Por Carlos Chagas
Atenção: Este artigo é uma trascrição literal de um trecho do livro chamado "O livro das Religiões" de Gaarder, Notaker e Hellern exceto pelas figuras. Os méritos são dos autores.
Dados Históricos
Até 1911 a China foi uma potência imperial, onde o imperador reinava acima de tudo. O imperador era considerado o representante do país diante do supremo deus Céu. Ao mesmo tempo, era também o filho do Céu na Terra. O próprio imperador realizava o sacrifício ao Céu no Templo do Céu, situado na capital, Pequim. Fazia ainda sacrifícios às montanhas e aos rios sagrados da China.
O Império chinês era uma sociedade hierárquica, com líderes permanentes. A frente da administração havia uma elite de funcionários altamente letrados, os mandarins. Sua ideologia era o confucionismo, um conjunto de pensamentos, regras e rituais sociais desenvolvidos pelo filósofo K'ung-Fu-Tzu (ou, na forma latina, Confucius) cujas doutrinas prevaleceram na China até a queda do imperador. Confúcio também formulou normas para a vida religiosa, para os sacrifícios e os rituais. O confucionismo era, na verdade, uma religião estatal praticada pela elite e pelas classes dominantes, a qual, no entanto, nunca se disseminou muito entre as massas, as camadas mais amplas da população. Da mesma forma que o imperador, em seu palácio em Pequim, ficava remotamente afastado das pessoas comuns, o Céu era remoto e impessoal para a grande massa dos chineses pobres, trabalhadores e camponeses. A religião dos pobres era a adoração dos espíritos, particularmente dos antepassados, religiosidade carregada de magia e traços de outras religiões. As grandes potências da Europa constituíam uma ameaça para a independência econômica e política do país. Isso explica, em parte, a tendência isolacionista e o ceticismo em face dos impulsos vindos do exterior. Os intelectuais atacavam a religião popular, acreditando que esta era um obstáculo para a ciência moderna e o moderno pensamento político. Isso levou alguns a tentarem um reavivamento e uma modernização das antigas religiões, ao passo que outros desenvolveram um interesse maior por idéias não religiosas
vindas do Ocidente.
Em 1911 os incompetentes governantes imperiais foram derrubados e a China se tornou uma república. Porém, as condições políticas se mantiveram instáveis por causa de uma guerra civil e da guerra contra o Japão. Em 1949 os comunistas tomaram o poder.
Confúcio (551-479 a.C.)
Há alguma incerteza quanto às origens de Confúcio, mas é provável que ele tenha nascido numa família aristocrática empobrecida. Recebeu uma boa educação e se tornou um sábio, atraindo muitos discípulos. Algumas de suas interpretações da filosofia antiga e das tradições, em especial quando ele tocava em assuntos relacionados a ética e filosofia social, foram inovadoras. Confúcio acreditava que o Céu o escolhera para revitalizar a cultura e a moralidade estabelecidas pelos sagrados imperadores em tempos antigos. Só que ele não organizou suas ideias em nenhum sistema simples, nem as registrou ele mesmo, motivo por que elas chegaram até nós apenas por meio dos escritos de seus discípulos.
A tradição confuciana
Confúcio teve um efeito decisivo no desenvolvimento da China. Após sua morte, os discípulos começaram a difundir e ampliar suas idéias. O confucionismo acabou se tornando uma espécie de religião estatal da China, chegando muitas vezes a atacar outras religiões, como o budismo e o taoísmo. Foram construídos templos em honra a Confúcio e se ofereciam sacrifícios a ele na primavera e no outono, assim como se ofereciam sacrifícios ao Céu. Apesar disso, deve-se enfatizar que o confucionismo nunca havia sido uma religião independente. Falando-se mais precisamente: o termo abrange uma série de idéias filosóficas e políticas que formavam os pilares do governo e da burocracia da China imperial, muito embora a ética do confucionismo também permeasse amplas camadas da população chinesa. É típica dessa tradição sua visão política pragmática e seu interesse pelas questões sociológicas reais, como a educação dos filhos, o papel do indivíduo na sociedade, as regras corretas de conduta etc. Seu interesse pelas questões religiosas e metafísicas é muito menor.
Atitude social e humana
Uma das idéias fundamentais de Confúcio era que a natureza e o universo estão em harmonia, e que isso deve se aplicar também ao homem. Para esse fim, Confúcio adotou alguns antigos conceitos chineses e os moldou a seus próprios objetivos. O tao é a harmonia predominante no universo; em outras palavras, o relacionamento bom e equilibrado entre todas as coisas. Essa harmonia é um modelo para a sociedade, na qual, da mesma forma, o indivíduo deve tentar viver em compreensão e harmonia. Isso pode ser atingido se seu ser interior estiver em consonância com o tao, pois então ele encontrará o incentivo necessário, o te, ou o caminho certo para a ação.
A fim de alcançar a harmonia com o tao, o homem precisa de conhecimento e compreensão, o que ele pode obter estudando o passado, a tradição. Esta ensina ao indivíduo as regras de comportamento correto, a celebração fiel dos rituais e das cerimônias religiosas, e qual é seu devido lugar na sociedade.
Confúcio via o homem como naturalmente bom e pensava que todo mal brota da falta de conhecimento. A educação, portanto, implica transmitir os conhecimentos corretos.
O lugar do indivíduo na sociedade é regulado por cinco relações: entre senhor e servo, entre pai e filho, entre mais velho e mais jovem, entre homem e mulher, e entre amigo e amigo. Isso significa que o soberano deve ser bom e o servo deve ser leal, uma relação que tornou o confucionismo politicamente conservador e dificultou os desafios à autoridade. Isso significa também que o pai deve ser amoroso e o filho respeitador, uma idéia ligada ao culto dos antepassados. E significa que o homem deve ser justo e a mulher obediente, o que diz bastante sobre o papel da mulher nesse sistema. O ideal para todos os homens e os conceitos mais importantes para Confúcio são: piedade filial, respeito e reverência.
Confúcio e as coisas religiosas
Confúcio não se opunha, de modo nenhum, à religião popular, e não duvidava que os deuses e os espíritos existissem. Acreditava que um ser sobrenatural o inspirava: "O Céu deu à luz a virtude dentro de mim". Só que o Céu para ele não era um Deus pessoal. Ainda que este lhe desse inspiração e direção, Confúcio não fundamentou sua ética em mandamentos morais transmitidos por Deus.
O mais importante para Confúcio era que os deuses deviam ser cultuados adequadamente, que os rituais, os sacrifícios e as cerimônias deviam ser realizados corretamente, pois isso demonstrava a piedade filial da pessoa. Mas ele não estava interessado em assuntos religiosos ou metafísicos. Consta que ele disse: "Mostre respeito pelos deuses, mas mantenha-os à distância". E quando lhe perguntaram sobre a vida após a morte, respondeu: "Quando não se compreende nem sequer a vida, como se pode compreender a morte?".
REFERÊNCIA:
GAARDER, Jonstein; NOTAKER, Henry; HELLERN, Victor. O livro das Religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. págs.: 77-80.
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