sexta-feira, 6 de abril de 2012

Gálatas 6.6-10: Um breve comentário

Por Carlos Chagas

A pedido da irmã Rosana Burright gostaria de tecer breves palavras sobre o texto de Gl 6.6-10. O objetivo do comentário é entender se as palavras do apóstolo Paulo nos versículos supra-citados são desconectos ou não do restante da epístola e qual seria o objetivo mais provável destas ao povo da Galácia.

Considerações importantes

Sabe-se que para escrever qualquer texto deve-se ter em mente que sua estrutura é por demais importante. Ainda mais quando se destaca pessoas muito importantes e eruditas como o apóstolo Paulo. A coesão de suas palavras estão presentes em todo o corpo do texto. Por que destacar isso? Porque percebe-se nas igrejas cristãs atuais o vício de se destacar versículos isolados e, com isso, desenvolver certas teorias ou ideias para a prática. É fato que a divisão da Bíblia com as enumerações de capítulos e versículos ajudou e muito a vida dos cristãos, todavia isso se tornou um vício e preguiça quando não mais se lê o texto em busca da compreeensão efetiva de sua composição e, assim, se valoriza apenas uma parte que, por várias vezes, foge do contexto principal do texto.




Análise crítica do conteúdo de Gl 6.6-10

O versículo 6

"Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas..."

Neste versículo temos um grande problema para a sua leitura isoladamente: A conjunção adversativa "mas" (partícula de ligação do grego transliterada para ). Em quê Paulo está sendo adverso? Sabe-se que o uso desta conjunção, geralmente se refere a algo já dito, o que sugere a estrutura de pensamento de Paulo nos versículo 1-5 do início do cap. 6, onde ele destaca a necessidade de auxílio mútuo dos cristãos não se esquecendo das responsabilidades pessoais de cada um (estas carregadas por cada dono). Entretanto estudiosos da língua grega ainda aceitam que Paulo pode estar se referindo ao que ainda irá dizer ou que a frase pode estar isolada em si. Todavia eu aceito a primeira alternativa, mas isso é pessoal meu.

Justificando minha escolha acima, (de que o versículo 6 está estritamente ligado ao versículo 5) acredito que Paulo está tentando explicar melhor sua exortação (vs 5) para evitar qualquer mal-entendido. Acredita-se que Paulo enfatiza que por mais que cada pessoa ensinada carregue seu fardo de responsabilidade sozinho não o isente da responsabilidade para com seu professor.

No que tange à parte "na palavra" sabe-se que Paulo se refere ao ensinamento oral da doutrina cristã não descartando a possibilidade de interpretação dos textos do AT. Porém, o foco de Paulo aqui não é na doutrina cristã e seu ensino mas tão-somente o relacionamento entre professor e aluno.

Já na parte "faça participante de todas as coisas boas" temos 3 palavras a destacar aqui: "Participante" e "coisas boas". A palavra "participante" (do Gr. Koinöneö) tem sentido de parceiria afetiva, e "coisas boas" está relacionado a algo espiritual (que é objetivo de toda a epístola) entre aluno e professor (já específico do final da epístola). Porém, há a possibilidade de Paulo estar preocupado não só com a espiritualidade no envolvimento de aluno e professor como também na questão financeira do professor e suas aulas. Sabe-se que os cristãos da Galácia vieram de um ambiente pagão, onde era costume os alunos não pagarem pelos ensinos de seus instrutores religiosos. Assim, Paulo poderia, no versículo 6, trabalhar a errônea e possível interpretação dos gálatas em não se preocupar com a situação financeira de seus mestres uma vez que isso era responsabilidade deles próprios (vers. 5).

Os versículos 7-10

"...Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos. Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé.".

Percebe-se que Deus não é um ser dado à zombaria. Logo, Paulo busca exortar àqueles que se enganam pensando que há tal possibilidade. Mas a primeira estrutura da frase completa a segunda, que pode ser uma alusão às parábolas de Jesus ou um ditado proverbial.

Existem aqui duas lógicas que devem ser compreendidas cabalmente sobre o exemplo da semeadura de Paulo: A primeira é que a ceifa tem íntimas ligações com a semente, o solo e o tempo. Isso é a lógica do labor braçal do fazendeiro. Já a segunda, que é a espiritual, Paulo trabalha os dois tipos de terrenos nos quais as sementes podem ser plantadas.

Paulo destaca que a semente lançada em terreno ruim (carne) não só será lançada em terra ruim como também sua produção será ruim (corrupção). Já a semente lançada em boa terra (Espírito) gera bons frutos (vida eterna). Além disto, Paulo destaca que nesta semeadura o semeador (cristão) não deve desfalecer, pois é nisso que está o segredo do sucesso (vers. 9: E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos). O problemas dos dias atuais está na dificuldade de compreensão dos exemplos bíblicos: Quantos são os presentes nas igrejas do Brasil que ainda plantam ou já plantaram em escala de colheita de subsistência? Quando se fala de semear muitos pensam na planta, mas Paulo chama a atenção não só no tipo de planta a ser colhida, mas na tarefa que deve ser finalizada cabalmente, no tempo que isso leva, na disposição entregue e na espera necessária. Tudo isso é importante para que a colheita seja bem sucedida. Assim, Paulo trabalha o que hoje se tem, segundo meu pensamento, como sendo uma doença interpretativa das igrejas atuais: Valorizar apenas o que se colhe. Paulo não destaca a colheita (que acontecerá de fato, se não desfalecermos), mas sim a obra completa, desde a escolha da semente, do campo, do tempo investido e da espera para a colheita. Paulo destaca a obra e não os frutos.

Por fim, no versículo 10 Paulo exorta a fazer o bem a todos, sem barreiras de raça, condição social ou de cultura, mas destaca o bem maior que é dar atenção aos da família da fé. O apóstolo sabe que a família contém a característica de defesa de grupo pela comunhão do que é próprio deles. Levando isso para a igreja que é, em Cristo, uma família, Paulo destaca que é necessário a comunhão material entre eles para que o "efeito da fé" surta. Logo, o cristianismo, tendo efeito total em si estará preparado para agir construtivamente na vida dos não-cristãos.

Fonte de pesquisa:

www.wikipedia.org

GUTHRIE, Donald. Gálatas: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2005.

CARSON, D.A., MOO, J., MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997.

3 comentários:

  1. Obrigada meu amigo, foi de encontro ao que eu ja tenho conversado com meus filhos em nossas devocionais. Que Deus te abencoe

    Abracos

    Rosana

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  2. apostolo paulo,,?? ele nao era apostolo.

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    1. O médico Lucas, o escritor do Evangelho, foi o mesmo que escreveu o livro de Atos. Neste mesmo livro o escritor usa o termo "apóstolo" para adjetivar Paulo, deixando claro que este homem era aceito coo apóstolo não só pelo povo como pelos discípulos de Cristo. Inclusive o próprio Pedro faz menção da boa obra de Paulo em sua segunda epístola capítulo 3 verso 15. Outro detalhe é ver que Tiago, Judas, João e Pedro não condenam Paulo por usar tal título. Logo, não há erro em considerá-lo como apóstolo.

      Abração

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