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Eis uma situação sem saída: se a fé em Deus pode ser provada logo deixaria de ser fé. E se a fé em Deus não pode ser comprovada até quando ela será razoável (aceita pela razão)?
1- Se a revelação depender apenas de Deus, ou seja, se cabe a Ele o primeiro passo para a sua revelação ao homem, não caberá mais nada ao homem do que tão somente ter fé e se inclinar a compreender. No que tange ao cristianismo essa revelação se dá na sua Palavra – Creio para compreender. Tal pensamento permeia o meio protestante e evangélico.
Assim, a compreensão sobre o que seja Deus parte somente Dele. A infinita distância entre Deus e o homem só pode ser vencida dialeticamente através de sua revelação. Assim, não há lugar para uma teologia que responda às necessidades do homem.
Daí surgem as perguntas: Até onde o conceito sobre Deus deixará de ser não experimental? Falar sobre Deus não deveria englobar todo e qualquer homem? Onde ficam as experiências do homem? Deverei me anular e sacrificar minha inteligência? Perguntas justas já que:
- A fé não deve ser cega. O homem não deve ser violentado, mas convencido por meio de razões, para que possa tomar uma decisão responsável da fé;
- O homem não deve crer sem ao menos verificar. Deve haver nexo entre fé e realidade.
2- Como pode o homem conhecer o sobrenatural se ele só entende o que lhe é racional? Até mesmo o que é tangível à fé, esta só é compreendida a partir de conceitos racionais – Compreendo para crer. Esta forma teológica de compreensão do mundo e de Deus é muito comum no meio católico. A partir da teologia natural, tendo a fé presa à razão, passa-se a conhecer Deus, que, por sua vez, deixou rastros de seu mistério ontológico na própria criação.
Entretanto, o que se tem, é a criação de um Deus a partir da cosmovisão de mundo que cada homem tem. Aquele Deus de conceituação universal, dá lugar ao Deus segundo a imagem e semelhança do que a razão de cada um dita. E ainda nascem argumentos do tipo:
a) Uma prova pode provar Deus? Seria possível provar a existência de deus sem, com isso, não criar um deus segundo o que vejo, penso, afirmo e acredito?
b) Após provado, Deus ainda pode ser Deus? Se o humanismo quer, de fato, conceber a ideia de Deus e, quem sabe, porventura, venha a conseguir tal façanha, qual será o risco desse “Deus conhecido” não vir a ser considerado um objeto? Como atrair o extraordinário e submetê-lo a estudos ordinários de seres também ordinários?
c) Qual é o limite da razão humana? Vale lembrar que Kant, em Crítica da Razão Pura, limitou não só o conhecimento de Deus por causa do que é numenal, como também limitou o próprio homem em seu raciocínio. Ou seja, aquilo que não é experimental e explicável razoavelmente não é real. Logo, Kant é a pedra no sapato para quem quer explicar Deus e Sua existência.
Para a religião, se explicar diante do humanismo racionalista de hoje é algo complicado. Eis algumas dificuldades para isso:
- Para a razão de hoje, não há estrutura alguma que sustente a ideia de Deus e sua possível (ou suposta?) existência. Assim, cabe somente o niilismo;
- Ainda que houvesse alguma realidade divina esta não seria um dado relevante. Não há, para a filosofia atual, experiência direta de Deus relevante ou confiável;
- Se não há como recorrer à experiência empírica (busca de conhecimento a priori), não há razão; não há conhecimento;
- E ainda que existissem argumentos criados a partir da experiência (conhecimento a posteriori), ainda sim deveria-se perguntar se estes arremetem à realidade humana e razoável;
- Se a fé é provada cientificamente esta poderá ser descartada pelo homem uma vez que ele já a conhece racionalmente, ao invés de a ela ser convidado. Além do mais, ainda que se racionalizasse a fé esta não seria em sentido universal já que a verdade não é uma para todos e sim para cada qual conforme seu interesse.
Então como a religião escapará desta aporia (dificuldade de ordem racional)?
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