Por Carlos Chagas
Uma vez comentada a primeira parte do livro, onde o autor Djalma Stuttgen trata da escravidão, passo agora a comentar sobre a segunda parte do livro que fala sobre a matança de animais e a aprovação e aceitação de Deus, tanto no AT quanto no NT.
No decorrer da leitura do livro "No Credo" percebe-se a riqueza de citações bíblicas que o autor Djalma Stuttgen inferiu em seu livro para mostrar que não é raso em leituras do livro sagrado que, para ele não o é. Respeitando sua posição não posso deixar de atestar que Stuttgen é um perito em localizar textos e citá-los bem como comentá-los criticamente.
Na segunda parte de seu livro ele comenta que a prática de sacrifícios de animais é algo comum e totalmente aceitável por Javé (Jeová). Ainda no decorrer da leitura percebe que não só Deus aceitava isso como também o povo de Israel e outros povos da época, deixando claro que o Egito era um povo que abominava tal prática.
Ainda na leitura do livro, em sua segunda parte, percebi algo incrível: a citação da escola javista como uma das que escreveram o AT (para ler mais sobre esta escola clique aqui). É muito difícil acharmos textos sobre a Bíblia que tenham a citação de escolas como a javista, eloísta, sacerdotal e deuteronomista. Sabe-se que cada uma tem sua particularidade e inferência no texto ao criá-lo ou redigi-lo. O fato é que quem chega a conhecer tais escolas e as compreende sabe que muita coisa deve ser considerada ao comentar suas composições. E é sobre isso que Stuttgen peca.
Resumidamente, para que você leitor entenda o básico sobre essas nomenclaturas (javista, deuteronomista, etc) existem duas grandes compreensões de formação do AT: Uma é de que Moisés e seus sucessores que escreveram o AT (compreensão mais comum nas igrejas de hoje aqui no Brasil) e escolas teológicas do judaísmo que, com o passar do tempo, elaboraram crenças complexas sobre Deus, povo e criação e, com isso, ao criarem os textos sagrados (Bíblia/AT) incutiram neles suas crenças. Para maior compreensão do que eu falo aqui, procure neste blog tais textos sobre essas obras no menu abaixo:
Para ler sobre a Obra Histórica Eloísta clique aqui.
Para ler sobre os Escritos Sacerdotais clique aqui.
Para ler sobre os Escritos Sacerdotais clique aqui.
Para ler sobre a Obra Histórica Eloísta clique aqui.
Para ler sobre a Obra Histórica Deuteronomista PARTE 1/2 clique aqui.
Para ler sobre a Obra Histórica Deuteronomista PARTE 2/2 clique aqui.
Responda você mesmo à pergunta: Moisés escreveu o Pentateuco?
Para ler sobre a Obra Histórica Deuteronomista PARTE 1/2 clique aqui.
Para ler sobre a Obra Histórica Deuteronomista PARTE 2/2 clique aqui.
Responda você mesmo à pergunta: Moisés escreveu o Pentateuco?
Não cabe aqui dizer se isto é digno de aceitação ou não no que tange à formação do AT, mas o fato é que se você usa a compreensão de tais escolas, você deve respeitá-las em suas elaborações e condições históricas.
Acredito que Stuttgen peca ao falar de tais escolas quando ele cita uma delas e não considera suas limitações. O Javista se preocupa com sua grande temática: O homem e sua relação com o mundo e com Javé/Jeová. O javista necessita compreender o homem. Logo, tudo gira em torno do humano.
Vale lembrar que qualquer religião é elaboração humana e esta só existe quando o homem, em seu meio e realidade atual, incute nesta religião sua integralidade vital. Ou seja: A religião é limitada ao que o homem ainda compreende e crê. Não se nega aqui a intervenção divina, mas até a compreensão sobre o que seja Deus e sua interpretação para o papel passa pelas limitações humanas.
O que Stuttgen faz é atacar a religião do AT e o cristianismo primitivo do NT dizendo que a morte dos animais é uma covardia e crime ambiental. Mas se esta religião for lida com a ótica de hoje, haverá uma injustiça histórica, já que naquela época isso era aceitável e comum. Para uma reflexão: E se alguém falasse para Moisés, Davi, Jesus ou Paulo que um grupo de cientistas estudam mutações genéticas e testes de vacinas em ratos presos em laboratórios, com suas sortes já lançadas no cativeiro, para tão somente servirem ao homem em seus sofrimentos e que isto é totalmente aceito pela sociedade beneficiada por esta atrocidade??? O que eles diriam? E se falássemos para Moisés, Jesus, Paulo e São Francisco de Assis que um grupo de pessoas criaram animais (vacas) e este, sabendo que as mesmas são vegetarianas, inseriram em suas dietas suas próprias vísceras e ossos para uma engorda mais rápida e que isso foi tratado como normal para quase todo o MUNDO o que será que eles diriam? E mais: E se disséssemos para todo o povo bíblico que nos preocupamos mais com o petróleo que com toda a vida marítima? E se disséssemos que na Grã-Bretanha foram chacinados mais de 4.000.000 de animais em pouco menos de 1 ano por causa desta dieta, que gerou o mal da vaca louca? Será que eles diriam que não é a vaca que é louca mas nós mesmos?
O fato é que falar mal da religião e dizer que a mesma não tem ética ou moral alguma gera uma mutualidade inversa de valores, a qual não é vista hoje. Troca-se 6 por meia-dúzia.
Lembra-se do famoso "assim diz o Senhor"? Até neste trecho tem elaboração teológica. Não é uma psicografia impensada. Nada religioso é impensado. E não se pode culpar uma religião de 4000 anos atrás só porque ela não é como hoje se pensa.
Outro problema é que o próprio autor deixa transparecer sua compreensão de que não é bem Deus quem manda fazer ou agir. Para quem lê fica claro que Stuttgen não crê assim e mesmo assim ele, de certa forma, usa tal compreensão para ataque. Não considero isso algo bom. Se você não crê em algo não o use como se cresse.
Pensei criticar o resto do livro mas é por demais repetitivo a forma de compreensão do autor. Simplesmente sua obra não respeita a limitação histórica, cultural e teológica de um povo, condenando-os a partir da compreensão que se tem hoje. Logo, na minha compreensão, o livro é muito reduzido na sua interpretação histórica. Rico em ideias mas pobre em argumentação.
Recomendo a leitura de "No Credo" a todos os que gostam de curiosidades e desafios e a todos que gostam de atacar religiões, em específico, o cristianismo e o judaísmo, todavia, não se deve limitar-se a só este livro. O livro também é bom para se ter uma gama de citações sobre holocaustos, animais e sacrifícios. Tais citações servem como uma chave-bíblica para localização de textos. Mas um aviso: Aos que gostam de destruir religiões não usem este livro contra uma pessoa entendida de história e teologia e que respeita as regras de interpretação: Vão levar uma coça em palavras!!!
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