O título pertence a Angkor Wat, um templo hinduísta – depois convertido em mosteiro budista – com cerca de 40 quilômetros quadrados, construído no Camboja no século XII. Como se não bastassem suas dimensões colossais, Angkor Wat faz parte de um complexo de mais de 100 templos, totalizando aproximadamente 2 000 quilômetros quadrados. Ali ficava a cidade de Angkor, capital do sofisticado Império Khmer, que durou meio milênio, do século IX ao XIII. Em seu apogeu, no século XII, o reinado abrangia todo o sudeste da Ásia, incluindo os territórios hoje ocupados por Tailândia e Vietnã. Angkor não era apenas seu centro religioso e político, mas também fruto da sua maior conquista tecnológica: um sistema de armazenamento e distribuição de água, cujas represas e canais de irrigação abasteciam plantações de arroz que proporcionavam colheitas abundantes. O povo agradecia aos deuses por essa dádiva nos cultos realizados nos templos de Angkor e cada imperador que subia ao trono mandava erguer mais um monumento religioso. Foi o rei Suryavarman II, que reinou de 1113 a 1150, quem construiu o maior deles: Angkor Wat (Templo da Cidade). O desenho do templo reproduz o Universo segundo a visão hinduísta, religião oficial do Império Khmer até ser substituída, no final do século XII, pelo Budismo. Assim, o imenso fosso que circunda a construção representa os oceanos, enquanto as muralhas externas significam os limites do mundo. As cinco torres do templo central simbolizam os cumes do monte Meru, na Índia, considerado o centro do Universo e morada dos deuses, entre eles Vishnu, a quem é consagrado o santuário principal. Além disso, a decoração de Angkor Wat é tão rica que não há ali nenhuma parede que não tenha alguma figura esculpida em relevo – várias delas ilustrando episódios do Mahabharata e do Ramayana, os dois grandes poemas épicos da religião hinduísta.
Quando o povo hai (ancestrais dos atuais tailandeses), invadiu a região, em 1431, obrigando os khmers a fugir, a capital foi abandonada e Angkor Wat acabou, com o tempo, engolido pela selva. O monumento só foi descoberto em 1858, pelo naturalista francês Henri Mouhot. “Foi um achado importantíssimo, porque Angkor Wat é o maior legado religioso, arquitetônico e cultural de uma das mais interessantes civilizações do mundo antigo. Sua existência é a prova cabal da prosperidade e da avançada tecnologia alcançadas pelo Império Khmer, ainda pouco conhecido por falta de material escrito”, diz a arqueóloga Elizabeth Moore, chefe do Departamento de Estudos Orientais da Universidade de Londres. Em 1996, Elizabeth participou do projeto da Nasa que mapeou Angkor por meio de satélites, parte dos esforços de recuperação e proteção do complexo, vítima de muita depredação. Ali está sendo realizada, atualmente, a maior restauração de uma construção religiosa já executada – mais um recorde para Angkor.
FONTE: Revista Super Interessante. Edição de Setembro/2002.
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