sexta-feira, 2 de abril de 2010

Paul Tillich: Quem foi, sua teologia e uma aplicação para a atualidade

Por Carlos Chagas

CAPÍTULO 1: A Biografia de Paul Tillich

Paul Tillich é geralmente considerado um dos mais excelentes pensadores e influentes do século XX. Após ensinar teologia e filosofia em várias universidades alemãs, ele foi para os Estados Unidos em 1933 devido às ameaças de Hitler, uma vez que este já se encontrava no poder. Após muitos anos sendo professor de Teologia Filosófica na Union Theological Seminary na cidade de Nova Iorque, Tillich passa a ser professor da Harvard University. Os livros que ele publicou foram: Teologia Sistemática; A coragem de ser; Dinâmica da Fé; Amor, Poder e Justiça; Moralidade e Além; e Teologia de Cultura.

Nascido na Prússia (hoje pertencente à Polônia, a pouquíssimos quilômetros da fronteira com a Alemanha), 1886, muda-se com seu pai para Berlim, onde dá início aos seus estudos universitários. Em 1910, consegue seu título de doutor em filosofia, e em 1912 licencia-se em teologia em Halle, com duas dissertações.1

No início de sua vida adulta, Tillich se viu obrigado a participar da 1ª Guerra como capelão. O século XX, que se iniciava de forma tão trágica e obscura, fez com que muitas pessoas, inclusive Tillich, passassem a pensar mais sobre sua existência aqui na Terra. A Guerra deixara muitos feridos e doentes, dos quais Tillich tinha a responsabilidade de antevir com sua patente. Diversas vezes Tillich passava pelo mesmo caminho até o hospital. Porém, em um dia qualquer, Tillich passava perto da sombra de uma árvore, quando percebeu que muitos soldados estavam rindo e zombando do Deus dos cristãos, após lerem algumas frases do livro “Assim falou Zaratustra” de Nietzsche. Em tais passagens os soldados descobriram que Deus já não mais era um Ser Vivo, pois Nietzsche conseguiu mostrar que isso não era um fato entre os humanos.2 Tal contemplação por parte de Tillich o levou a pensar melhor a posição na qual a Teologia se encontrava.3 Tal sede por explicações levou Tillich a dizer “A Teologia, que de duzentos anos para cá se encontra na infeliz, mas necessária situação de um defensor, que defende uma posição absolutamente indefensável e é obrigada a perder uma posição depois da outra, deve voltar ao ataque. [...] E ela haverá de vencer, porque a religião, como diz Hegel, é o princípio e o fim de tudo, e é igualmente aquilo que confere vida, animação e espírito a tudo”.4

Tillich então se vê numa situação deplorável: Caso defenda a filosofia, passa a fazer parte de uma história “sem pé nem cabeça”. Caso resolva defender a teologia, passa a lutar contra sérios ataques da própria filosofia. E se porventura continue na Guerra, o risco de morte é muito grande. Contudo, Tillich preferiu defender a Teologia com o seu vasto conhecimento de Filosofia, o que lhe rendeu um grande reconhecimento na área da Teologia, apesar das críticas de muitos teólogos.

Diversos temas conceituados por Tillich são, na verdade, muito bem dissertados e bem polêmicos. Tillich optou por fazer uma releitura da história da Teologia não omitindo os ataques a esta e nem se isolando de um possível diálogo com os pensadores liberais. Tal polêmica desperta em muitos teólogos o sentimento de que Tillich foi nada mais nada menos que mais um “herege”. Todavia isso não passa de um simples ataque de alguém que não entendeu como se finalizou o fluxo que o pensamento ocidental tomou. Tillich não se preocupa com simplesmente dar respostas à Igreja, nem em dar respostas à Teologia Liberal, tão menos dar respostas a homens que na verdade são guiados à sua própria filosofia criada no mais obscuro e medonho “beco” de sua alma.

Voltando ao pensamento ocidental, Tillich afirma que todos os conceitos dados pela filosofia estão repletos de características gregas. Isto se dá porque a filosofia ocidental é totalmente grega, o que, para Tillich, limita demais o raciocínio sobre o Incondicionado5, já que, para Tillich, Deus jamais pode ser condicionado porque ele é ilimitado; criador dos limites.

Durante a 2ª Guerra Mundial, já nos Estados Unidos, Tillich fez programas de rádio contra o regime de Hitler, onde tentou consolar e despertar seus conterrâneos para a luta contra o ditador. Após trabalhar 18 anos no Union Theological Seminary, e de trabalhar na Harvard University, foi para a Universidade de Chicago, onde ficou pouco tempo até sua morte em 1965. Foi casado com Hanna Tillich e tiveram dois filhos.6

CAPÍTULO 2: Algumas abordagens teológicas de Paul Tillich

Antes de ser abordado aqui algo sobre Tillich, deve-se ser conceituado uma série de coisas para que então o pensamento dele seja compreensível e interessante para quem o pesquisa.

Tillich, por ser existencialista, busca uma explicação para as coisas; para o mundo e o universo, dando respostas à sua época levando em consideração a história que o antecede, bem como sua contemporaneidade. Logo, ao se levar em conta sua contemporaneidade, deve ser destacada que a sua época estava repleta de problemas teológicos. Esta mesma foi fortemente influenciada pelo Iluminismo, que por sua vez trouxe o liberalismo, a qual trouxe a “Crise” teológica. Movimentos surgem para estagnar o problema da Crise, mas de nada servem a não ser como “paliativos teológicos”. Aqui é usado este termo porque o que o cristianismo conseguiu foi simplesmente, ou se restringir, ou se abrir completamente ficando exposto a novos ataques, ou assumir posturas erradas durante sua caminhada. O que Tillich na verdade faz é assumir este terceiro ponto de forma radical. Por isso que o entendimento de seu raciocínio inicial é tão importante para entender o todo de seu raciocínio.

Sua caminhada teológica parte de uma estruturação simples: O que é religião? O que é a cultura? O que é Deus relacionado ao homem e vice-versa? São estas perguntas que trazem uma estrutura consistente norteiam parte de seu raciocínio. Na verdade, cada conceito é “amarrado” ao outro de forma que um e outro são completamente diferentes dos quais a história trabalhou insistentemente. E o que é mais perceptível é que a reflexão tillichiana busca duas formas de aplicações: (1) Redefinir o conceito de religião, uma vez que os seus antepassados “deturparam” completamente a idéia e a definição deste; e (2) mostrar a interdependência entre religião e cultura, no qual Tillich vai trabalhar o holismo entre ambas e combater o conceito mal dado às tais. Por fim, tudo se arremeterá ao “ser”, que diz respeito ao humano; à criatura.

A religião

O que se entende sobre religião hoje? Muito se fala de religião, mas o conceito de tal palavra fica a desejar muito das vezes. Segundo o dicionário Aurélio religião é:
1. Crença na existência de uma força ou forças sobrenaturais, considerada(s) como criadora(s) do Universo, e que como tal deve(m) ser adorada(s) e obedecida(s);
2. A manifestação de tal crença por meio de doutrina e ritual próprios, que envolvem, em geral, preceitos éticos;
3. Virtude do homem que presta a Deus o culto que lhe é devido;
4. Reverência às coisas sagradas;
5. Crença fervorosa; devoção, piedade;
6. Crença numa religião determinada; fé, culto;
7. Vida religiosa;
8. Qualquer filiação a um sistema específico de pensamento ou crença que envolve uma posição filosófica, ética, metafísica, etc;
9. Modo de pensar ou de agir; princípios.

Segundo o dicionário, estes são os possíveis significados para a palavra “religião”. Talvez fosse algo inquestionável para a época de Tillich, mas para este homem não havia nada no mundo que não havia como de não ser questionado.7 Isso é tão real que Tillich buscou compreender o conceito de religião juntamente com o de cultura confrontando com o conceito de sua época. Segue-se então o raciocínio:

Conforme Tillich, o fundamento do processo vital é regido por três momentos imanentes. No primeiro, ele coloca que a vida é como um pulsar/movimento. É como se o homem possuísse uma espécie de centro, mas esse permitisse certos movimentos que podem ser entendidos como “liberdade do ser”. Veja o exemplo abaixo:

A essência do ser humano foi abalada pelo pecado, o que o faz instável em si. Mas isso faz parte de sua liberdade. Conforme seu pensamento, a vida passa por momentos de identidade consigo, mudança-de-si e volta-para-si9. Levando em consideração que a figura acima é apenas um recurso visual para um melhor entendimento, nota-se que o homem, por mais que oscile em sua vida, jamais foge completamente do seu centro. É nesta e em outras características que Tillich se identifica com Schleiermacher; o fato do indivíduo ter uma espécie de sentimento de dependência. Mas não são idéias iguais, apenas comparativas.

O segundo momento é o da auto-produção ou auto-criação. Aqui o indivíduo corre em direção ao novo, pelo seu crescimento centrado pela criação de novos centros (no campo da cultura). Daí vem o terceiro momento que é a auto-transcendência, onde a vida supera a sua própria finitude na dimensão do espírito. Aqui entra o que ele chama de “universo de sentidos”, onde se manifestam a cultura, moralidade e religião.

O que se entende nisso tudo é que o homem é um ser livre, porém com limites impostos. É justamente onde Tillich fala dos três conceitos de lei que regem a vida do indivíduo: A primeira é chamada de Autonomia, que coloca o homem como aquele que tem leis próprias, enquanto portador da razão universal; a segunda, Heteronomia, que são leis fora do controle humano e que lhe é estranha e superior (contidas na Criação), uma vez que este é incapaz de agir segundo a racionalidade universal; e a Teonomia, onde o homem se vê submetido a uma lei superior, porém, que não lhe é estranha. Sintetizando, o homem é livre, mas no âmbito da criação. Um exemplo claro é a impossibilidade de se sair vivo após pular de um prédio de cem andares sem possuir equipamentos adequados para pouso. O homem é limitado, diferente do “incondicionado”.10

Uma pausa no conceito de religião para falar do conceito de cultura

O segundo passo, após entender como o homem foi criado e como este vive, é saber como se dá sua relação com o externo; com o mundo à sua volta. Segundo Tillich, tudo que foi criado não foge dos olhares de Deus, e nada, apesar de sua liberdade, foge da soberania de Deus. Aliás, Deus não é um ser. Porque a filosofia com que se trabalha a categoria do ser é grega, e a filosofia grega colocou o ser como algo que existe, e, segundo a filosofia grega, tudo que existe foi criado, e toda criatura é limitada. Logo, se se considerar Deus como ser, deve-se considera-lo como limitado e criado. Tillich considera Deus não como ser, mas como o “Além-do-Ser”. Por isso, tudo que o homem faz é para Deus, mesmo sendo ateu, agnóstico, gnóstico, budista, hinduísta, satânico, cético, cristão, não-cristão, etc. Portanto, “a religião é a substância da cultura e a cultura é a forma da religião”.11 O homem não consegue fugir de Deus, como já foi expresso por Tillich em seus sermões sobre o salmo 139.

Sintetizando cultura e religião e chegando a um senso comum

Como o último passo para se entender a religião em Tillich, o leitor de suas obras deve entender que, o homem vive para Deus, mesmo que este não aceite. Deus respeita sua liberdade de expressão, porém, não aprova aquilo que foge às suas normas (Teonomia). Então surge mais uma intervenção teológica de Tillich, que é caracterizar as culturas como formas de expressões humanas como um ato cúltico inato nos humanos. É como se fossem religiões no sentido que a contemporaneidade adota hoje. Com isso, Tillich afirma que não importa a religião, “dos demônios ou não”, tudo o que o homem faz é para Deus, pois este foi criado com um propósito que não deve ser invalidado. Observe a figura:


Todos os seres humanos são religiosos, até mesmo os ateus, pois adoram algo transcendente, quer seja em si mesmos, quer não. A religião é algo necessário e inevitável para o ser enquanto existente. E existir significa viver dentro dos padrões autônomos, heterônomos e teonômos propostos. Concluindo, Tillich afirma que “ser religioso significa interrogar-se apaixonadamente acerca do sentido de nossa vida e estar abertos às respostas, mesmo quando estas nos abalam profundamente”.12 Então, a religião dá sentido e significado a todas as formas da cultura. Cultura e religião não são práticas separadas, mas distintas.

Mas talvez seja aqui que Tillich seja mais bombardeado pelos críticos, pelo fato de considerar o Cristianismo não como religião, mas como uma espécie de “veículo” que ajuda àqueles que querem ser religiosos. Ao afirmar isso, Tillich se coloca à mercê de críticas chegando a ponto de ser considerado apenas um especulador da teologia, onde, na verdade, o título do qual é merecedor é de “o criador da ‘Teologia do Diálogo’”, lembrando que esta trabalha entre a teologia neo-ortodoxa e racionalismo.

Então, ao se ter idéia sobre o que é religião e cultura em Tillich, o próximo passo, que é entender o conceito de ser no âmbito da ontologia nesse mesmo autor, fica mais compreensível. O próximo sub-título se deterá neste tema.

O conceito de “ser” em Tillich

O que se pode entender de ser? Este é um termo difícil de ser tratado, uma vez que a crise do ser humano é poder ser o que ele realmente é. Alguns ramos da teologia denominam o ser humano como pecador e totalmente depravado; a psicologia diz que o ser humano é, quando considerado normal pela sociedade, neurótico; e assim, diversas ciências caracterizam o ser humano segundo seus limites. O ser humano é um ser limitado. Por isso a vida do ser humano é algo conturbada.

Vida

Mas o que Tillich diz ser a vida para o ser humano? A vida é um processo vital de atualizações que denotam movimentos13 (violência) sem perder o foco, que é sua centralidade.14 Nessa centralidade se encontram a auto-identidade, auto-alteração, e volta para si mesmo. “Potencialidade se torna atualidade somente através desses três elementos no processo que chamamos vida”. O “ser” pode agregar em si diversas características, porém, em seu “ser” nunca poderá ser colocado ou retirado algo uma vez que o “centro é um ponto e o ponto não pode ser dividido”.15

O medo e a ansiedade

Mas o que Tillich trabalha é que quando, em uma dessas “viagens” do “ser”, o “ser” prefere não voltar para sua realidade de “ser” após ter encontrado valores na multiplicidade apresentada, passa então a sofrer crises, das quais, devido à fragilidade e dispersão em centralidade, começa a enfrentar o perigo de perder seu centro.16 Com isso surge a necessidade de conceituar medo e ansiedade, que são duas coisas que nascem após estas experiências. Para Tillich, o medo é criado e localizado em um objeto específico que pode ser enfrentado ou evitado. A ansiedade, por sua vez, não tem objeto, ou melhor, seu objeto é a negação de todo objeto. Ambos podem ser distinguidos e não separados.17 Ainda no âmbito da ansiedade, Tillich destaca a ação do “não-ser”, que se manifesta como sendo uma espécie de antítese do “ser”, que são indissociáveis uma da outra, e que manifesta a ansiedade destacando o perigo da morte. Esse “não-ser” ameaça o homem em sua formação ôntica, tentando produzir a perda de significação no “ser”.

Ainda sobre o “não-ser”, Tillich destaca que o “não-ser” age como um juiz, pelo fato de ser o “não-ser” aquele que produz a razão de “ser”, e, além disso, ser o “não-ser” aquele que reclama a falta do “ser”. Sintetizando, todas as ações do “ser” são baseadas no que o “não-ser” dita. E o “não-ser” se pergunta sobre o que o “ser” fez ou deixou de fazer. O “não-ser” é responsável pelas suas próprias ações. Por isso, quando o “ser” se encontra em uma situação de desequilíbrio existencial, o “não-ser”, que foi o responsável pelo resultado alcançado começa a se questionar e a questionar o próprio “ser” de tais ações. Isso gera, segundo Tillich, o sentimento de culpa, pois o homem, como liberdade finita, é livre dentro das contingências de sua finitude.18

A personalidade e a coragem de “ser”

Então, o problema da personalidade entra em questão. Pelo fato de o “ser” ser sempre questionado pelo “não-ser”, faz com que o “ser” venha construir uma realidade para si, que na verdade não se passa de uma auto-afirmação irrealística ou não realística. O ser não foi criado para viver em tal mentira, ou pelo menos ele não consegue fugir de seu centro. Isso faz com que o “ser” evite ser si-próprio, vivendo então, uma após outra, as irrealidades ou não-realidades que surgem. Portanto o “ser” passa a correr o risco de cair em um “ilimitado desespero” por negar sua auto-afirmação. O problema se agrava quando o “ser” não consegue se auto-afirmar, ou de simplesmente tentar se auto-afirmar. É aí que Tillich entra com sua conclusão de que todo “ser” deve ter a coragem de se auto-afirmar “a despeito de” contra tudo aquilo que o impede de afirmar seu eu. A valorização do “ser-em-si” faz com que o “ser” encontre a sua essência de “ser”.

A coragem de ser, em todas as suas formas, tem por si mesma caráter revelador. Mostra a natureza do ser, mostra a que a auto-afirmação do ser é uma afirmação que supera a negação. Numa formulação metafórica, Tillich diz que ser inclui não-ser, mas o não-ser não prevalece contra ele. Não-ser pertence ao ser, não pode ser separado dele. A potência de ser é a possibilidade que um ser tem de realizar-se contra a resistência de outros seres. Se falamos de potência do ser-em-si indicamos que o ser se afirma contra o não-ser. Onde há não-ser, há finitude e ansiedade, o que equivale dizer que a finitude e a ansiedade pertencem ao ser-em-si.
No ato da coragem de ser, a potência de ser é efetivada em nós, quer o reconheçamos ou não. Cada ato de coragem é uma manifestação do fundamento do ser, não importando o quanto possa ser questionável o conteúdo do ato. O conteúdo pode esconder, ou distorcer, o verdadeiro ser, a coragem nele revela o verdadeiro ser. Não são os argumentos, mas a coragem que revela a verdadeira natureza do ser-em-si. A coragem tem poder revelador, a coragem de ser é a chave do ser-em-si.19

CAPÍTULO 3: Paul Tillich para os dias de hoje

Na atualidade, temas como religião, ecologia, cultura, diversidade, existência humana são temas altamente discutidos e têm ligação direta ou indireta com a teologia de Tillich. A pós-modernidade sofre com o mal da não-identidade, do sincretismo religioso não-pensado, da valorização do homem enquanto máquina de trabalho. Tudo isso acarreta problemas existenciais na vida de qualquer ser humano, uma vez que este nasceu para ser um ser limitado e não aquele que rompe limites. O limite do homem está na Cruz de Cristo. Isso é fato.

Em um mundo que prega que o homem deve ser aquilo que sonha faz com que os sonhos não realizados do homem se tornem uma espécie de “prisão”, o que impede este homem de viver a realidade proposta. Tillich mostra que ser verdadeiramente “eu mesmo” é sonhar, mas voltar para o lugar que originou o sonho. A vida apresenta movimentos de “vai-e-vem”, mas estes não podem ser estáticos. Deve-se ir e vir.

A atualidade vive a realidade (dita como sendo virtual) da internet. Jogos e mundos são criados neste dispositivo. Talvez seja mais uma fuga da realidade, que para o homem, se torna mais cômodo. Todavia isto não é bom, pois é fugir de si mesmo enquanto aquele criou tal rota de fuga. Isso é viver o “não-ser” como se fosse o “ser”; a essência de tudo. Aqui está o perigo.

Seria o mundo feito (criado) em convenções? Estas convenções, se realmente influem, norteiam os pensamentos e conceitos do mundo? Tillich questiona seriamente a idéia de que religiões são separadas. Segundo ele, satânico ou um crente praticam seus rituais efetivamente para Deus, uma vez que de Deus não se pode esconder ou mesmo se pode negar o mandato crucial do ser humano: Existir para a Glória de Deus. Não seria a cultura uma marca distinta da religião? A cultura não seria o reagir desta tese divina revelando as manifestações do homem a Deus e a si próprio? A contemporaneidade é marcada pela fala de Nietzsche que diz que a realidade é marcada e conceituada segundo a visão reducionista e limitada de alguém. Este, por sua vez, tem em suas mãos o poder de conceituar sua pequena visão como sendo a visão total daquilo que se conceitua. Com este conceito lançado à Pós-Modernidade seria mais fácil trabalhar com Tillich os conceitos reducionistas de cada um buscando na relativização um absoluto comum em tudo. Sabendo que Cristo é aquele que influencia em tudo respeitando, de forma paradoxal a autonomia humana, um ponto em comum e objetivo pode ser percebido e valorizado. Talvez assim as barreiras do preconceito e das convenções injustas possam ser vencidas.

Talvez a convenção que mais tem rendido discussões é aquela a respeito da Salvação. Livre-arbítrio e predestinação, de Armínio e Calvino respectivamente têm levantado diversas discussões no âmbito da pessoa de Deus. Seria Deus um ser que não tem compromisso com a sua criação e um relapso, ou então seria Ele um manipulador de marionetes? Até aonde a liberdade do homem tem seu papel e limite? Por mais estranho que seja o conceito de vida em Tillich, seria interessante a releitura dos três conceitos distintos de vida (autonomia, heteronomia e teonomia). Num mundo onde a liberdade de expressão perdeu seu rumo e sentido seria interessante estes conceitos que mostram até aonde vai a liberdade do homem e a não-intervenção de Deus.

Por fim a religião. Este tema tem que sentido hoje? É relevante? Seria o mesmo conceito dado na Idade Média o que está em voga hoje? Aliás, religião é algo pertinente para o mundo hoje? A falta de diálogo entre fé e razão fez com que o termo “religião” perdesse seu sentido e “magia”. Ou talvez não tenha perdido seu sentido. Pode ser que novas características tenham sido agregadas a este termo. Seja um, seja outro, o que deve ser praticado e apresentado é aquilo que une pessoas em amor. A Modernidade disse que não precisava de Deus, já que este era apenas mito. Porém, sua razão andou caducando por aí. Por isso, que sabe o mito não queira mostrar que seu título não é este, mas sim “incondicionado”?

CONCLUSÃO

Falar de Tillich é falar de antíteses. Longe de ser o ponto final ele é considerado uma vírgula e uma nota de rodapé em se tratando de pensamentos. Sua ousadia e determinação o faz digno do título doutor e merecedor de apreciações teológicas. É notável sua indispensável presença no meio pós-moderno já que nesta reina a diversidade. Sua importância é notável também em sua forma de sistematização da fé cristã, já que conta de um diálogo com o Modernismo e não de uma fundamentação isolada e covarde. Tillich é um marco no desfecho da Modernidade e o início de um pensamento futurista, onde se for levado a sério, grandes dogmas da igreja virão a ser mudados e até mesmo retirados. Sua relevância no meio acadêmico é de grande valor e só aqueles que têm a coragem de ser si próprios leriam suas obras.

REFERÊNCIAS DA PESQUISA

1 Cf. GIBELLINI, Rosino. A Teologia do século XX. p. 83.
2 Cf. NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. p. 8.
3 Segundo sua pregação do Salmo 139.
4 Cf. GIBELLINI, Rosino. A Teologia do século XX. p. 85.
5 Termo Kantiano, mas muito usado por Tillich em suas obras.
6 Cf. Texto do Cláudio Carvalhaes no site: www.teologiabrasileira.com.br/Materia.asp?MateriaID=173.
7 Cf. TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos séculos XIX e XX. São Paulo: ASTE,1986. p.22-26.
8 O desenho aqui usado não está contido em nenhuma obra de Tillich. Este foi usado e desenhado pelo pesquisador do teólogo.
9 Cf. . Acessado no dia 08/março de 2007 13:40hs.
10 Termo kantiano, mas usado por Tillich em seus livros.
11 Cf. GIBELLINI, Rosino. A Teologia do século XX. p. 90.
12 Cf. GIBELLINI, Rosino. A Teologia do século XX. p. 86.
13 Cf. MORAES, Cladismari Zambon de. O conceito de ansiedade em Paul Tillich e na psicanálise. Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos/conceito-ansiedade-paul-tillich-psicanalise/conceito-ansiedade-paul-tillich-psicanalise.shtml#_Toc138908264. Acesso em: 21 mar. 2007.
14 Observar o desenho 01.
15 Cf. http://br.monografias.com/trabalhos/conceito-ansiedade-paul-tillich-psicanalise/conceito-ansiedade-paul-tillich-psicanalise.shtml#_Toc138908264
16 Ibid.
17 Cf. TILLICH, Paul. A coragem de ser. 3.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. p.28-29.
18 Ibid., p.25-41.
19 Cf. http://br.monografias.com/trabalhos/conceito-ansiedade-paul-tillich-psicanalise/conceito-ansiedade-paul-tillich-psicanalise.shtml#_Toc138908264

4 comentários:

  1. A exposição da biografia e pensamento filosófico e teológico de Paul Tillich é, de grande elucidação neste artigo. Por isso, como acadêmico, agradeço à você Carlos Chagas na melhor compreensão que me foi trazida nesta leitura, mesmo que resumidamente é esta síntese.
    Um forte abraço cristão e,que Deus continue lhe abençoando neste site.

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    1. Estamos aqui pra isso. Eu que agradeço sua leitura!!!

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  2. Sua explanação foi clara e objetiva como poucas. Conseguiu sintetizar brilhantemente, de forma didática, o pensamento complexo de Paul Tillich, já que em meio a tantas elucubrações teológicas é preciso um trabalho desgastante de garimpar as preciosidades deixadas por ele debaixo de um manto enorme de volteios teológicos. Acredito que a Igreja precisa de uma teologia, mas de uma teologia clara, simples, objetiva e sumamente prática para os dias de hoje.

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