terça-feira, 11 de março de 2014

Inimigo e amigo às vezes se confundem

Por Carlos Chagas

Para melhor visualização dos desenhos é só clicar sobre eles.

Sou daqueles que assiste a um mesmo filme diversas vezes. Alguns perco a conta. A saga do Batman lançada em 2005 e finalizada em 2012 foi uma saga que assisti algumas vezes. De início havia gostado do Begins, mas depois de um tempo achei que o Cavaleiro das Trevas foi o melhor. Por quê? Porque a história foi muito bem construída, os atores interpretaram muito bem seus papeis (não só o coringa, mas até o comissário Gordon e Harvey Dent, o Duas Caras) e a "sacada" da mensagem foi demais.

Após assistir pela 5ª vez é que comecei a fazer um paralelo dos personagens do Batman e do Coringa com o cristianismo atual. Percebi o quanto que somos fadados a seguir regras sem ao menos questioná-las e sem, no mínimo, se perguntar se elas me servem ou se sirvo a elas. Para quem viu o 2º filme percebeu que o Batman, no final, é tido como vilão e perseguido pelo povo e polícia uma vez que o Coringa deturpou a forma de se ver o mundo.

 O Coringa surge no filme, para quem o vê pela primeira vez, como um louco e comediante. Mas quando se vê mais atentamente se percebe que o mesmo tem nova personalidade se comparado com os Coringas do antepassado. Este não é comediante mas sarcástico. Não é louco. Apenas um revoltado com o sistema vigente e por decisão própria, agente causador do caos. O Coringa não é mal por acaso, mas um ser criado a partir de uma realidade não muito longe da que construímos no nosso cotidiano e que pratica seu contraponto buscando uma nova dimensão vivencial e também de compreensão das coisas.

No filme, Batman sempre é pego por seguir regras. O Coringa sempre está um passo à frente porque sabe o que o Batman irá fazer. Justamente porque este segue regras. Assim, o Coringa o desafia a quebrar uma única regra, que é tirar a máscara publicamente para que ele o mate, já que o Coringa coloca medo nas pessoas mostrando que toda a sua ação maligna nasce devido o Batman não se revelar. Nasce a pergunta do Coringa: O que vale mais? Uma máscara e a ocultação de um ser por ela ou o povo e suas vidas?

Mas o que tudo isso tem a ver com o cristianismo e com esse blog que tem por nome Cristãos Hoje? É que às vezes, regras são impostas aos crentes atuais e estas jamais podem ser questionadas. Como exemplo cito líderes que percebem certos jargões do tipo "toda liderança é constituída por Deus", "trazei o dízimo à casa do Senhor", "não toqueis no Ungido do Senhor" e criam sistemas a partir destes juntamente com as regras vigentes e aprisionam os fiéis condicionando-os a uma experiência não tão evangelística como pensam.

No que tange à ação do Coringa e ao cristianismo atual, é que o Coringa ousou pensar diferente, o que é bom, mas para a prática do mal, o que é ruim. Mal porque ele não foi empático. No cristianismo atual, pensar diferente é ruim e mal. Não se pode pensar. Vale lembrar que o Coringa foi uma construção dele próprio e do povo e suas ações. Seus sofrimento enquanto criança o tornaram o que ele é. Logo, há a necessidade de mudança não só do Coringa, mas do ambiente que o criou. E o que isso tem a ver com o cristianismo hoje? Perceba a história. A igreja evangélica nasceu devido a impossibilidade de reforma da igreja católica medieval, porque buscava-se o retorno à pureza do Evangelho e à salvação pela graça e fé. Hoje, Deus habita em templos e este é um "barman" que tudo lhe oferece se você souber pedir com jeitinho e com trocas (dízimos?). A Reforma se deu porque pensava-se diferente do que estava vigente e errado. Hoje? É errado pensar. Anos após a Reforma de 1517 uma frase era o lema: "Igreja reformada reformando sempre". Mas hoje o questionar é errado e inconcebível. A regras se tornaram dogmas. Uma ex-professora minha de teologia, Regina Sanches, dizia: "As leis cristãs devem sim aceitar a crítica e o pensamento adverso. Caso isso não seja possível tornam-se dogmas. E se forem dogmas são historicamente demonstráveis dignos de serem protestados". Há a necessidade de mudança e enfaticamente, diferente do Coringa uma vez que produzimos monstros e monstruosidades não muito diferentes de nossas origens.

E o Batman? Este, no filme, buscava fazer o bem, preservando sua identidade e seus parentes e amigos. Mas sua luta pela justiça lhe custou algo. Sua dignidade e honra. O filme termina como sendo ele o vilão. Não que o Coringa tenha se tornado o bonzinho, mas porque a população não sabia mais o que pensar. Batman se tornou vítima de uma leitura da realidade mal feita e desonesta. E é justamente o que vemos hoje. Não se pode questionar ou comentar sobre a Salvação pela Graça no Brasil que muitos dos "Grandes" e "Poderosos" das igrejas logo se levantam e, junto a eles, uma gama de seguidores cegos, que cegamente, preferem atacar os "batmanzinhos" que ao menos pensar sua realidade. A ideia de Deus construída atualmente já se tornou o próprio Deus sendo agora inquestionável. Questionar essa ideia é questionar o próprio Deus. Quantos já se "desviaram" eclesiasticamente porque resolveram falar? Estes hoje são uma minoria que, se somada, tem um grande número de pessoas. Seriam estes os errados? Ou os certos? Fato é que tudo hoje, no que tange ao cristianismo evangélico, deve ser repensado.

Antigamente, nos tempos do AT bíblico, existiam os profetas oficiais e os que falavam o que realmente Deus queria que se dissesse. Estes últimos sempre morriam porque os oficiais é que eram aceitos. Hoje, existem tão poucos profetas da parte de Deus nas igrejas que é necessário um filme dizer cinematograficamente uma realidade fictícia que muito se compara à da igreja e mesmo assim, poucos se preocuparão com isso. 

Sei que este artigo é tendencioso e pode até mesmo ser nocivo, pois sei que muitos dos "revoltados" que em nada são empáticos, podem interpretar erradamente minhas palavras para tão somente destruir a igreja local. Sei que serei mais condenado aqui do que compreendido, mas é para isso que nascemos. Ser profeta é ser inaceitável até por si próprio, às vezes. Todavia espero que bons frutos surjam na igreja de Cristo e que Ele seja louvado de fato e não cantado como vemos nas musiquinhas dos domingos que na verdade surgem para levantar dinheiro e status. E quanto a esta saga do Batman, espero que assistam, pois é por demais boa.

Sobre os desenhos:

Em 2012 iniciei um curso de desenho onde fiz diversas obras. Algumas ainda possuo, outros eu doei, outras rasguei, outras perdi... mas algumas eu ainda publico, assim como foi com as deste artigo. Caso queira usá-las fique à vontade. Não me importo com o fim delas e sim com que sentimento eu as desenhei.

Coringa:

Desenho feito para meu amigo Ailton Junio, uma vez que ele gostou muito do personagem interpretado por Heath Ledger.

Material usado: Lápis de cor Faber Castell, lápis aquarelável Koh I Noor Mondeluz e papel Canson Color A4 120g/m2 negro.

Batman:

Desenho feito para treinamento de perspectiva e de aprimoramento de detalhes como exigência do curso de desenho artístico do Studio A4.

Material usado: Lápis aquarelável Koh I Noor Mondeluz e papel Canson Color A4 120g/m2 negro.

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