Por Carlos Chagas
Procurando algo na internet sobre os falsos profetas acabei tendo contato com um texto em espanhol chamado "¿Cómo reconocer a los falsos profetas?" do Juan Stam, teólogo latino-americano. Após lê-lo resolvi resumi-lo e aplicá-lo na nossa realidade brasileira, que ao que que parece, está cheia de "falsidades proféticas"!
Para ler o texto original clique aqui.
Identificando falsos profetas nos dias de hoje
1- Profecia não é previsão do futuro
O grande mal dos dias de hoje está em acreditar que profecia é a descoberta ou predição do futuro. No Brasil, devido a carência de transformações sociais que englobem a grande massa populacional para algo melhor, o que se vê são estas pessoas se inclinarem ao sonho ou desejo de que tal "bênção" aconteça em suas vidas. E, na dependência de tal milagre ninguém melhor ou maior para que isso venha acontecer do que Deus se prontificando para tal. Levando em consideração que o Brasil é um país religioso pode-se esperar que a inclinação do povo para a crença de que Deus pode fazer tal coisa é grande e que devido a corrupção em índices alarmantes no país pode levar alguns "profetas" às mesmas práticas corruptas também é fato.
No que diz respeito à crença do povo de que profecia é predição futura, vale lembrar que nenhuma forma melhor de se analisar a profecia cristã do que pela luz bíblica ainda foi descoberta. Ou seja, a análise do que seja profecia pela leitura bíblica ainda é a melhor das ideias. E é nesta análise que se descobre que em 100% das profecias bíblicas apenas 5% são preditivas e que as 95% das profecias são voltadas para a ética visando o 100% de cunho religioso e ético. Além do mais, toda profecia dita bíblica visa uma única coisa: Conserto e obediência e não o futuro propriamente dito.
Profetas que dizem ter a fórmula para o futuro ou que possuem mensagens que não vão além da predição ficando aquém do conserto devem passar por uma análise bíblico-teológica o quanto antes. Muitos deles não subsistirão (predição do futuro?).
2- Conhecimento da realidade em que se vive
Outro grande detalhe que se percebe em um profeta é o seu vasto conhecimento da nação na qual se vive, não só em detalhes históricos, mas também em economia, educação, cultura, política e religião. Nas palavras de Stam "Os
profetas eram sociólogos, economistas e cientistas políticos de seu
tempo, embora a inspiração divina foi mais do que apenas isso." E devido a tal conhecimento o profeta tinha a possibilidade de interpretar a situação em que seu povo vivia e, por conseguinte, lançar de antemão o resultado futuro de tudo que a atualidade apresenta. A predição futura se baseia no passado da nação para o profeta. Não é adivinhação, é interpretação.
Diante disso, quais deveriam ser as três perguntas para se analisar uma profecia? As 3 poderiam ser:
Qual é a base de análise histórica da profecia?
Que atitude assumir diante da realidade?
Quais medidas devem ser tomadas para a mudança?
Profecia não é especulação. Tem conexão com a história. O mero adivinhar tem mais ligação com o demônio que com Deus (At 16.16-18). A profecia tem sentido de conserto, de exortação com fins de consolação para uma vida melhor. Falar só do futuro não é o objetivo.
3- A profecia/profeta incomoda a ordem vigente corrupta
No AT os falsos profetas eram acomodados com o sistema vigente. Os verdadeiros profetas devido à honestidade e coragem perturbavam a ordem natural do reino passando a serem considerados Perturbadores do Reino (1Rs 18.17). Muitas profecias hoje não passam de sedativos e não perturbam ninguém muito menos os poderosos corruptos. Ainda no AT profetas como Micaías ben Inlá (1Rs 22) foi posto numa cadeia a viver de pão e água só porque não anunciou o que o rei queria ouvir, assim como era feito pelos profetas dos Tribunais Oficiais. Amós, após ofender os poderosos de Samaria foi removido do Reino Norte. Jeremias, por ter falado contra o sistema do Reino Norte e por ter predito o fim dos profetas corruptos quase morreu por vezes e ainda sentiu na pele a injustiça por ser justo.
Se uma análise for feita mais a fundo perceber-se-á que os profetas mais denunciaram pecados, corrupções e injustiças que predisseram o futuro. Além do mais, se esta análise for feita mais incisivamente se constatará que a maior parte do que chamamos de profetas nos dias de hoje não se preocupam com a real transformação do planeta ou nação como eram os profetas do AT. A preocupação com o próprio status, conceitos e títulos e também o interesse pela pacificidade do movimento profético torna tudo hoje em dia algo prejudicial. Poucos na igreja hoje aceitariam uma pessoa, chamada de profeta derribar mesas de DVD's e CD's gospels de dentro das igrejas e muito menos falar mal da igreja. Na atualidade seria escândalo um profeta desejar o fechamento de emissoras de TV's e Rádio de cunho evangélico porque as mesmas trazem pornografias, assuntos torpes e porque as quais não se objetivam na real proposta do Evangelho. Tudo isso é visto como escândalo assim como era na época do AT quando profetas falavam mal de reis e dos demais profetas oficiais.
Talvez a maior diferença entre os verdadeiros profetas do AT com os profetas atuais seja a forma de se tratar uma pessoa, principalmente quando esta insiste em não seguir a vontade divina. Ser um profeta e não ofender ninguém é o mesmo que ser um falso profeta. A função deste é incomodar e não ser aceito já que seu caminho é oposto do caminho errado. Na TV o que se vê é um amontoado de profetas que dizem ter a Palavra de Deus, mas tais profecias são vazias e desconectas da realidade, não se objetivando a uma transformação eficaz do meio de convívio. Aliás, há tantos profetas de "meia tigela" que o povo acostumou a escutá-los e a aceitar sua "divinas palavras". "Deus manda te falar que tem uma obra em sua vida", "vivemos um tempo profético", "adore profeticamente", "façamos uma marcha profética", "toquemos o Shofar profético" e outras frases são típicas no Brasil e que mostram que ao mesmo tempo em que tudo é profético nem tudo retrata a vontade de Deus e nem sempre suas palavras são anunciadas.
4- Tempos proféticos nada proféticos
Comparando os tempos de Jeremias e de outros profetas com a atualidade fica fácil perceber quantos que dizem "eu tenho a palavra profética de Deus" ou "o Senhor me disse" quando o que se vê são palavras vãs e o uso do nome de Deus em vão. Os tempos são iguais. O uso do nome de Deus está tão saturado que as contradições são exageradas. Ao mesmo tempo que um funda uma igreja humilde dizendo que Deus quer a pobreza e a humildade no meio de seu povo outro diz que Deus quer a fartura e a riqueza já que "tudo que Jesus conquistou na cruz é direito nosso e nossa herança".
Hoje há tanta unção no meio cristão que agora o óleo ungido, que antes era para o uso apenas em enfermos, agora é usado para ungir carros, casas, ruas, etc. Decreta-se que o bairro "é do Senhor Jesus" enquanto que o amor, que deve ser praticado, fica em segundo plano. Marchas proféticas, por ordem da vontade de Deus, mencionadas pelos profetas das igrejas, buscam converter o bairro mediante a imposição de mãos em troca do amor e da inclinação à necessidade do bairro. Gasta-se centenas ou milhares de reais para custear o palco, o carro de som, as camisas, o aluguel de ônibus, a fotografia, a filmagem, os balões, a banda evangélica que não vem de graça, os instrumentos, os foguetes enquanto que pouco se despende para as reais necessidades da comunidade como varrer ruas, pintar paredes, assistir a uma família, lavar roupas de uma idosa ou idoso, etc. Daí nasce a pergunta: O que há de profético nisso?
5- Sendo profeta contra a vontade: Por quê?
Diferente dos profetas oficiais, que recebiam salário e que não iam contra os poderosos pois custariam-lhes o emprego, os profetas de Deus geralmente recusavam o cargo (Moisés, Jeremias, Isaías, etc) e nem recebiam dinheiro por sê-lo. Não tinham privilégios em seus ofícios e nem lutavam por um "ranking" no Reino como era para os profetas oficiais (falsos). Diferente desta época, hoje o que se vê é desde cursos para profetas como vagas para os mesmos nas igrejas, bem como um clamor para que os mesmos surjam. Agora, e se surgir um profeta que não diz o que se quer ouvir? Quanto tempo este durará na igreja?
Nos dias atuais o mesmo efeito advindo das profecias dos antigos falsos profetas é visto nos atuais: Manipulação do povo e, se possível, de Deus, luta pela hegemonia, poderes e status, pacificidade na igreja, ostentação do orgulho e da injustiça e desinteresse pela causa divina. Tanto é que isso é verdade que dentro de uma igreja raramente se vê o povo sair abalado com uma palavra vinda realmente de Deus. Se antes o tremor e temor existia não só para se entregar a profecia como para escutá-la também, hoje falar em nome de Deus já é algo extremamente comum nos cultos e o crente sai de lá como entrou. E o pior: Muitas vezes o pregador (profeta) fala coisas que, se qualquer um que seja íntimo do mesmo for questionado, confessará que o mesmo nem mesmo acredita naquilo.
Mas ser profeta vai além disso. É se inclinar ao crescimento do Reino de Deus, que não começa nos céus, mas aqui e agora. É chorar de medo pela própria vida, mesmo crendo que tal profecia, se entregue, ainda que o mate, é a melhor opção. É perceber o que é regozijar muito das vezes acompanha o choro e o medo da morte, ainda que com cheiro de vida. É crer que sua vontade é pequena, mesmo que certa diante de Deus, mas que precisa de um tempero divino.
Palavras conclusivas ( uso as palavras de Juan Stam):
O discernimento entre profetas verdadeiros e falsos profetas é um dos problemas mais difíceis da teologia e da vida cristã. Não há fórmulas mecânicas ou critérios inalterados, todos têm algumas exceções, incluindo aquelas que levantamos aqui. Essa é a liberdade de Deus para agir onde, quando e como ele quer. Mas eu acredito, e tenho visto, que estas orientações nos colocam em guarda contra abusos do ofício profético. No final é um ato de fé, na convicção honesta do coração de cada pessoa, aceitar ou não uma suposta profecia. Mas somos obrigados a escolher, e eu acho que a maior é o perigo de acreditar e seguir uma falsa profecia que possivelmente mantêm reservas saudáveis sobre uma profecia incerta, embora possa ser verdade. Nesse caso, Deus ainda pode falar conosco e nos guiar para uma maior certeza.
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