Por Carlos Chagas
Referências positivas da atividade literária de Moisés:
Ex 17:14 – “Escreve isso em um livro de memórias”.
Ex 24:4 – “Então Moisés pôs por escrito todas as palavras do Senhor”
Nm 33:2 – “Registrar as etapas da jornada, conforme a ordem do Senhor”
Dt 31:9 – “Moisés escreveu essa Lei e a entregou aos sacerdotes levitas”
Dt 31:22 – “Naquele dia, Moisés escreveu este canto e o ensinou aos israelitas”
Dt 31:24 – “Quando Moisés acabou de escrever num livro esta Lei até o fim”
Na idade Média, alguns judeus perguntaram: Como poderia Moisés ter escrito sobre sua própria morte? – Dt 34:5-12
Considere os seguintes pontos a respeito do Pentateuco:
a) A presença de cortes bruscos e tropeços na narração
- Ao relato da Criação (Gn 1:1-2: 4a) segue-se outro relato que volta às origens e exprime-se em categorias muito distintas (Gn 2:4b-24).
- Depois do nascimento de Sete (Gn 4:26), volta-se às origens de Adão (Gn 5:1).
- Em Ex 19:24ss, Deus ordena a Moisés que desça do monte e suba novamente com Aarão. Mas o relato se interrompe para dar lugar ao Decálogo.
b) Há tradições duplicadas e triplicadas:
- Dois relatos da Criação (Gn 1:1-2:4a; a:4b-24).
- Duas descendências de Adão (Gn 4 e 5).
- Dois relatos do dilúvio misturados em Gn 6 – 9.
- Três vezes a esposa em perigo (Gn 12:10s; 20:26).
- Duas alianças de Deus com Abraão (Gn 15 e 17).
- Dois relatos da vocação de Moisés (Ex 20 e Dt 5).
- Lei sobre os escravos (Ex 21; e Dt 15:12-28).
- Lei sobre os homicídios (Ex 21; Dt 19; e Nm 35).
- Diversos catálogos de festas (Ex 23:14s; 34:18s; Dt 16; Lv 23:4; Nm 28-29).
- O nome Berseba (poço do Juramento) comemora não apenas uma aliança entre Abraão e Abimeleque (Gn 21:22-31), mas também um acordo entre Isaque e Abimeleque (Gn 26:26-33).
- Leis sobre animais puros e impuros (Lv 11:1-47) reaparecem em Dt 14:3-21.
c) Há tradições diversas e até opostas:
- Em Gn 1 Deus cria o homem e a mulher ao mesmo tempo, como vértice da Criação. Em Gn 2 cria o homem antes dos animais e por último a mulher.
- Em Gn 6:19 ordena-se a Noé a introduzir na arca um casal de cada vivente. Em Gn 7:2 já são sete casais de animais puros e um casal de impuros.
- Em Gn 7:6 tem lugar o dilúvio, e Noé entra na arca. Em 7:10 se diz que o começo do dilúvio aconteceu uma semana mais tarde. Em 7:11, volta-se a falar do começo do dilúvio e em 7:13 da entrada de Noé.
- Em Gn 37:28 os midianitas tiram José do poço onde seus irmãos o haviam colocado, vendem-no aos ismaelitas que o levam ao Egito. Em 37:36, são os midianitas que o vendem no Egito a Potifar. Em 39:1, Potifar o compra aos ismaelitas.
- Em Ex 33:7 se diz que a tenda da reunião estava situada fora do acampamento. Em Nm 2:2 que os israelitas deviam acampar em torno dela.
- Em Ex 16:14-35 se fala do maná como um milagre divino. Em Nm 11:6-9 como de um fenômeno natural.
- Em Nm 9:17 e seguintes diz-se que uma nuvem guiava os israelitas pelo deserto. Em Nm 10:31, Moisés não conta com essa ajuda e pede a Hobabe que os acompanhe. Em Nm 10:33 quem guia o povo é a arca.
- A duração das festas das Tendas é de sete dias segundo Dt 16:15 e de oito segundo Lv 23:36.
- Em caso de homicídio não-intencionado, o lugar do asilo é o altar segundo Ex 21:12ss. Em Dt 19:1-3 e Nm 35:9-24, não se fala do altar, mas se especificam umas cidades de refúgio para o culpado.
d) Anacronismos:
- Em Gn 12:6 e Gn 13:7 se diz “naquele tempo habitavam ali os cananeus”. O autor supõe que são os israelitas que habitam a terra agora. Uma afirmação que carece de sentido no tempo de Moisés.
- Em Gn 21:34; 26:14, 15 e 18; Ex 13:17 mencionam-se os filisteus que só vieram a ocupar o território em período posterior à morte de Moisés.
- Gn 14:14 indica que Abraão perseguiu os captores de Ló até Dã, mas o lugar só recebeu esse nome quando Dã capturou a cidade, após a conquista (Js 19:47; Jz 18:29).
- A cidade de Havote-Jair em Nm 32:4 e Dt 3:13 se originou depois de Moisés conforme Jz 10:4.
- O uso da expressão “até este dia” demonstra que quem está relatando lança um olhar sobre o tempo de Moisés e o compara com seus dias Dt 3:14; 34:6; 10:15.
- Gn 40:15 – A expressão “terra dos hebreus”, pois os filhos de Israel ainda não moravam ali.
- Nm 21:14 menciona uma fonte histórica que trata da história do tempo de Moisés.
- Em várias passagens (Gn 50:10ss; Nm 22:1; Nm 32:32; Nm 35:14; Dt 1:1-5; Dt 3:8; Dt 4:46) a região a leste do rio Jordão é chamada “a terra do outro lado do Jordão”. Isso mostra que o autor vivia a oeste do Jordão, ou seja, na Palestina, onde Moisés nunca chegou a por os pés.
e) Há diferença de vocabulário:
- Em alguns textos se dá a Deus o nome genérico de ELOHIM, em outros, seu nome concreto YAHWEH.
- O monte onde Deus se revelou recebe em uns casos o nome de Sinai, em outros o de Horebe.
- O sogro de Moisés se chama Reuel em Ex 2:18 e Jetro em Ex 3:1; 18:1,2,6, e 12.
f) Há complexidades literárias:
- Tanto a narrativa como a divisão legal (em cinco livros) apresenta falta de continuidade e ordem quanto ao assunto tratado. Por exemplo, há uma seqüência entre Gn 4:26 e 5:1; entre Gn 19:38 e 20:1; entre Ex 19:25 e 20:1.
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