Por Carlos Chagas
Não é novidade que na história humana as crises sempre vieram à tona e, por meio destas, a mudança foi iminente. Se for observado rapidamente a história percebe-se momentos como o nascimento do cristianismo, que modificou toda a compreensão religiosa do Oriente Próximo da época, o Renascimento, no século XIV, quando o homem passou a ver sua realidade não a partir de Deus e da compreensão sobre como era o mesmo e sim a partir do homem, na Era Contemporânea, onde se trabalha com verdades e, quem sabe, com a inexistência destas. Por causa destas mudanças, crises na compreensão de que seja o mundo e si próprio surgiram, trazendo a necessidade de reelaborar todo um conceito que outrora era perfeito e inquestionável.
A mudança sobre o que seja a realidade pode deixar qualquer um sem "chão". Exemplos sobre isso pode ser visto em filmes como "A Ilha", onde seres humanos acreditavam que eram sobreviventes de uma catástrofe biológica, mas na verdade eram apenas clones de manutenção de seus respectivos donos e no filme "Matrix", onde toda uma construção feita sobre o que seja o mundo já não mais pode ser levada em consideração por New, já que foi libertado da "mentira". Em ambos os filmes pode-se constatar o desespero ante a crise e a mudança.
A crise pode se dar de duas formas básicas:
1- Mudando algo na compreensão sobre o que seja o mundo (mais subjetivo);
2- Mudando o mundo (mais objetivo);
Uma crise histórica faz com que o indivíduo tenha que recompreender o mundo, já que suas verdades não mais correspondem ou servem para o "novo mundo" ou, pelo menos, para a "nova compreensão que surge". Assim nasce a crise e, com ela, o indivíduo se vê necessitado de recriar ou readaptar suas verdades sobre o mesmo.
Nesse ato de repensar o indivíduo geralmente se encontra sem chão, sem o mundo que ele antes cria. Logo a crise se torna muito real para si dando a chance de transformação de si próprio com os novos conceitos que devem ser criados por si mesmo. Todavia vale lembrar que o mundo é criado (ou compreendido) a partir da compreensão que se tem dele pela sociedade, a qual é formada por cada indivíduo, que é social. Assim, geralmente (ou sempre) a compreensão sobre o que seja o mundo nunca é real e sempre necessitada de mudanças. Concluindo, viver é sempre se prender a uma convicção mas não se ater a ela; deve-se sempre buscar a verdade, uma busca utópica que pende ao niilismo.
Mas talvez mais importante que o mundo é o indivíduo e sua honestidade consigo mesmo. A partir do momento que o indivíduo precisa rever seus conceitos e abraçar novas verdades o mesmo deve, antes de agir ou falar, pensar suas convicções e aceitá-las, de preferência, promovidas e criadas por si próprio. Deve-se entrar em si mesmo e entrar em acordo consigo. É necessário ser si mesmo e não o outro. Se o outro o define (ou seja, não apenas o influencia) segue-se que ele já não é si mesmo e sim o outro. E isso é um problema pois há sim a necessidade de certa negação do "eu" entretanto jamais a anulação deste.
A crise que clama por mudanças geralmente busca a mudança completa e radical, o que é um problema. O homem é um ser social e histórico. Repensa sua história e a partir desta planeja o futuro. Negar seus acertos ou erros históricos é negar a própria existência e, por isso, inconsistente.
O mais importante no que se refere à mudança e crise é não se tornar produto do meio não tendo suas características particulares. A sociedade procura criar formas e regras únicas que servem para o meio, mas esta jamais deve ir contra a singularidade de cada um, afinal, a sociedade se torna "uma" graças a união destas singularidades de "todos". A uniformidade vem com o tempo e o desafio é se ater a esta uniformidade não se prendendo para a eternidade.
No próximo artigo veremos a importância disto para a religião cristã.
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