terça-feira, 10 de julho de 2012

Te perdoo, mas isso não mudará as consequências

Por Carlos Chagas



Quem nunca brigou com alguém ao ponto de não conseguir liberar um perdão? Acredito que quase todo mundo já passou por situações desagradáveis nas quais mesmo perdoando a outra pessoa ainda continuou nutrindo um sentimento, que é diferente do ódio, o qual o acusa incessantemente dizendo que o mesmo ainda não conseguiu perdoar. De fato, muitas pessoas que dizer ter perdoado realmente jamais conseguiu tal ato. Todavia existem aquelas que já praticaram a benevolência do perdão e mesmo assim sofrem. Por quê? Isso é normal? Afinal, o que de fato aconteceu?

Lembra-se de Adão e Eva?

Em Gênesis lemos a história de Adão e Eva, os quais, que eram os primeiros seres humanos no mundo, resolveram desobedecer a Deus comendo do fruto proibido. Essa desobediência desagradou a Deus de tal modo que o forçou a tomar uma atitude, que por sua vez, o levou a tomar uma segunda atitude: Ele puniu Adão e Eva (imputando a morte) e depois os perdoou. Perceba que mesmo após o perdão a consequência para o erro cometido jamais foi retirada. Escrevo isso para que tal exemplo seja a luz principal para o entendimento do restante do artigo.

O que é perdão?

Conceituar a palavra "perdão" não é algo fácil uma vez que atualmente muitos pervertem seu significado na prática. Perdoar é não considerar algo mais como relevante para sua vida. É evitar priorizar algo que incomoda sentimentalmente não deixando necessariamente de encará-la ou tratá-la.

O conceito supra-citado é de grande valia quando se entende que perdoar não é deixar de lado, mas sim deixar que tal problema seja o centro das atenções e aquilo que abala sentimentalmente. Logo, em momento algum o perdão significa um álibi para que o erro continue a ser praticado ou que o problema não precisa ser tratado ou que não há mais necessidade de punição.

O perdão para um erro e a consequência do erro praticado

No Brasil atual o erro é algo tão aceito quanto tomar um copo d'água. Já virou rotina. Mais especificamente nas igrejas o erro nem sempre é tratado à altura do mesmo, o que pode acarretar dificuldades de conserto ou novos erros.

No cenário político vemos a aceitação dos erros dos mesmos como uma espécie de perdão dos nossos líderes (ou seria conivência?). Tal atitude pode ser presenciada no meio eclesial quando membros comuns da igreja são punidos por erros, por assim dizer, simples, enquanto a cúpula da mesma é "perdoada" por erros mais grotescos e altamente nocivos.

Isso não deveria proceder dessa forma. Perdoar não é aceitar o erro, mas sim aceitar o errante como alguém que necessita de uma segunda chance e de tempo para a mudança. Entretanto perdoar, para o meio cristão atual, é aceitar o erro e o errante sem discutir o problema ou tratá-lo de forma adulta.

Outra coisa que deve estar na mente de quem erra e é perdoado é que não é pelo simples fato de ter recebido o perdão que quer dizer que sua vida estará livre das consequências de seus erros. É importante para uma mãe perdoar o motorista que atropelou e matou seu filho, mas isso não quer necessariamente dizer que ela aceitará a conduta do errante e, talvez, nem mesmo o errante. No caso, talvez o perdão dela seja uma liberação do errante do seu erro para que ele conserte com uma nova postura.

No que tange ao cristianismo, o pecado é perdoado sim por Deus, mas sua consequência fica como fruto e este, como se sabe, é ruim. Toda escolha gera uma situação, e se esta é pecaminosa, no ato do arrependimento Deus, na mesma medida perdoa, como foi com Adão (desobediência), Caim (assassinato) e Davi (adultério), mas também atribui uma consequência pelo erro, como foi com Adão (morte eterna), Caim (exílio) e Davi (sofrimento advindo de seu filho Absalão e mais tarde uma punição divina de guerras eternas durante seu reinado), dentre outros personagens juntamente com seus erros.

Afinal, como devo entender o Perdão?

Perdão não é fuga do tratamento de um problema. Não é aceitar que o errante continue seu caminho. Perdoar não infere conivência naquele que promove o perdão. Perdoar é deixar de focar o errante e focar o problema. Perdoar é:

  • Não enxergar o motorista infrator mas sim como corrigir seu erro;
  • Não se vingar do político mas mostrá-lo o erro e, se necessário, retirá-lo do poder;
  • Não usar o braço para retirar um líder ou um ditador do poder só porque o ódio fala alto mas usar o bom senso não deixando os sentimentos falarem mais alto;

Logo, perdoar é evitar que o subjetivismo tome lugar para que o objetivismo atue. Perdoar é estar ativo na recuperação do erro. Para finalizar segue uma breve reflexão:

O filho ameaçou atravessar a rua mesmo sabendo que seu pai não queria que ele atravessasse ou que colocasse um pé que seja na rua. O pai chamou a atenção 1, 2 vezes. Na 3ª vez ele foi ao filho, pegou a chinela, bateu no filho e explicou o porquê daquele ato violento. Essa é a prova do amor: Por mais que o filho erre é necessário uma chamada de atenção verbal e, às vezes, até com violência (física? palavras agressivas?), mas sabe-se que, graças ao amor, a repreensão veio e junto com ela a dor da lição aprendida.

Palavras de um site espírita sobre o assunto:

Amar os inimigos não é, portanto, ter-lhes uma afeição que não está na natureza, visto que o contacto de um inimigo nos faz bater o coração de modo muito diverso do seu bater, ao contacto de um amigo. Amar os Inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem; é não opor nenhum obstáculo a reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede preenche as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos.
Retirado de: http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/es/es-12.html. Acessado em: 28/11/2011.

2 comentários:

  1. Eu penso que o perdão é uma decisão. Muitas pessoas esperam ter o sentimento que lhes conduza a perdoar. Mas tal não ocorre. Decidimos perdoar e o sentimento de alíviio vem logo a seguir. Jesus Cristo determinou que perdoássemos sempre e não ensinou que deveríamos faze-lo mediante determinadas condições. Por outro lado, como católico, fui ensinado que o perdão não substitui a justiça. DEUS puniu Moisés por sua desobediência. O mesmo fez com Davi. No entanto, sabemos que Moisés está na Glória do Pai. Um pai amoroso perdoa, mas dá punição também. Os atos falhos que cometemos contra terceiros podem gerar consequências graves em vidas e famílias. DEUS nos perdoa, mas estamos obrigados a reparar as nossas falhas. Estas faltas só podem ser reparadas com boas obras e penitência. Jesus faz a parte dele nos perdoando e nós fazemos a nossa amando todo e qualquer ser humano sem acepção de pessoa.

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  2. Agora pergunto e se seu perdao e seu amor alimenta a maldade? Se ao perdoar e amar seu semelhante faz com que ele continue fazendo os outros sofrerem pois através do seu amor e perdao ele se fortalece, achando que ninguém o corrigirá segue me frente, não se corrige e ainda tenta em vao enganar a Deus e Todos com sua falsa bondade?

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