Elaborado por: Súsie Helena Ribeiro e Dalton Said Henriques
O Novo Testamento responde à pergunta sobre o mandamento principal (Mc12. 28s) citando Dt 6.4s, e esta passagem constitui a parte fundamental do credo judaico, o shemá, que serve também para resumir a idéia principal do Deuteronômio: a dedicação total ao Deus único. Nenhum outro livro do Velho Testamento falar com tal profundidade sobre o amor de Deus, nem convida com tal encarecimento a corresponder-lhe e a desfrutar de seus dons.
A denominação “Deuteronômio” (“segunda lei”, com respeito à primeira promulgada no Sinai) nasceu de uma interpretação errônea do termo “cópia ou transcrição da lei” em Dt 17.18. O Deuteronômio tem como propósito conduzir o povo à obediência desses mandamentos.
Esse livro é realmente muito importante. Ele marcou profundamente a vida do povo e influenciou muitas partes do Antigo Testamento. Sob sua a inspiração surgiu a chamada “obra histórica Deuteronomística”, que inclui os livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis. A redação Deuteronomística deixou suas marcas no Pentateuco e principalmente na tradição profética. Depois desse livro, os escritos vetero-testamentários, como o códice sacerdotal, por exemplo, só conhecem um lugar de culto.
1. QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
1.1 Vocabulário e Estilo
Enquanto as compilações legais do Pentateuco costumam registrar as palavras de Deus a Moisés, o Deuteronômio contém os discursos de Moisés ao povo, e só indiretamente as palavras de Deus. As promessas e as disposições legais vêm a ser o legado daquele que conduziu Israel desde o Egito, através do deserto, até a fronteira da terra prometida: são as palavras de despedida de Moisés.
Ao redor do núcleo legal (12-26), encontra-se um marco interno (5-11; 27-28) e um externo (1-4; 29-30); os capítulos legais (31-34) contém o cântico (32) e a bênção (33) de Moisés e algumas notas sobre a investidura de Josué como chefe (31) e sobre a morte de Moisés (34), entre outros pontos. Trata-se de uma estrutura concêntrica, que pode ser ilustrada num esquema escalonado:
Como no caso do código da aliança (Ex 20.24ss), a lei deuteronômica começa com disposições sobre o lugar de culto, neste caso sobre a centralização cúltica (12-16). Segue um bloco (16-18) sobre personagens oficiais, como rei, os profetas, os sacerdotes e os juízes, com reminiscências do livro de Jeremias (21-23). Na terceira e última parte (19-25) se misturam diversos temas.
1.2 O Deuteronômio e a reforma de Josias
Tem prevalecido a idéia, desde o início do século passado, de que o Deuteronômio era originalmente um livro independente, relacionado de alguma forma com a reforma do rei Josias, em 621 a. Na verdade, existem profundas coincidências entre o Deuteronômio e o relato de 2Rs 22,23 sobre a legislação e a reforma:
A centralização do culto efetuada por Josias, indo muito mais além de reformas conhecidas até então (com o objetivo de purificar o culto de elementos estranhos), excluindo outros santuários Javé.
As festas da páscoa celebradas em comum.
A erradicação dos cultos astrais, da prostituição sagrada, a destruição de santuários nos altos e estrelas, a proibição dos sacrifícios de crianças, da adivinhação, da necromancia e de outras práticas estranhas.
Tudo isso só se pode explicar à luz das exigências da lei deuteronômica. O próprio temor que o rei demonstrou com o achado e a leitura da lei pode ter sido provocado pelas maldições que Dt 27s lançava contra seus transgressores.
Vê-se, portanto, que o Deuteronômio reflete as circunstâncias do período monárquico ou posterior. Ele conhece, com efeito, os perigos da monarquia (17.14ss) e previne-se contra o falso profetismo (13.2s; 18.9s).
1.3 Localização e data de origem
Quando e onde apareceu Deuteronômio? Supõe-se geralmente que um fundo básico do livro remoto ao século VII ou inclusive à segunda metade do século VIII, pouco antes do aparecimento do primeiro profetismo escrito, ao redor de 750, ou talvez antes da destruição do reino Setentrional, em 722 a.C. Indícios diversos sugerem que o reino Setentrional não foi o lugar de origem do Deuteronômio, mas, sim, de certas idéias e tradições, inclusive de algumas partes do livro.
Essa herança Setentrional se vê nos seguintes fatos:
- Existem no Deuteronômio algumas analogias com os ciclos de Elias e Eliseu;
- Aparecem afinidades com o profeta Oséias;
- Também talvez referências ao eloísta (as idéias de “tentar”, por exemplo);
- Uma concepção particular da realeza, incluindo o aviso contra a eleição de um estrangeiro como rei (Dt 17.15), que não teria sentido no reinado da dinastia davídica em Jerusalém;
- Reprovação pelo desvio de toda uma cidade da fé javista (Dt 13.13s), que parece ajustar-se melhor às circunstâncias do reino Setentrional.
Essa herança do norte poderia ter sido levada para o reino Meridional ao redor do ano 722 a.C., com a mensagem de Oséias e o eloísta, para se misturar com o patrimônio cultural do sul. Jerusalém passa a ser então, não o lugar de origem, mas de aplicação das leis deuteronômicas. A forma característica “o lugar que Javé escolheu” foi relacionada tardiamente com Sião.
1.4 Processo de Formação
O Deuteronômio não é, pois uma obra simples e de linhas bem definidas, mas um escrito bem complexo. Sua forma atual não coincide com a lei descoberta nos dias de Josias,, geralmente denominado “o documento do templo”.
O Deuteronômio oferece um recurso específico para se descobrir diversas camadas nos textos em prosa e nas leis: a mudança de número gramatical: a redação no singular é mais antiga, e as formulações no plural são complementos posteriores. Existem, não obstante, adições no singular.
A evolução do livro se deu aparentemente de dentro para fora, num longo processo de pelo menos três estágios:
- O Deuteronômio primitivo deve se localizar basicamente no núcleo dos mandamentos (Dt.12 – 25). Sua idéia principal é a centralização do culto.
- Uma redação deuteronômica (talvez na época de Josias) elabora as leis e acrescenta substancialmente o contexto interno da introdução (Dt 5 – 11), talvez também partes de 27ss.
- A redação pós-deuteronômico-deuteronomística, posterior ou exílio (587 a.C.), traz novos complementos ao corpo legislativo.
O que se concluí desse processo de formação é que o Deuteronômio não é fruto de um só autor, mas de uma escola à qual se denomina primeiramente “o Deuteronômica”, e mais tarde “Deuteronomística”.
2. INTENÇÕES TEOLÓGICAS
Num plano formal, as idéias centrais do Deuteronômio podem ser resumidas em três palavras: um Deus, um povo, um culto. Pode-se ainda acrescentar: no país, um rei, um profeta.
1.1 Centralização Cúltica
Até então Israel conhecia uma pluralidade de santuários (Ex20.24), sendo alguns deles lugares importantes de peregrinação. O Deuteronômio, contudo, é exclusivista (12.13s). Essa centralização traz consigo mudanças profundas na vida religiosa do povo, especialmente para a população que mora fora de Jerusalém. A conseqüência principal é a secularização da matança de animais (matança profana este parêntese. O animal morto, ante um sacrifício, passa a ser simples comida.
1.2 Unidade de Deus
Na forma atual do Deuteronômio, a unidade de culto é conseqüência da unidade de Deus, conforme o Shemá (Dt6.4). Essa unidade de Javé pode ser entendida na linha de um estrito monoteísmo, ou ainda como uma confissão de unidade diante das tentações Cananéia e o pluralismo do culto de Baal, ou ainda diante da variedade das tradições e dos lugares de culto javista.
1.3 Unidade do Povo
O Deuteronômio, além de falar ao indivíduo, fala todo o povo. A unidade de Deus corresponde à unidade do povo. Falta no Deuteronômio referência à divisão do povo em tribos ou aos reinos do norte do sul. Há uma ênfase no fato de que Javé é o Deus do povo, o povo é propriedade de Javé, um “povo santo”, sugerindo, portanto, uma distinção importante entre Israel e os outros povos.
1.4 Convivência Social
O Deuteronômio procura extrair conclusões da unidade do povo de Deus que se apliquem à vida coletiva. As autoridades do povo devem sair do meio do próprio povo. O próprio rei não pode se levantar com orgulho entre seus irmãos. O Deuteronômio prega uma igualdade de todos perante Deus. Todos são irmãos, numa mesma comunidade, onde deve prevalecer o amor. Os pobres, o estrangeiro (exilado pobre e desamparado), o órfão e a viúva devem ser respeitados, segundo a lei, e atendidos em suas necessidades. Várias leis humanitárias são instituídas pelo Deuteronômio, embora algumas delas nunca passaram, talvez do plano teórico. Contudo, elas constituem um ideal de vida social onde predomina o amor e a solidariedade.
1.5 Perspectiva de Tempo
A unidade do povo de Deus se expressa não só na convivência cotidiana de Israel, mas também na visão comum do passado. A atualização do passado é mais importante do que o próprio acontecimento histórico. O passado fica absorvido pelo presente, o “agora”: “Escuta, Israel os mandatos e decretos que hoje lhe anucio” (5.1). o Deuteronômio enfrenta o passado e presente em uma posição irredutível: “Não fez esta aliança com nossos pais, mas conosco, que estamos vivos hoje” (5.3s).
O Deuteronômio não contém nenhuma expectativa de futuro propriamente dita. Contudo, a vida de fidelidade pode trazer uma longa vida, paz diante dos inimigos, fecundidade na natureza e a abolição de todas as enfermidades. Como esses bens não são uma realidade presente, Deuteronômio sugere que a verdadeira plenitude da vida humana é uma possibilidade ainda não realizada.
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Responda você mesmo à pergunta: Moisés escreveu o Pentateuco?
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A PAZ DO SENHOR,GOSTEI DE TUDO MAIS NÃO DEU PRA MIM FAZER PARTE MIM AJUDA ?FICA COM DEUS.
ResponderExcluirPrezado Anônimo;
ResponderExcluirNão entendi sua dúvida: Você deseja fazer parte dos seguidores do blog ou ler a 2ª parte do artigo?
Fico no aguardo ok?
Abração