terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Jornal Quem me Dera - Publicação 003

Por Carlos Chagas

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Jornal "Quem me Dera" - Publicação 003

Contém imagens da Internet e edições/criações por minha conta

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O arquivo é TORRENT? E agora? Como realizo o download?

Por Carlos Chagas

Não sabe baixar arquivos TORRENT? Pois aqui irei ensiná-lo.

1º - Baixe o programa adequado para baixar o arquivo deseja via TORRENT. Eu uso o Utorrent. Clique aqui e baixe-o.

2º - Instale-o. Após isso reinicie o Windows.

3º- Baixe o TORRENT do arquivo que deseja ter. Caso já o tenha baixado, clique nele duas vezes e espere o Utorrent abrir e lhe apresentar uma janela especificando quais arquivos você está prestes a baixar com o TORRENT selecionado.

4º- Dê "OK" e espere o download.

Fácil não é?


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Armas de brinquedo para crianças: O que fazer diante disso?

Por Carlos Chagas

Semana passada postei aqui no blog um material sobre a criança e as armas de brinquedo, onde psicólogos discutem o que pode ser prejudicial a uma criança. Diante de tal matéria, que é pertinente para nós nos dias atuais, achei por demais importante publicar algo teológico que reflita tal assunto.

Sabe-se que a violência contra o próximo não se enquadra na realidade cristã. Todavia sabe-se que sem a violência nenhuma sociedade pode sub existir. Como exemplo cita-se a polícia, que por meio de intervenção violenta, seja esta física ou legal, dita até aonde vão os limites de ação humanos para evitar mal maior.  Assim sendo, entende-se que a violência está presente na sociedade, seja esta cristã ou não, e que a mesma influencia quem a vê.

No caso das crianças tal violência também é assistida pelas mesmas limitando-se na sua compreensão devido à maturidade dos pequenos. Logo, a pergunta: "Seria perigoso deixar meu filho, que é cristão, brincar com armas de brinquedo?". A resposta é: Depende.

Como teólogo que sou acredito que pode ser perigoso para uma criança participar de qualquer atividade social quando esta não possui um moderador, que melhor entende-se como sendo os pais. Uma criança sem uma arma de brinquedo não está isenta da violência já que a mesma terá amiguinhos violentos, a TV, que divulga a violência, e diversas outras situações que denotam violência. Logo, a presença de uma pessoa equilibrada se faz necessária para toda e qualquer criança.

Concordo com os psicólogos que dizem ser importante que os pais brinquem com seus filhos e que os mesmos conversem com eles. As dúvidas devem ser sanadas e as posturas adotadas pelos pequenos devem ser analisadas.

Concluindo, percebe-se que o simples fato de proibir brinquedos ditos "violentos" em nada evitam que crianças se tornem violentas. Costumo brincar: "No Oriente crianças costumam ir às sinagogas para que futuramente se tornem homens-bombas...". Espero que aqui no Ocidente isso não esteja acontecendo!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A escola deve ou não permitir armas de brinquedo?

Postado por Carlos Chagas

Há algum tempo li uma matéria muito interessante sobre a criança e as armas de brinquedo. Tal matéria me levou a pensar sobre qual postura cristã deveríamos ter mediante uma criança que quer ganhar uma arma de brinquedo. Antes de mais nada vamos à matéria abaixo:


De Cristina Coelho

A resposta é sempre polêmica, pois há os que acham que sim e os que acham que não. Será que esses brinquedos realmente são prejudiciais para a formação moral das crianças? Será que uma arma de brinquedo na mão de uma criança estimula a violência? Proibir a venda de armas de brinquedo diminui atitudes violentas nas crianças?

No dia a dia, as crianças, principalmente os meninos, brincam espontaneamente de luta, imitando seus super heróis favoritos. Um graveto ou até mesmo a própria mão podem se transformar numa arma. As crianças elaboram suas vivências diárias nas brincadeiras de faz de conta. Cabe ao adulto demarcar para elas os momentos em que o brincar ultrapassa o limite do faz de conta tornando-se real e podendo realmente machucar. De acordo com a educadora e psicóloga Beatriz Ferraz “quando uma criança inicia uma brincadeira, ela sabe que está atuando em um universo que não é o do mundo real e sim o do faz de conta, portanto sente-se com mais liberdade para colocar seus sentimentos em jogo, pois sabe que não sofrerá as consequências do mundo real”. Portanto, as armas de brinquedo devem ser diferentes das armas reais, “com um material diferente, de plástico, colorido, leve, com formato diferente. Esses elementos ajudam a criança a diferenciar o brinquedo do objeto real e, por consequência, ajudam a compreensão de que as armas que possuem não são de verdade - as ações que fizer com as mesmas, também não terão uma consequência real.” A criança tem necessidade de analisar e entender a realidade ao seu redor e uma das maneiras de conseguir isso é através das brincadeiras de faz de conta. “Conversar em casa sobre o que assistem na televisão é de fundamental importância para as famílias, pois dessa forma ajudam seus filhos a formarem os valores sobre aquilo que estão entrando em contato e a partir daí, terem opiniões e conhecimento sobre o assunto.” Para a escola tal discussão é também significativa.

O adulto não deve estimular a criança a brincar com armas de brinquedo, não por causa da brincadeira em si, é porque pode passar uma mensagem de que a violência é algo aprovado por ele, algo natural. A brincadeira é sempre uma simulação, uma representação do mundo real e a criança sabe distinguir a realidade da fantasia. Volto a afirmar, mais uma vez, o diálogo é essencial. E necessário que os adultos conversem com a criança sobre a violência que ela está exposta e a violência que está nos jornais, na TV, na rua. Não dá para negar.

O Estatuto de Desarmamento, em vigor desde 2003, proíbe a fabricação de armas de brinquedo que se pareçam com as verdadeiras. Para a doutora em sociologia Irene Rizzini, vice-presidente da Childwatch International Research Network, “a arma de brinquedo por si só, não estimula um comportamento agressivo numa criança. E preciso um conjunto de fatores. Se a criança tiver elos fortes com adultos que realmente se importam com ela, os brinquedos agressivos não provocarão atitudes predominantemente violentas dela perante a vida.

A professora da faculdade de pedagogia da USP Tizuko Morchida Kishimoto vai mais longe. “Não é porque o menino brinca com a arma ou aponta o dedo que ele vai virar bandido. Se a criança quiser brincar de guerra, nem precisa de arma de plástico.

Melhor do que comprar um brinquedo violento ou não, é sentar no chão ao lado de seu filho e brincar como criança. Além de ser divertido, é o melhor incentivo para o equilíbrio emocional que uma criança pode ter.

Cristina Pinto Coelho - CRP 13511/04 - Psicóloga escolar da Escola Algodão Doce

Para uma abordagem teológica sobre o assunto clique aqui.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Islã: Seu significado, doutrina, vida religiosa e teologia - PARTE 3/3

Por Carlos Chagas

Atenção: Este artigo é uma trascrição literal de um trecho do livro chamado "O livro das Religiões" de Gaarder, Notaker e Hellern exceto pelas figuras. Os méritos são dos autores.

Esta é uma continuação da 2ª Parte (para lê-la clique aqui)

Relações humanas — ética e política

Tradicionalmente, no islã não há distinção entre a religião e a política, tampouco entre a fé e a moral. Todas as obrigações religiosas, morais e sociais do homem estão estabelecidas na sagrada lei  muçulmana, a xariá.

Xariá significa "caminho para o oásis", ou seja, o caminho correto para a conduta humana, que foi mostrado por Deus ao homem. A lei sagrada se expressa sobretudo no Corão, que é muito mais que um texto religioso. Trata-se de um livro de leis que contém instruções fixas e rígidas sobre o governo da sociedade, a economia, o casamento, a moral, o status da mulher etc.

Quando o Corão não dá instruções definitivas, os muçulmanos se voltam para a suna. Eles estudam os exemplos dados por Maomé e pelos califas. Relatos sobre a vida de Maomé e suas pregações foram escritos em coletâneas chamadas hadith, durante os primeiros séculos após a morte do profeta.

Tanto o Corão como as narrativas hadith se referem a um tipo de sociedade que hoje em dia praticamente não existe mais. Portanto, interpretar e adaptar as regras da escritura e da tradição é uma tarefa considerável. Ela pode ser realizada segundo dois princípios diferentes, o da similaridade e o do consenso.

Princípio da similaridade ou analogia. Para solucionar um problema totalmente novo, encontra-se um exemplo semelhante (ou análogo) no Corão, ou um precedente, e se estuda a base para uma decisão.

Princípio do consenso. Diz-se que Maomé afirmou que os fiéis nunca poderiam concordar coletivamente acerca de algo que estivesse errado. Assim, uma decisão que os fiéis tomam em comum pode ser vista como lei por seus representantes, os especialistas legais. Um exemplo ocorreu quando os líderes religiosos resolveram proibir o café. A decisão foi recebida com protestos tão veementes pelas pessoas comuns que os líderes concordaram em anular a proibição.

O movimento xiita utiliza um terceiro princípio, relacionado com seus conceitos sobre a revelação. Os sunitas afirmam que a revelação vem apenas uma vez, em sua forma final. Porém, para os xiitas ela pode ser contínua, por intermédio de seus líderes, os imãs. Isso implica que é possível dar novas interpretações da lei, baseadas na "compreensão pessoal" do imã.

Tradição e reforma

Maomé e os primeiros califas eram tanto líderes políticos como religiosos. Tinham a capacidade de usar o Corão como guia em todas as áreas da vida social, sem muita dificuldade.

Em épocas mais recentes, os encontros com a cultura e a economia do Ocidente ocasionaram certas mudanças. No século XIX a Turquia lançou uma série de reformas legais destinadas a facilitar a cooperação com a Europa Ocidental e a dar mais segurança legal aos não-muçulmanos que residem dentro de suas fronteiras. O resultado foi a emergência de um sistema legal com dois níveis: a lei sagrada, que se aplica sobretudo aos assuntos particulares, e o direito público, que é secular.

Essa dualidade ficou ainda mais pronunciada em alguns dos novos Estados nacionais que foram surgindo, muitas vezes com líderes influenciados pelos ideais ocidentais.

Além do direito público, fundamentado em princípios legais gerais, muitos países possuem um direito privado, que é da competência de tribunais religiosos especiais. Ele se aplica particularmente aos assuntos de família e de herança. Ao mesmo tempo, há uma pressão cada vez maior para que os princípios islâmicos sejam a base do direito público, como, por exemplo, da justiça criminal. Em 1972 a Líbia introduziu uma lei de justiça criminal apoiada na xariá. Ela inclui, por exemplo, a proibição de servir e beber álcool. A punição para os ladrões é a amputação da mão direita.

No Paquistão e no Irã, os levantes políticos da década de 1970 intensificaram o domínio do islã sobre a vida social. Todavia, tornou-se óbvio, mesmo na Arábia Saudita, onde a xariá é universal, que é difícil ser totalmente coerente. Há diversas áreas, sobretudo a econômica, onde a xariá não é praticada.

A Turquia é uma exceção no mundo islâmico. Depois que o califa foi deposto, Mustafá Kemal "Ataturk" construiu com seu povo um Estado moderno em linhas ocidentais, onde o Estado e a religião
foram devidamente separados. Em 1926 a xariá foi substituída nesse país por um código civil que julga as pessoas segundo uma lei comum, independentemente de religião.

Economia

O Corão tem uma visão favorável da atividade econômica. Menciona em particular o comércio, que era a principal fonte de subsistência em Meca, cidade de trânsito na época de Maomé. O Corão não questiona o direito à propriedade privada, mas há arranjos especiais que impõem certas limitações à riqueza e à propriedade. A mais importante é a proibição dos juros, proibição que não é aplicada de modo uniforme, em particular na área das finanças internacionais. A obrigação religiosa de dar esmolas passou a ser, na prática, uma taxa ou um imposto sobre a propriedade.

Em vários trechos o Corão alerta que as riquezas se tornam uma tentação que afasta as pessoas de Deus. 

O pensamento social em que até certo ponto se baseia a idéia de caridade afirma que os ricos devem dar aos pobres. Os políticos de mentalidade reformista transformaram esse princípio numa política econômica de cunho socialista. Na maioria dos países árabes impera o mercado livre na economia.

As mulheres no islã

Duas citações do Corão demonstram como este pode ser usado para fundamentar duas visões bem diferentes do papel da mulher: "Os homens têm autoridade sobre as mulheres porque Deus os fez superiores a elas" (sura 4:31). "As mulheres devem, por justiça, ter direitos semelhantes àqueles exercidos contra elas" (sura 2:228).

O contraste no tratamento de homens e mulheres é visível numa série de áreas da vida social, sobretudo nas leis relativas ao casamento. Mas, como muitos estudiosos islâmicos já indicaram, há também uma série de leis que protegem as mulheres dentro do casamento. Quando o contrato de casamento é assinado, o marido paga um dote que permanece propriedade da esposa e não pode ser usado sem o consentimento dela.

A mulher só pode ter um marido, ao passo que os homens podem ter até quatro esposas. A poligamia para os homens não era rara no Oriente Médio na época de Maomé. A exigência deste de que um homem não deve tomar mais esposas do que pode sustentar teve muitos efeitos positivos em sua época. Hoje, a poligamia é proibida na Turquia e na Tunísia.

O divórcio é possível, mas apenas quando iniciado pelo marido, que é responsável pelo lado financeiro do casamento. Há regras e condições abrangentes destinadas a evitar o excesso de facilidades para o divórcio, o qual, segundo Maomé, é "a atividade legal menos preferida por Deus". O índice de divórcios nos países árabes é o mais alto do mundo.

O marido também tem o direito de punir fisicamente a esposa se ela for desobediente. "Quanto àquelas de quem temes desobediência, deves admoestá-las, enviá-las a uma cama separada e bater nelas", diz a sura 4.

Diferentemente da circuncisão para os homens, a excisão do clitóris (mutilação genital feminina) não é obrigatória para as mulheres; tampouco se menciona tal mutilação no Corão. Mesmo assim, ela é praticada com freqüência no Norte da África. Nos anos recentes, porém, vem encontrando forte oposição por causa de seus efeitos negativos sobre a vida sexual da mulher.

Nem mesmo a tradição de usar véu, ou chador, deriva do Corão, mas ela se difundiu por amplas áreas geográficas, independentemente da religião. Em sua origem, tal moda se limitava às classes superiores, não tendo penetração na sociedade agrícola, onde as mulheres deviam trabalhar no campo. A luta contra o véu vem sendo uma questão predominante na modernização de muitas nações árabes; entretanto, o reavivamento islâmico dos anos recentes também fortaleceu o apoio ao véu.

A filosofia no islã

O islã se espalhou pela Ásia e pela África, mas foi a conquista da Espanha que mais afetou a história européia. Entre os séculos VIII e XV, os árabes dominaram a parte sul da Espanha. Eles romperam com o califa de Bagdá e estabeleceram seu próprio califado em Córdoba. Essa cidade se tornou um centro cultural que atraía estudiosos de todo o mundo muçulmano, e demonstrava grande tolerância para com os judeus e os cristãos. A cultura hispano-moura passaria a exercer forte influência na Europa, não só na arquitetura e na literatura, mas também na filosofia. Foi graças aos filósofos árabes do Sul da Espanha que a Igreja católica descobriu Aristóteles, filósofo clássico da Grécia que haveria de desempenhar um papel considerável na formação do pensamento católico durante a Idade Média.

Averróis de Córdoba

O maior dos filósofos de Córdoba foi Ibn Ruchd, ou Averróis (1126-98). Ele acreditava que era seu dever defender a filosofia e a ciência, numa época em que forças poderosas dentro do islã desejavam impedir todo pensamento independente. Averróis foi um muçulmano devoto que aceitava a autoridade de Maomé e não questionava a veracidade do Corão. Acreditava, no entanto, que as afirmações do Corão podiam ser interpretadas de várias maneiras. O Corão é escrito para todas as pessoas, tanto cultas como ignorantes, e portanto utiliza um estilo alegórico bem específico. Os que não têm instrução precisam imaginar Deus sob uma forma humana e o paraíso como um lugar de confortos materiais. Contudo, comentava Averróis, os indivíduos mais esclarecidos percebem que esses conceitos são apenas símbolos que carregam um significado espiritual. 

Averróis desejava combinar a religião com o pensamento filosófico e científico, mas a oposição a esse ponto de vista não parou de crescer. Nos séculos que se seguiram à morte de Averróis, os estudiosos muçulmanos se concentraram no estudo das escrituras e da tradição. No século XX, porém, novas idéias de reforma e liberalização vêm sendo debatidas, e muitos muçulmanos têm tentado adaptar sua religião às condições atuais e à ciência moderna.

O Sufismo — O Misticismo do Islã

Os primeiros séculos da história do islã foram dominados pelas atividades externas, pela guerra e pela diplomacia. Entretanto, logo surgiu um movimento que incentivava a reclusão e a meditação. Essa tendência recebeu o nome de sufismo, provavelmente em virtude das vestes de lã usadas por seus seguidores (a palavra árabe para "lã" é suf).

Os ideais do islã podem não incluir o ascetismo, mas apelam para que se adote uma atitude séria em relação ao Juízo Final, num estilo de vida simples e responsável. Por isso muitos muçulmanos se indignaram com a vida luxuosa que passara a reinar na corte do califa de Bagdá. Eles desejavam levar uma vida puritana, de jejum, oração e meditação.

Ao mesmo tempo, o conceito divino ia se alterando. Os sufis acreditavam que Deus era, acima de tudo, um Deus amoroso com quem o homem podia alcançar uma união mística. Esse pensamento parecia contrastar substancialmente com a idéia de Deus como o juiz exaltado, inacessível, a quem o homem deve se submeter. Em conseqüência, os primeiros místicos logo entraram em conflito com a corrente principal do islã. Em certos casos foram acusados de blasfêmia por causa de seu conceito de Deus. Um dos místicos que mais se destacaram foi executado. Tratava-se de Halladj, que acreditava que Deus passara a morar dentro dele, e que, portanto, havia total unidade e harmonia entre Deus e ele. Para os sufis, Jesus era tão importante como Maomé, e muitas palavras atribuídas a Maomé lembram palavras de Jesus registradas nos evangelhos, como, por exemplo: "Eu sou a verdade", "Quem me vir, verá a Ele", e também, quando foi crucificado: "Perdoai-os, Senhor, tende piedade deles". Em suma, no início do sufismo Jesus representou um papel importante como ideal ascético.

Um século e meio depois de Halladj, Ghazali tentou combinar a devoção do sufismo com os dogmas da corrente principal do islã. Ghazali foi um dos maiores pensadores do mundo. Nem o estudo da filosofia, nem o da lei o satisfizeram. Após uma longa busca, ele tomou o caminho do misticismo, onde todos os desejos e todas as preocupações são afastadas para que o pensamento possa se concentrar em Deus. A conclusão de Ghazali foi que a verdade mística, real e última não pode ser aprendida, mas deve ser experimentada por meio do êxtase.

Em seu cerne, o misticismo sufi tem características comuns com o misticismo de outras religiões. O sufismo também usa exercícios especiais de meditação, como, por exemplo, uma oração ou uma palavra que é repetida continuamente, por vezes acompanhada de determinados movimentos ou exercícios de respiração. Trata-se de uma técnica para entrar em transe. Um auxílio usual é o rosário e a repetição dos "99 mais belos nomes de Deus".

O sufismo não é uma tendência organizada. Encontram-se sufistas tanto entre os muçulmanos xiitas como entre os sunitas.

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REFERÊNCIA:

GAARDER, Jonstein; NOTAKER, Henry; HELLERN, Victor. O livro das Religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. págs.: 130-136.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Islã: Seu significado, doutrina, vida religiosa e teologia - PARTE 2/3

Por Carlos Chagas

Atenção: Este artigo é uma trascrição literal de um trecho do livro chamado "O livro das Religiões" de Gaarder, Notaker e Hellern exceto pelas figuras. Os méritos são dos autores.

Esta é uma continuação da 1ª Parte (para lê-la clique aqui)

O credo

O credo do islã está resumido nesta curta declaração de fé: "Não há Deus senão Alá, e Maomé é seu Profeta".

Esses dois pontos constituem o núcleo da doutrina islâmica: o monoteísmo e a revelação por intermédio de Maomé.

Monoteísmo

Sobre o nome do Deus muçulmano, Alá, é importante observar que não se trata de um nome pessoal, e sim da palavra árabe que significa "Deus". Os judeus e os árabes cristãos já a haviam empregado antes de Maomé. Ela também designava um deus que habitava o céu e que era adorado na antiga Arábia.

A palavra árabe Alá se relaciona etimologicamente com a palavra hebraica El, que é usada na Bíblia para nomear o Deus dos hebreus.

Maomé atacou com veemência o politeísmo dos árabes. Ele ressaltou, assim como fizeram os judeus e os cristãos, a crença num só Deus, que é criador e juiz. Esse Deus criou o mundo e tudo o que nele há, e no último dia irá trazer todos os mortos de volta à vida para julgá-los.

O islã não proíbe que se desfrute a vida na terra, mas lembra que se deve ter sempre em mente o fato de que esta não passa de uma preparação para a vida que começará depois do julgamento divino. Essa outra vida — seja no céu ou no inferno — é descrita em detalhes no Corão, mas há discordâncias quanto a sua interpretação, que pode ser literal ou metafórica.

A crença num julgamento final após a morte — tão significativa nas pregações de Maomé — é necessária, segundo muitos muçulmanos, para que o homem assuma a responsabilidade sobre seus atos. A idéia de um julgamento cria um senso moral de dever que é relevante para a comunidade.

No entanto, Deus não é apenas um juiz onipotente; além disso, é repleto de amor e compaixão. Todas as suras do Corão começam com as palavras: "Em nome de Alá, o Misericordioso, o Compassivo". Embora Deus seja aquele a quem todos devem se submeter, também é o que perdoa e auxilia o homem. 

Uma expressão islâmica corrente, que é sempre repetida no chamado às preces, é "Alá hu Akbar": "Deus é o maior", ou "Deus é maior". Entre outras coisas, isso significa que Deus é maior do que qualquer coisa que possamos compreender. Ele não pode ser comparado com as pretensões humanas. Não pode ser assemelhado a nada, e não há ninguém que seja seu igual.

O homem não merece nada de Deus, não pode invocar direitos sobre nada. A salvação e a fé brotam somente da graça de Deus, e são coisas que os seres humanos podem apenas ter esperança de conseguir.

O fato de que Deus é maior também implica que ele ultrapassa todas as concepções dos mortais. Este é o argumento utilizado pelos muçulmanos para explicar aparentes contradições no Corão.

Revelação

Deus falou ao homem por intermédio de seu profeta Maomé, o último de uma linha de profetas que ele enviou à humanidade: Adão, Abraão, Moisés, Davi e Jesus. Originalmente, Maomé se considerava parte da comunidade judaico-cristã. Aos poucos ele se distanciou tanto dos judeus como dos cristãos. Logo de início os judeus apontaram que Maomé cometera erros em sua reinterpretação das narrativas do Antigo Testamento. Maomé não aceitou a acusação: as revelações que recebia eram a Palavra de Deus; assim, os judeus é que deviam ter distorcido o significado de suas escrituras sagradas.

A fim de criar um fundamento histórico para sua nova religião, Maomé se reportou a Abraão e seu filho Ismael, antepassado dos árabes. Ensinou que Abraão e Ismael tinham reconstruído a sagrada Caaba, que fora erigida por Adão mas destruída pelo dilúvio na época de Noé. Segundo Maomé, os judeus, os cristãos e os politeístas haviam corrompido o monoteísmo original de Abraão.

Quando chegou a Medina — onde havia uma grande população judaica —, Maomé ensinou que se deve orar com o rosto voltado na direção de Jerusalém. Depois do rompimento com os judeus, ficou decidido que o fiel deve se virar de frente para Meca. E a sexta-feira foi designada como o dia festivo da semana em vez do sábado, que é o Shabat judaico.

O ataque mais severo de Maomé contra o cristianismo se dirigiu à Trindade, que, segundo ele, é uma quebra do monoteísmo puro.

O Corão islâmico é, literalmente, a Palavra de Deus. Pode-se ilustrar melhor essa idéia fazendo uma comparação com o cristianismo.

O cristianismo ensina: "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós" (João 1,14). Jesus é a revelação. No islamismo, Maomé é apenas um intermediário, pois a verdadeira revelação ocorre no próprio Corão. No cristianismo a Palavra de Deus se tornou uma pessoa; no islamismo, um livro. Portanto, não é correto comparar Jesus com Maomé e a Bíblia com o Corão. Seria mais apropriado dizer que existe um paralelo entre Jesus e o Corão.

Outra diferença importante entre a Bíblia e o Corão é que a Bíblia é um texto histórico, ao passo que o Corão é "incriado" e existe para sempre.

Obrigações religiosas — os cinco pilares

As obrigações religiosas dos muçulmanos são consideradas "os cinco pilares":

  • o credo;
  • a oração;
  • a caridade;
  • o jejum, e
  • a peregrinação a Meca.

1. Credo

"Não há outro Deus senão Alá, e Maomé é seu Profeta." 
Esse credo é repetido pelos fiéis várias vezes todos os dias e proclamado do alto dos minaretes nas horas de oração. Esse ato de fé se encontra nas paredes das mesquitas. E a primeira coisa que se deve sussurrar ao ouvido da criança recém-nascida e a última a se murmurar no ouvido dos moribundos. O ato de fé é o ponto-chave da religião islâmica. 

2. Oração

O islã requer que o fiel diga suas preces cinco vezes por dia. Antes de cada um dos cinco horários fixos para a oração, ouve-se o chamado à reza vindo dos minaretes, que são as torres das mesquitas. Antigamente um homem denominado muezim fazia o chamado; hoje, porém, em geral é uma fita gravada que repete as conhecidas palavras:

Alá é Grande,
não há outro Deus senão Alá
e Maomé é seu profeta.
Vinde para a oração, vinde para a salvação,
Alá é Grande,
não há outro Deus senão Alá.

Antes da oração o fiel deve estar ritualmente limpo. Os muçulmanos crêem que as pessoas se tornam impuras em razão de suas funções corporais — inclusive atos sexuais — e, portanto, devem passar por uma purificação. Isso significa lavar o corpo inteiro em água corrente. Em outras ocasiões, basta lavar as mãos e o rosto. Não é raro que haja banhos especiais próximos às mesquitas. Tais regras levaram a um alto padrão de higiene nos países árabes, já desde os tempos antigos (veja as suras 4:46 e 5:8-9).

A maioria das orações islâmicas são fórmulas fixas, um ritual que exige palavras e gestos bem definidos. Embora exista também a oração espontânea, na qual o fiel pode se dirigir a Deus para falar de algo pessoal, a oração ritual deve ser dita em primeiro lugar. Ela consiste sobretudo em louvores a Deus. Uma oração constantemente repetida é a sura 1 — o Exórdio:

Louvado seja Deus, Senhor do Universo,
O Caridoso, o Compassivo,
Soberano do Dia do Juízo!
Só a Ti adoramos, e só a Ti recorremos em busca de ajuda.
Guia-nos pelo caminho direito,
O caminho daqueles a quem Tu favoreceste,
Não daqueles que incorreram na Tua ira,
Não daqueles que se desviaram.

As cinco orações diárias podem ser ditas em qualquer lugar. A maioria das pessoas possui um tapetinho ou uma esteira especial onde se ajoelham e rezam, e seus gestos são sempre dirigidos para Meca. Os gestos têm tanto valor quanto as palavras; eles enfatizam a submissão do homem — a palavra islã significa isso, "submissão" — e mostram que o corpo e a alma são igualmente  importantes.

Sempre que possível, o fiel deve participar das orações da congregação pelo menos uma vez por semana, de preferência numa mesquita. Isso é especialmente relevante nas orações de sexta-feira ao meio-dia, quando o serviço inclui um sermão. "Fiéis, quando fordes chamados para as orações de sexta-feira, apressai-vos a vos lembrar de Deus e cessai vosso comércio" (62:9).

Os que comparecem à mesquita devem estar respeitosamente vestidos, tirar os sapatos antes de entrar e acompanhar os movimentos de quem preside as orações de maneira ordenada e disciplinada. O líder das orações também fica de frente para Meca, isto é, de costas para a congregação.

Normalmente são só os homens que oram no salão principal da mesquita. As mulheres ficam numa galeria, ou escondidas atrás de uma cortina bem no fundo. 

Qualquer homem adulto muçulmano pode ser um dirigente das preces, um imã. Não há sacerdócio organizado no islã. Entretanto, em geral o dirigente das orações e responsável pelos sermões tem uma boa educação teológica e é funcionário da mesquita.

3. Caridade

A caridade é, na verdade, uma taxa ou um imposto formal sobre a riqueza e a propriedade. Está fixada em 1/40, ou seja, 2,5%, mas as pessoas são incentivadas a dar mais. De acordo com Maomé, essa taxa deve ser tirada dos ricos e dada aos pobres. "Devem-se dar esmolas apenas aos pobres e destituídos; àqueles que se empenham na administração das esmolas e àqueles cujos corações são simpáticos à Fé; para a libertação dos escravos e dos devedores; para o avanço da causa de Deus; e para o viajante em necessidade."

"Caridade" não é uma tradução plena da palavra árabe, pois ela é mais do que um presente. É um dever para o muçulmano, um dever dado por Deus, como diz o Corão.

Quando essa taxa é recolhida e destinada a usos sociais, ela se torna parte da política oficial de redistribuição de um Estado islâmico. O objetivo é diminuir as desigualdades entre ricos e pobres, sem interferir no princípio da propriedade privada.

O dever de dar esmolas também influenciou o desenvolvimento do socialismo islâmico em alguns países.

4. Jejum

O Corão proíbe os muçulmanos de comer porco, por ser um animal impuro. Proíbe também o álcool. Afora isso, o islã não prega o ascetismo de qualquer espécie. Ao contrário, o Corão diz: "Deus deseja o vosso bem-estar, não o vosso desconforto". A grande exceção é o jejum durante o Ramadan, o nono mês do ano lunar. Entre o nascer do sol e o pôr-do-sol é proibido comer, beber, fumar ou ter relações sexuais. Os viajantes, os doentes, as crianças e as mulheres grávidas ou que estão amamentando são exortados a cumprir o jejum numa data posterior.

À noite essas proibições são suspensas; assim, em diversos lugares a vida noturna é animada e há boa comida e bebida, enquanto muitos fiéis se reúnem nas mesquitas para passar a noite ouvindo o Corão. Ramadan, o mês de jejum, foi o mês em que Maomé teve sua primeira revelação. O jejum simboliza o retiro que cada muçulmano deveria fazer, como fez Maomé.

5. Peregrinação à Meca

Todo muçulmano adulto que dispõe de meios para realizar uma peregrinação a Meca, deve fazê-lo pelo menos uma vez na vida. Ali se encontra o santuário sagrado mais antigo do islã, a Caaba. Trata-se
de um edifício quadrado coberto por um pano negro. Num canto da Caaba fica uma pedra negra incrustada na parede; essa pedra tem um enorme significado simbólico.

Para os muçulmanos, Meca e a Caaba são o centro do mundo. Não só os fiéis se voltam para Meca quando oram; também as mesquitas são construídas com o eixo mais longo apontando para lá. Os mortos são enterrados voltados para Meca, e a cidade é o destino das peregrinações.

Meca é visitada todos os anos por cerca de 1,5 milhão de peregrinos, metade dos quais vem de fora da Arábia. O número de peregrinos aumentou de maneira extraordinária depois que se organizaram os vôos charter para lá. A grande mesquita de Meca foi completamente reconstruída e hoje pode abrigar 600 mil pessoas. Só os que podem provar que são muçulmanos recebem visto para entrar
na cidade santa.

Quando os peregrinos se aproximam de Meca, passam a usar vestes brancas. Nos dias que se seguem eles irão realizar uma série de ritos, dentro e fora da cidade. A maioria desses rituais enfatiza sua
ligação com Abraão ou Maomé, pois ambos mostraram obediência a Deus. O primeiro rito consiste em caminhar em torno da Caaba sete vezes, e muitos tentam beijar a pedra negra. Diz a tradição que essa
construção foi erigida por Abraão e Ismael, filho de Abraão com sua escrava Agar.

Outro momento importante é quando os peregrinos se postam no monte Arafat, desde o meio-dia até o pôr-do-sol, sem permissão para proteger a cabeça do calor intenso. Foi no monte Arafat que Adão e Eva se encontraram de novo, depois que foram expulsos do jardim do Éden. Os peregrinos passam várias horas ali juntos, afirmando assim seu pacto com Deus e sua crença de que não há outro Deus.

O clímax vem com o festival dos sacrifícios. Os peregrinos matam um animal (um carneiro, bode, camelo, boi etc). Esse sacrifício serve para lembrar aos muçulmanos que Abraão foi tão obediente a Deus que se dispôs a sacrificar seu próprio filho (embora no islã o filho seja chamado de Ismael, e não de Isaac como nos Livros de Moisés). Deus, porém, foi misericordioso e lhe enviou um animal para que ele o sacrificasse em lugar do filho. Aqui se revela claramente o cerne religioso da peregrinação: a obediência à vontade de Deus.


REFERÊNCIA:

GAARDER, Jonstein; NOTAKER, Henry; HELLERN, Victor. O livro das Religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. págs.: 123-130.