Outros programas fazem sucesso no Brasil como "Pânico na TV" e "SuperPop", programas dos quais trazem matérias de humor e descontração. Em meio a estes se tem também novelas em todos os canais em maior quantidade como nunca se viu na história televisiva brasileira. O fato é que tais programas são veículos de propaganda. Não se refere aqui à propaganda do tipo de intervalos de programas e filmes, mas sobre a disseminação de idéias uma vez que o veículo de propaganda é forte, pois conta com milhões de brasileiros como telespectadores.

O que este artigo quer trabalhar é a importância que se dá a tais programas. Infelizmente a TV, que antes era objeto da intelectualidade passou a ser um mero objeto de entertenimento e mera propaganda de idéias, onde o que vale é apenas saber da vida dos outros, alimentar sonhos impossíveis e dar risadas à custa de qualquer coisa. Não que o humor e o lazer não sejam importantes e necessários à vida do ser humano, todavia um ditado ilustra bem o que se fala aqui: "Diga com quem tu andas que direi quem és". Adaptado para "Diga o que tu assistes que direi quem és" mostra que a formação do homem está em seu meio de convívio. Muitos pais deixam filhos à frente da TV, ondes as crianças, que estão em processo de formação intelectual absorvem como esponja em água tudo que adquirem ali.

Numa época onde o homossexualismo e o crescimento do espiritismo são algo notório e forte, os programas televisivos têm investido pesado em marketing dessas idéias. Isso é natural. Quem crê em algo prega isso. Logo, se o diretor de um filme é satânico, ele tentará passar sua idéia e não a de outros. Sendo assim a TV tem muita bagagem, além do que o brasileiro precisa ou deseja. Cabe aqui ao brasileiro filtrar o que vê. Para isso é necessário entendimento crítico para tal ato.

A nível físico assistir televisãoleva à obesidade e alteração nos padrões de sono, mas em níveis psicológicos isso é bem mais alarmante onde pode ser ter aumento da violência, distúrbios psicológicos e até mesmo envolvimentos com drogas de diversos tipos (clique aqui para consultar a fonte pesquisada). Para um melhor hábito infantil recomenda-se que crianças não alimente em frente da TV, nem que esta esteja em seu quarto, optando-se por brinquedos. Para os adultos é bom que reflita na quantidade de horas que se passa em frente à TV e quais tipos de programas são assistidos. Isso servirá de exemplo para os filhos como também para que outras atividades sejam praticadas como ler livros, exercícios físicos, etc.

Finaliza-se aqui com uma reflexão: Quando você assiste televisão, o que mais lhe chama atenção? Isso tem sido edificante? Em que isso tem lhe transformado através dos anos? Tem agregado bons valores? Pense nisso...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Resumo de minha Monografia

Por Carlos Chagas

O trabalho buscou apresentar como o termo “religião” se transformou durante a história e como essas transformações provocaram mudanças na compreensão soteriológica das religiões em geral, e no cristianismo em específico. Para isso tracei em três capítulos a seguinte meta: 1º) apresentar o termo religião e suas adaptações religiosas; 2º) apresentar o termo religião abordado mais especificamente pelo cristianismo durante a história deste mostrando a evolução do desenvolvimento soteriológico juntamente com a compreensão do termo; e 3º) mostrar como que a religião, de forma geral, possui dimensões divina e humana, fornecendo assim contribuições para o diálogo inter-religioso.

Após perceber que todas as palavras, quando usadas por muito tempo, perdem ou adquirem novos significados, me questionei pelo termo “religião”, pelas suas possíveis mudanças de significado e, com isso, possíveis implicações na compreensão sobre o que seja religião hoje em comparação com antigamente. Portanto, minha pesquisa se iniciou no estudo do termo “religião”. Neste início foi percebido que o termo “religião” obteve mudanças significativas em sua compreensão. Algumas mudanças foram:
  • De caráter qualitativo para substantivado: O termo religião, no início da era cristã, se preocupava em mostrar a qualidade daquele que busca o outro, o além de si, o transcendente. Após este termo ser apropriado pelo cristianismo primitivo e pelas demais religiões da época, o termo passou a ter um caráter mais substantivado, onde “religião” deixa de ser qualidade e passa a ser modelo, institucionalização daquilo no qual se crê e se espera;
  • Mais conceitual: Passou a ser usado em ritos e observâncias, em designação de cargos eclesiásticos, e mais preocupado com distinções e conceituações. Com os conceitos vieram comparações entre as religiões buscando então diferenciações sobre o que é certo e o que é errado a partir dessas comparações. Nasce com isso o plural “religiões”, algo inexistente para o termo antes;
  • Na relação com outros termos: Termos que existiam antes mesmo da apropriação do termo “religião” pelo cristianismo, após essa inter-relação entre os mesmos, passam a ter significados modificados, como o caso do termo cristão (p.12);
  • Aglutinações com desenvolvimento progressivo: Como foi o caso do termo cristão associado com o termo religião que vieram formar um conjunto de regras pré-definidas (religião cristã) e depois de distinção das demais (a religião cristã). Assim o termo “cristão” passa a ter mais conotações do que simplesmente ter fé em Cristo;
  • Na compreensão soteriológica cristã: Com a supervalorização do termo “a religião cristã” a fé dos cristãos em Deus dá lugar a uma maior aceitação à fé no cristianismo. Este último nome começa a ganhar mais peso e maior valor. Assim sendo, a compreensão soteriológica no cristianismo descarta de vez o valor das idéias sobre Deus nas demais religiões;
  • No objetivo primevo do termo “religião” quando inserido no cristianismo: o fim da religião no sentido clássico de seu propósito e objetivo é Deus. Contudo as mudanças deram ao termo a idéia de adequação a regras e ofícios.
No terceiro capítulo eu me preocupei em mostrar bem resumidamente como foi o desenvolvimento soteriológico do cristianismo até em tempos recentes na ótica do termo “religião”. A minha preocupação foi de mostrar em determinados espaços de tempo as mudanças do termo e de compreensão do mesmo. Portanto destaquei as mudanças pelas eras históricas conhecidas como antiga, medieval e moderna (aqui a moderna engloba a contemporânea) buscando perceber as sutis mudanças ocorridas na soteriologia cristã quando se pensa e aborda o termo “religião”.

No período antigo foi destacado como se dava a salvação humana diante dos discursos dos pensadores cristãos da época. Neste período a salvação era ligada tão somente à fé em Cristo, com leve tendência às penitências. Contudo a salvação não era aceita como sendo uma ação estritamente eclesial, o que foi marca da era medieval. Sendo assim, busquei mostrar que no período medieval a soteriologia deu um salto na sua compreensão. Começa-se a perceber o que foi apontado no primeiro capítulo: hierarquia eclesiástica, exclusivismo da salvação (o que não foi marca do cristianismo emergente) e grande racionalização da salvação colocando de lado o subjetivismo (que mostrou sua reação com o povo e suas superstições).

A era medieval se mostrou rica em desenvolvimento teológico. Assim como se desenvolveu a teologia a “religião cristã” passou por transformações diante desse desenvolvimento. Para demonstrar isso eu citei o surgimento das penitências, onde a soteriologia começa a se mostrar como algo que se dá no interior da igreja. Mudanças sutis, contudo importantes para perceber mais adiante o discurso da salvação restrita ao cristianismo apenas.

Já no período moderno percebe-se uma grande virada no desenvolvimento cristão. Com o surgimento do protestantismo o cristianismo se vê subdividido em sua compreensão soteriológica. Tal subdivisão já existia no cristianismo antigo (com os pensamentos sobre o sinergismo e monergismo, por exemplo), mas foi no moderno, após a não aceitação de certas imposições hierárquicas, que tais pensamentos foram levados às últimas conseqüências. A soteriologia se vê num impasse. Esta se desenvolveu em suas ramificações deixando o cristianismo a partir de então com compreensões distintas sobre como se dá a salvação.

É diante dessas transformações históricas que o trabalho buscou mostrar que o desenvolvimento soteriológico cristão (bem como das demais religiões) não conseguiu dar uma resposta final sobre como se dá a salvação do ser humano. O que se viu foram respostas muito bem elaboradas para sua época que geralmente passam por novas elaborações uma vez que a tentativa de conceituação já não surte mais efeito como antes. O progresso histórico é inevitável e com isso o desenvolvimento dos conceitos também não pode ser estático.

Após esta percepção meu último capítulo serviu para trabalhar esta realidade. Busquei apresentar que religião é a interação entre o ser humano e Deus. Interação do ser humano pelo fato de que este está em constante contato com Deus, seja um cristão ou não. Neste constante contato o ser humano busca expressar sua experiência religiosa de alguma maneira. Logo o papel da religião é apresentar de forma organizada estas expressões. A interação de Deus no processo de formação da religião está no simples fato de se deixar conhecer ao ser humano. Religião nenhuma existiria se não houvesse este contato entre ambos.

Percebendo então que toda religião tem autonomia para falar de Deus coube a mim apresentar, enquanto cristão, uma forma de diálogo entre as mesmas não perdendo a identidade religiosa e nem desprezando-a. Uma vez que toda religião possui algo a falar sobre Deus, e que este é o objetivo último das religiões, e que a tendência é de cada religião (instituição) desviar-se cada vez mais uma das outras, aprovei a necessidade do diálogo entre as mesmas não negando sua base de fé, que é crucial para a sua identidade. Logo, nenhuma religião sabe tudo sobre Deus, apesar de todas terem os objetivos próximos (pensamento de Pannenberg).

Foi diante da realidade de que Deus está ao alcance de todos (sendo assim, não é cabível apenas uma definição de fé), que fez com que eu desse mais um passo na pesquisa que é de não negar a experiência de uma salvação que se dá na história. Assim uma mudança na religião (instituição) a partir de influências externas só seria possível após uma releitura de si, onde mudanças religiosas não seriam violentas para seus adeptos e muito menos a si mesmo. A leitura do outro é valiosa para uma religião, contudo não quer dizer que seja válida.

Portanto cabe ao cristianismo continuar a fazer sua leitura da realidade a partir de Cristo, que é seu crivo máximo, não esquecendo que sua releitura deve ser racional e coerente. Deve perceber que não possui a fórmula para a salvação do homem, contudo experimenta dessa salvação. O cristianismo deve entender que religião não é ter as respostas soteriológicas de forma exclusiva, mas fazer uma leitura honesta e sincera da realidade a partir da revelação.

Minha pesquisa conclui que o dogmatismo é importante, contudo não é a suma do que é ser cristão. Demonstrei que o dogmatismo pode levar à negação da própria história de salvação. Esta salvação se dá no experimentar da vida que Deus proporciona e não no ato da conceituação da experiência. A conceituação sobre o que seja salvação deve ser o alvo da dogmatização, mas o estabelecimento de parâmetros soteriológicos, algo que é comum no ato da dogmatização, deve ser muito bem observado, já que corre o risco de negar o próprio ato de se experimentar dessa salvação. Salientei em meu último capítulo que o dogma faz parte da história do ser humano, mas que este deve existir para o próprio ser humano e não vice-versa. Portanto a religião deve ser vista como algo que abarca conceituações, sem se esquecer de experimentações e novas releituras sobre a vida.

A pesquisa não pretendeu contrariar a visão soteriológica do cristianismo e muito menos de anulá-la. O que se buscou foi mostrar o desenvolvimento soteriológico que o cristianismo experimenta e proporciona deixando claro que grande parte da elaboração soteriológica dada pelo cristianismo ao mundo são relevantes para um certo período de tempo, já que se é possível novas elaborações soteriológicas através da história.

Não foi de intuito desta pesquisa dizer qual religião possui a salvação, mas mostrar que o cristianismo assim como as demais, enquanto portadora do termo “religião”, buscam a salvação e a experimentam. A pesquisa não procura apresentar a fórmula correta da soteriologia para o ser humano, já que a pesquisa limita-se às transformações que o termo “religião” sofreu na história e suas implicações para a elaboração soteriológica que o cristianismo apresenta hoje. Em outras palavras, a pesquisa questiona as religiões em geral e o cristianismo mais especificamente sobre o que pensam ser a religião.

Caso queira ler minha monografia integral e gratuitamente baixe-a clicando aqui

sábado, 17 de abril de 2010

Honestidade não tem preço: É obrigação

Por Carlos Chagas: Transcrição de áudio da fala da cantora Ana Carolina

Certa vez recebi um vídeo por e-mail onde a cantora Ana Carolina lê um texto de uma mulher (ou garota?) chamada Elisa Lucinda com o título "Só de Sacanagem". Tal texto relata a indignação de uma pessoa que, ao ver a situação do Brasil ante a roubos, desonestidades e promessas descompridas de políticos resolve adotar uma atitude ríspida frente a barbárie que fazem com nossa nação. O texto abaixo está transcrito literalmente como se encontra no áudio escutado por mim.

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança
será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar,
malas, cuecas
que voam entupidas de dinheiro,
do meu, do nosso dinheiro,
que reservamos duramente
para educar os meninos mais pobres que nós,
para cuidar gratuitamente da saúde deles
e dos seus pais,
esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade
e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz,
minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes
minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis
existem para aperfeiçoar o aprendiz,
mas não é certo
que a mentira dos maus brasileiros
venha quebrar no nosso nariz. !!
Meu coração está no escuro,
a luz é simples,
regada ao conselho simples
de meu pai, minha mãe, minha avó
e os justos que os precederam:
"Não roubarás",
"Devolva o lápis do coleguinha",
"Esse apontador não é seu, minha filha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe
tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo,
coisa da qual nunca tinha visto falar
e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício
que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo,
com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,
então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba,
desde Cabral que aqui todo mundo rouba"
e vou dizer: "Não importa,
será esse o meu carnaval,
vou confiar mais e outra vez.
Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos,
vamos pagar limpo a quem a gente deve
e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre,
ético e o escambau."
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto,
desde o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: Não admito,
minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram?
Imortal!
Sei que não dá para mudar o começo mas,
se a gente quiser,
vai dar para mudar o final!

É diante de textos assim que percebemos o quanto nosso país precisa de voz ativa aliada a atitudes radicais. Infelizmente o povo ainda insiste em dizer que os políticos roubam, todavia os políticos são brasileiros, e os brasileiros somos nós. A culpa é nossa pelo Brasil ser corrupto. Como diz o texto, desde o lápis até a cueca com dinheiro roubados. Ninguém começa pelo alto. Ninguém rouba um banco para chegar na balinha ou numa caneta. Ninguém mata um pai ou uma mãe de repente. Tudo é maquinado, e no coração.

Que a luz da paz e da justiça brilhe sobre nós para que, ainda em tempo, possamos nos arrepender do clips roubado de nosso próximo. Que possamos amarrar um tijolo em nosso pescoço e nos atirarmos no mar antes que o pior nos aconteça por matarmos nas filas os pobres miseráveis ou por ocultarmos o que é de legitimidade deles.

Seja honesto, pelo menos com você: VOCÊ TEM LEVADO UMA VIDA RETA E JUSTA??? Se não, ainda há tempo.

Caso queira ver o vídeo na íntegra, ele se encontra mais abaixo:

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Mantenha-se atualizado sem nenhum gasto adicional

Por Carlos Chagas
Com a colaboração de Carlos Ramalho

Recentemente recebi um e-mail com o link de um site muito interessante. O link leva você a um site que demonstra por bolinhas amarelas todas as cidades que possuem jornais e que podem ser lidos de graça. E melhor: Todos os jornais são do dia. Veja nas imagens abaixo como é que funciona.

Após clicar no link, abrirá a página (o link está na lateral do meu blog em "Sites Indicados"):
Perceba na figura alguns círculos vermelhos. Neles você terá a opção de escolher o continente. Na seta está a América do Sul.

Ao clicar na America do Sul você terá opções de vários países. Suponhamos que você queira ler o jornal de Brasília. Basta ir no ponto situado em Brasília (ao posicionar o mouse em cima da bolinha aparecerá uma imagem do jornal no seu lado direito). 
Ao clicar na bolinha amarela você será encaminha a uma página onde se tem a foto da primeira página do jornal já atualizado. Acima você verá um link escrito "Web Site" (veja na figura abaixo). Clique nele e então você será encaminhado para a página do jornal, onde poderá ler todas as notícias de graça.
Para acessar a página veja a opção na coluna direita do blog Cristãos Hoje escrita "Sites Indicados" onde terá o link escrito "Todos os Jornais do Mundo de Graça", ou então, basta clicar aqui. Mantenha-se atualizado, pois segundo John Wesley, um bom cristão anda com a Bíblia na mão e o jornal debaixo do braço, ou quem sabe no mouse???

terça-feira, 13 de abril de 2010

O problema do Mal: Reflexão sobre a iminente realidade

Por Carlos Chagas

Durante séculos a pergunta "o que é o mal?" nunca foi respondida de forma precisa. E não vai ser neste artigo que ela será respondida. Todavia, é de extrema relevância levantar aqui essa pergunta para que muitos, os quais nunca pensam ser efetivamente o mal, possam refletir sobre esse tema e tirar conclusões pragmáticas para sua vida.

O mal sempre esteve presente na vida do homem. Para os cristãos desde a criação ele já estava lá. O fato é que, para Deus criar o homem livre, necessitava deixá-lo escolher, isto é, entre o bom e o ruim. Faz parte do livre-arbítrio. Até para quem acredita em predestinação deve aceitar que o mal faz parte da escolha do homem. Mas dúvidas nascem quanto a esse mal: Se Deus criou tudo e Ele próprio diz que isso tudo é bom, o mal também estaria na lista, logo, Deus criou o mal e por isso, Deus não é sumariamente bom. Diante dessa crise intelectual Agostinho de Hipona, bispo católico de cunho platônico da transição do período antigo para o medieval, estudou com afinco essa questão. Em seu livro Confissões, Agostinho descreve que o mal é a ausência do bem. Para ele, o mal é a falta de Deus e o castigo do mesmo.1

Parecido com Agostinho, Platão, filósofo da era clássica, dizia que o mal, a rigor, não existe. Para ele o mal é a ausência do ser. Epicuro, fundador do Epicurismo, também chegou à dúvida comentada acima: "Se existe um Deus bom, e Ele criou tudo, como pode haver mal no mundo?" Para o maniqueísmo, religião filosófica da qual Agostinho já havia participado, o mal é tão poderoso e eterno quanto o bem.

Para Leibniz, filósofo da era moderna, o mal é necessário para o homem, uma vez que para Leibniz um mundo só é perfeito quando se tem atividade. Logo, este mundo é o mais perfeito mundo porque ele ainda é imperfeito, devido o mal está instalado, o que faz com que o homem trabalhe lutando contra o mal. Para Leibniz um mundo perfeito (sem o mal) torna-se imperfeito.2 Para outros como Nietzsche, filólogo e filósofo do fim do século XIX, o mal é a necessidade do homem pelo poder. O homem sonha em ser poderoso e isso é a origem do mal.3 Talvez Nietzsche tenha sido influenciado pelo pensamento iluminista, anterior à sua época, o qual era defendido por um grupo de sábios que afirmava o mal como conseqüência de uma estrutura social tirânica.4

No filme Julgamento de Nuremberg, com o ator Alec Baldwin, um soldado e psicólogo norte-americano mencional o mal como ausência de empatia. Pensando o mal historicamente se vê o estudo do mal a partir do "eu", do particular para o geral. Contudo a proposta de Jesus em seu Evangelho é ao contrário: Pensar o mal a partir do outro. Um exemplo que gosto de citar nos dias de hoje: Eu perco R$50,00 na rua. O pensamento sobre o mal adquirido através da história me diz que isso foi ruim e mal para mim. Saí prejudicado. Mas pensando no lado de alguém que achou aquele dinheiro isso foi o bem para ele (há quem diz que perdeu por causa do diabo e achou por causa de Deus. Ora: Deus é o Diabo e vice-versa?).

O que está proposto aqui neste artigo é pensar o mal não somente como a história o apresentou, mas como o Evangelho incentiva. Às vezes o que dizem ser o mal pode até mesmo ser o bem e vice-versa. Para matar alguém após um crime deve-se pensar se aquilo realmente é um bem, ou quem sabe um mal. Que o mal não seja pensado de dentro do "eu" para os demais, mas dos demais para o "eu", do "eu" para os demais e de todos para Deus.

 REFERÊNCIAS CITADAS

1- Cf. AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo: Paulus, 2002.
2- Cf. http://www.filosofos.com.br/tema_mal.htm
3- Cf. LEFRANC, Jean. Compreender Nietzsche. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
4- Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Bem_%28filosofia%29

sábado, 10 de abril de 2010

O termo "Religião Cristã", suas mudanças históricas e implicações para a compreensão soteriológica no Cristianismo PARTE 3/3

Por Carlos Chagas

Esta série de artigos trata do assunto abordado por mim em minha monografia, a qual foi apresentada como exigência do curso de teologia da FATE-BH em 2008. Aqui, procurei, de forma simples e rica, propagar a minha idéia sobre o que seja religião e salvação cristã sem se afastar demais do que foi escrito na monografia. Portanto estes artigos terão uma linguagem simplificada sobre o assunto. Caso queira uma leitura mais científica aconselho ler minha monografia, que pode ser baixada na íntegra no link que segue no final deste artigo.


Nas partes anteriores apresentadas foi demonstrado como se deu a evolução do termo "religião" durantes a história e como que o cristianismo se apossou do termo, ao mesmo tempo que o próprio cristianismo se encontrava e encontra em desenvolvimento enquanto religião. Apesar deste resumo da minha monografia não ser exaustivo em sua proposta, o objetivo maior é deixar claro que o cristianismo não pode ser considerado detentor da salvação emuito menos uma religião divina. Na parte 2 deste resumo ficou claro que o cristianismo, em seu desenvolvimento, sempre buscou responder as questões sobre a realidade, mas nunca pode ditar a realidade. E pelo fato de o cristianismo tentar uma adaptação de si na realidade deixa claro sua iminente evolução enquanto religião. O fato de o cristianismo não ser detentor da salvação não o isenta de ser participante da salvação.

O problema maior que se tem, no âmbito soteriológico cristão atual, é o fato de o cristão achar que o cristianismo salva. Na parte 2 do resumo ficou claro o nascimento deste problema: No cristianismo antigo era Jesus quem salvava; no cristianismo medieval era Jesus Cristo, tendo a Igreja Católica como mediadora, quem salvava; e atualmente, após o surgimento e retorno de centenas de religiões, nada mais natural para acontecer do que a crença de que "minha religião é a certa". A proposta da monografia é combater essa espécie de "religiocentrismo" (esse termo foi inventado por mim), onde uma religião em particular vale mais do que as gerais.

Nesta 3ª parte a proposta é mostrar que tanto o cristianismo quanto as demais religiões têm, cada uma na sua devida proporção, conceitos verdadeiros e intenções reais sobre a salvação do homem. Neste quesito o cristianismo se torna mais uma religião. E é daí que surge a pergunta: "Mas por que ser cristão?" "Se o cristianismo não é 'a religião' conclui-se que posso seguir qualquer uma?" É essas e outras perguntas que serão tratadas nesta parte do resumo.

Salvação e religião: Contribuição para o diálogo inter-religioso

Religião não é algo que se cria e se fala apenas. Não é algo vazio ou que apenas se sonha. Religião é algo o qual se vive.1 Sabe-se que religião é algo que se fala a partir de experimentações do divino; oculto e sobrenatural. Logo, são conceitos, teses e crenças, as quais levam o ser humano a algo inimaginável contudo convidativo; leva o homem à esperança contra a morte acima de tudo. Mais especificamente sobre o cristianismo, este é uma religião que tem como objetivo o estabelecimento do Reino de Deus e seu domínio eterno onde o mal ão mais terá domínio sobre a criação de Deus.2 

Também é fato que o cristianismo caminha graças às suas elaborações teológicas adiquiridas através da história. Fato este que deixa claro que o cristianismo possui uma filosofia totalmente antropocêntrica (homem como centro de tudo) somado à influência de outras religiões. Mas ainda assim o cristianismo continua único; diferente de qualquer religião. Logo, o cristianismo nasceu e cresceu diante do diálogo com todos e tudo que estava ao seu redor. Sua existência veio graças a esse diálogo.

Nos dias de hoje, muitas religiões se interpretam como fundadas por Deus e somente por ele. O cristianismo também se inclui nesta lista. Mas isso é uma afirmativa errônea. Toda religião nasce de uma ação simultânea: A sede do homem associada à revelação de Deus. O envolvimento homem/Deus faz com que uma interpretação surja. E essa interpretação é passada de pessoa a pessoa, de forma certa ou errada é acreditada e assim pregada como também vivida.

A religião, a grosso modo, é uma luta contra o mal. Mais especificamente a morte, torna-se o tormento do qual o homem sonha ser livre ou pelo menos vitorioso. No cristianismo a salvação não se dá apenas pelo homem, mas na ação homem/Deus. Segundo o cristianismo, Deus interfere na maldade humana com indícios de salvação, salvação esta que culminará em salvação plena com o Reino de Deus devidamente estabelecido.3 

A salvação, por ser esta uma luta contra a morte e a busca por esperança, deixa claro que pode ser vivida. O sonho de algo além da vida vem como apêndice de lgo que experimentado no hoje. O fato de se ter sonhado com algo inefável demonstra que o contato com algo foi iminente, portanto vivenciado e possível ao hoje. Logo religião é a interação do homem/Deus (sede + Revelação); juntamente com a luta contra o mal e favor do bem buscando o clímax do bem, que segundo o cristianismo é o reino de Deus devidamente estabelecido.4 

Salvação como dimensão divina e humana

Segundo Wolfhart Pannenberg, teólogo alemão do século XX, a teologia é uma ciência. E esta, assim como as demais ciências, está em busca da verdade, sujeita às mesmas condições. Pannenberg afirma que a teologia é provisional assim como todas as ciências, o que leva a conclusão de que não se pode embalar em fórmulas as verdades sobre Deus.5 Pannenberg coaduna com a suma de Agostinho de que a verdade não é de ninguém para que esta seja de todas. Isso salienta a idéia de que religião é a decodificação do que se aprendeu durante a vida na busca pela transcendência.6 

Nessa interligação entre Deus e homem se torna comum as expressões de fé, que na verdade são decodificações do que se aprende e apreende do relacioamento com o sagrado. Ou seja: O homem, na medida em que apreende o sagrado, o traduz para a linguagem de sua realidade, dando sentido e cor à sua leitura. Isso vale para todas as religiões, todavia, no cristianismo, isso é possível somente pela fé. A fé, segundo o cristianismo, é a convicção firmada daquilo que se especula; é a certeza dquilo que ainda não é comprovado por faculdades humanas. Ora, a fé não é uma faculdade humana, mas humana/divina, já que esta interliga um ao outro.

No cristianismo, a codificação do sagrado se dá por meio da fé. Mas tal fé não está ligada a um sistema de regras ou de sistemáticas, mas em Jesus de Nazaré, do qual nasceu a religião cristã. É em Jesus que se encontra a fé do homem com Deus; a ligação homem/Deus. 

Uma conclusão não muito aceitável no geral (fora da monografia)

Contudo ficou claro que a religião, no geral, pode se achegar a Deus. Até mesmo um não-cristão se achega a Deus, já que Deus não se encontra preso a dogmas, sitemáticas e religiões, mas ao amor à sua criação. E talvez por isso surja a pergunta: "Qualquer religião é válida?" A resposta é sim quando esta é vivida pelo adepto de toda a alma; a resposta é sim quando a verdade sobrepuja o ser humano; quando a verdade é livre e não-algemada. Entretanto a resposta é não quando o adepto é mero seguidor; simples anunciador; não-vivenciador da experiência de salvação; mais conhecido como "Maria vai com as outras". A verdade do Evangelho, assim como eu creio, é maior que as formulações, entretanto confirmas as formulações humanas ssobre o divino. Eu creio no Evangelho de Cristo, e este é o decodificador da vida, prém falo de Cristo, o Senhor.

É diante da pergunta "toda religião é válida?" quem vem a prova da verdadeira fé cristã: Ser judeu como Jesus e, como este, não atentar às regras judaicas, mas ao que a regra divina pleiteia: Ao homem, e este para o Bem. Jesus, não se importando por ser judeu, conversou com uma samaritana, tocou em morto quando a Lei judaica diz que não deve, perdoou quando não devia perdoar segundo a Lei, enfim, Jesus seguiu a verdadeira religião: Adotar a verdade como maior a si mesmo, mesmo sendo um judeu. As regras judaicas não foram maiores que a Verdade. Assim também deve ser no cristianismo. Nas palavras de Smith: "A teologia faz parte das tradições, faz parte deste mundo. A fé está além da teologia; ela está no coração das pessoas. A verdade está além da fé; ela está no coração de Deus".

Ser cristão não é seguir o cristianismo e suas regras, é ser do cristianismo com a fé de Jesus. Não é se rebelar com o cristianismo, mas confirmá-lo como conclusão de um grupo de pessoas que querem a salvação. Não cabe aqui  ter a fé em Jesus, mas segundo Jesus, deve-se ter a fé dele. Se a fé cristã está certa em dizer que só Jesus salva, não será uma religião dita pagã, mas que tem a fé de Jesus, que irá para o inferno. Caso contrário negamos as palavras de Jesus em Mt 25.31-46. Desfecha-se aqui com as palavras de Küng: "A fé de Jesus une-nos, mas a fé em Jesus sepára-nos".7

Para ler a PARTE 1/3 clique aqui.
Para ler a PARTE 2/3 clique aqui.
Se tem dúvidas sobre o que é ser cristão leia mais sobre isso clicando aqui.

Gostaria de lembrar que este artigo é um simples resumo de minha pesquisa monográfica, a qual foi apresentada como exigência do curso de teologia da FATE-BH em 2008. Caso queira lê-la integral e gratuitamente baixe-a clicando aqui.

Referências das Citações:


1- Cf. REIS, 1965, p.101.
2- Baseado nos ensinos do Apóstolo Paulo em 1Co 15. Ver também KÜNG, 1976, p.353-354.
3- Cf. TILLICH, 1967, p.150-151, 185-193, 224-226, 240-246; BERKHOF, 1992, p.190-193; GAARDER, 2000, p.185-188; CAIRNS, 2005, p.244-245 e LUTERO, 2006, p.121-131.
4- Cf. GRENZ, 1988, p.795-796.
5- Ibidem, p.795.
6- Ibidem, p.795.
7- Cf. KÜNG, 1976, p.146.

BIBLIOGRAFIA:

BERKHOF, Louis. A história das doutrinas cristãs. São Paulo: Editora PES, 1992.

BÍBLIA Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2000.
CAIRNS, Earle. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005.

GAARDER, Jonstein; NOTAKER, Henry; HELLERN, Victor. O livro das Religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

GRENZ, Stanley. Wolfhart Pannenberg’s quest for ultimate truth. The Christian Century, September 14-21, 1988.

______The irrelevancy of theology: Pannenberg and the quest for truth. Calvin Theological Journal 27, November, 1992.

KÜNG, Hans. Ser Cristão. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

LUTERO, Martinho. O cativeiro babilônico da Igreja.São Paulo: Martin Claret, 2006.

REIS, Manuel da Encarnação. O cristão no mundo hoje. ?: Livraria Morais Editora, 1965.

SMITH, Wilfred Cantwell. O sentido e o fim da religião. São Leopoldo: Sinodal, 2006.

TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. São Paulo: ASTE, 1967.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O termo "Religião Cristã", suas mudanças históricas e implicações para a compreensão soteriológica no Cristianismo PARTE 2/3

Por Carlos Chagas

Esta série de artigos trata do assunto abordado por mim em minha monografia, a qual foi apresentada como exigência do curso de teologia da FATE-BH em 2008. Aqui, procurei, de forma simples e rica, propagar a minha idéia sobre o que seja religião e salvação cristã sem se afastar demais do que foi escrito na monografia. Portanto estes artigos terão uma linguagem simplificada sobre o assunto. Caso queira uma leitura mais científica aconselho ler minha monografia, que pode ser baixada na íntegra no link que segue no final deste artigo.

O cristianismo antigo

O cristianismo surgiu como seita do judaismo tendo que adotar ritos, dogmas e metodologia nas elaborações teológicas. Para isso precisou de ferramentas para sua própria construção.

Para que o cristianismo se estabelecesse era necessário uma melhor compreensão de sua época e adaptação na mesma. Uma nova hermenêutica (releitura) da Torá foi necessária para a distinção de cristãos e judeus. Temas com pensamentos judaicos foram reelaborados com uma nova leitura, a saber, a cristã.1

Outra necessidade para o cristinaismo nascente foi a apologéticafrente ao Império Romano e sua cultura. Diante do pensamento filosófico do império o cristianismo se viu obrigado a dialogar com uma teologia totalmente filosófica para que fosse possível seu estabelecimento. Portanto o cristianismo realizou a releitura dos grandes filósofos gregos, Platão e Aristóteles, diante de religiões filosóficas como gnosticismo, estoicismo e epicurismo.

É diante desses diálogos que o cristianismo engloba em suas elaborações releituras das primeiras religiões do Império Romano. O que o cristianismo faz é uma identificação de certas características, atributos e leituras das demais religiões se apropriando daquilo que era considerado o certo.2

Nunca o desenvolvimento teológico foi estável no cristianismo. Na era antiga se deu a escrita do Novo Testamento; um compêndio de livros que lutavam contra a visão de mundo da época. Ainda nesse período os pais da igreja (discípulos dos apóstolos) lutavam contra a visão de mundo da cultura romana (apologéticos) e contra a leitura "errônea" das Escrituras dentro da igreja (polemistas). Foi através desta luta que o cristianismo desenvolve a "espinha dorsal" de sua teologia; as doutrinas sobre trindade, divindade, salvação, dentre outras. É nesta época que nasce o catolicismo (católico = universal). Assim como foi o termo "religião" diversos termos foram usados pelo cristianismo numa releitura válida destes visando uma autenticação de si próprio enquanto religião válida.3

No que tange à salvação, a doutrina da época resumia que ser salvo estava restritamente ligado à morte e ressurreição de Jesus Cristo. A salvação nesta época se dava pelo arrependimento para com Deus e a fé em Cristo, e tão-somente isto.4 O arrependimento era algo crucial, contudo este era em forma penitencial (boas-obras) coordenado com a fé para garantir o favor divino.5

O cristianismo medieval

Este período se estende de 600 a 1450.6 Nesse período a Igreja e o estado se encontravam juntos. Eram os bispos que governavam suas cidades. Isso é importante para se perceber as mudanças no pensamento eclesio e soteriológico.7

Devido ao crescimento numérico, geográfico, e científico-religioso do cristianismo, nasce dentro deste 3 grandes movimentos: O escolasticismo, o misticismo e o biblicismo. No escolasticismo, movimento de studos metodológicos da doutrina cristã, ficou definido que a autoridade da igreja residia na tradição desta, vinda dos pais da igreja, nos credos e nos concílios, e na Bíblia. Logo, percebe-se que a autoridade da igreja passa a ficar na sua história e seu desenvolvimento, o que não era pregado pela igreja primitiva. A fé toma um 2º plano já que a razão é o crivo para uma definição correta. O método dialético do "sim e do não" é adotado, o que recebe o nome de dogmas.8

No escolasticismo nasce uma nova forma de se compreender a fé cristã católica: por meio da filosofia. O escolasticismo tentou por séculos definir toda a sapiênci cristã em teses filosóficas, deixando a compreensão soteriológica mais e mais diferente através da sua história. A salvação é definida pela escolástica como algo totalmente ligado à submissão à igreja. Todavia alguns não aceitam tal posição e buscam outra forma de compreensão de fé. São os místicos, mais conhecidos como monges, monásticos ou monasticistas.

Os monásticos (monges) não aceitavam a posição da igreja. Os monges, nos quais se encontravam muitos leigos, buscavam uma leitura da realidade enquanto que a igreja buscava sua legitimação, o que, às vezes, negava a realidade dos leigos. É assim que nasce as superstições populares. Essas superstições eram alimentadas pelo povo através de crenças e até mesmo pelo escolasticismo, mesmo sabendo que este não era aceito por aqueles.10

Devido à crença da necessidade de boas obras nascem os sacramentos. Os sacramentos eram, talvez, o elemento mais importante da igreja medieval. Os sacramentos reclamavam para si a apropriação de algo material para curar algo espiritual ocasionado pelo pecado original e pelos pecados de cada um.11

Enquanto que o escolasticismo se detinha nas elaborações filosóficas, teológicas e na tradição, e o monasticismo no misticismo, um outro movimento se detinha nas Escrituras, conhecido como biblicismo. Estes biblicistas receberam posteriormente o título de pré-reformadores devido ao ideal de reformarem a igreja através da releitura da Bíblia. Eram contra o enriquecimento da igreja, ligação clero-estado, autoritarismo, indulgências, papado e diversos outros fatores.12

Na era medieval o cristianismo muda radicalmente sua compreensão sobre salvação. Esta agora está ligada à filosofi, teologia católica e à submissão à igreja, diferente da compreensão antiga que ligava à fé em Cristo. No período medieval éimpossível falar de salvação fora da igreja, e esta católica. Como a fé católica era a única cristã no mundo a submissão ao Papa é crucial para a salvação já que este é a voz de Deus na terra.

Para que o homem seja salvo é preciso trocar seu livre-arbítrio pelos sacramentos, os quais são conhecidos como boas obras ou ritos e observâncias, resumindo a salvação num compêndio dogmático de práticas. A fé é algo de segundo plano. Aliás, a fé é tão subjetiva que não se pode entendê-la apenas como crença em alguém, mas como código de conduta ligado aos dogmas católicos.13

O cristianismo moderno

O início do período moderno é marcado com a Renascença, período este que dá ênfase ao homem como centro de tudo e retorno às artes antigas e clássicas. Sendo assim o cristianismo moderno larga o ideal medieval que é Deus no centro dos estudos, adequando o homem como a medida de todas as coisas. Isso limitou mais ainda a compreensão sobre o que seja religião e sobre seu poder de intermediação na salvação humana.

Unindo o ideal pré-reformador com o crescimento da ciência humana renascentista surge um novo movimento que parte o cristianismo em 2: A Reforma. A Reforma foi um movimento que buscou mudanças para a igreja católica sem qualquer intenção de rompimento com a mesma. O objetivo era retornar à pureza original do cristianismo primitivo descrito no NT. Aqui se vê como a era moderna muda a concepção cristã: Se a Renascença retorna aos escritos e artes antigas, o cristianismo larga a teologia patrística e medieval para dar ênfase aos apóstolos e à Bíblia, que são os documentos mais antigos do cristianismo.14

A Reforma continuou a trabalahr a intenção dos pré-reformadores em seu início, mas após o rompimento com a Igreja Católica, os reformadores passaram a dar ênfase, depois de um tempo, a uma escolástica protestante, onde redefiniram a fé cristã na visão protestante. O termo "protestante" nasce devido aos crentes cristãos, revoltados com os ideais católicos, exigirem a transformação radical da Igreja Católica, o que não aconteceu graças ao movimento conhecido como Contra-Reforma.

O fato é que a compreensão soteriológica desta época satura de tal forma que nunca mais na história se viu tantas possibilidades para tal área. A grosso modo, na era moderna, a compreensão soteriológica católica é que Deus deu o primeiro passo para a salvação humana, e que o homem deve dar o segundo passo, que é cumprir os sacramentos e ser fiel à compreensão de fé católica. Já no meio protestante a soteriologia divaga em compreensões sem fim. Desde a queda total do homem, tendo este dupla predestinação, do inferno e do céu, à simples predestinação, ao livre-arbítrio e à liberdade condicionada, faz da teologia protestante moderna um solo fértil para os estudiosos, ao mesmo tempo que algo penoso e difícil.

Contudo o que fica latente e inquestionável na teologia protestante é a crença de que a "justificação do homem vem pela fé". O resgate da fé pelos protestantes é algo riquíssimo para o cristianismo, que agora se vê no plural: Cristianismos; católico e protestante.

Detendo-se na compreensão soteriológica do cristianismo moderno perceber-se-á que a compreensão de salvação católica não muda muito, apenas reforça a idéia de que somente a igreja católica tem o direito de ler a Bíblia e de que só o catolicismo possui a salvação. Isso é a condenação dos protestantes.

A soteriologia católica ainda continua como na idade média, baseando-se nos sacramentos. São 7 sacramentos que perduram até hoje. Até então o catolicismo não abriu mão do Concílio Ecumênico de Florença (1442) que dizia que “fora da igreja não hásalvação”.15 A igreja única de Cristo, segundo os  católicos, ainda é a igreja católica não havendo nenhuma outra legítima ou legitimada por Cristo.16

O ser humano é totalmente corrompido em suas tentativas de justificação por si só, necessitando de Deus para levantá-lo de sua situação de queda. Os sacramentos o elevam em estado de graça que por sua vez o salva. O ser humano caminha para a sua salvação intermediada pela igreja nos sacramentos por esta instituído sabendo que o primeiro passo para essa salvação foi dado por Deus em Cristo. Portanto é importante ao católico atentar aos mandamentos vindos da tradição e de sua liderança eclesiástica, o papa, já que este é o representante de Cristo na terra.

A Bíblia passa a ser a autoridade máxima do protestante, que alega ser dali que é possível encontrar a salvação. A tradição cristã fica em segundo plano na soteriologia cristã protestante servindo apenas de testemunho dos fiéis. O repúdio às imagens de escultura nasce em países calvinistas17 enquanto que o repúdio às indulgências nasce no meio luterano.18

Pontos de vista arminianos, que pregam que a salvação do ser humano depende de sua escolha, e calvinistas, que acreditam que a salvação depende exclusivamente de Deus, entram em choque para discutirem como se dá a salvação do ser humano.19 Mas nunca se nega a importância da fé na salvação. Essa é a marca do protestantismo: a fé.

Concluindo, esse rápido resumo da história do cristianismo serviu para mostrar que assim como o termo "religião" sofreu mudanças em sua compreensão através da história assim também o foi com a soteriologia do cristianismo: esta se desenvolveu progressivamente dando respostas à sua época, respostas estas que nem sempre se coadunaram na história.
Para ler a PARTE 1/3 clique aqui.
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Este artigo é uma adaptação da minha monografia, a qual foi apresentada como exigência do curso de teologia da FATE-BH em 2008. Caso queira lê-la integral e gratuitamente baixe-a clicando aqui.


Referências das Citações:

1- Cf. TILLICH, 1967, p. 17-22.
2- Cf. GAARDER, 2000, p. 155 e TILLICH, 1967, p. 22, 28.
3- Cf. TILLICH, 1967, p. 28-32 e GAARDER, 2000, p. 156-157.
4- Cf. BERKHOF, 1992, p. 183 e McGRATH, 2005, p. 466.
5- Cf. BERKHOF, 1992, p. 184.
6-  Cf. TILLICH, 1967, p. 133.
7- Cf. TILLICH, 1967, p. 137 e CAIRNS 2005, 99-101.
8- Cf. TILLICH, 1967, p. 134-138.
9- Ibidem, p. 134-138.
10- Ibidem, p. 142-144.
11- Cf. TILLICH, 1967, p.152-170; BERKHOF, 1992, p.200; GAARDER, 2000, p. 185.
12- Cf. TILLICH, 1967, p. 150; GAARDER, 2000, p. 173, 185-188.
13-  Cf. TILLICH, 1967, p. 193; BERKHOF, 1992, p. 190-192.
14- Cf. CAIRNS, 2005, p. 221-224.
15- Cf. KÜNG, 1976, p. 79.
16- Cf. CNBB, 2007, p. 161.
17- Cf. TILLICH, 1967, p.240-241. Ver também CAIRNS, 2005, p.244-245.
18- Cf. LUTERO, 2006, p.121-131.
19- Cf. BERKHOF, 1992, p.195-199.

BIBLIOGRAFIA:

BERKHOF, Louis. A história das doutrinas cristãs. São Paulo: Editora PES, 1992.

CAIRNS, Earle. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005.

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Sou Católico: vivo minha fé. Brasília: Edições CNBB, 2007.

GAARDER, Jonstein; NOTAKER, Henry; HELLERN, Victor. O livro das Religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

KÜNG, Hans. Ser Cristão. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

LUTERO, Martinho. O cativeiro babilônico da Igreja. São Paulo: Martin Claret, 2006.

TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. São Paulo: ASTE, 1967.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O termo "Religião Cristã", suas mudanças históricas e implicações para a compreensão soteriológica no Cristianismo PARTE 1/3

Por Carlos Chagas

Esta série de artigos trata do assunto abordado por mim em minha monografia, a qual foi apresentada como exigência do curso de teologia da FATE-BH em 2008. Aqui, procurei, de forma simples e rica, propagar a minha idéia sobre o que seja religião e salvação cristã sem se afastar demais do que foi escrito na monografia. Portanto estes artigos terão uma linguagem simplificada sobre o assunto. Caso queira uma leitura mais científica aconselho ler minha monografia, que pode ser baixada na íntegra no link que segue no final deste artigo.

O termo “religio” ou “religião” nem sempre possuiu o significado que hoje possui. Será mostrado neste capítulo, como que se deu o surgimento e a posterior apropriação do termo pelo cristianismo juntamente com suas elaborações mais sofisticadas para o mesmo. Desde já é possível considerar que o termo, através da história, obteve grandes modificações e estas interferiram grandemente na compreensão do mesmo, nunca mais proporcionando a volta à conceituação que se tinha de início. Tais mudanças foram um processo histórico que será mostrado a seguir.

O termo “Religio” e suas adaptações históricas

Diz-se de antemão que o termo “religião” não pode ser aceito como algo que simplesmente explica a existência de uma instituição religiosa. Assim como os demais termos que possui significante, o termo “religião” surgiu na história com um simples significado, e, com o passar do tempo várias transformações conceituais aconteceram com ele chegando então na compreensão que se tem hoje do mesmo.1

Em sua origem, “religião” denotava algo relacional entre deuses e homens, com caráter de atitude de um para com o outro. Algo puramente relacional com intuito de transformação de conduta. O termo é de cunho humano, ou seja, homens criaram o termo e inferiram significado no mesmo.2

A dificuldade maior encontrada na interpretação do termo “religião” está no desenvolvimento histórico. Com o passar do tempo o termo, que antes tratava de conduta, passou a ser visto como código de legal de ritos e observâncias religiosas. Isso se deu pelo fato de o cristianismo, religião em voga na época, adotar o termo inferindo nova visão no mesmo. “A palavra “religião” agora é trazer definição (conceito) e distinção (contraste) deixando para segunda instância a preocupação com o envolvimento com “o outro”.3

Mudança maior surge quando “religião” se torna algo de comparação ao modelo do vizinho. Esta palavra não possuía plural, no entanto, agora que é código de conduta contrastando com outra “religião” necessita do emprego de plural. Mas vale lembrar que no Novo Testamento, de forma alguma, os discípulos e apóstolos, jamais tiveram tal idéia sobre a palavra religião como foi apresentado até agora.4 Portanto, desde antes de Cristo até o século IV d.C. a mudança é significativa. “Religião”, de forma de conduta se torna norma de conduta. E essa mudança é muito forte.

O cristianismo como religião

Sabendo que a base do cristianismo era, na era primitiva da igreja cristã, na pessoa de Jesus Cristo tão-somente, é que será possível entender como foi a elaboração cristã da compreensão do cristianismo como religião. Antes ser cristão era seguir a Cristo (lógico que havia uma teologia elaborada para melhor explicação), e hoje é ser adepto do cristianismo. Nos primeiros séculos o que definia um cristão era a sua fé no Cristo. O termo “cristão” é que significou o cristianismo e não o vice-versa. Posteriormente e de forma sutil, o que definia quem era cristão ou não era o fato de pertencer ou não ao cristianismo. O que antes era “religião cristã” passa a ser “cristianismo” não se referindo mais à qualidade, todavia à instituição; denominação.5

Ver o cristianismo como religião, e este termo de forma evoluída, transformou o cristianismo em algo elaborado, com regras e dogmas. Entretanto, com o passar do tempo este cristianismo se viu no mesmo problema que o judaísmo da época de Jesus. A lei judaica era utilizada como mecanismo de desumanização, da mesma forma que o cristianismo tornou-se escravizador do ser humano, impondo leis e dogmas que já não mais tratavam do ser humano em relação a Deus e sim do ser humano em relação ao cristianismo, agora portador exclusivo da salvação vinda de Deus.6

Na era moderna, mais especificamente no Iluminismo, a filosofia e a filologia ajudaram a entender a evolução do cristianismo e do termo “religião”, mostrando que o que antes era de valor no pensamento cristão agora já não mais necessita ser. Infere-se que cristianismo, em seu início de história, valorizava a história de Jesus, passando então para o conceito sobre Jesus, indo então para a melhor categorização sobre o que falaram de Jesus Cristo, não esquecendo sobre quem faz ou não parte da Igreja de Cristo, chegando à época atual valorizando ou um conjunto de regras ou preceitos sobre Jesus Cristo e a Igreja, ou um conjunto de textos e valores tradicionais adquiridos através da história.7 É neste período da história que a fé cristã se volta mais para a religião cristã do que para Cristo. Havia mais sentido em acreditar no cristianismo de Cristo do que no Cristo do cristianismo.

Sendo assim, nasce a idéia de que a salvação só pode ser encontrada no cristianismo. Inicialmente a igreja não se preocupava com as demais “religiões” porque ainda não tinha nascido a idéia de “religião enquanto instituição”. Ela se voltava à imitação de Jesus e à preocupação com a busca pelo outro. Ao se mudar a compreensão do termo religião ficou claro que já não é mais o ser humano, em sua iniciativa, que se liga em Deus, todavia a instituição religiosa que faz este trabalho na forma que se compreende hoje.

Assim como o termo “religião” se transformou com o tempo assim também o foi os demais termos ligados a este. A palavra “fé”, por exemplo, que antes não se ligava com a instituição, passa a estar ligado e agora com um conjunto de regras para a definir da forma mais correta. Logo, a “fé” passou a ser uma representação da religião, ou seja, cada fé distinta é uma religião.

A dimensão salvadora do termo “religião

Religião está ligada à salvação. Isto porque somente a religião pode levar o homem ao abrigo, amor e esperança ante a realidade da morte. A religião nasce a partir da necessidade de se vencer a angústia que a vida proporciona, a saber, a morte. Contudo a religião nem sempre é boa, já que esta nasce a partir de percepções do home em relação à sua leitura da vida. Se esta leitura for errônea, a religião também será. Portanto a religião não só liga o ser humano a Deus como também ao seu meio de convívio, fortalecendo a passagem bíblica que diz: “ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças. [...] Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mc 12.30-31a). A religião deve passar por uma releitura de si mesma.8

A religião é a percepção possível da vida e de Deus. Cabe ao homem saber ler a vida, entender Deus e encarar a si mesmo visando o melhor objetivo. É da natureza da religião elaborar teses para o melhor entendimento possível da realidade que cerca o ser humano. Com isso a religião passa a ter seu papel importante enquanto instituição para o ser humano e para sua relação com o próximo, com seu meio, consigo mesmo e com Deus. A instituição religiosa é relevante, não importando aqui sua confissão de fé.

Vale lembrar que toda religião é evolutiva. E todo ser humano é formativo. É na interação entre ambos que se dá a identidade do indivíduo e da religião. É uma espécie de permuta. Sendo assim, o adepto da religião passa a se ver como uma nova pessoa, sendo definida e, ao mesmo tempo, definindo a religião.

No cristianismo não é diferente. Este também sofre mudanças. Como foi a teologia do século XIX e do início do século XX, que era anti-semita, mas que após a 2ª Grande Guerra passou a ser uma teologia mais inclusiva.9 E até na leitura bíblica é possível mudanças de paradigmas, onde se tem teologias que definem a Bíblia como um conjunto de textos de um povo que experimentou Deus e que resolveram escrever essas experiências vencendo então a abordagem antiga de que a Bíblia é “a Palavra de Deus” de forma literal.10

Visto por essa ótica entende-se por religião não algo imutável, já que é o homem que insere significado na religião; não algo significante apenas, já que é significado também (a religião age e sofre; caracteriza e é caracterizada); mas como algo reflexivo e progressivo, já que esta sempre se encontra em formação assim como o homem, quer está inserido nesta, também se encontra em formação. 

Portanto deve-se ler o cristianismo como uma religião em formação e não como algo que nasceu pronto. Faz-se necessário uma releitura do cristianismo, desde seu nascimento até aos dias de hoje, percebendo o desenvolvimento histórico e soteriológico (referente à salvação) do cristianismo. Assim, no próximo artigo ver-se-á o aspecto soteriológico do cristianismo: Como este nasceu e evoluiu e como sofreu mudanças na compreensão sobre o que seja a salvação para o homem, ao mesmo tempo em que o cristianismo se adaptava à história de sua existência. 


Este artigo é uma adaptação da minha monografia, a qual foi apresentada como exigência do curso de teologia da FATE-BH em 2008. Caso queira lê-la integral e gratuitamente baixe-a clicando aqui.


Referências das Citações:

1 O termo “religio” é de origem latina; sofreu modificações quando adotado pelos gregos. Surgiu antes de Cristo. Cf. SMITH, 2006, p. 7-13, 187.
2 Cf. SMITH, 2006, p. 32-34, 108; McGRATH, 2005, p. 603, 304-606.
3 Cf. SMITH, 2006, p.35-36.
4 Cf. SMITH, 2006, p.36, 64.
5 Cf. KÜNG, 1979, p.20-21 e Cf. SMITH, 2006, p.75-77
6 Cf. SMITH, 2006, p. 100-101 e McGRATH, 2005, p. 41-44.
7 Cf. GRUDEM, 1999, p.1021; Cf. CNBB, 2007, p.38-69. Aqui refere-se também à confissão de fé protestante e sua alegação de que somente as Escrituras possuem total autoridade.
8 Cf. DREWERMANN, 2004, p.10-12, 28, 36-39, 41, 73, 77-78.
9 Cf. KÜNG, 1976, p.143-145. 
10 Cf. COOK apud PIERATT, 1994, p.115-124.

BIBLIOGRAFIA:

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Sou Católico: vivo minha fé. Brasília: Edições CNBB, 2007.

DREWERMANN, Eugen. Religião para quê? Buscando sentido numa época de ganância e sede de poder. Em diálogo com Jüngen Hoeren. São Leopoldo: Sinodal, 2004.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.

KÜNG, Hans. Ser Cristão. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

______20 teses sobre o ser cristão. Rio de Janeiro: Vozes, 1979.

McGRATH, Alister E. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: uma introdução à teologia cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2005.

SMITH, Wilfred Cantwell. O sentido e o fim da religião. São Leopoldo: Sinodal, 2006.