quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Namoro Cristão: Breves considerações de um cristão

Por Carlos Chagas

Nada causa maior polêmica na igreja cristã evangélica brasileira que um namoro. Após saber que um casal iniciou um relacionamento todos os membros dessa igreja passam a comentar tal ato. Isso não é ruim, afinal quem nunca comentou o início de um relacionamento? Mas o que preocupa muitos (ou seria todos?) evangélicos é como deve ser tal relacionamento. Perguntas do tipo "seria ele(a) a pessoa certa?", "é da vontade de Deus?", "isso foi revelado?", "é a hora?", "essa pessoa é espiritual o bastante para mim?" são algumas das muitas que sempre são feitas na igreja.

Diante desse tema é que este artigo veio surgir: O que na verdade é crucial para um namoro cristão? Como este deve se portar? Aliás, este deve surgir? O que é um namoro santo? Namoro santo existe?

O namoro e os dias atuais

Sabe-se que a palavra namoro mudou muito nesses poucos anos. Até pouco tempo, nos anos 20, a palavra "namoro" tinha sentido diferente de hoje. Naquela época o namoro geralmente se iniciava em bailes onde o homem se aproximava da moça, que possuía idade média de dezessete anos, e o homem, geralmente mais velho, pedindo a ela permissão para uma dança, o que não era bem visto pela igreja católica, uma vez que a aproximação promovia fortes sensações nervosas (o famoso "tesão") as quais, em alguns casos, poderiam levar à fornicação. Contudo essa aproximação não gerava o que hoje é comum nos namoros: o beijo. Este só vinha após dias, meses, ou anos, dependendo da família da moça. O namoro era a base do casamento e era fácil de confundir com noivado. Naquela época só se namorava com intenções matrimoniais.

Com o passar dos anos a sociedade "evoluiu" (ou involuiu?) em condutas, e com essa evolução o namoro, que tinha características de responsabilidade e pacto, passa a ser algo de maior prazer, sendo esta característica última, a que reina até os dias atuais. Contudo, nos últimos dias esse prazer passou a ter fortes características de libertinagem. O namoro que antes tinha como seu forte o cortejo e o respeito, passou a ter um ar de mero prazer até chegar ao que se conhece como curtição.

Na mudança social veio a transformação da compreensão que se tinha do namoro. Namorava-se para se casar, mas é claro que neste namoro continha a vontade de saciar os desejos sexuais, que geralmente chegavam ao ápice após o casamento. Todavia, com o passar dos anos as relações sexuais passaram a ser aceitas ainda no namoro. O que era escandaloso com o tempo passou a ser algo comum e aceitável. Mas nos últimos tempos o que se vê é que não é preciso o namoro para se ter relações sexuais. E muito menos ir ao prostíbulo é necessário: cada vez mais as festinhas que promovem mera curtição da vida possuem este tipo de relacionamento para fins prazerosos onde tal envolvimento não exige compromissos posteriores.

Se hoje não se precisa de namoro para se realizar sexo, para que então namorar? Na verdade o namoro tem sido apenas para se ter alguém do sexo oposto para compartilhar a vida, ou para corresponder às necessidades sociais, ou, para ainda resistir aos ideais modernos com a antiga ideia do namoro: casamento.

Mas o casamento não tem a mesma característica de antigamente. Antes o casamento era para simplesmente constituir família. Entretanto a ideia de família tem sido destruída por muitos que acreditam ser da família a culpa pela vida monótona e entediante. Logo, a família passou a ser algo dos avós, sendo substituída pelas conhecidas "repúblicas", onde muitos moram juntos mas cada um na sua. Família tem sentido de prisão e de posse exclusiva (o marido é da esposa e vice-versa). Portanto a família é substituída pelo famoso jargão "não sou de ninguém, eu sou de todo mundo", afinal de contas a ideia "ninguém é de ninguém" agora reina na sociedade.

O namoro atual, em sua forma predominante, é apenas para curtição; não tem tanta importância a mutualidade. Afinal a mutualidade morreu quando nasceu a individualidade lá no Iluminismo Europeu, dizem. Portanto agora já é comum o que chamam de "chifrar", ou seja, não respeitar o voto de exclusividade no que tange à promessa de pertencer apenas ao namorado(a) e a mais ninguém. Isso se torna frívolo e, assim, se envolver com uma terceira pessoa, às escondidas, se torna algo mais interessante e valioso. Mas o que realmente vale é "chifrar" e não ser "chifrado". E isso se torna uma espécie de loucura, já que muitos "chifram" mas não aceitam ser chifrados. Assim, o princípio da individualidade prazerosa passa a ser despedaçada porque os ideais que antes eram propagados como sendo 100% felicidade já não mais se demonstram assim. "Eu chifro" revela que saí no "lucro", mas a pessoa na qual "eu fiquei" chifrou seu companheiro; seu namorado(a), logo, esse namorado chifrado se revela como sendo eu, pois afinal, quem me promete que não serei chifrado assim como chifrei?

O fato é que o namoro de hoje só tem sentido como sendo algo para "tapar buracos sociais": Serve para passar o dia dos namorados, natal e páscoa juntos; para agradar os pais, que ainda possuem aquele estilo de vida "antigo e ultrapassado"; para ter com quem ficar quando não se tem mais ninguém; e é claro, para ter alguém com quem "transar" caso dê vontade e não se tenha mais ninguém em vista naquele momento. Essa é a dura realidade.

Lógico que este tipo de namoro citado até agora não é o único. Pessoas que ainda trazem consigo o ideal chamado de "puro" dos seus pais e avós tentam ainda se destacar e sobreviver em meio ao caos passional. E é graças a essa perseverança que ainda existem muitos casamentos sadios. Mas infelizmente o namoro, como é conhecido hoje, é dividido em 2 partes: A primeira é o namoro descrito resumidamente acima, onde se namora por prazer e intenções egoístas, típicos da paixão. Já a segunda divisão diz respeito aos que ainda insistem no namoro com amor, ou seja, o outro(a) tem valor no relacionamento.

O objetivo do namoro

Sabe-se que o namoro nasceu como uma tentativa de adaptação entre homem e mulher nos quesitos sociais, familiares, sexuais e outros, nos quais se busca a felicidade de ambos como um todo no ápice do namoro que é o casamento.

Em suma, a tradicional compreensão sobre a caminhada entre o namoro ao casamento se dava com a troca de olhares; o flerte; a aceitação do flerte; o compromisso de fidelidade e entrega de um para com o outro; a caminhada com objetivos matrimoniais; o noivado, onde se oficializam os votos do namoro; e o casamento, onde se concretiza o sonho do namoro: o "estar juntos para sempre".

Com relação ao noivado muitos hoje dizem ser este o compromisso mais sério para o casamento. Mas nem sempre foi assim. Essa nova compreensão nasceu como adaptação para a nova forma de namoro que surgiu. Antes o namoro era o noivado de hoje.

Sabe-se que o namoro tinha o objetivo para o casamento e respeito entre duas pessoas. Esse respeito era referente a tudo: Desde as relações sexuais até ao bem estar social (ser bem falado na sociedade, ter nome limpo, etc, onde se um "tropeça" prejudica o outro, o cônjuge). Mas devido à falta de compromisso o namoro atual tem outros propósitos: a mera curtição onde o "eu" fala mais alto. Vale lembrar que isto é dito com relação à predominância do namoro. Já foi dito mais acima que o namoro não é isso efetivamente. Muitos ainda lutam contra essa forma de namoro.

Concluindo o namoro atual não diz respeito ao casamento como era antigamente. Aliás, o namoro hoje tem sentido equivalente ao famoso "ficar". A única diferença é que o "ficar" é simplesmente se envolver com alguém por um breve momento. Já o namoro atual é se envolver por um período mais longo, vindo a ser de dias até anos. Portanto o namoro obteve muitas mudanças em seus objetivos e, pensando no namoro dentro da igreja, isso se torna ainda mais conflitante.

O namoro na igreja: Contexto atual

A igreja continua sendo um lugar para a mudança, geralmente para maior respeito com os demais. Entretanto é fato que a igreja sofre do mal da cultura contemporânea. Muitos membros exigem que a igreja se adeque às mudanças da sociedade e, geralmente, este pedido é para se tornar igual à sociedade.

Portanto a igreja sofre com os conceitos e práticas atuais do namoro. É na igreja que se encontram os valores de respeito no que tange ao namoro e ao respeito que se deve ter entre as partes. Em praticamente todas as igrejas o namoro ainda segue a ideia de preservação sexual dos casais, ou seja, sexo entre os parceiros somente após o matrimônio já que o sexo antes deste caracteriza prostituição.

Não se tem a intenção aqui de discutir se a prática sexual antes do casamento é pecado ou não, mas de enfatizar que o sexo, como é praticado no namoro atual, é totalmente depravado e desrespeitoso, uma vez que o principal, que são os votos, não mais são observados. O que se vê é simplesmente um acordo para que o relacionamento sexual aconteça. Mas o que é importante destacar é quanto que a igreja sofre para se adaptar aos novos conceitos existentes.

O namoro cristão tem sido infectado pela depravação de fora, ou seja, do que chamam de "mundo". Mais e mais vezes se vê casais de namorados dentro da igreja que são descobertos em relações sexuais antes do casamento, que é considerado pecado pela maioria, e descobertos também em esquemas de traições.Isso demonstra como é que as influências externas têm determinado a nova forma de ação passional dentro das igrejas. O quadro se agrava quando se fala de traições dentro dos casamentos, o que não é objetivo deste post.

Talvez o grande problema do insucesso do namoro cristão tenha sido da incapacidade dos casais em definirem objetivos coerentes para os seus namoros (para casamento, por exemplo) e baseados em doutrinas apenas (devo namorar porque o "ficar" é pecado). Outro problema é o ingresso precoce ao namoro. Mais e mais jovens entre 12 a 16 anos procuram um parceiro(a) para se relacionar. Isso demonstra a influência externa novamente e a modernidade do namoro, que foi comentada acima, adentrando à igreja.

O namoro na igreja: Apontamentos

Não cabe ao líder da igreja, seja ele pastor, líder de mocidade, professor de EBD, dizer pra o jovem quem ele deve namorar. A escolha do mesmo deve ser respeitada. Mas sabe-se que sua escolha é resposta de uma concepção de vida e de vivência presenciada dos demais através dos tempos, e que a mesma pode ser trabalhada no tempo certo. Por isso a intervenção sobre o assunto deve ser bem trabalhada na EBD, nas classes dos pré-adolescentes, para que os mesmos alcancem maturidade sobre suas escolhas passionais.

Mas essa intervenção não pode soar como sendo algo imposto. Na verdade, a fase da adolescência contém uma espécie de rebeldia, que é comum ao jovem do século XXI, devido à sua transição de criança à fase adulta; do protegido ao conquistador; do mundinho criado na infância ao mundo real; da tranquilidade às escolhas. Portanto, os professores deverão saber abordar o assunto de forma cativante, aventureira, responsável e motivadora.

Uma boa medida para acompanhamento dos jovens que namoram é adotar casais casados, de bons testemunhos, para que, cada um casal de casados acompanhe de perto cada um casal de jovens namorados. Mas os casados devem ser flexíveis e edificantes para os jovens. Nunca devem ser, o que chamam de "cafonas" e "ultrapassados", mas devem ter espírito jovem.

Princípios para um namoro sadio

Um casal de namorados deve sempre se perguntar: Por que nós namoramos? Nosso namoro possui padrões cristãos? Qual a finalidade? Temos condições de assumir responsabilidades complexas?

1- Por que nós namoramos? Nesta pergunta está incutida uma premissa básica para que um namoro venha existir de forma sadia. É o objetivo crucial do namoro. Ora, ninguém namora seriamente se não pensa no futuro de forma coerente e determinada. Se o namoro é sem objetivos demonstra ser uma espécie de "ficar", ou "pegar", etc, em outras palavras, o namoro se torna vão e com interesses torpes e sem sentidos de vida; apenas para curtição momentânea. Lembre-se: Namoro é para se casar. Namorar por namorar é desprovido de sentido.

2- Nosso namoro possui padrões cristãos? Ferindo a 1ª pergunta percebe-se que o namoro não possui características cristãs. Mas isso pode piorar quando este namoro isenta responsabilidades cristãs. Uma responsabilidade que pode ser citada aqui é a do respeito para com seu/sua amado(a). No namoro do séc XXI o que se observa é o interesse pelo eu. No namoro cristão o interesse é pelo outro. O eu está em último lugar. O seu namoro busca entender a necessidade do outro? O seu namoro procura conhecer a outra pessoa em sua integridade, pessoa, família, sociabilidade, etc? Um grande padrão cristão é o de conhecer aquele com quem se relaciona. Assim como é a relação do cristão com Deus, assim também deve ser entre marido e mulher; entre namorado e namorada.

3- Qual a finalidade? Você namora por prazer, por necessidades pessoais, por mera apresentação social? O namoro cristão é o reflexo do casamento. Se seu namoro tem alguma dessas características citadas seu casamento será um fracasso. E se você namora sem intenções matrimoniais o seu namoro já é um fracasso.

4- Temos condições de assumir responsabilidades complexas? Exemplos: Uma gravidez inesperada, uma doença, necessidade de sustento (tem emprego?), situações como briga com os pais onde o filho(a) é expulso(a) de casa, o namorado(a) é procurado por crime, etc. Parece exagero, mas esse último exemplo está se tornando muito comum. Numa sociedade onde o errado já não é mais punido como se deveria, mais e mais pessoas de má índole aparecem e batem à porta.

Este artigo não visa esgotar o assunto. São breves considerações que devem levar o leitor a meditar em sua prática do namoro. Que este seja santo para que se aprenda a se relacionar corretamente até que, na naturalidade do relacionamento, venha o casamento junto com as demais responsabilidades.

Acima de tudo: Leia a Bíblia, ore e compartilhe suas idéias com quem é responsável e edificante. Evite rodinhas de escarnecedores e pecadores. Cresça e seja um cristão verdadeiro para hoje.

Fonte de pesquisa:

http://projectosermulher.blogspot.com/2007/10/o-namoro-dos-anos-20.html

4 comentários:

  1. Muito Bom o Artigo Chagas...Parabéns

    Allan

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  2. Realmente ótimo, mas não só este. Sempre tive compania de pessoas "curtidoras" des da escola mas sempre tive opinião própria. Hoje namoro uma pessoa que não encontro adjetivos para classificala, sinto um enorme amor, respeito, admiração e não vejo a hora de poder casar. São sentimentos bons e de mão dupla, o namoro é uma coisa boa dependendo de como se conduz e com quem se conduz.

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  3. muito bom o artigo, mas tenho algumas dúvidas sobre o sexo antes do casamento...
    Eu e meu namorado começamos a namorar em 2011, nós não eramos da igreja, e transamos durante um ano, mas temíamos a Deus, e liamos a bíblia. O irmão dele é presbítero da igreja que hoje somos membros, no tempo em que estavamos tendo relações sexuais o irmão dele falou para ele que era bom parar, e paramos, mas só por um mês... alguns meses depois começamos a frequentar a igreja, e paramos novamente com as relações sexuais, em agosto deste ano nós nos batisamos, nosso objetivo sempre foi o casamento, desde o inicio do namoro, nós estamos juntando dinheiro para isso, ganhamos um terreninho do pai dele, mas ainda não é o suficiente para casar logo, ainda vai levar mais uns dois anos, ou mais, para nosso tão sonhado casamento. Mas o problema e as minhas dúvidas são sobre os desejos que sentimos, desde que paramos com as relações, há uns 8 meses, temos muitos desejos, tivemos recaídas umas duas vezes, e isso nos deixa tristes, porque queremos agradar a nosso Deus, que tanto amamos, mas acontece essas recaidas e esses desejos, e vemos que o preparativo para nosso casamento ainda está tão longe. É errado essas nossas recaídas e desejos? O que podemos fazer com relação a isso?
    Obrigada.

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    Respostas
    1. É a pergunta que acho mais difícil responder porque o que penso não quer dizer que é o certo e nem que agrada os demais. Mas pense o seguinte: Se isso lhe faz se sentir mal evite certos ambientes e/ou situações. Procure favorecer o lado que você quer que ganhe. Respondendo-lhe de forma mais franca: Sexo antes do casamento nem sempre é pecado mas não é bom que se faça antes. Por que digo isso? Porque para mim o casamento não está no papel e sim na união. Entretanto, hoje o sexo não tem o sentido que se tinha na época de Jesus. Hoje é quase que só por prazer. Não há mais aquele respeito que se deveria ter pelo outro. Por isso digo que o sexo antes do casamento não é aconselhável. Além do mais a sociedade cristã se escandaliza com essa prática precoce.

      Agora, por causa desta resposta minha cabeça fica a prêmio aqui! rsrsrs

      Deus os abençoe

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