Por Carlos Chagas
Em 2007 foi promovido um debate entre um ateu e um cristão sobre as ideias propagadas no livro "Deus, um delírio" de Richard Dawkins. Este autor é biólogo e professor atuante na sua área e também foi participante do debate como defensor, é claro, do ateísmo moderno, que leva o nome de pró-ateísmo na atualidade. Do outro lado estava o doutor em matemática John Lennox, que é cristão e que tentou defender o papel da religião (e não só do cristianismo apenas) na sociedade.
Em 2007 foi promovido um debate entre um ateu e um cristão sobre as ideias propagadas no livro "Deus, um delírio" de Richard Dawkins. Este autor é biólogo e professor atuante na sua área e também foi participante do debate como defensor, é claro, do ateísmo moderno, que leva o nome de pró-ateísmo na atualidade. Do outro lado estava o doutor em matemática John Lennox, que é cristão e que tentou defender o papel da religião (e não só do cristianismo apenas) na sociedade.
Como todo debate deste tipo sabe-se que ninguém será vitorioso ou derrotado. É evidente que nenhum dos lados convencerá o outro e que, na verdade, o debate é apenas uma espécie de exposição de argumentos de ambos os lados. Tal debate tenta promover o envolvimento das ciências entre si numa espécie de diálogo num assunto em comum, no caso, Deus.
Neste artigo eu quero deixar minha humilde visão sobre este debate que, aos meus olhos, faltou um pouco de sal no quesito Teologia. Talvez se fosse um teólogo de peso e não um matemático quem refutasse o livro seria um tanto quanto interessante para aqueles que se dizem religiosos. Todavia não quer dizer que Lennox não deu conta do recado. Ele o mandou e com propriedade. Sendo assim, seguir-se-á uma simples compreensão minha do debate.
Sobre o pressuposto de Dawkins
Sabe-se que a ciência cresceu muito, a partir do século XV com o Renascimento, onde o humanismo tomou forma colocando o homem como o centro do conhecimento e, no Iluminismo, onde uma gama de conhecimentos divididos em áreas determinadas buscavam a explicação racional de como é o mundo ao seu redor. Assim, a razão do homem passou a ser a única ferramenta usada pelo cientista como forma de garimpar conhecimento.
Dawkins ataca a religião, já no início do discurso e durante ele todo, dizendo que somente a ciência procura explicar o mundo e não a religião. Lennox poderia ter alertado Dawkins de seu pressuposto filosófico que é o humanismo e a razão humana acima de tudo. Se ele tem a liberdade de dizer que é assim que deve ser (nos moldes humanistas) também Lennox poderia dizer que a real leitura que se deve fazer do mundo é somente nos moldes do teocentrismo. Todavia se cada um tomasse esse direcionamento, onde um tomaria um rumo e o outro um rumo diferente do primeiro, não haveria debate e sim uma exposição de ideias. Dawkins não abriu mão de seu raciocínio humanista e continuou sua caminhada de raciocínio. Contudo Lennox, para mim, foi um cavalheiro, deixando seus próprios pressupostos teocêntricos e trilhando, quando possível, uma nova trilha na visão humanista de Dawkins. Entretanto nem sempre Lennox pode seguir tal linha de pensamento, fazendo-o voltar ao seu estilo cristão de pensar.
Ainda sobre o pressuposto de Dawkins sobre a ciência ser a detentora da verdadeira leitura sobre o mundo, o ateu comete uma gafe na relação dos termos Ciência e Religião. Quando cita Ciência nos primeiros 25 minutos do debate, ele se refere a esta como sendo pessoas que trabalham arduamente em prol de descobertas. Mas quando cita o termo Religião este se refere a um sistema (e não a pessoas) que é falido e imóvel. Acredito ser uma falha de abordagem de Dawkins já que quando se refere a pessoas, a explicação toma sentido de que a ciência é versátil, e quando se refere a sistema reduz ao nível inferior a religião como algo inerte. Para quem quer comparar algo isso deveria ser feito no mesmo plano.
"...a fé é cega, a ciência é baseada em evidência..." 20m11s
Após assistir todo o vídeo percebi o quanto que Dawkins é relutante em usar para si próprio o termo "fé". Parece que para ele a fé é algo TOTALMENTE desprezível. E não é exagero quando digo tal coisa. Perceba em um dado momento do debate, que Lennox insiste em dizer que a ciência ateísta possui fé e como reação Dawkins faz caretas e abana a cabeça como reprovação (01h: 17m:10s). Lennox mostra claramente, assim como as declarações filosóficas de Aabe Soren Kierkegaard sobre o salto no escuro, que toda ciência e toda descoberta só é possível quando se cogita uma possibilidade que ainda não foi provada racional ou cientificamente. Se para religião isso se chama fé, para a ciência um termo próximo que explica tal coisa é "hipótese". Hipótese para a ciência é fé para a religião. Logo, se toda fé é cega a ciência bate a cara em todos os cantos de suas pesquisas.
Sobre "prova" e "evidência"
No minuto 27:32s do vídeo Lennox diz: "...Mas é claro que não falamos em prova. Só temos prova em sentido estrito, em meu próprio campo da matemática. Mas em outros campos, incluíndo a ciência, não podemos falar em prova. Podemos falar em evidência: O ponto em que nos convencemos além das dúvidas racionais".
Lennox deixa claro que a ciência ainda trabalha com definições que, apesar do absurdo, são ainda indefinidas. Dependendo da forma em que se aborda um assunto as conclusões podem variar. Por isso não se aceita prova científica, mas evidência.
Alguns equívocos na compreensão sobre o que seja ciência
- Achar que tudo que está além de seu alcance é irracional (27m52s);
- Achar que só a razão explica tudo. E o gosto pela música ou pelo perfume? Como se explica?
- Achar que a ciência não toma um partido subjetivo quando o assunto é moral, ética, ou seja, sentimento;
- Achar que sem a concepção sobre Deus o mundo será melhor (sem Deus a concepção de uma moral e de justiça morre com Ele);
A ciência cospe no prato que come
Segundo Lennox, e eu defendo a mesma ideia (29m:33s), a ciência moderna, como a conhecemos hoje, nasce no século XVI e XVII (acredito que foi antes: XIII adiante) no meio teísta. É fato que, com o passar do tempo, com uma visão mais antropocêntrica que teocêntrica, a ciência seria mais naturalista que mística ou sobrenatural. Era só uma questão de tempo. Não demorou muito. Três séculos mais tarde a ciência rompe completamente com o que chamam de religião dando o início ao ateísmo. Agora cientistas e filósofos do mundo inteiro dizem que a religião não serve para nada. Ora, se não serve para nada até esta ciência da atualidade não serve para nada, já que esta surgiu daquela.
"A religião é a força impulsionadora da ciência" John Lennox (30m:07s).
Outro problema é quando Dawkins questiona a existência de Deus alegando que ele não existe porque não é palpável e nem visto pela ciência. Lennox então cita um campo de estudos da ciência (neurologia?) onde a própria ciência alega que o processo dos átomos no corpo humano é um processo cego, aleatório e insensível. Logo, se forem levadas a cabo as palavras de Dawkins, a própria ciência está fadada ao descrédito. Isso sim é cospir no prato que come. (40m:20s)
44m40s: Quem criou o criador?
Dawkins afirma que a religião, sendo menor que Deus, não pode explicar Deus, que é maior. Mas, da mesma forma, a ciência, sendo menor que o funcionamento da vida, jamais poderá explicar tal coisa já que não foi ela quem criou e pelo fato de ser ela apenas uma leiturista da vida (aplicando o pensamento de Dawkins). E se evolução de conhecimento pode ser uma tentativa plausível de Dawkins para replicar o contra-argumento, segue-se que a compreensão sobre quem seja Deus também pode ser entendido como evolutiva. O próprio Pannemberg dizia isto. Assim, Lennox deixa claro que a ciência não pode explicar algo mais complexo já que seu limite se encontra no limite do cérebro e de seu dono que tenta fazer ciência.
Considerações finais
Por fim, no livro "Deus, um delírio", Dawkins afirma que todas as religiões são perigosas já que estas não aceitam que seus dogmas ou confissões de fé sejam questionadas sendo o cristianismo a mais perigosa delas (57m:18s). Isso leva as nações a experimentarem o mal que as religiões podem proporcionar (11 de setembro é um exemplo). E isso é fato.
Mas se Dawkins generaliza (e é o que ele gosta de fazer impensadamente) dizendo isso, o mesmo pode-se dizer da ciência quando não aceita ser questionada quanto ao seu direito de intervenção bélica (2ª Guerra Mundial e a bomba atômica) e com o esconder de ciências já descobertas que não são reveladas simplesmente porque ainda não é tempo de revelá-las, uma vez que se reveladas o dinheiro gerado com a revelação ainda não será recompensador. Um exemplo que pode ilustrar isso seria a criação do carro movido a hidrogênio, que em sua combustão gera água, ajudando na preservação do meio ambiente. Mesmo assim, após a criação deste automóvel no Japão, a indústria mundial não aceita o estudo disso já que o petróleo é fonte de riqueza e exploração da massa.
Alguns ainda especulam que já existe cura para o câncer e AIDS mas que se ganha mais com a extorsão do dinheiro do governo dizendo que já está quase se descobrindo a cura, sendo que esta cura provavelmente já foi alcançada mas que na verdade só está dando tempo ao assalto no governo mundial. Tal pensamento é uma possibilidade.
O fato de Dawkins dizer que a fé é perigosa não procede já que a ciência também é perigosa quando está nas mãos de pessoas erradas. Sabe-se que a fé é perigosa, no mesmo nível da ciência. Um exemplo para isso pode ser encontrado na vida de Einstein. Quando este cientista descobriu que a Alemanha de Hitler estava buscando maiores conhecimentos sobre uma bomba que trabalhasse o poder atômico de forma extremamente destrutiva (Bomba Atômica) rapidamente este, em nome da paz, mandou uma carta para o presidente norte-americano Roosevelt pedindo a ele que se apressasse com suas descobertas para que a bomba fosse finalizada pelos aliados e não pelo 3º Eixo. E foi o que aconteceu: Os EUA conseguiram inventá-la primeiro. Mais tarde a desgraça reinaria sobre duas cidades japonesas com a explosão dessas bombas. A desculpa? Frear de vez a guerra mundial. Mas o que de fato se viu foi uma briga de meio século entre os EUA e URSS (mais tarde Rússia) mais conhecida como Guerra Fria, onde ambas as nações brigavam entre si para o domínio do mundo.
Mas o mais interessante é a incoerência de Dawkins. Se antes ele combate a religião devido a sua fé e tradição, no meio para o fim do debate ele comete o suicídio idealista quando diz que quer deixar um legado para as futuras gerações (01h:04m:28s). Mas todo legado leva à tradição. Segundo o dicionário Aurélio Século XXI legado é: "Aquilo que alguém transmite a outrem, que uma geração, escola literária, etc., transmite à posteridade, etc". Ou Dawkins errou em sua colocação ou ele quer assumir o papel da religião combatida por ele, ou seja, ditar as regras.
Outro problema é achar que violência só o é quando fisicamente. Dizer que o ateísmo não gera violência (01h:12m:51s) é presunção. Só o fato de dizer que quer deixar um legado, afirmando que a religião é um mal e negando que a ciência atual deve um "obrigado" à religião por ter nascido do meio teísta já é uma violência.
Portanto, o que se conclui é que o debate entre ambos os lados continua sendo algo pertinente. O fato de não acreditar em algo de nada impede um DIÁ-logo (coisa que não houve efetivamente). Creio que todos já sabiam que nada seria provado como certo e errado. Num tempo onde verdades são relativas cabe ao telespectador apenas apreciar e julgar o que é bom e errado. Além do mais, tal vídeo serviu para mostrar que tanto a ciência quanto a religião devem buscar a verdade, já que esta não é dominada por ninguém (e nunca vai ser). Como já dizia Santo Agostinho: "A verdade não é de ninguém para que seja de todas".
P.S.: Ficou evidente que apenas ataquei Richard Dawkins e em momento algum ataquei a postura de Lennox. Por dois motivos: Primeiro porque acredito na existência de Deus, logo fico preocupado com a busca de alguns internautas por esse vídeo para apenas reforçar suas ideias ateístas. E segundo porque a proposta do vídeo era debater o livro "Deus, um delírio". Logo, o que deveria acontecer era mesmo uma réplica, já que a primeira palavra foi lançada pelo livro.
antes de fazer algum tipo de comparação entre a ciencia e a religião, lembre-se de que religião é uma coisa,ciencia é outra totalmente diferente.A ciencia não é uma sistema de ideias como a religião mas é um estudo preciso da materia.Dawkins tem absoluta razão em expor os perigos da fé religiosa, pois cada livro "sagrado" da humanidade não apenas se coloca como "verdade absoluta" mas tbm ridiculariza a religião diferente,essa forma de pensamento radical(que é a base de TODAS as religioes) causam inumeros conflitos no mundo.
ResponderExcluirA ciencia não trabalha com essa perspectiva que a religião trabalha,a ciencia é um questionamento da existencia humana e de toda a materia,ela não aponta o que é "certo" e o que é "errado" como a religião.
Prezado Éder;
ResponderExcluirDe antemão quero agradecer sua presença e comentário. Isso nos enriquece em intelectualidade e espiritualidade. Mas só uma pergunta retórica: Isso que você falou sobre a religião ser radical e se impor como verdade absoluta é uma resposta científica, final e absoluta? Se sim, então a ciência também é radical uma vez que a definição filosófica e do ideal por detrás do que seja religião está fechada e finalizada em suas palavras.
Valeu a participação
CHAGAS