sexta-feira, 12 de março de 2010

Dízimo: O motivo ético de seu surgimento

Por Carlos Chagas

Nada maior nos dias de hoje para provocar discussões dentro da igreja do que falar de dízimo. Prática nascida dos Israelitas é aceita até aos dias de hoje entre os judeus e também no cristianismo, uma vez que este é ramificação religiosa daquele. Contudo tal prática ainda encontra aqueles que não a aceitam: Uns por egoísmo; outros por não aceitarem o discurso de imposição. O fato é que a história do surgimento da entrega do dízimo é pouco ou nada conhecida. Ver-se-á adiante uma breve história ética sobre o surgimento do dízimo.

Um povo, um Deus, um código de vida

Bem antes de Jesus Cristo se manifestar em carne e sangue já existiam povos que buscavam se relacionar com Deus. Um destes povos eram os Israelitas. Estes, descendentes de Israel, como o próprio nome declara, detinham um número de milhares da linhagem divididos em 12 tribos na época em que Moisés se tornou seu líder. Este líder os retirou da terra do Egito para servirem a Deus da forma mais correta possível. E é nesta época que nasce o código da lei mosaica (mosaica = Moisés). Esse código, que pode ser lido no livro de Levíticos e de Deuteronômio, é uma releitura das 10 Leis ou Mandamentos recebido de Deus por Moisés quando este subiu ao monte para o Encontro divino.

Os 10 Mandamentos consistia em princípios éticos não muito diferentes dos princípios das demais civilizações da época. Contudo era singular. Destes 10 Mandamentos foram construídos diversas leis que ajudavam o povo a não se desviarem do bem. E é neste novo conjunto legal que nasce a lei do dízimo. Dízimo significa "a décima parte", ou seja, tudo que era produzido pelos israelitas era "devolvido" a Deus nos 10% da colheita ou produção. Mais do que ritual esse dízimo servia para a sustentabilidade de todo o povo israelita. Após ler o livro de Levíticos na Bíblia fica mais claro a explicação a seguir.
O povo, apesar de numeroso, eram da mesma descendência, o que faz nascer a idéia de serem irmãos. Portanto nasce o sentimento de cuidado de um para com o outro, construindo ao mesmo tempo, a identidade do povo israelita. São um só povo. Se um machuca, todos machucam. Se um é abençoado por Deus, todos são.

Todavia o povo avançou em desenvolvimento em todas as áreas, inclusive na religiosa. Perceberam que necessitavam de pessoas para cuidarem da área religiosa. Assim foi escolhido apenas um povo para este serviço: Os levitas. Descendentes de Levi, filho de Israel, estes cuidavam tão-somente do sagrado; da religião e suas leis e práticas. Estes não tinham tempo para trabalho secular, pois a religião israelita possuía diversas práticas rituais como sacrifícios, ritos, festas, preparações cerimoniais, etc. Sendo assim nasce um problema: Como esse povo irá se alimentar? Se não produzem para o seu sustento, como subsistirão? Nasce então o dízimo. A grosso modo a compreensão do povo era de que, se são irmãos, todos são comuns. Logo, tudo é comum. A comida então é comum, uma vez que o trabalho religiosos dos levitas era visando o bem religioso comum do povo inteiro.Sendo assim, porque produzir só para um, se os levitas trabalham para todos? Desenvolve-se então a noção ética do serviço.

Se existiam 12 tribos e uma, que é a de Levi, trabalha sem produzir bens, sobram 11 tribos que produzem. O que foi feito? Das 11, 2 tribos eram menores, então ambas somaram sua colheita e deram juntas 10% de sua produção. As restantes cada uma se responsabilizava por 10% da produção. No fim de tudo, a tribo de Levi tinha 10% de cada tribo, que no total eram 10 (duas se uniram para formarem uma), totalizando 100% de colheita pelos demais. Mas as tribos que deram o dízimo ficaram com apenas 90% de sua produção. O critério de justiça criado para conter tal problema é muito interessante. Os israelitas criaram a festa do holocausto, onde os levitas davam 10% dos dízimos, que era o dízimo dos dízimos, para ser queimado como oferta ao Senhor Deus. Portanto todas as tribos ficavam com 90% que na verdade eram os 100% para o consumo.

Concluindo o dízimo nasce para trazer igualdade e justiça, demonstrando vida em comum com aquele que estava injustiçado e oprimido. Logo, é uma obra de amor.

O dízimo hoje

Apesar de o dízimo ser uma prática judaica, o cristianismo possui, me diversos de seus seguimentos, tal prática. Mas com ela muitos problemas vieram. O primeiro é de que Jesus aboliu as Leis do Antigo Testamento. Outro problema é que se guarda a Lei do dízimo com muita severidade, mas o Sábado, os sacrifícios e diversas leis são reformuladas com teologia cristã. Mais um problema é a falta de compreensão fraternal que o povo carece para ver o dízimo como auxílio e não como cumprimento de Lei.

O que é fato? O fato é que nada mais o homem pode fazer para ser salvo; a morte de Cristo nos foi suficiente. A salvação vem pela fé e não por obras. Portanto qualquer prática de Lei que vise salvação deve ser protestada novamente porque é sinal de que a Reforma ainda não fez efeito. Nenhuma Lei deve ser vivida como parâmetro de salvação. A salvação é por graça e não por obras. Talvez seja por isso que muitos tenham raiva de dizimar: A igreja pode estar tentando voltar ao legalismo de Gálatas, o qual Paulo, em sua epístola, advertiu.

O dízimo torna-se um problema na igreja quando este não vem acompanhado de fé. A falta de fé em Deus faz com que líderes obriguem os fiéis a depositarem o dízimo simplesmente porque têm medo de seu ministério falir por falta deste. Mas tal medo é repassado à igreja como punição divina caso o membro não devolva seu dízimo a Deus.

A falta de compreensão teológica na igreja também contribui para o legalismo do dízimo. De forma maligna muitos defendem o dízimo como lei, e defendem a graça divina como substituta das demais leis como a guarda do Sábado por exemplo. O dízimo não deve ser pregado como Lei, mas como obra fraterna. E Jesus demonstrou muito bem isso com a passagem da pobre viúva que deus tudo que tinha, que era suas duas moedas, e que foi mais bem aceito por Deus do que o dízimo de muitos naquele lugar (Mc 12, 38-44).

Por fim deve ser compreendido que o dízimo foi abolido para que entre a graça abundante. Significa que não se deve dar 10%, mas 100% se for preciso. As igrejas ainda adotam o dízimo para conseguirem caminhar com o ministério, o que é justo, já que contas existem para serem pagas. O fiel deve estar ciente disso e dizimar. Mas se o dízimo é para efeito de salvação ou condenação pare de dar porque isso não procede.

A oferta e o dízimo devem nascer de um coração sadio, que sabe que tal entrega visa o bem do outro. Isso é a graça derramada ao necessitado por Deus através de mãos humanas. Dizimar é ser ético e não auto-salvador. Quem vive de lei, deve vivê-la por completo. Quem é cristão vive por fé e por suas obras, que visam o bem completo sobre a criação de Deus.

Dizime. Não por orgulho. Não por Lei. Nem por desencargo de consciência. Dizime por amor. Por se interessar no outro. Por acreditar que aquilo é o melhor e necessário. E se preciso for, não dê 10%, mas quem sabe 12% ou 33%. Afinal a Lei pede 10% mas Jesus quer o 100%, não só do dinheiro, mas das ações. Faça porque ama e não porque segue.

10 comentários:

  1. OLA AMIGO GOSTEI DE SUA MATERIA, UMA PERGUNTA. QUANDO CITADO O TEXTO DE MALAQUIAS 3:8 E OS SEGUINTES, NAS IGREJAS NAO O ESTAO APLICANDO COMO SE FOSSE UM MANDAMENTO? PQ VEM A PERGUNTA Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. ISSO IMPLICA EM SALVAÇÃO CORRETO? PORQUE ROUBAR É PECADO E QUEM PECA NAO VERA A GLORIA DE DEUS. POR ISSO ACHO A APLICAÇÃO DO DIZIMO ERRADA PQ SOMOS SALVOS PELA GRAÇA PELO Q NOSSO SENHOR JESUS FEZ E ALEM DO MAIS ESSE TEXTO ESTA APLICADO AS PESSOAS QUE ESTAVAM DEBAIXO DO JUGO DA LEI TENDO ASSIM QUE CUMPRI-LA.

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  2. Caro Anônimo;

    Infelizmente as igrejas usam este texto como mandamento sim. Ainda existe dificuldades no cristianismo brasileiro de entender a transposição do Antigo Testamento para o Novo Testamento. No AT era necessário cumprir a lei para a justificação perante Deus. No NT, principalmente nos escritos de Paulo, isso não é possível, pois é pela fé. Meus artigos da seção BIBLIOLOGIA possuem estudos sobre Gálatas, Romanos e Colossenses. Nestes estudos fica mais claro o pensamento de Paulo.

    Quanto ao dízimo: Aquele que dá com um desejo ou intenção de ser salvo porque cumpriu a Lei digo que deve parar de dar (entregar) o dízimo, porque já está no inferno. Pela Lei ninguém é justificado. O forte do cristianismo é a liberdade em Cristo, a qual é guiada pelo amor. Logo já não é o dízimo (10%) e sim o todo (100%). Não é por Lei, mas pelo amor ao semelhante.

    O pior é que estas palavras que menciono agora são vistas por muitos cristãos como sendo de rebeldia ou de atitudes anti-cristãs. Mas digo que o cristianismo mais parece um judaismo, o qual Pedro pregava erroneamente (Gl 2.11-21) do que com ideais realmente cristãos.

    Um abraço sob a luz das palavras de Paulo e na obra de Jesus

    CHAGAS

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  3. oi, sou jesiel.
    andei lendo e asistindo videos sobre o contexto dos 4 capitulos de malaquias, pois nao leio versiculos da biblia sem conexao com os anteriores. pois bem: de acordo com o que lemos nos capitulos 1,2 e 3, nao seriam os pastores (sacerdotes) que estavam roubando o dizimo? ou seja, o povo estava trazendo os dizimos e estes estavam sendo mal administrados?
    qual o sentido das virgulas que vemos em "...roubais a mim, vós, a naçao toda..."?
    nao sei se estou errado, mas parece-me que é como se Deus estivesse dizendo "voces estao roubando a mim, estao roubando voces mesmos e tambem estao roubando a naçao"...
    lembro aqui, amigos que estou falando de regras da lingua portuguesa analizando este texto gramaticalmente. o que acham?
    se estou certo, um texto que é para a correçao dos pastores (sacerdotes)está sendo usado de forma inadequada aos irmaos.

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  4. Nao entregamos o dizimo com o fim de obtermos salvacao, mas porque ja somos salvos. fazemos como forma de obediencia e amor pela propagacao da obra do Senhor.Em mateus 23:23 Jesus diz: Devieis, porem, fazer estas coisas.

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  5. Caro Anônimo;

    Concordo... mas faça a entrega do dízimo puramente como ato de amor e não por ordenanças ok?

    Que o amor de Deus nos supere e nos surpreenda

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  6. --Nosso sacerdócio é da tribo de Judá.
    Visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, e concernente a essa tribo nunca Moisés falou de sacerdócio. Hebreus 7:14
    E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. Apocalipse 5:5
    --Nada temos com os Levitas.
    Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé. Romanos 1:17
    Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos observem os meus caminhos. Provérbios 23:26
    Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. 1 Pedro 2:5
    --Para entender melhor:
    http://verdadeparanossotempo.blogspot.com/2011/07/qual-sacerdocio-espiritual-levitas-ou.html
    --Venha: nesta comunidade:
    http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=115508895
    --No Espírito do Senhor

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  7. pr Carlos,em um estudo que ministrei eu comclui dizendo que os dizimos não é uma obrigação e que não emplica na salvação mas que é uma questão de fé, o que voçe me diz fui feliz ou não na comclusão.

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  8. Prezado Anônimo;

    Seus estudos estão corretos. Dízimo não é mandamento e nem obrigação. O dízimo é ético e opcional. Acredito que sua entrega deve ser motivada por amor e não por força. Assim o próprio Cristo ensina.

    Obs: Não sou Pastor. Sou teólogo. kkkk

    Um abraço

    CHAGAS

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  9. Gosto muito dessas discussões sobre dízimo, fé, amor enfim. Essas dúvidas só existem porque as pessoas não leem a bíblia, portanto, não conseguem usá-la como arma.

    Jesus, no sermão do monte afirmou que não veio ab-rogar a lei e sim cumprir, afirma também que, enquanto durarem céus e terra nada será tirado dela até que tudo se cumpra, Mt 5 17 e 18.

    Cristo ainda, nos diz que a justiça deve exceder a dos escribas e fariseus pois, se não for assim, jamais entraremos no reino dos céus. O que significa esse excesso mencionado pelo Messias? Ele disse que os escribas e fariseus eram muito bons em encenar, atuar, cumpriam a lei mas, os corações estavam podres, eram verdadeiros sepulcros caiados, porque, praticavam a iniquidades. Mt 23-27 e 28.

    A diferença entre o dízimo da lei e o dízimo da graça é a fé. Se ao dizimar não se crê que Jesus cumpriu a lei e que nos escondemos nEle Cl 3.3 - é em vão o ato de dizimar. Passa-se a ser ritual, religiosidade, ou seja, meros atos vazios em si mesmos.

    E não é aquela fé de prosperidade apresentada por muitos e sim a fé de que em Cristo sou livre para dizimar, sou livre para expressar que o Espírito Santo cravou a lei em meu coração e mente. Por isto é que Deus sonda os corações, sonda a motivação escondida na ação.

    Os livros de Romanos e Hebreus são os mais indicados para aqueles que ainda tenham dúvidas sobre a lei e a graça. Ao lê-los devemos pedir para que o Espírito Santo nos guie e nos revele a graça. O qual nos torna livres, pois, preferimos agir por amor, que nos traz esperança e fortalece a fé.

    Em relação a alguns pastores impor o dízimo como lei por medo. Isto apenas comprava que estão despreparados e possuem menos fé do que a ovelha que dizima por obediência a autoridade. A estes líderes cabe-nos orar, para que o temor a Deus venha fazer parte de seu ministério. E que sejam imitadores do Pai das luzes em que não há variação ou sombra de mudanças Tg 1-17

    Excelente texto Carlos, amei este assunto.Parabéns, Deus o abençoe poderosamente. Amém!

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  10. " mas faça a entrega do dízimo puramente como ato de amor e não por ordenanças ok?" , De Tudo que li, gostei dessa sua frase - Até quanto ao Dízimo, entendo e pratico a proposta que esta no Livro de Gênesis cap 14 - quando Abrão Dizima ao Sacerdote Melquisedeque Rei de Salém, ali esta algo esplendido, 1 Melquisedeque é Sacerdote porem também é Rei não era necessitado, assim como Deus não necessita do nosso dinheiro, Melquisedeque dá a Abrão pão e vinho, Deus nos alimenta, nos sustenta todos os dias, Abrão Reconhece sua suficiência em Deus faz uma oferta perfeita, despojando qualquer possibilidade de se achar capaz e alto suficiente, - o dizimo de Abrão também significou que seus Bem ou posse, seu poderio bélico e sua aliança com outros reis e tudo mais, não são suficiente para dar-lhe a vitória, só em Deus, dizimar dos despojos dá Guerra é a Declaração que Abrão faz a Um Sacerdote/Rei de total dependência.

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