terça-feira, 12 de agosto de 2014

Não há nivelamento

Por Carlos Chagas

Este artigo faz parte da série O que é ser cristão? Caso queira acessar o índice clique aqui.

Talvez o melhor fosse esquecer neste momento as doutrinas de cada religião e partir para a vida concreta. E que há de concreto nas religiões apresentadas hoje são a quantidade de entidades, sejam de pessoas, deuses, seres, anjos ou forças, as quais, em suma, representam um politeísmo.

Não há como negar que tudo isso, no ponto de vista histórico, é riqueza, e que no ponto de vista religioso, para a conversão, é um nada. Nenhum cristão se tornará budista ao passear em Bancoc e nem um hindu se tornará um monoteísta ao visitar a Basílica de São Pedro.

Com o fenômeno das Ciências das Religiões comparadas o que se viu foi um destacamento das semelhanças das religiões e não suas contradições. Ora, o cristianismo, que diz ser a “religião do livro” não deveria o ser já que não se lava as mãos para ler a Bíblia como o islã o faz para com o Alcorão; o rio Jordão não é sagrado para o judaísmo como o Ganges o é para outras religiões. Roma não é tão santa para o cristianismo como é Jerusalém para o judaísmo ou Meca para o islã e “as cruzadas cristãs, além de não-cristãs, foram uma inutilidade”.

Se se observados os outros aspectos das religiões podem ser constatadas as diferentes formas dos profetas, desde um asceta hindu ao filósofo na Grécia, como também as formas de interpretações não só da vida no plano físico, mas também no plano metafísico, onde o “amor ao próximo” nem sempre é a mesma coisa para o taoísta ou em Zaratustra.

A sabedoria budista diz que as religiões são como mendigos cegos ao palparem o mesmo elefante: um pega-lhe na perna e julga-o uma palmeira; outro apalpa-lhe a orelha e imagina-o folha de palmeira; um 3º agarra-lhe a cauda e toma-o por uma corda; e nenhum deles abarca o elefante inteiro. Ou seja, a religião descreve apenas uma parte da divindade, a seu ponto de vista, dizendo que aquilo é a totalidade da divindade, sem saber da real e verdadeira totalidade do deificado. Eis o problema de se tomar uma palmeira por um elefante.

Apesar da descentralização por parte de uma religião apenas, não se pode negar que “vultos influentes” como Buda, Confúcio, Sócrates e Jesus revelaram possibilidades extremas, nas quais se encontram valores que perduraram por séculos e que são inquebráveis. Dignos de serem mitificados deixam também um problema com seu individual convite de aceitação: Como seguir todos ao mesmo tempo?

Agora, mais do que nunca, qualquer sentimento de superioridade advindo de um crente tradicional, seja qual for a religião, mostra que é egoísta e que pode até mesmo ter perdido seus conteúdos centrais da fé. Hoje, sabe-se demais a respeito das religiões para que algum dogmático cristão possa afirmar que as demais religiões são construções humanas arbitrárias, ou para que um hindu declare que todas elas são iguais, ou que um humanista secular promulgue que todas elas não passam de ópio do povo. 


Para voltar ao índice clique aqui
 
Para continuar com o estudo clique aqui.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não esqueça de comentar esta postagem. Sua opinião é muito importante!