terça-feira, 13 de maio de 2014

Desenho "O Mágico" de 2010 e sua releitura para a Igreja

Por Carlos Chagas

Já faz um tempo que assisti a um desenho que, para mim, está entre os melhores que já vi. O Mágico (L'Illusionist - 2010) conta a história de Tatischeff, um mágico que vive em uma época de transformações, as quais exigem das pessoas o mesmo. Diante desta realidade Tatischeff tenta, de sua forma, encontrar uma nova forma de sobreviver, ao mesmo tempo que tenta se encontrar novamente. Nessa busca conhece Alice, uma garota que motivada pelo que o mágico pode lhe oferecer passa a segui-lo sem saber que neste encontro ambas as vidas sofrerão transformações imensas, as quais jamais serão esquecidas por eles.



Uma comparação com a igreja atual

Senti a vontade de postar este desenho no blog porque vi semelhanças na vida de Tatischeff assim como na vida da igreja cristã atual. Não há como não perceber o quanto o mundo se transforma no desenho, transformação esta que não há como frear e nem como não se envolver, já que todos vivem em uma sociedade na qual as transformações conseguem seu objetivo.

Assim como Tatischeff a igreja, às vezes, perde lugar para as tendências. Não que isto seja algo ruim mas a adaptação ao novo ambiente tem de ser algo sadio para ambos os lados. Mas não foi assim para Tatischeff. Este procurou mudar para o interior na intenção de se manter em seu velho estilo. O grande problema que ele encontrou é que em seu velho não mais conseguiria a interação com o povo. Talvez com um ou com outro, todavia já era mais um agente de transformações.

Diante de poucas interações Tatischeff conhece Alice, uma garota do interior que passa a se interessar pelo mágico devido ao que ele pode e lhe oferece. Ao ver que não pode ganhar tanto dinheiro no interior e que ali o mercado não é tão promissor, Tatischeff resolve voltar para a cidade grande na tentativa de se entregar a tal transformação. Mal sabia que Alice o seguiria. Esta, na busca de saciar seus desejos passa a caminhar com ele e ele assume a responsabilidade de levá-la consigo.

Durante sua estadaem uma cidade grande Tatischeff tenta um emprego diferente continuando a oferecer a Alice os presentes que ela queria ganhar. Concomitantemente seus amigos começam a cair em decadência. Alguns entram em depressão, outros viram bêbados, outros continuam a luta. Alice, em dado momento, percebe que o mágico não pode lhe oferecer o que aquela sociedade pode: A igualdade estereótipa, além do amor pelo sexo oposto. Alice se apaixona por um rapaz da moda, bonito e com um futuro promissor que se adequa à realidade que eles vivem.

Após descobrir que Alice já não mais continuará junto com ele, Tatischeff reconhece seu erro: Não pode vencer o sistema proposto, além de também não querer. Percebe que seu erro foi de oferecer o que desejam e não o que necessitam (o amor?). Entende que ainda é tempo de conserto. Resolve voltar atrás e rever sua filha, representada pela foto, que em certos momentos do desenho ele aprecia sem tomada de maiores atitudes, como é no final.

Desenho melancólico e de certa forma depressivo, mas descreve bem a realidade. E se comparado com a história da igreja e sua caminhada podemos perceber ligações interessantes. Uma delas é a oferta daquilo que não é o importante. Alice recebia sapatos e roupas, o que não era o importante. Apesar de parecer estranho sua opção no final foi certa devido às circunstâncias. Ela terá a oportunidade de aprender o que é o amor e de se desligar, quem sabe, de seu egoísmo. Comparado com a igreja, muito milagre é oferecido mas pouco amor. A caminhada evangélica (de Evangelho) tem sofrido com certa destonação onde o cristianISMO fala mais alto que o EVANGELHO.

Apesar de o mágico ter escolhido desistir de sua forma de vida, assim como fez os demais amigos, parece ter feito boa escolha e que seu futuro não terá o mesmo final que os demais, já que optou desistir pelo amor ao próximo, à filha, diferente dos amigos que desistiram para o supérfluo (bebida). Tatischeff também da uma lição de vida ao voltar atrás e consertar seu erro. É o que ensina Ap 2.4-5a.

Grande tem sido a luta das igrejas pela enculturação forçada e pela cristianização do homem ao invés da evangelização. Seu erro é latente quando se percebe tantos escândalos e a indiferença dos demais à tal realidade. Nem sempre o ato de transformar o meio vivencial e o não-envolvimento com o mesmo é a solução. Percebe-se mais um preconceito que efetivamente um conceito.

Por fim, mágicos não existem e sim a realidade. Não adianta maquiar e enganar porque a realidade não se esconde. Mágicos não existem porque estes não são tão belos quanto a verdade. A verdade sim existe e não é de ninguém, para que seja de todos. Não maqueia porque ensina. E a verdade ensina com amor, o objetivo que deveria estar em todos. Eis a oportunidade: Conhecer o amor. Afinal, quem se interessa?



Mágicos não existem

A vida e o homem. O homem e sua busca. A busca pela vida e a negação do homem pela busca. Por que lutar? Pelo que desejar? É clara a resposta: a vida. Mas por que não se alcança? Por que a vida não é bela? Quem sabe. Quem sabe é pelos enfeites? Quem sabe é pela troca de valores ou pela valorização do supérfluo?

Tão certo como é andar para frente é o homem ser deixado para trás. O tempo passa, a evolução vem e a transformação é necessária. Mas como obter a vida? Se tudo e belo e é encontrado nesta como alcançá-la? Como oferecê-la? Quem sabe está nos trocados que ludibria o olhar de uma donzela ou ofusca o do mendigo? Não seriam estas moedas o verdadeiro sentido da vida? Não. Se fosse as cidades seriam os oásis vitais. E o que vejo é só tristeza!

Mas que tristeza é essa? Por que essa me procura? Me seduz? Me conquista? Talvez, se por um instante, valorizasse o artefato como mais um instrumento e dele não esperasse o total sentido de vida! Se o meu dom, o dom de fazer mágicas, não surtisse em mim o sentimento de que com isso mudaria o mundo num passe de mágica. Deveria eu entender que ser mágico é transformar a mim mesmo, ou quem sabe apenas me confortar... não sei o que dela esperar.

Mas algo me mostra, me indica e ainda assim não quero enxergar, que em todo dom, seja de fazer rir, seja de encantar, seja de acompanhar, o que de fato e de tudo vale é o dom de dar vida. Estar do lado não para ganhar, mas para sentir e oferecer. Rir não para dormir e amanhã começar novo dia, mas de sentir o prazer do sorriso alheio. Caminhar a segunda milha não pela obrigação mas por oferta. Hoje sei. Hoje entendo. A vida não é mar de rosas, mas pode ser enfeitada assim. Mas quando enfeito, o que vejo, é apenas a morte das flores e não o seu cheiro.

Por que sou assim? Sei que a vida não é magia. Sei que viver não é algo mágico. Mágicos não existem! A vida sim. E esta, pela minha magia, a ocultei. Quero viver, mas não consigo. Quero caminhar e sei como fazê-lo mas não dou o primeiro passo. Por quê? Por quê?


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